Este artigo é a quarta parte da dissertação de mestrado Narrativas do Céu – A presença da Astrologia nos Meios de Comunicação, apresentada em 2015 pela jornalista e astróloga Titi Vidal. Se você não leu as partes iniciais, não perca tempo:
A popularização da Astrologia no Brasil
No Brasil, a Astrologia chega com Pedro Álvares Cabral, com o médico, astrônomo, astrólogo e navegador mestre João de Castilha, “um dos primeiros ocidentais a usar o astrolábio como ferramenta de navegação astronômica” (BITTENCOURT, 1998, p. 25). A partir daí foi se desenvolvendo no Brasil, inclusive com a chegada dos almanaques, vindos da Europa no século XVI (RAMOS, 2002, p.17). Sabemos que havia almanaques elaborados para a cidade do Rio de Janeiro no século XVIII, nos anos de 1792 e 1794.
O almanaque, “como forma de veículo cultural, surgiu no Brasil em 1812, O Almanaque para a cidade da Bahia”. Em 1816 foi lançado o Almanach do Rio de Janeiro, “o mais importante até então”. Em 1829 é lançado o Almanaque Imperial, em formato que “começa a ser notado pelas pessoas cultas” e em 1839 os almanaques ganham “fama popular com o Almanaque Laemmert, que começou em 1839 “como uma despretensiosa folhinha literária para chegar a 1,7 mil páginas em 1875” (Almanaque do Pensamento, 2012).
Em 1838 surgiu a venda de “folhinhas”, “que provavelmente foram as precursoras de nossos almanaques” (CAMARGO, 1983, p. 7). Em São Paulo, os primeiros almanaques surgem em 1857. Em 1873 foi lançado Almanak da Província de São Paulo, que “não prosseguiu depois do primeiro ano ‘por causa da grande despesa que reclamava’” (MINDLIN, 1985). Este Almanak, organizado e editado por Antônio José Baptista de Luné e Paulo Delfino da Fonseca, foi o “décimo sexto almanaque publicado em São Paulo” (MINDLIN, 1985). Segundo José Mindlin, na introdução que faz à republicação do Almanak, o primeiro foi o “Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Província de S. Paulo para o anno de 1857: organizado e redigido por Marques & Irmão: 1o anno (S. Paulo Typographia Imparcial, de J. R. de Azevedo Marques, 1856)”. Mas, segundo Mindlin, o Almanak, de 1873, é o que contém “a maior soma de informações” (MINDLIN, 1985).
O Almanak começa com um capítulo intitulado Calendário, no qual há uma longa descrição sobre a divisão do tempo e os ciclos do Sol e da Lua, bem como a relação entre eles de acordo com as Luas Novas, entre outras informações.
Para cada mês, o Almanak tem a imagem do signo daquele período, bem como data e hora do ingresso do Sol neste signo. Além disso, ele apresenta data e hora (minuto e segundo) de cada fase lunar para aquele mês. Por exemplo, para janeiro daquele ano (1873) ele conta que “Entra o Sol em Aquario às 19, ás 7 horas 37’39’’da tarde”.
Um almanaque publicado até hoje é o Almanaque do Pensamento, que em sua origem, em 1912, era chamado Almanaque d’O Pensamento, cuja edição comemorativa de centenário foi publicada em 2012. Além de uma breve história sobre os almanaques no Brasil, essa edição apresentou o horóscopo para o Brasil em 2012, um texto sobre a Lua, regente daquele ano, lunações e trânsitos planetários e muitas outras informações astrológicas. Além da Astrologia, o Almanaque publicou informações sobre Astrologia chinesa, sobre Astronomia, filosofia de vida e espiritualidade. Anualmente, o Almanaque do Pensamento também contém informações sobre a tábua das marés.
“Com exceção do Almanaque Brasileiro de Astrologia de Assuramaya, lançado entre o fim do século passado e início deste, ele (o Almanaque do Pensamento) é o único a ter a astrologia como tema principal desde que foi editado pela primeira vez em setembro de 1912” (ALMANAQUE DO PENSAMENTO, 2012).
Uma matéria sobre astrologia foi publicada em 5/4/1936 na primeira página do jornal carioca Diário de Notícias, falando sobre uma previsão feita por um astrólogo, que previra a prisão do governador (SUZIKI, 2007, p. 33). Esse jornal também contava com uma coluna astrológica assinada por um astrólogo sob um pseudônimo.
Além disso, nos anos 1930, na redação do jornal A Folha Carioca foi fundada a Sociedade Astrológica Brasileira (SUZUKI, 2007, p. 34).
Omar Cardoso e Assuramaya
Mas um dos principais responsáveis pela popularização da Astrologia no Brasil foi o astrólogo Omar Cardoso, que nos anos 1950 iniciou uma intensa atividade de comunicação no país, tendo atuado em São Paulo e no Rio de Janeiro, publicando colunas em revistas, jornais e emissoras de rádios e televisão (SUZUKI, 2007, p. 34). Omar Cardoso iniciou a transmissão de seus programas de rádio em Marília, em 1938 (RAMOS, 2002, p.25), além de ser o autor de muitas colunas nas maiores revistas de grande circulação, especialmente O Cruzeiro. Note-se que O Cruzeiro era a mais importante revista em circulação no Brasil naquele período, com tiragem que chegou a mais de 500 mil exemplares, que “teve uma contribuição decisiva no ‘renascimento’ da Astrologia para o grande público” (SUZUKI, 2007, p. 34). Era uma revista semanal e continha uma seção com previsão diária e assuntos esotéricos.
