
Índia e Paquistão estão mais uma vez flertando com uma nova guerra.
Antes dos mapas, os fatos
Na crise que se abate nas relações internacionais em função da guerra entre Rússia e Ucrânia e do conflito sem fim na Faixa de Gaza, o mais perigoso dos barris de pólvora é um possível enfrentamento entre Índia e Paquistão. Além de opor dois países superpovoados e que possuem armamentos nucleares, este conflito poderia envolver rapidamente outros países, como Bangladesh, China e os Estados Unidos.
Índia e Paquistão nasceram juntos, em 15 de agosto de 1947, como resultado do fim da administração colonial inglesa. O subcontinente indiano é um território vasto, densamente povoado, onde coexistem dezenas de etnias e dialetos e cuja população se divide entre duas religiões principais. A religião dominante, do ponto de vista do contingente humano, é o hinduísmo (com todas as suas múltiplas variantes), mas o islamismo alcança também uma população significativa: algo em torno de um muçulmano para cada quatro hindus.
A penetração muçulmana na Índia vinha desde o final da Idade Média, quando o exército de um rei muçulmano de origem turca que governava Cabul marchou para o sul e tomou os ricos vales dos rios Indo e Ganges. Foi a origem do chamado Império do Grão Mogol, período de dominação que deixou profundas marcas culturais, como a conversão religiosa de significativa parcela da população.
Naturalmente, isso não ocorreu sem conflitos e ressentimentos, de forma que a rivalidade entre hinduístas e muçulmanos tornou-se um elemento de tensão permanente, persistindo até os dias de hoje.
A luta contra a dominação inglesa começou a intensificar-se nos anos trinta. O Partido do Congresso canalizava a maioria das iniciativas independentistas, mas o espectro de ações ia mais além, com destaque para a resistência não-violenta do Mahatma Gandhi. Por outro lado, havia também a atuação clandestina de grupos radicais, que pregavam o uso do terrorismo e sonhavam com uma Índia livre não apenas do controle britânico, mas também da presença de muçulmanos na futura administração.
Estes, por sua vez, organizaram a Liga Muçulmana em torno da liderança de Mohammed Ali Jinnah, que lutava pela formação de um país islâmico independente mediante o desmembramento das regiões onde o Islamismo fosse predominante. Esta é a origem do atual Paquistão.
A Índia

Independência da Índia – 15.08.1947, 00:00 (GMT +05:30) – Nova Delhi – 077e18, 28n40.
Após a Segunda Guerra Mundial, a permanência britânica no Industão tornara-se insustentável. A Grã-Bretanha negociou então uma saída honrosa, que seria a transição pacífica para uma Índia independente com a preservação dos laços econômicos e culturais que a ligavam à Europa. Todavia, não se obteve acordo sobre a possibilidade de uma composição política entre hindus e muçulmanos.
Ao término, surgiram dois novos países, a Índia e o Paquistão, sendo que este ficou dividido em dois territórios separados entre si: o Paquistão Ocidental, onde estão a capital e os principais centros urbanos, e o Paquistão Oriental, que se tornaria independente em 1971 com o nome de Bangladesh. Entre as duas metades do país ficou a Índia. É claro que isso provocaria problemas no futuro.
O primeiro efeito da independência foi uma guerra civil entre hindus e muçulmanos de que resultou um dos maiores genocídios da história contemporânea. A fronteira entre as duas novas nações independentes era artificial, deixando enclaves de população hindu dentro de território paquistanês e vice-versa. Dez milhões de pessoas foram obrigadas a trocar de país, deixando para trás casa e pertences. Famílias foram separadas à força, populações de aldeias inteiras foram assassinadas. O conflito acirrou os ódios, resultando em vários outros enfrentamentos no último meio século.
Os soviéticos apoiavam os indianos contra os paquistaneses, os quais, por sua vez, obtiveram sustentação política dos chineses, inimigos dos indianos, e dos Estados Unidos. Em 26 de março de 1971, o antigo Paquistão Oriental, habitado pela etnia bengali, declarou sua independência do governo paquistanês. Apesar de majoritariamente muçulmanos, os bengalis tinham uma história diferenciada, com uma cultura e uma língua que os tornava muito mais próximos dos indianos da região de Calcutá do que de seus dominadores do Paquistão Ocidental.
A Índia apoiou a rebelião desde o primeiro momento. Foram nove meses de conflito, ao final dos quais o Paquistão acabou derrotado pelas forças conjuntas da Índia e de Bangladesh. Entretanto, o foco mais constante de divergências tem sido a região da Caxemira, incrustrada nas fronteiras do Himalaia, cujo controle Índia e Paquistão disputam desde 1947. Apesar de a maioria da população ser muçulmana, quem está no controle é a Índia.
