A cultura e os eixos Gêmeos-Sagitário
e Câncer-Capricórnio
Antes de explicar o que propõe o título
do capítulo, é preciso deixar claro alguns pontos:
1. A noção de relativismo está
implícita no simbolismo do signo de Peixes, o que inclui
o relativismo cultural professado pelos antropólogos. Peixes
simboliza, entre outras coisas, a percepção de que
todas as diferenças de pontos de vista são válidas,
cada uma tendo um encadeamento especial que explica suas razões
de ser. Ou melhor dizendo, isso significa que, para a ciência
Antropologia em sua vertente cultural, a realidade não é
definida por um único foco cultural, nem a legitimidade reconhecida
por uma cultura é mais evoluída ou mais lógica
que a reconhecida por outra. Elas diferem pelo contexto, e esse
contexto se explica por si próprio. O antropólogo
precisa vivenciar ele mesmo as circunstâncias típicas
de cada cultura para poder divisar seus mecanismos e seus porquês
sem nunca comparar ou tomar a cultura da qual é originário
como referência. Em seu trabalho científico ele explicará,
numa linguagem inteligível aos componentes de sua cultura
(como um tradutor o faria), o modus operandi de seu objeto de estudo.
Mas esta postura, repito, é com relação
à maneira de a ciência Antropologia observar e atuar
em relação à cultura. Não à cultura
em si.
2. O conceito de separação entre "puro
e impuro", apesar de ter conotações claramente
virginianas, não faz de Virgem um significador de cultura,
como Gêmeos-Sagitário e Capricórnio-Câncer.
Na verdade, o criticismo e a busca por organização
do caos no simbolismo virginiano se apresenta como uma função
subordinada ao conceito de cultura. Para algo ser aproveitado, rejeitado
e colocado em seu "devido" lugar, antes é preciso
haver uma percepção geral do que é ou não
danoso. Mas Virgem não é o significador da construção
de uma realidade baseada nas crenças e nas tradições.
Virgem representa a classificação do puro ou impuro
segundo o que a cultura assim determina. É, sim, o repositório
das expectativas no sentido de manter a cultura, digamos, "saudável"
ou isenta de contato com o que é potencialmente nocivo. Seu
significado e característica, então, está subordinado
ao sistema de crenças peculiar de cada cultura, como será
explicado mais adiante.
3. Não podemos confundir ideologia com
cultura nem com crença popular. Apesar de a ideologia
poder ser classificada como um sistema de crenças, ela
o é baseada num conhecimento factual, científico
ou até numa reflexão filosófica sobre realidade,
mas há nela um quê de revolução.
A ideologia é formada sob teorias e experimentos, não
sendo tão movida por imposição da cultura
quanto o comportamento geral da coletividade. Ao contrário,
ela costuma ir contra a cultura. Daí o nome "contracultura"
aos movimentos dos anos sessenta incentivados, entre outras
coisas, pelas obras de Jack Kerouac (foto) ainda na década
anterior. Na década de 60 Urano e Plutão estiveram
conjuntos em Virgem e Netuno transitava por Escorpião.
A contracultura teve seu corolário no Brasil no início
dos anos 70 do século XX, em decorrência de movimentos
como o tropicalismo, iniciado por Caetano Veloso e Gilberto
Gil, mas sua alavancagem se deu mesmo durante a conjunção
Urano-Plutão. |
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Isso poderia levar o analista de ciclos a incorrer
no erro de enxergar Virgem e os planetas geracionais como significadores
de cultura, pois no decorrer daquela década houve mudanças
radicais em nível cultural. Mas aí é que está
o erro. A contracultura vai literalmente contra a cultura vigente
ou dominante. É um esforço de subversão da
ordem ou de alteração do cosmo ordenado da cultura
geral. A própria mudança no comportamento sexual feminino,
facilitada graças ao surgimento da pílula anticoncepcional,
é uma verdadeira revolução cultural, mas não
representa um atentado aos pilares da sociedade ocidental: o comércio
e o direito civil. Ao contrário, isto pôde ser absorvido
pela cultura, transformando-a naquilo que conhecemos hoje. Pôde
ser vendido e até transformado em leis que favorecem a indústria
beneficiadora desses novos valores, que na verdade são velhos
valores retornando ao cotidiano após séculos de proibições
religiosas.
