Na tarde de 15 de fevereiro de 2022 a cidade de Petrópolis, na serra fluminense, foi vitimada da chuva mais intensa jamais registrada na região: nada menos que 259 mm em 24 horas, mais do que o total estimado para o mês inteiro. Despreparada para eventos extremos, Petrópolis terminou o dia com um número de mortos ainda incalculável — a conta final provavelmente passará de 200 vítimas fatais — e centenas de casas e equipamentos urbanos totalmente destruídos. A reconstrução demorará anos — se é que um dia ocorrerá.
É quase impossível determinar exatamente o momento de início de uma tempestade. É comum que, mesmo em bairros próximos, o evento se inicie em momentos diferentes e com intensidade diferente. De certo, já havia precipitação de leve a moderada desde aproximadamente 13h, com o Ascendente no início de Gêmeos e Júpiter em conjunção com o Meio do Céu. Mas o evento extremo — a tempestade severa com efeitos intensos e destruidores — tomou corpo apenas após às 14h45, estendendo-se com total violência até depois das 19h.
Em alguns bairros, a chuva pesada já acontecia por volta das 15h, com Ascendente nos primeiros graus de Câncer; em outros, o dilúvio tomou corpo por volta das 16h, com Ascendente nos graus intermediários do signo. E há quem relate, por fim, o horário das 16h30 para o início do fenômeno.
Fora de dúvida, porém, que o mapa a considerar tem a Lua como regente da carta e os signos cardinais ocupando os quatro ângulos. Vejamos o mapa para as 16h:
Destaca-se de imediato a existência de uma quadratura T formada pela Lua em Leão no final da casa 1, Saturno em Aquário na cúspide da casa 8 e Urano em Touro na casa 10. A oposição Lua-Saturno é bastante fechada (órbita de menos de um grau) e reproduz o mesmo aspecto da tragédia da Região Serrana em 2011, quando chuvas arrasadoras provocaram a morte de quase mil vítimas em Nova Friburgo e Teresópolis. No mapa de 2011, há também uma quadratura T, formada por uma oposição Lua-Saturno, ambos em quadratura com o Sol.
A Lua é um significador de pessoas comuns (especialmente mulheres e crianças), de comunidades, de mudanças e acontecimentos e também das águas, em geral. Saturno, associado tradicionalmente à imagem do ceifador (a morte com sua foice) e das restrições de todo tipo, é também um significador de tempo chuvoso, na visão da Astrometeorologia.
Na coletânea The Astrology of the Macrocosm, organizada por Joan McEvers (St Paul: Llewellyn, 1990), a astróloga Nancy Soller destaca a importância de Saturno para as quedas de temperatura e precipitação (chuva), o que é relativamente fácil de entender: Saturno rege os processos de resfriamento, condensação e materialização, em analogia com o que acontece nos temporais, quando o vapor d’água é condensado em nuvens pesadas e volta à Terra na forma de tempestade.
Urano entra na configuração como o fator surpresa, a rapidez fulminante com que o temporal devastou encostas e provocou estragos.
As três horas mais terríveis da história de Petrópolis ocorrem em sincronia com o trânsito de um impressionante bloco de oito planetas pelas casas 7 (dos inimigos abertos, entre outros significados) e 8 (dos tributos e da morte). Estes planetas encontram-se distribuídos por dois signos tradicionalmente regidos por Saturno (Capricórnio e Aquário) e por outro inequivocamente relacionado às águas (Peixes). Mas… a que inimigos e a que tributos estamos nos referindo?
Petrópolis, a Cidade Imperial
A origem da cidade de Petrópolis remonta à data de 16 de março de 1843, quando Pedro II assina decreto imperial determinando o assentamento de imigrantes alemães e a construção de um palácio de verão, cuja pedra fundamental seria assentada dois anos mais tarde. Daí até o final do império, Petrópolis seria a capital de verão, para onde toda a corte afluía para fugir do calor e das epidemias que grassavam no Rio de Janeiro.
Esta condição deu a Petrópolis características únicas: áreas nobres com construções suntuosas, charme europeu e ares aristocráticos que convivem com o cinturão de bairros de encosta, cuja população vive em moradias precárias construídas sobre um terreno sempre sujeito a deslizamentos.
A tragédia petropolitana foi-se desenhando aos poucos nas décadas de 1980 e 1990, quando sucessivas administrações fizeram vista grossa para a ocupação irregular das encostas e regularizaram assentamentos em áreas que o bom senso deveria classificar como non aedificandi. No mapa do início do temporal de 15 de fevereiro, o regente da casa 10, Marte, está na cúspide da 7, em oposição ao Ascendente, mostrando que os inimigos abertos da cidade são exatamente seus próprios dirigentes.
Para completar, o regente da casa 8 (morte, tributos, cobranças) é Urano na 10 e em quadratura com Lua e Saturno. É a devastação ambiental promovida com a anuência do poder público que cobra seu tributo e dá ares de tragédia a um acontecimento natural que poderia ser melhor suportado, caso a cidade estivesse adequadamente preparada.
De acordo com informação da petropolitana Denise Campinho, enviada em 2002 para a seção Mapas do Brasil de Constelar, o decreto imperial foi assinado às 16h LMT, o que permite levantar um carta com Ascendente em Leão e Meio do Céu em Touro. Trata-se de uma carta bastante plausível, já que condiz com a condição que Petrópolis ostentou durante todo o segundo reinado — a Cidade Imperial (Ascendente em Leão e Júpiter angular) — e com o fato de ter sido uma das primeiras cidades planejadas do país (ênfase em Aquário e Sol em conjunção com Urano). Eis a carta:
Ao cruzarmos a carta da tragédia de 15 de fevereiro com a carta radical da cidade, o que encontramos é nada menos que a oposição Lua-Saturno de 15 de fevereiro ativando o eixo Ascendente-Descendente da cidade:
Esta superposição de cartas é um forte argumento para confirmar a carta radical da cidade, em 1843, e para destacar o importante papel de Saturno como chave para a compreensão da tragédia. Permite verificar também que, por ocasião das chuvas, a casa 6 da cidade, indicadora de crises agudas, encontrava-se fortemente ativada. Saturno e Lua em trânsito, são, aliás, os regentes do eixo 6-12 de Petrópolis.
O papel dos eclipses e das lunações
Dificilmente uma tragédia coletiva de vastas proporções não é anunciada nos eclipses e lunações mais próximas do acontecimento. Não foi diferente no caso dos acontecimentos em Petrópolis, como pode ser visto a seguir no artigo de Maria Eunice Sousa:
Lina Leme Cezário Garcia diz
Parabéns!