Reflexo Condicionado: o
Homem é muito mais passível que os animais
A coisa vai além dos Sistemas Peritos. Graças
à capacidade de atribuir símbolos à realidade
circundante, o Homem cria respostas orgânicas compatíveis
com aquilo que sua linguagem e sua mente aprenderam a decodificar
como sinais de atração, repulsa, fome, humor etc.
Foi Ivan Pavlov, prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em
1904, quem descobriu o chamado reflexo condicionado . A mesma atitude
mental que "comprova" um estímulo sob determinadas
condições acaba criando uma resposta orgânica
de acordo com esse estímulo. Com o ser humano o processo
condicionante é ainda mais decisivo graças à
linguagem e à cultura. Nós atribuímos significados
a idéias e coisas não perceptíveis aos cinco
sentidos físicos. Assim, uma melodia pode nos fazer sentir
alegria e elevar a taxa de endorfina do organismo, se nosso sistema
nervoso tiver sido condicionado para tanto. De fato, nossas próprias
orientações culturais chegam a alterar o comportamento
do organismo, como no caso do nojo.
Pavlov (foto) definiu o reflexo condicionado
como:
"uma conexão nervosa temporária
entre um dos inumeráveis fatores do ambiente e uma
atividade bem determinada do organismo."
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A experiência clássica
de Pavlov é aquela do cão, a campainha e a salivação
à vista de um pedaço de carne. Sempre que apresentamos
ao cão um pedaço de carne, a visão da carne
e sua olfação provocam salivação
no animal. Se tocarmos uma campainha, qual o efeito sobre o
animal? Uma reação de orientação.
Ele simplesmente olha, vira a cabeça para ver de onde
vem aquele estímulo sonoro. |
Se tocarmos a campainha
e em seguida mostrarmos a carne, dando-a ao cão, e fizermos
isso repetidamente, depois de certo número de vezes o
simples tocar da campainha provoca salivação no
animal, preparando o seu aparelho digestivo para receber a carne.
A campainha torna-se um sinal da carne que virá depois.
Todo o organismo do animal reage como se a carne já estivesse
presente, com salivação, secreção
digestiva, motricidade digestiva etc. Um estímulo meramente
sonoro, que nada tem a ver com a alimentação,
passa a ser capaz de provocar alterações digestivas. |
Os pesquisadores Júlio Rocha do Amaral e Renato
Sabbatini dispuseram na Internet (http://www.epub.org.br/cm/n09/mente/pavlov.htm)
e de forma bastante didática uma explicação
sobre o fato de o reflexo condicionado ser mais contudente no ser
humano:
No homem existe ainda algo importante a ser considerado.
Segundo Pavlov, nos animais existe apenas o que ele chamava de primeiro
sistema de sinais da realidade. Trata-se dos sistemas do cérebro
que recebem e analisam os estímulos que vêm de fora
e de dentro do organismo (por exemplo, sons, luzes, nível
de CO2 no sangue, movimentos intestinais etc.).
No ser humano, além desse primeiro sistema
de sinais, existe um segundo sistema, o da linguagem, que
aumenta as possibilidades de condicionamento. Para o ser humano,
a palavra pode ser um estímulo tão real, tão
eficaz, tão capaz de nos mobilizar como qualquer estímulo
concreto, e, às vezes, até mais. Além disso,
o fato da palavra ser simbólica, ser uma abstração,
permite que o estímulo condicionado seja generalizável.
Um exemplo? Se condicionarmos um homem dando-lhe choques
na mão após ouvir a palavra campainha, haverá
reação de defesa com retirada da mão. Depois
de algum tempo, ao ouvir a palavra campainha, em seu idioma natal
ou em algum outro que ele entenda, assim como ao ver uma campainha,
real ou em foto o homem terá a mesma reação
de retirada da mão. Por quê? Porque o homem não
foi condicionado a um conjunto de sons, como foi o caso do cão,
e sim a uma abstração, a idéia da campainha.
Outro exemplo de experiência de condicionamento
em seres humanos: dá-se choque na mão de um sujeito
após ele ouvir a palavra caminho, provocando retirada da
sua mão. Depois de algum tempo, ouvindo a palavra caminho,
esta pessoa retira a mão, fazendo o mesmo, também,
ao ouvir sinônimos: estrada, via, rota etc.
Até o sentimento de atração
e de repulsa, cujo significador planetário é Vênus,
é subordinado ao sistema de crenças de uma sociedade.
