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ASTROLOGIA E ANTROPOLOGIA

Crenças e tabus: o zodíaco frente à cultura

Carlos Hollanda

 

A oposição entre Plutão e Saturno no eixo Gêmeos-Sagitário

A complexidade da linguagem insere elementos de raciocínio que permitem a troca com outras culturas e amplia o escopo ou a abrangência da mesma. Assim, novamente caímos na função oposta, que é Sagitário. Criamos novos sistemas de crença (Sagitário) à medida em que incorporamos novos elementos de linguagem (Gêmeos). E assim o circuito se completa, com a conservação e legitimação desses parâmetros em Câncer e Capricórnio.

A linguagem (Gêmeos - Mercúrio) também tem a particularidade de atribuir símbolos às coisas. Relacionamos o universo circundante a significados que nos dizem respeito. Isto é curioso, quando, por coincidência ou não, notamos que no Gênesis é dito que "Adão dá nome às coisas e aos animais e sobre eles adquire poder". Podemos interpretar isto como a atribuição de significado a cada coisa existente e a uma ampliação do potencial de atuação humana sobre a realidade percebida. É, então, a linguagem e, por conseguinte, a mente, que predomina no universo tangível do Homem. Este, invariavelmente, mesmo sendo um cético absoluto, terá um sistema de crenças condicionado pela cultura, pela linguagem e pelas experiências que o fazem constatar e legitimar suas crenças. "Não crer" por si só já é uma crença, pois o descrente adota referenciais nos quais se apóia para rejeitar os outros. Ele acredita de fato naquilo que para ele contraria a noção alheia.

A lógica, seja ela formal ou por analogia, só poderá ser feita mediante o uso de definições concretas que cada um tenha em seu repertório vocabular. Se não há, no sistema de referências lingüísticas de um indivíduo, elementos adequados ao raciocínio sobre um dado tema, sua lógica o levará a caminhos radicalmente diferentes dos de alguém que possua um outro referencial lingüístico e/ou cultural que abranja tais realidades. E isto independe do nível de escolaridade. Um doutor em Física pode entender muito de cálculos de forças em ação, mas pode não ter referencial algum em técnicas artísticas. A reputação de que goza a Física junto à opinião pública tende a criar uma expectativa que legitima qualquer físico como um indivíduo capacitado para aplicar adequadamente as regras do pensamento lógico. Contudo, o doutor em Física de nosso exemplo pode fazer uma afirmação completamente absurda ao falar de elementos estéticos, se não dispuser de informações adequadas para tanto.

Tomando como exemplo um tema como a Astrologia, não é de se admirar que a ciência oficial se oponha com tanta veemência ao assunto. Pelas mais diversas razões, muitos cientistas não chegam nem mesmo a inteirar-se do contexto sobre o qual a Astrologia se fundamenta. Graças a isso, não a entenderão e nem a quem a adota como sistema de conhecimento, enquanto não se dispuserem a testá-la segundo seus próprios parâmetros e linguagem.

Trânsitos e progressões que ativam determinados pontos de nosso mapa também dão relevo às reações culturais padronizadas ante aquela situação. Quando estes eixos são "estimulados" por movimetos planetários, os costumes e tradições do mundo inteiro podem ser abalados ou, ao contrário, crescer em vulto. Idem, quanto ao comércio, ao Marketing, à mídia, à Propaganda e ao Direito Civil, que são pilares da civilização do Ocidente e são análogos ao eixo Gêmeos-Sagitário (como vimos anteriormente).

De meados de 2001 até agosto de 2002 vivemos uma configuração planetária notável: Saturno em oposição a Plutão, respectivamente em Gêmeos e em Sagitário. Júpiter transitando pelo signo de Câncer completa o quadro, intensificando ainda mais o processo de mudança cultural, que se desdobra em duas categorias: a mudança interna, resultante da dinâmica do próprio sistema cultural, e a mudança em conseqüência do contato de um sistema cultural com outro. No primeiro caso a alteração dos padrões é quase imperceptível para o observador desprovido de dados diacrônicos (aqueles que lidam com a evolução temporal de determinado fato), se bem que este ritmo lento possa ser alterado por eventos drásticos, como uma guerra ou uma revolução tecnológica. Já o segundo pode ser mais rápido e brusco, mesmo quando a troca de padrões culturais ocorre sem maiores traumas. Em geral, este segundo caso já é razoavelmente povoado de tensões, mas uma configuração planetária como Saturno-Plutão, de conotação tensa e explosiva, dificilmente poderia ser significadora de um processo de "normalidade" em se tratando de trocas culturais. O que ocorre durante esta fase une os aspectos drásticos dos dois tipos de mudança cultural.

Saturno representa a ordem estabelecida, enquanto Plutão é o incontrolável, o que age segundo suas próprias leis, o subreptício que irrompe numa explosão de força irremovível. Com ambos agindo no eixo transmissor de valores culturais, não é de se admirar que estejamos vivenciando alterações tão drásticas em nosso modo de vida e que sejamos obrigados a reconsiderar nossas convicções, nossos sistemas de crença e nossas tradições.

Os eventos desencadeados a partir do atentado de 11 de setembro de 2001 às torres do World Trade Center, em Nova Iorque, forçaram-nos a repensar a questão da morte e da religião. Mais do que isso: estamos nos deparando com um questionamento sobre até que ponto a cultura influi no instinto de autopreservação. Até que ponto nossas certezas sobre a realidade da existência são mesmo válidas?

A morte é um tabu tão poderoso que acreditamos ser, por força da cultura, algo que prejudica a quem morreu, e não a quem está vivo. Explicando melhor: se alguém morre, imediatamente se diz: "coitado". Mas com certeza quem é da família, quem conviveu com esse alguém é quem sofre por mais tempo. Mas há uma tendência em nossa cultura a rejeitar a morte, a relegá-la a um tabu do qual até falar é pernicioso - herança greco-romana de um sistema de crenças onde dizer "Hades" tinha um significado e provocava uma reação semelhante. Falar da morte poderia atraí-la ao "cosmo" daquela cultura ou trazer a pestilência, desencadeando processos difíceis ou impossíveis de controlar para manter o universo estável. Ainda vamos conviver muitos séculos com o paradoxo de querermos manter a vida a todo custo e negarmos a nós mesmos que a morte é um processo natural que deve atingir a todos os seres vivos.

O ser humano como um ator múltiplo, mas inconsciente

1 - Introdução
2 - A cultura e a baba que escorre da boca
3 - Astrologia: tão ambígua quanto um sapo
4 - Os significadores astrológicos dependem do contexto cultural
5 - A relação da cultura com símbolos zodiacais
6 - A cultura e os eixos Gêmeos-Sagitário e Câncer-Capricórnio
7 - Os significadores de cultura
8 - Placebos, crenças, sistemas peritos e o cachorro de Pavlov
9 - Reflexo Condicionado: o Homem é muito mais passível que os animais
10 - A oposição entre Plutão e Saturno no eixo Gêmeos-Sagitário
11 - O ser humano como um ator múltiplo, mas inconsciente
12 - Escorpião, o Senhor dos Tabus

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