A Caxemira tem grande importância estratégica por ser um ponto de acesso a diversas rotas terrestres através do Himalaia. Além do mais, é lá que estão as nascentes de importantes rios que abastecem o Paquistão.
Apesar de pobres e com parte considerável da população abaixo da linha da miséria, tanto Índia quanto Paquistão têm elevados orçamentos militares e centros de alta tecnologia. Ambos são potências nucleares.
Este é o quadro. Agora vejamos os mapas.
Dois mapas muito semelhantes
Como a independência dos dois países foi declarada no mesmo momento, os respectivos mapas são idênticos quanto às posições planetárias nos signos. A única diferença diz respeito à distribuição dos signos pelas casas, já que o Ascendente da Índia está pouco mais de 13 graus à frente do Ascendente do Paquistão, assim ocorrendo com as demais cúspides. É uma diferença pequena, mas importante.
Temas como afirmação da identidade étnica, dignidade nacional e segurança territorial são comuns na retórica de ambos os países. Os mapas apresentam cinco planetas no orgulhoso signo de Leão, sendo que a conjunção Sol-Vênus forma quadratura com o exagerado Júpiter em Escorpião.
Marte em Câncer — o planeta guerreiro no signo da ligação com as raízes familiares e étnicas — está em conjunção com o imprevisível Urano no final de Gêmeos. É um aspecto “nervoso”, indicando países capazes de uma mobilização bélica extremamente rápida e sempre vinculada a motivações patrióticas e raciais (o que é reforçado pela Lua em Câncer).
Este aspecto também fala de uma perigosa vinculação entre as autoridades constituídas (Urano regendo a casa 10) e movimentos ocultos ou ilegais (Marte regendo a casa 12). Em outras palavras: as autoridades de ambos os países podem recorrer em larga escala a ações militares escusas ou clandestinas, como atos de sabotagem, espionagem ou ações terroristas. Ou podem, ainda, ter de lidar com este problema. Tanto é verdade que vários governantes indianos e paquistaneses foram vítimas de atentados fatais.
Outro significado desta conjunção diz respeito à economia. Ambos os países têm nas estradas de ferro (Marte) herdadas dos ingleses um recurso (casa 2) precioso. Têm bons recursos hídricos para a produção de eletricidade (Urano) e, pelo menos no caso da Índia, a indústria de softwares (também associável a Urano) já atingiu um bom nível de desenvolvimento.
A Lua em Câncer (ligação afetiva com o passado) somada à presença de muitos planetas nas proximidades do Fundo do Céu (senso de pertencimento às próprias raízes e ênfase em questões étnicas), assim como a conjunção entre Saturno (a tradição) e Plutão (os conteúdos arcaicos), fazem de Índia e Paquistão países onde os condicionamentos históricos têm uma importância capital. Questões que para nós pareceriam anacrônicas não o são para essas culturas. Palavras ditas no século XVI e conflitos pendentes há trezentos anos ainda possuem força para motivar uma guerra.
Em ambos os mapas, Saturno rege a casa 9, da religião, e sua conjunção com Plutão expressa a poderosa força liberada pelo confronto entre estruturas inflexíveis (Saturno) e a irracionalidade coletiva (Plutão).
Mas há também algumas diferenças entre as duas cartas. Vamos explorá-las.
O Paquistão

Independência do Paquistão – 15.08.1947, 00:00 (GMT + 5:30) – Karachi, 067e03, 24n53.
O Paquistão tem Ascendente em Touro e Júpiter no Descendente. A motivação territorial é mais forte aqui do que no caso da Índia. A dependência de apoio político e econômico do exterior é também maior (Júpiter angular regendo a casa 8, dos empréstimos e dos recursos compartilhados). Exemplo recente foi o da submissão do governo paquistanês aos interesses militares dos Estados Unidos, na guerra do Afeganistão, em 2021. O povo não viu com simpatia essa concessão ao Ocidente, mas o governo garantiu a continuidade dos empréstimos internacionais.
Como o Paquistão sofre agora (2025) o trânsito de Plutão por seu Meio do Céu, o governo paquistanês corre o risco de optar por saídas muito rígidas e extremistas. O governo atual pode ser substituído por um regime mais radical, até mesmo com risco de utilização de energia nuclear (significada exatamente por Plutão). Desviar as atenções da opinião pública para um novo conflito com a Índia poderia ser também uma forma de compensar a impopularidade do atual regime. Em qualquer das opções, o risco de radicalização é elevado.

Nascido num dia de Natal, o capricorniano Mohammed Ali Jinnah, “Pai do Paquistão”, obteve a independência do país, mas não a paz com a Índia. Entre os dois países, já houve três guerras. A questão da Caxemira (região na encosta do Himalaia) é a mais constante fonte de atritos.
