Se os astrólogos querem ser levados a
sério pelo meio científico e empresarial, Carlos Fini
e Márcia Mattos já estão mostrando o caminho,
afirma a autora.
O grande problema dos congressos e simpósios
de qualquer especialidade é que normalmente só interessam
para os especialistas com prévio conhecimento da matéria.
Tais eventos acabam servindo apenas como canal de troca para quem
já está envolvido e motivado, contribuindo pouco para
a construção de espaços de diálogo com
pesquisadores de outras áreas.
Por isso mesmo a proposta do Simpósio do Sinarj
deste ano parecia atraente: Astrologia e Interdisciplinaridade.
"É uma chance de conhecer algumas propostas que possam
ser aplicadas em outras áreas", pensei, "e o que
quero assistir são exatamente as palestras com essa proposta".
Sendo médica, dei preferência a tudo
que, de acordo com o resumo do conteúdo, parecia ser de interesse
para minha área, ou seja, aquilo que poderia voltar-se para
a construção de um terreno comum entre a Astrologia
e as ciências físicas e biológicas, assim como
para todas as aplicações práticas da Astrologia
na área de saúde e comportamento. Consideradas sob
este ponto de vista, algumas palestras que assisti me pareceram
maçantes. Tinham informação relevante para
astrólogos e estudantes de Astrologia, mas nada que chamasse
a atenção do público focado em outras áreas
de conhecimento.
Houve, por outro lado, algumas palestras que trouxeram
informações muito relevantes, duas das quais podem
ser consideradas definitivamente empolgantes: Atitudes profissionalmente
corretas, de Márcia Mattos, e Astrologia e Transdisciplinaridade,
de Carlos Fini.
A palestra de Márcia discutiu a eficiência
profissional do ponto de vista do triângulo das casas de Terra
- a 2, a 6 e a 10. Não era uma aula de astrologia no sentido
tradicional, mas a ilustração prática de como
podemos utilizar o mapa ao máximo para perceber onde estão
os talentos que devem ser desenvolvidos para uso na vida profissional.
O enfoque esteve o tempo todo na aplicação, e não
apenas na teoria, e a palestra tanto poderia ser apresentada ali
como numa grande empresa, com a mesma utilidade.
Já a Astrologia e Transdisciplinaridade, de
Carlos Fini, foi simplesmente genial.
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Carlos Fini |
Permitiu compreender que a Astrologia tem uma base
científica sim, já que o fenômeno astrológico
pode ser explicado pela convergência de várias áreas
do conhecimento, como Medicina, Astronomia, Física, Química,
Astrofísica, Matemática, Biologia, Engenharia Genética
e outros. Fini discutiu a composição química
do universo, mostrando que os mesmos metais que estiveram presentes
na origem do universo e continuam presentes até hoje também
constituem as formas biológicas que vivem na Terra.
Fini ressaltou que, na ciência acadêmica,
há a tendência para que cada disciplina represente
um ponto de vista exclusivo de abordagem do fenômeno, sem
a preocupação de criação de pontes transdisciplinares.
A ausência de comunicação entre - por exemplo
- o astrofísico que estuda o Big Bang e o psicólogo
que investiga a consciência ou o biólogo que investiga
o comportamento dos insetos impede que haja uma correta compreensão
das analogias entre processos aparentemente desvinculados entre
si.
Os ciclos celestes sempre estiveram em correspondência
com o comportamento animal. Todo biólogo, por exemplo, sabe
que animais, como formigas, abelhas e planárias, respondem
claramente a ciclos gerados pelos movimentos do Sol e da Lua, mesmo
que suas respectivas durações de vida sejam menores
do que esses ciclos. Isto mostra que a memória de tais correspondências
não faz parte apenas da experiência individual de cada
animal, mas sim que está registrada na ancestralidade, no
que poderíamos chamar de mapa neural.
As bases mais profundas da vida não surgiram
na Terra, mas nas estrelas.
Por ser praticante de especialidades pouco convencionais
do ponto de vista acadêmico, como homeopatia e acupuntura,
descobri muito rápido que um bom embasamento científico
é essencial até como defesa contra a atitude preconceituosa
dos defensores do paradigma mecanicista. Por isso vi na linha adotada
na palestra de Carlos Fini uma postura fundamental para astrólogos
que pretendam ter alguma chance de dialogar com o meio científico.
A linha que Fini propõe é a de explorar e utilizar
os próprios mecanismos de investigação e pressupostos
metodológicos da ciência convencional, apontado suas
limitações, quando existentes, e construindo conexões
transdisciplinares que permitam ao cientista perceber que o modelo
astrológico do conhecimento não é de forma
alguma incompatível com a abordagem acadêmica. A questão
é que, pela sua própria natureza holística,
a Astrologia traça com mais facilidade conexões entre
diferentes áreas do saber que a ciência convencional,
que às vezes chega a becos sem saída exatamente por
tentar explicar o fenômeno sempre sob a ótica de uma
única disciplina. Esta atitude fragmentadora e isolacionista
não é uma virtude da ciência, e sim uma limitação
do cientista, decorrente da ansiedade humana em "fechar"
rapidamente explicações sobre qualquer fenômeno
com base apenas no que já se sabe. Assim, a perspectiva transdisciplinar
abre ao cientista a possibilidade de abordagens mais abrangentes,
que lhe permitem, ademais, perceber que o discurso da Astrologia,
em vez de não científico, é, ao contrário,
totalmente compatível com os avanços mais recentes,
especialmente das ciências biológicas.
O grande mérito da palestra de Fini é
que poderia ser apresentada num congresso de Medicina, ou Biologia,
ou de qualquer outro campo de especialização sem despertar
qualquer objeção metodológica. Se os astrólogos
querem se esforçar para serem levados a sério pelo
meio científico, este é o caminho.
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Roseane Debatin é professora de medicina e autora
de um livro recém-lançado: Primeiros Socorros
- Técnicas Convencionais e alternativas integradas.
Ministra cursos de Astrologia Médica a quatro mãos
com Fernando Fernandes.
Leia outros textos de Roseane
Debatin.
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