Omar Cardoso também comandou programas de rádio e televisão, sendo que em 1966 “eram dois programas de rádio ao vivo e irradiados pelas emissoras dos mais longínquos rincões do país” (SUZUKI, 2007, p. 38). Cardoso chegou a trabalhar em trinta emissoras de rádio e de televisão e construiu sua fama fazendo previsões para personalidades como o papa Paulo VI ou Pelé (RAMOS, 2002, p.25).
Para Suzuki, o período de 1950 a 1959 “pode ser considerado como o inicio do despertar da Astrologia para o grande público leitor de revistas e jornais” (2007, p. 35). Desse período em diante, “tornaram-se habituais nos jornais e nas revistas semanais e mensais seções Astrológicas com previsões para cada um dos doze signos” (2007, p. 35). Além disso, “era comum, no início de cada ano, fazer matérias com previsões para o período e, esporadicamente, produzir publicações especiais relacionadas a grandes eventos, tragédias, etc.” (2007, p. 35).
Nos anos 1950, o astrólogo Assuramaya produziu, por dez anos, uma coluna de página inteira no jornal O Dia, que saía aos domingos, na qual “ele abordava vários temas ligados à cultura, à História, inseria mensagens de grandes mestres, biografias e um horóscopo” (SUZUKI, 2007, p. 35).
Assuramaya “também manteve programas de rádio com larga audiência, especialmente na Rádio Nacional, onde substituiu Omar Cardoso, chegando – segundo ele afirma – a receber mais de três mil cartas por mês”. O programa ia ao ar diariamente às 7h30 e existiu até 1976.
A partir dos anos 1960, muitas matérias foram publicadas em jornais sobre Astrologia, sendo que nos anos 1990 foi dado grande espaço aos artigos mais complexos e profundos sobre o tema, apesar das críticas à Astrologia que também estiveram presentes durante todo esse período.
Em 1973 “começa a ser publicada a Revista Planeta”, considerada “um importante instrumento de aglutinação dos personagens da Astrologia” (SUZUKI, 2007, p. 40). Segundo Suzuki, esta revista “amplia e aprofunda o trabalho iniciado pelo almanaque do Pensamento, abrindo espaço para a divulgação de conceitos e enfoques” (2007, p. 40).
Para a pesquisadora Daniela Ramos, a “mais tradicional representante das revistas de divulgação da Astrologia no Brasil foi a revista Horóscopo”, que “sobreviveu durante 27 anos no mercado: nasceu em 1973 e parou de circular em outubro de 2001” (RAMOS, 2002, p.22). Ramos conta que a Horóscopo estava relacionada à revista Capricho da Editora Abril “(…) primeira publicação da empresa dirigida ao público feminino, em 1952” (RAMOS, 2002, p.22) e inicialmente trazia fotonovelas e muitas outras seções, entre as quais o “Horóscopo”.
A primeira edição da Horóscopo “trazia previsões para todos os signos do zodíaco e uma matéria sobre ‘fatos verdadeiros da Astrologia’”. Durante todo ano de 1974 a revista foi publicada mensalmente e a partir de abril desse ano passou a ter matérias de comportamento do ponto de vista astrológico (RAMOS, 2002, P. 23). Por exemplo, a edição da Revista Horóscopo Capricho (Anexo 1) de janeiro de 1984 traz três páginas para cada signo. Sempre com uma imagem e uma pequena introdução com as características da personalidade daquele signo. A seguir, previsões mensais para o signo separadas em amor, saúde, dinheiro. Além disso, uma nota sobre a influência do ascendente para aquele período e previsões para “o dia a dia”, com uma pequena frase diária.
O Almanaque Abril começou a ser publicado em 1975 pela Editora Abril. De 1920 a 1980 foi publicado também o Almanaque do Biotônico Fontoura, patrocinado por um laboratório farmacêutico (RAMOS, 2002, p. 21). Segundo a autora, o “processo de ligação da Astrologia com os meios de comunicação de massa” (RAMOS, 2002, p. 23) tem início em 1975, “a partir do entrelaçamento do conteúdo astrológico com os astros da TV” (RAMOS, 2002, p. 23). A própria revista Horóscopo passou a publicar um especial mensal chamado Os astros da TV e, depois, em 2001, o As dicas dos Astros para o sucesso. De acordo com Daniela Ramos, a partir daí começa um casamento bem-sucedido entre a Astrologia e “as fórmulas de reprodução de conteúdos de massa” (RAMOS, 2002, p. 23), e a partir de 1980 surgem outras revistas sobre o tema. Entre elas o Guia Astral, lançada em 1985, editada pelo astrólogo João Bidu em Bauru (SP), que se tornou bastante popular. João Bidu, além das revistas, fez sucesso em um programa de rádio no qual respondia cartas sobre dúvidas astrológicas com Omar Cardoso, famoso desde os anos 1950. Em cinco anos, a Guia Astral passou de 30 mil para 250 mil exemplares (RAMOS, 2002, p. 23). A editora de João Bidu, Alto Astral, tem diversas publicações sobre Astrologia, que circulam até hoje. Assim, as revistas e a imprensa especializada popularizaram a Astrologia com previsões semanais, quinzenais ou mensais para cada signo e matérias de comportamento, até que os jornais criaram o horóscopo diário, trazendo no “desenrolar do dia a dia do jornal diário um possível novo capítulo da nossa história” (RAMOS, 2002, p. 24).
Thais Ponder diz
Estou tentando achar uma copia virtual dos almanaques anuais do Omar Cardoso com previsoes e informacoes para cada signo, como por example, cores, pedras preciosas, areas no corpo humano regido por cada signo, etc. Eu aprecio informacoes e desde ja, muito obrigada!