Quando começa um evento? Difícil dizer, porque, em tudo o que fazemos, há uma cadeia causal conectando o que veio antes ao que ocorre depois. Nada no mundo acontece, nem dentro, nem fora de nós, sem estar conectado com as decisões e escolhas anteriores ao momento presente. Então, quando um “evento” acontece, ele ocorre no topo de uma cadeia de eventos e experiências anteriores a ele.
E, quando falamos em cadeia causal, necessariamente lembramos de Heimarmene, uma das várias deusas gregas associadas ao conceito de destino. Contudo, Heimarmene não é uma deusa que regula destinos pessoais ou individuais. Antes, ela está associada ao destino universal, o destino da raça, da nação e da própria espécie.
Relaciona-se com a Lei da Causa e Efeito e nisso se equipara a Ananke, mãe das moiras, deusa do inexorável e da inevitabilidade. Porém, enquanto Ananke é a necessidade inalterável, Heimarmene simboliza a inexorabilidade sequencial disparada pelo conjunto das ações humanas, de uma perspectiva impessoal, particularmente aquelas que impactam o coletivo (1).
Quando um evento da magnitude do que houve em Petrópolis acontece, todos ficamos estupefatos e nos perguntamos o que causou uma tragédia tão terrível em poucas horas, porque mesmo que nunca se tivesse ouvido falar de Heimarmene, sabemos que tais tragédias se dão como efeito, no topo de uma longa cadeia causal, remontando a muito tempo antes do acontecido – Saturno, o Senhor do Carma, também ligado à Lei de Causa e Efeito, está prestes a começar sua cíclica auditoria sobre a conjunção Júpiter-Netuno de Petrópolis.
Ao longo da história, na astrologia e fora dela, os eclipses sempre foram associados a períodos críticos, propensos a desastres, cataclismos e fenômenos extraordinários – alguns fenômenos decididamente positivos, porém. E sim, eclipses foram historicamente relacionados com o inevitável e o fatídico. Mas dá para culpar os eclipses por tais desastres ou – Heimarmene a postos novamente – eles são apenas a cereja de um bolo de muitos ingredientes e camadas?
Sim, eclipses são disparadores e detonadores clássicos na astrologia e podemos olhar para eles em busca de melhor compreensão dos eventos coletivos, não como causadores, mas como precipitadores de situações já críticas, que levaram bastante tempo sendo preparadas.
Mas… nem estamos em período de eclipses, você diria! Não, não estamos, mas os eclipses são ativados novamente na terceira lunação de mesma natureza após a sua ocorrência, e podem significar a precipitação de situações que estavam em preparação. Exatamente o que temos neste período!
No mapa da Lua Cheia em Leão de 16 de fevereiro (Brasília, 16/02/2022, 13h56min), vemos Sol e Lua a 27°59’ do eixo Aquário-Leão, fazendo quadratura de menos de um grau ao eclipse de 19/11/2021, ocorrido a 27°14’ de Touro. Além de Sol e Lua ativarem este eclipse e quadrarem o eixo nodal, o próprio Nodo Norte da Lua está passando pelo grau do eclipse de 19/11 – isso é uma super ativação de um eclipse que já foi bastante tenso à época. E a Lua está na condição wobble!
A Lua entra na condição chamada wobble a cada 86 dias, aproximadamente, que ocorre sempre que o Sol faz aspectos de 0º, 90º ou 180º aos nodos lunares – os períodos de eclipses estão aí incluídos. Em tradução livre do inglês, wobble significa bamboleante ou vibrante.
Esta fase está associada a períodos de grande instabilidade, precipitando desastres naturais principalmente, pois carregam em si a qualidade dos eclipses, visto que o eixo nodal está ativado pelo Sol. O astrólogo precursor do estudo de Moon Wobble foi Carl Payne Tobey. Existe também o termo moon wobble na astronomia, mas falamos disso em outro momento (2).
Portanto, essa Lua Cheia se torna um super gatilho de eclipse e eclipses já são normalmente associados com eventos dramáticos, desastres e situações saindo de controle – embora possam também representar eventos positivos.
Além das condições acima relacionadas, a conjunção partil de Netuno ao Meio do Céu – 14’ de distância – no mapa levantado para Brasília chama bastante atenção. Considerando-se todos os fatores, a presença do Senhor dos Oceanos no Meio do Céu desta potente lunação me pareceu preocupante, também levando-se em conta o contexto recente de inundações no Brasil.
Meu feeling era de que poderíamos ter novamente chuvas torrenciais e enchentes – não devido a Netuno exclusivamente, mas à somatória das diversas marcas. Contudo, não imaginei tamanha tragédia!
Ao sobrepormos o mapa do eclipse de novembro ao mapa da cidade de Petrópolis (16/03/1843, 16h), nosso olhar é atraído imediatamente para Lua e Sol encaixando-se no eixo Meio do Céu/Fundo do Céu do mapa natal da cidade, conjunção de um grau, indicando que o eclipse, de alguma forma, afeta a base e a direção desta cidade. Simultaneamente, faz quadratura a um Mercúrio sem aspectos a 28° de Aquário na casa 7.
