Os significadores de cultura
Para associarmos significadores zodiacais ao processo
formador e conservador da cultura é preciso, antes, entender
como ele acontece. Seria, em resumo, um acumular de descobertas
oriundas da curiosidade e da observação do universo
circundante. Percepções que vão sendo transmitidas
e cultivadas num dado grupo social. Estas transformam-se em tradições
que vão passando de geração a geração.
Eis que temos dados suficientes para formular uma correspondência
com o simbolismo dos signos do zodíaco. A transmissão
de dados observados e a troca de experiências entre os indivíduos
das proximidades é atributo tipicamente geminiano. A conservação
desses dados e a transformação dos mesmos em tradições
que mantêm a identidade daquele grupo e sua sobrevivência
como tal é atributo canceriano. Mas nenhum ponto do zodíaco
é ativado sem estimular seu pólo oposto. A tradição
e a transmissão da mesma termina por criar um sistema de
crenças que regula o comportamento e cria normas de conduta
e ética. Seguindo-se a isto vem a legitimação
e padronização, um reconhecimento do grupo social
sobre os valores mais importantes, isto é, aqueles que não
só garantem a perpetuação dos indivíduos
e instituições, como comprova-lhes a eficácia.
Estamos, naturalmente, falando dos respectivos opostos de Gêmeos
e Câncer: Sagitário e Capricórnio.
Capricórnio e seu regente, Saturno, estão
mais associados ao conceito durkheimiano de Consciência Coletiva,
que atua como um fator coercitivo sobre os indivíduos. Analisando
a obra de Freud, percebe-se que o processo descrito por Durkheim
(um dos pais da Sociologia) é introjetado e assimilado pelo
indivíduo, formando o que o pai da psicanálise denominou
Superego. Em Astrologia Psicológica é fato corriqueiro
a associação entre Saturno e o Superego. Disso decorre
esta associação do mesmo princípio com a Consciência
Coletiva.
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Emile Durkheim, um dos pioneiros da Sociologia, viveu entre
1858 e 1917. Durkheim acreditava que os métodos científicos
podiam ser aplicados no estudo da sociedade. Propôs
que um grupo social tem uma dinâmica própria,
apresentando características que se diferenciam e vão
além da simples soma das características individuais
de seus membros. Produziu vasta obra, com destaque para estudos
sobre religiões e códigos morais em sociedades
ditas primitivas e sobre o processo de divisão de trabalho.
(Foto: Universidade de Monterrey)
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Sagitário e seu regente,
Júpiter, no entanto, são o processo mental relativo
aos sistemas de crenças. Assim, temos uma comparação
muito apropriada com as reações orgânicas e/ou
psicológicas ante determinadas circunstâncias do mundo
que nos cerca. O que cria a noção de "contaminação",
da qual já falei, é nada menos do que nossa própria
mente. Em outras palavras, é aquilo que arraigadamente acreditamos
devido à introjeção quase integral da cultura
(o "software") em nossas mentes. Como exemplo temos
o seguinte: a maioria das pessoas no Brasil sente nojo de criaturas
viscosas. Não há o que possa alterar esta sensação
ao nos ser apresentada uma larva como prato principal de uma refeição.
Ao contrário, para algumas tribos de índios da Amazônia,
certas larvas que vivem no tronco de uma árvore são
iguarias muito saborosas. E elas são comidas vivas, tiradas
na hora. Para os franceses, o escargot, um caracol usado como alimento
desde a antiga Roma, é um prato de luxo. A maioria do povo
brasileiro torceria o nariz ao vê-lo vivo. As pessoas menos
informadas sobre padrões culturais e levadas por seus sistemas
de crenças, poderiam responder: "os franceses são
pessoas incivilizadas" (o que confirmaria uma posição
etnocêntrica.
Soma-se a isto a questão do banho. Para o
sistema de crença, ou melhor, para a cultura dos brasileiros,
é normal, saudável e, digamos, quase obrigatório
socialmente o cidadão estar de banho tomado todos os dias
e, havendo disponibilidade de tempo, pelo menos duas vezes ao dia.
Em algumas regiões do país, graças ao calor,
toma-se banho várias vezes. Ao verem alguém de uma
cultura diferente recusar-se a tomar banho com a mesma freqüência,
os componentes destas culturas afastam-se (vejam a questão
do sagrado e profano, puro e impuro e a contaminação)
para evitar sentir o "odor desagradável". Acontece
que até mesmo isto é condicionado pelo sistema cultural,
que adquire o caráter mental dos sistemas de crenças.
A sensação de agradável e desagradável
é condicionada em grande parte pelos padrões que introjetamos
culturalmente, e um odor de transpiração - que para
nós pode ser repulsivo - para um outro povo pode nem mesmo
ser sentido. Pode ser até agradável. E o nosso odor,
que não percebemos, para eles é que é insuportável,
mesmo quando se usa perfume! Isso é uma comprovação
de que, se a mente não tiver o poder de agir sobre a matéria,
com certeza ela age sobre a percepção sensorial a
ponto de nos fazer sentir ou ignorar a existência de alguma
coisa. Tudo isso faz parte do sistema de crenças, que, por
sua vez, faz parte de cada cultura.
Neste ponto, cabe um retorno ao que foi dito sobre
Virgem: as regras de higiene e de manutenção da saúde
que este signo representa são condicionadas pela força
da crença coletiva, e crença é um assunto sagitariano.
Outro ponto que pode confundir o leitor com relação
ao papel de Virgem e as analogias zodiacais com o conceito de crenças,
mente e cultura, é a questão das doenças psicossomáticas.
A suscetibilidade de algumas pessoas a doenças muitas vezes
é produto do fato de que elas crêem-se vulneráveis
a determinadas patologias. Isso leva a lógica a apontar para
Virgem como um símbolo análogo ao processo mental
de criar condições que se refletem no corpo. Nada
mais justo. De fato a mente, seguindo um sistema de crenças
definido, cria condições tais que alteram nossa percepção
da realidade. Daí o uso dos placebos no combate a tais ocorrências.
O placebo é uma forma farmacêutica sem
atividade que serve para sugerir ao paciente que ele está
sendo medicado. O paciente não sabe que o que está
ingerindo não tem efeito físico algum. Caso o placebo
provoque algum resultado, ficará provado que a anomalia física
tem origem psicológica. O que se depreende disto? A um olhar
superficial pareceria que Virgem é o significador absoluto
deste processo de criação de condições
por crenças, não tendo o processo nada a ver com os
eixos Gêmeos-Sagitário e Câncer-Capricórnio,
que asseveramos serem os reais significadores.
Placebos,
crenças, sistemas peritos e o cachorro de Pavlov
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