No Ocidente, a Índia, com seu “falante” Ascendente Gêmeos, é muito mais divulgada do que o Paquistão, país sobre o qual se sabe muito pouco (o Ascendente Touro é mais “silencioso”). Touro se reflete também no brasão oficial, que exibe as quatro lavouras de maior importância econômica para o país: trigo, juta, chá e algodão. Lavouras são assunto taurino.
O brasão inclui também, em língua nativa, as palavras Fé, Unidade e Disciplina, simbolizando os princípios que guiam a nação. Se procurarmos pelo regente do Ascendente taurino, vamos descobrir que Vênus está na casa 4, em Leão, em conjunção com Saturno (disciplina) e com o Sol (unidade). A fé também está presente pelo fato de ser Saturno o regente da casa 9, da religião organizada.
O aspecto Vênus-Saturno, mais importante para o Paquistão do que para a Índia, revela um país “travado” pelos limites impostos pela religião. É um fator estruturador, mas também um obstáculo à maior flexibilização das relações externas.
Poder haver uma nova guerra?
Índia e Paquistão já estiveram em guerra por diversas vezes. A primeira começou praticamente junto com a independência, em 1947, e tinha por objeto o controle da Caxemira; a segunda ocorreu em 1965: em abril daquele ano, tanques do Paquistão entraram em território indiano; em junho, a ONU intermediou um cessar-fogo, mas a guerra explodiu com toda a violência em 1º de setembro. Em janeiro de 1966 líderes dos dois países negociaram um acordo.
A guerra seguinte foi em 1971, quando a Índia apoiou a independência de Bangladesh, e encerrou-se com um acordo em 1972.
Analisando trânsitos, progressões secundárias e arcos solares sobre o mapa dos dois países nestas ocasiões, o único ponto em comum que encontramos (considerando apenas aspectos maiores) foram ativações de Netuno em trânsito aos ângulos das cartas. Em 1965, Netuno cruzava o Descendente do Paquistão; em 1971, chegava ao Descendente da Índia; e, em 2001, alcançou o Meio-Céu do Paquistão.

O radicalismo levou ao assassinato ou à execução de vários líderes políticos dos dois países. Benazir Bhutto, primeira mulher a governar um país islâmico na era moderna, foi primeira-ministra do Paquistão em duas ocasiões, a partir de 1988. Enfrentando forte oposição do exército e de grupos radicais, acabou assassinada em 2007, aos 54 anos.
Em 2025-2026 uma guerra na região não é inevitável, mas também não pode ser descartada. A Índia vem emitindo sinais neste sentido desde 11 de maio de 1998, data em que realizou três testes nucleares subterrâneos que provocaram uma onda de protestos internacionais. Naquela ocasião, Urano transitava no Meio-Céu da Índia formando, exatamente, oposição a Saturno-Plutão natais. O Sol estava em conjunção com Marte bem próximo do Ascendente do Paquistão. Não é preciso dizer que o vizinho sentiu-se provocado.
Os dois rivais reservam um percentual bastante significativo de seus respectivos orçamentos para gastos militares: algo em torno de 12% do orçamento nacional na Índia, podendo chegar a 20% no Paquistão. A Índia tem um maior contingente populacional nas forças armadas e leva vantagem em armamentos convencionais. Já o arsenal nuclear é hoje mais desenvolvido no Paquistão, que recebe ajuda chinesa.
No momento, Plutão em Aquário ativa o Meio do Céu do Paquistão, e ali permanecerá até praticamente o final de 2027. A partir daí, passará a ativar, por oposição, cada um dos cinco planetas do stellium leonino de Índia e Paquistão, num movimento de vaivém que se estenderá até 2036-2027, quando culminará com uma oposição ao Sol dos dois gigantes nucleares.
Urano, por sua vez, encontra-se a partir de julho sobre o Ascendente da Índia, ângulo que continuará a ativar por todo o restante do ano e também em 2026.
Quem faz as guerras não são os planetas, mas sim governos que manipulam rivalidades históricas como estratégia para se apossarem de recursos ou se perpetuarem no poder. Portanto, não cabe aqui nenhuma previsão fatalista, até porque os dois países sabem que, ao ultrapassar o limite das escaramuças fronteiriças e mergulhar numa guerra total, desencadearão consequências avassaladoras para toda a região.
No subcontinente indiano, os dois lados estão armados até os dentes, mas, por outros lado, seus respectivos governos são herdeiros de séculos de movimentos por uma convivência pacífica entre hinduístas e muçulmanos. Provavelmente até Donald Trump entenderia que não vale a pena começar uma nova guerra.
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