Por mais individual que este sentimento possa parecer, ele tem raízes
na programação que a cultura representa. As formas
físicas e os conceitos de beleza têm um padrão
que é complementado com uma ou outra particularidades que
os indivíduos buscam. Para exemplificarmos isso basta compararmos
o padrão de beleza feminina norte-americano com o brasileiro.
A beleza da mulher norte-americana é condicionada pela preferência
masculina dos seios fartos, enquanto a da brasileira é condicionada
pela apreciação das nádegas volumosas e bem
torneadas. Se a mulher é morena, loura, alta, baixa, se se
veste de um jeito ou de outro, é uma questão de subculturas
e preferências individuais, mas o padrão de beleza
é imposto a todas. Esta é a cultura geral em ação.
Também já vimos nos parágrafos
anteriores que Escorpião não é tanto o signo
do sexo e da morte, mas sim um signo envolvido com os tabus. Note-se
que não falo de pessoas escorpianas (Sol em Escorpião),
mas sim de um processo coletivo simbolizado por este signo.
Ainda quanto ao sistema de crenças e ocorrências
factuais devidas à programação mental: já
vimos que em todas as culturas existem tabus. Por mais diferentes
que sejam as culturas entre si, a morte sempre é um tabu,
o sexo também. Aquilo que é proibido - ou aquilo que
pode, de algum modo, ameaçar a vida ou sua continuidade -
precisa ser transformado em algo conhecido e, até certo ponto,
digamos, "controlável". Pode-se perguntar: "Mas
como assim, controlar a morte?". Na verdade não é
controle da morte em si, mas do processo que a coloca em seu devido
lugar na "realidade" cultural de um povo, isto é,
seu cosmos, seu universo.
Alguns povos lidam com a morte enterrando os falecidos,
enquanto outros realizam rituais crematórios. Em alguns locais
da Ásia os cadáveres são deixados para serem
devorados por abutres. Algumas tribos sul-americanas colocam os
mortos em urnas, com o formato de ânforas ou jarros, em posição
fetal. Os egípcios mumificavam os mortos. São milhares
de exemplos, mas todos eles identificam um lugar específico
para a morte.
O vivo que rompe algum destes tabus pode ou ser considerado
morto por alguns povos (mesmo não morrendo de fato) ou ser
excluído devido ao temor de que seu "estado impuro"
possa atrair a morte. Há casos de tribos em que estes indivíduos,
sem perceber, induziram circunstâncias que aumentassem as
chances de morte. E eles morreram graças à sugestão!
Mais uma vez: isso ocorre devido à poderosa introjeção
da cultura na mentalidade individual. "Aquele que faz isso
ou aquilo morre. Então eu devo morrer" - é a
cultura de um povo falando através de um indivíduo
e fazendo com que ele torne realidade concreta o que é real
apenas na mente.
A cultura também se move, isto é, ela
é dinâmica e se adapta com o tempo. Ela evolui mais
ou menos depressa, de acordo com sua capacidade de assimilação.
Ainda assim, quando digo "evolui", não me refiro
a tornar-se melhor nos termos da referência de culturas que
se acreditam mais civilizadas. Refiro-me à capacidade de
cada cultura de recriar seus modelos e parâmetros através
da criação de conceitos e referenciais próprios
ou externos.
Falei anteriormente sobre a natureza da transmissão
de elementos culturais e sobre o caráter geminiano da noção
de cultura, mas não falei até que ponto é crucial
a questão do pensamento transmitido (da perspectiva da mente
conceitual), que é análogo a este símbolo.
Particularidade que é oposta à mente global ou intuitiva
que se refere às crenças, em Sagitário. Gêmeos
e Mercúrio, seu regente, como significadores da mente, também
figuram como codificadores do sistema de crenças, haja vista
a forma como atua a linguagem no sistema de referenciais humanos.
Criamos vocábulos para designarmos as realidades percebidas.
Até o momento em que um vocábulo tenha surgido numa
cultura, os indivíduos que a compõem não agem
ou percebem segundo aquela realidade. Ou melhor, aquela coisa, situação,
sensação ou percepção que o vocábulo
define simplesmente não existia até aquele momento
no mundo daquelas pessoas. Talvez até existisse em potencial,
mas não era distingüível o suficiente.
A
oposição entre Plutão e Saturno no eixo Gêmeos-Sagitário
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