O que temos, então, que possa explicar por
analogia astrológica tais eventos? Eis uma teoria: a ação
coletiva que visa a trazer à tona conteúdos recalcados
pela cultura é análoga aos planetas geracionais.
Quando eles estão unidos por conjunções esta
ação torna-se mais forte, o que caracteriza uma subversão
dos valores culturais vigentes. Não importa em que signos
estejam.
Mas a contracultura é um movimento que ocorre
no seio da própria cultura. Uma modificação
interna que se alastra pouco a pouco em função de
uma nova mentalidade que questiona os tabus. Até aí,
portanto, o que temos não é cultura em si, mas elementos
que a alteram, que a subvertem. E, em se tratando do processo de
modificação comportamental dos anos 60, Virgem não
é um significador de cultura afetado por planetas geracionais.
É a conjunção dos mesmos que afeta toda uma
noção de realidade. Assim foi com os planetas sociais,
Júpiter e Saturno, conjuntos a Urano em Touro, no início
da década de 40, quando da entrada dos Estados Unidos na
Segunda Guerra Mundial. Só que a bomba atômica explodiu
no Japão quando Urano já estava em Gêmeos e
Saturno em Câncer, signos que neste ensaio defendo como sendo
significadores principais do conceito de cultura. Este evento alterou
inacreditavelmente quaisquer padrões culturais existentes
até então. E a alteração cultural dali
decorrente não tem paralelos, nem quando se fala das posteriores
guerras dos EUA contra o Vietnã, Coréia, ou da Inglaterra
contra a Argentina, na questão da Ilhas Malvinas.
Mas se o leitor ainda não se convenceu, sugiro
dar uma olhada nas posições dos geracionais durante
a formação da contracultura. Urano e Júpiter,
em 1955, estavam conjuntos em Câncer. Justamente a parte média
da década em que os beatniks deram início ao processo
de fermentação intelectual que iria alterar profundamente
o comportamento do mundo ocidental. Urano ficou em Câncer
de meados de 1949 até agosto de 1955.
Observem também o momento da quebra da Bolsa
de Nova Iorque, em 24 de outubro de 1929. Ali tínhamos Plutão
em Câncer, mas sem aspectos vindos de planetas localizados
no eixo Gêmeos-Sagitário. Acontece que Júpiter
e Saturno já estavam para formar uma oposição
justamente neste eixo. Os poucos graus que faltavam para tanto podem
ser desprezados em função dos eventos que são
análogos a esta oposição, tal é a força
que este eixo tem sobre a idéia de cultura que explicarei
mais adiante.
Os reflexos da crise de 29 puderam ser sentidos com
veemência ao longo da década de 30, especialmente em
seu início, quando foram formados núcleos de oposição
à democracia em vários países europeus, o que
resultou no fascismo e no nazismo. No Brasil, Getúlio Vargas
ascende ao poder e também ocorre a Revolução
Constitucionalista de 32 no Estado de São Paulo, opondo-se
ao governo Vargas. No mesmo ano, as mulheres adquiriram direito
ao voto no Brasil. Curiosamente, de 1931 até a primeira metade
de 1932, Plutão e Saturno estiveram em oposição
no eixo Câncer-Capricórnio, com Júpiter conjunto
a Plutão em 1931.
Isso tudo indica, senão um processo
drástico de mudanças na mentalidade vigente, pelo
menos um impulso que reverte a mentalidade a respeito das instituições
que mantêm um universo cultural estável. Mas agora
vejamos o porquê de serem estes eixos considerados como significadores
primários de cultura. Assim entenderemos melhor as associações
feitas nos últimos parágrafos.
Os significadores
de cultura
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