O boom em Roma e
Alexandria
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Em Roma, a astrologia aporta como
parte da cultura da Grécia, conquistada no período
de 229-146 a.C., tendo sido absorvida e popularizada por essa
cultura. Por volta do século I a.C., já se tem
notícia de astrólogos romanos: Tarutius de Firmum
e Publius Nigidius Figulus, que também era senador e
aliado político de Cícero. O estoicismo, escola
filosófica que influenciou consideravelmente a elite
romana, foi um dos principais elementos responsáveis
pela respeitabilidade atribuída à astrologia em
Roma. Desde o século III a.C. os estóicos defendiam
todo tipo de prognóstico. Posidonius (135-50 a.C.), p.ex.,
foi uma figura de relevo na popularização da visão
estóica acerca do destino. Contudo, não se deve
exagerar tal influência, dado que filósofos e astrólogos
eram ocasionalmente expulsos de Roma. Segundo Barton, conforme
a república oligárquica foi declinando e a monarquia
se impondo, a astrologia foi ganhando status. Os senadores precisavam
ter os astrólogos sob controle do estado, pois as decisões
eram tomadas pelo Senado e não por um indivíduo.
Por outro lado, os imperadores usavam os astrólogos para
legitimar suas posições, o que fortaleceu a idéia
da infalibilidade da astrologia. Entretanto, essa era uma faca
de dois gumes, dado que ela também seria infalível
para os rivais do trono, daí as tentativas de regulamentar
a astrologia. |
Não é novidade para ninguém
que Augusto, governante de 30 a 14 a.C., mandou cunhar o símbolo
do Capricórnio nas moedas romanas. A obra em versos de Manilius,
o Astronomicon, estava sendo escrita nessa época.
Segundo consta, Tiberius, o governante tirânico posterior
a Augusto, foi o primeiro a contar com um astrólogo em sua
corte. Ele chamava-se Thrasyllus, provavelmente o responsável
por levar a astrologia hermética para Roma, e primeiro de
uma linhagem de astrólogos com o mesmo nome. Dorotheus de
Sidon escreveu em versos, como Manilius, provavelmente entre 25
e 75 da nossa era, também fazendo referência à
tradição hermética. Sua obra foi utilizada
e conservada por outros astrólogos, como Firmicus Maternus
(século IV), Hephaestion de Tebas (século IV) e Retorius
(século VI).
Ao contrário de Ptolomeu, cuja obra dedica-se
exclusivamente a sistematizar a teoria astrológica, o astrólogo
Vettius Valens é uma fonte fundamental sobre como era a prática
astrológica no século II d.C. Em sua obra, Anthologiae
[14], compilou cerca de 130 mapas.
Natural da Síria, Valens escreveu com dificuldade em grego
- esse era o pré-requisito para um escritor ser levado a
sério -, provavelmente, entre 154 e 174.
Cícero (século I a.C.) fez muitas críticas
à astrologia, que são tratadas por Ptolomeu bem no
início do Tetrabiblos [15].
A maioria delas diz respeito ao determinismo astrológico,
mas, como mencionado antes, a maior influência de Ptolomeu
foi provavelmente aristotélica e não estóica,
e o tipo de astrologia que preconizava era não fatalista,
conseguindo dar conta dessas críticas sem grandes problemas,
associando a idéia de tendência, igualmente usada na
meteorologia. Sextus Empiricus (século III) também
fez críticas em relação ao determinismo astral.
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À esquerda:
Posidonius (135-50 a.C.), pensador importante na divulgação
da filosofia estóica; à direita, Plotino, filósofo
neoplatônico do século III da era cristã.
No topo da página, uma versão renascentista da
obra de Firmicus Maternus. |
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O filósofo neoplatônico, Plotino (século
III da era cristã), ataca a astrologia fatalista, ressaltando,
assim como Ptolomeu já o fizera no Tetrabiblos, os
diversos outros fatores que determinam o destino. Em suas Enéadas
[16], ele admite que as estrelas indicam
o futuro, numa escrita que pode ser lida por quem é capaz
de usar a analogia sistematicamente. Plotino fazia críticas
aos astrólogos e suas práticas, e não à
astrologia. Assim como Plotino, é possível afirmar
que, até a conversão de Constantino (312 d.C) - o
primeiro imperador romano a se converter ao cristianismo -, ninguém
negava que as estrelas "influenciavam" os eventos na Terra,
duvidava-se freqüentemente, entretanto, da capacidade de os
astrólogos preverem tais eventos.
[14] VALENS, V. Anthologies.
Tradução de Joëlle-Frédérique Bara.
Leiden: E.J. Brill, 1989
[15] PTOLÉMÉE. Tetrabiblos. Tradução
de Nicolas Bourdin / Revisão de André Barbault. Paris:
Philippe Lebaud Éditeur, 1986
[16] cf. PLOTINUS. Ennead II-3-1. Tradução
de A.H. Armstrong. Cambridge: Harvard University Press, 1966
Idade Média: a astrologia
e a Igreja
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