A oposição Marte-Urano no eixo Escorpião-Touro também desafia fortemente a conjunção Vênus-Júpiter natal (Vênus rege a Lua, o Meio do Céu e a casa 3 da cidade, impactando o povo, o poder público e os espaços públicos) e o próprio Ascendente. Abaixo o mapa do eclipse de 19 de novembro sobreposto ao mapa da cidade de Petrópolis:
Na sobreposição do mapa da Lua Cheia ao de Petrópolis, vemos agora os nodos lunares em conjunção de um grau ao mesmo eixo Meio do Céu/Fundo do Céu, que é tensionado também por Sol e Lua. Os luminares desafiam ainda o Mercúrio (educação, cultura, comércio, comunicações) sem aspectos no mapa natal, regente das casas 2 (recursos) e 11 (instituições). Aquele Netuno destacado no Meio do Céu da Lua Cheia, se aproxima da conjunção ao Sol, trânsito que deve durar cerca de dois anos: um tempo que pode ser de desamparo e sacrifícios para a cidade.
E a sobreposição tripla.
Não acabou. A próxima Lua Nova de dois de março (Brasília, 02/03/2022, 14h34min) se dará a 12°06’ de Peixes, também funcionando como disparadora do eclipse seguinte, de 04/12/2021, ocorrido a 12°2’ de Sagitário. Portanto, estamos num período liminal, que carrega uma forte qualidade dos tempos de eclipses, favorecendo a precipitação de eventos inesperados, fora do controle humano, alguns trazendo as consequências da imprudência humana.
Se as condições estiverem adequadas, mais eventos extremos podem ocorrer. São inevitáveis? Não necessariamente. Muito do que se considera inevitável é, na verdade, consequência e efeito de irresponsabilidade e imprevidência.
Este eclipse também toca um ponto sensível do mapa de Petrópolis, o planeta Marte (agressividade, militares, ação) regente das casas 4 (base, fundação, terra), e a casa 9 (sistemas de crenças e filosofia, educação, mídia). Marte tem boas relações com outros pontos do mapa, ainda assim, requer atenção, porque se o eclipse originalmente ocorreu em conjunção a Marte, a lunação de dois de março já se dá em quadratura, um aspecto de desafio aberto, diferente do simbolismo de união da conjunção. O tema marcial se fortalece quando vemos que o marte do eclipse toca fortemente o Fundo do Céu de Petrópolis – pode ser a resiliência e a capacidade de regeneração deste povo sendo ativada? Esperamos que sim!
Mais que isso, no mapa da lunação temos uma conjunção de Mercúrio e Saturno a 19° de Aquário ativando Júpiter e Netuno natais de Petrópolis – aliás, Petrópolis nasceu sob uma conjunção Júpiter-Netuno em Aquário e a próxima conjunção Júpiter-Netuno em Peixes ocorrerá em cima do Sol natal. Os temas netunianos, estão, pois, bastante exacerbados nestes meses, negativamente indicando um tempo de sacrifícios, desamparo, perdas, vitimização, confusão; positivamente pode sugerir a empatia e a solidariedade recebidas de todos o Brasil, entre outras coisas.
Outro destaque é o Ascendente da Lua Nova em conjunção ao Nodo Sul da cidade, enquanto o eixo nodal atual segue transitando o meridiano Meio do Céu/Fundo do Céu – de alguma maneira, esta lunação também impacta o destino da cidade. A tríplice conjunção Vênus-Marte-Plutão está sobre o Saturno natal de casa 6, apoiando o Meio do Céu – promessa de regeneração? Talvez, não fosse o fato de também fazer quadratura ao Plutão natal.
Todas essas ativações indicam que, infelizmente, a tragédia não terminou. Além de o povo petropolitano ter que lidar com escombros nas suas ruas e em seus corações, as próximas semanas podem trazer mais chuvas e, na esteira, mais tragédia, dado o quadro geral de infraestrutura – ou falta de – da cidade. Resta cobrar providências do Poder Público e responsabilizar a quem cabe as responsabilidades. E que Heimarmene seja mais gentil com Petrópolis e seu povo!
Nota: da forma como eu trabalho com astrologia, os planetas ou eventos astrológicos não causam nada, apenas simbolizam os acontecimentos na Terra, pela Correspondência e Sincronicidade.
Eclipses ocorrem a cada seis meses e, obviamente, não temos tragédias ocorrendo em todos os lugares a cada eclipse, porque as manifestações concretas que esses eventos astrológicos simbolizam se dão devido a diversas configurações que se somam e sobrepõem.
(1) Essa reflexão é um desdobramento meu de uma fala de Liz Greene no seminário O Horóscopo Progredido, proferido no Regent’s College em Londres, em 28/06/2009.
(2) https://astroscope.me/moonwobble.html