Escorpião, o Senhor
dos Tabus
Assim como no caso dos elementos, os signos também
estão presentes em circunstâncias e realidades comuns
a todas as culturas e, em outros casos, até à própria
natureza humana. Exemplificando: todos sentem fome e sede, todos
precisam se alimentar. O modo como o alimento é preparado,
consumido ou repudiado depende muito da cultura de cada povo. Já
a necessidade de comer é um processo fisiológico,
apesar de a quantidade e freqüência da alimentação
variar também de cultura para cultura. Câncer, no sistema
de símbolos de que a Astrologia faz uso, é o signo
que tem maior afinidade com a idéia de matar a fome, de ingerir,
de pôr algo no estômago. Aliás, Câncer
é o signo que rege, isto é, tem afinidade simbólica
com o estômago e parte do sistema digestivo. Isso mostra que
invariavelmente, dentro do contexto do sistema de correspondências
de que estamos falando, o símbolo tem as mesmas analogias
para todos os povos e todos os indivíduos, não importando
a cultura. A fome leva a comer. O que é "bom" ou
"mau" para comer, o que comer, e como, é outra
história: depende da cultura.
Observação: Não
confundir analogia simbólica com influência. Signos
e planetas têm atributos que guardam analogia com comportamentos
e processos da realidade material e social, mas não influenciam,
ou seja, não são a causa que produz determinados efeitos.
Câncer também é análogo
à necessidade de abrigo, de refúgio, e isto é
uma característica natural, independente da faculdade humana
de produzir cultura. Não só o homem, como todos os
animais buscam abrigo de algum modo. Alguns abrem tocas, outros
abrigam-se em cavernas. Há aqueles que não se utilizam
de abrigos no sentido literal, mas mantêm-se unidos aos seus
grupos ou manadas, como forma de buscar uma segurança relativa.
Com o Homem, apesar de os aspectos culturais alterarem a forma de
abrigar-se, a necessidade de abrigo é imperiosa para garantir
a sobrevivência. A cultura, no entanto, pode forçar
alguns ao desterro temporário ou permanente. Pode também
levar o indivíduo a buscar a exposição pública
como forma de realização de sua necessidade de segurança.
Ciúme é um sentimento cujos motivos
podem variar de cultura para cultura e até de indivíduo
para indivíduo. Todavia é um sentimento que existe
e se manifesta com maior ou menor freqüência em todos.
Tirando as mais diversas especulações filosóficas
em torno de qual signo tem maior afinidade com o conceito de uma
emoção forte e dolorosa como o ciúme, a maioria
dos estudiosos concorda que o signo de Escorpião tem com
ele grande similaridade. Não exatamente e nem exclusivamente
com o ciúme, mas com a intensidade emocional que ele representa,
sendo Escorpião é o representativo simbólico
mais adequado para defini-lo. Isso não dá a este signo
o caráter de pernicioso, exceto quando, numa dada cultura,
a relação que se tem com as emoções
fortes é pouco compreendida. Além disso, um mesmo
signo não tem apenas uma conotação.
Escorpião também está relacionado
a um outro conceito comum em todas as culturas: os tabus e o que
fazer em relação a eles. No sentido fisiológico
está relacionado a uma função inerente a qualquer
criatura viva: a excreção. Notem que os tabus em sua
maioria referem-se justamente àquilo que o corpo humano segrega
ou expele. No entanto, é possível que haja alguma
sociedade onde não seja tabu o contato com as excreções,
mas de qualquer forma, tenho certeza, haverá algum tipo de
tabu. Isso ocorre, porque, uma vez que a cultura existe, ela se
encarrega de separar aquilo que é "alto" do "baixo",
o "sagrado" do "profano" e busca, a todo custo,
evitar a "contaminação".
Muitas vezes o tabu é o casamento entre pessoas
de nacionalidades ou religiões diferentes, mas é tabu,
e isso é assunto que tem suas correspondências astrológicas
bastante definidas. Estes tabus são justamente os processos
que podemos relacionar simbolicamente com os planetas Urano, Netuno
e Plutão. Plutão, o Hades, o deus dos infernos , na
mitologia greco-romana, seria, neste caso, o mais sugestivo representante
do conceito, pois lida justamente com a noção do "baixo",
do impuro. Plutão é o regente de Escorpião.
Não é à toa que muitos médicos e psicólogos
têm preponderância destes símbolos no mapa astrológico.
Lidar com doenças (a ameaça do contágio do
impuro) e buscar a cura é atributo do médico. Lidar
com os recalques e problemas psicológicos derivados justamente
dos tabus sociais (como a sexualidade e outros) é lidar também
com este elemento ameaçador ao senso comum.
Desse modo, acabamos por perceber uma outra analogia
entre a função simbólica e a natureza: a reciclagem.
Não a reciclagem industrial em prol da Ecologia, apesar de
esta também ser associada a Escorpião. Falo da reciclagem
natural, na decomposição da matéria e em seu
aproveitamento no ressurgir da vida. Vendo sob este prisma, tanto
o médico quanto o psicólogo, como análogos
ao signo, são aqueles que estão em contato com o profano,
para redimi-lo e purificá-lo, isto é, para trabalhar
em prol do bem-estar do sistema como um todo.
O paradoxo aqui é que o sistema astrológico
foi criado e depois acrescido de símbolos, por várias
culturas diferentes, o que o torna, por excelência, um produto
da cultura, não uma conseqüência da natureza.
Mas é um produto da cultura que permite que a analisemos
distanciadamente, sob diversos pontos de vista, tendo, ainda, correspondência
com quaisquer níveis de realidade.
Entre as referências bibliográficas
obrigatórias para uma boa compreensão da relatividade
cultural está a obra do antropólogo francês
Claude Lévi-Strauss, que chegou a desenvolver muitas
pesquisas de campo no Brasil. (foto: Academia Francesa) |
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Referências Bibliográficas
e sites da Internet
BARROS LARAIA, R. Cultura - Um Conceito Antropológico.
Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 1986.
CAMPBELL, J. O Poder do Mito. Palas Athena, São Paulo, 1988.
DA MATTA, R. Ensaios de Antropologia Estrutural. Vozes, Petrópolis,
1973.
ELIADE, M. O Sagrado e o Profano - A essência das Religiões.
Martins Fontes, São Paulo, 2001.
GIDDENS, A. As Conseqüências da Modernidade. Unesp, São
Paulo, 1990.
LÉVI-STRAUSS, C. Antropologia Estrutural. Tempo Brasileiro,
Brasília, 1970.
MARCUSE, H. Eros e Civilização. Rio de Janeiro, Zahar,
1968.
RODRIGUES, J.C. Tabu do Corpo. Dois Pontos, Rio de Janeiro, 1986.
VIGOTSKII, L.R.; Luria, A.R.; LEONTIEV, A.N. Linguagem, Desenvolvimento
e Aprendizagem. Ícone, São Paulo, 1998.
Sobre Pavlov e o reflexo condicionado:
http://www.epub.org.br/cm/n09/mente/pavlov.htm
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Hollanda.
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