
Os quatro elementos da tradição astrológica: Ar, Água, Fogo e Terra.
FERNANDO – Nas leituras simbólicas, qual o papel da razão, da intuição e da erudição?
CONSTANTINO – Acredito que esses atributos estão sempre presentes, no mais das vezes em proporções variáveis, dependendo das pessoas e das linguagens simbólicas. Todos nós precisamos ter um mínimo de inteligência, dedicarmos um bom tempo para estudar e dispor de uma habilidade para formular expressões e sínteses que não estão prontas com antecedência e que, seguramente, dependem de sutis interações com o nosso interlocutor e com suas questões existenciais. Sem esse “feeling” o atendimento se torna parcial, insuficiente.
Acredito que, usualmente, o termo intuição seja utilizado numa acepção muito reduzida, ligado apenas aos dons de captação dos chamados sensitivos. De um modo geral, a maior parte deles que atendi até hoje têm uma forte ênfase em signos de Água – especialmente Câncer e Peixes – e/ou aspectos dinâmicos de Netuno com Lua e planetas pessoais.
FERNANDO – Você atribui a intuição apenas ao elemento Água?
CONSTANTINO – Seria a intuição um atributo exclusivo daqueles que têm ênfase em Água, com planetas pessoais estimulados por quadraturas e oposições de Netuno? Hoje, respondo que cada qualidade elementar tem sua intuição peculiar. Acordei para esse fato logo nos primeiro anos de atendimento astrológico, quando muitas vezes, no esforço de pensamento para traduzir figurações astrológicas de um modo mais compreensível para o cliente, formulava analogias e exemplos, que eu tomava como imaginários, mas que muitas vezes surpreendia a pessoa, pois se tratava de retratos de sua vida real.
Esse efeito escrutinador do pensamento era a última coisa que eu poderia esperar de pessoas como eu, que tem uma ênfase dobrada em signos de Ar e não contam com planeta algum em signos de Água. E, no meu caso, para reforçar as disposições intelectuais, consta em meu mapa de nascimento uma conjunção Urano-Lua. Experiências no atendimentos, como a que exemplifiquei, reforçaram-me a sugestão de existir uma intuição própria de Ar, que se manifesta em pensamento, num processo diferente de imagens e vidências típicas da tribo de Água. E, à medida que passei a observar o tema com atenção, constatei que a captação das pessoas com ênfase em Terra é revelada pela sensação, pela impressão viva de atmosferas pessoais e grupais, num padrão qualitativo muito diferente dos processos usualmente descritos como mediúnicos. Uma particularidade notável da intuição Terra é a sua objetividade e consistência.
FERNANDO – Alguma confirmação teórica para esta constatação?
CONSTANTINO – Estudos complementares dos quatro temperamentos na Pedagogia Waldorf confirmaram para mim os dons perceptivos próprios de cada elemento, mas que na educação convencional são negligenciados e pouco estimulados.
A tipologia dos quatro elementos também ajuda a entender o perfil daqueles que se aproximam de cada linguagem simbólica. Por exemplo, na minha observação, foram raríssimos os casos de pessoas com falta de Ar que se interessavam pelo estudo da astrologia ou “perdiam tempo” fazendo passatempos intelectuais, tipos sudoku, palavras cruzadas. Já para aqueles que têm ênfase em Água e fazem suas traduções por imagens, fica muito mais natural a interação com linguagens simbólicas apoiadas em figurações, como é o caso do tarô.
Outro detalhe, dentro do próprio tarô, é o de quanto mais ênfase em Água a pessoa tiver, mais dificuldade terá para lidar com as abstrações numéricas das quarenta cartas numeradas, em especial se tiver pouco Ar. Tanto é que os cartomantes com perfil de sensitivos costumam trocar as cartas numeradas dos quatro naipes por cartas com imagens óbvias de um animal, um livro, um anel, uma árvore, etc. É o que acontece com o chamado “Petit Lenormand”, designado comumente no Brasil como “Baralho Cigano”, e também com o difundido tarô Rider-Waite.

Algumas cartas do “Petit Lenormande”, conhecido no Brasil como “Baralho Cigano”. É um baralho com forte apelo visual.
FERNANDO – Há alguma característica astrológica ou pessoal que você considere essencial para o atendimento?
Quando penso na delicada situação de orientação de pessoas, no revolver de suas crises pessoais e na indicação de alternativas existenciais, só posso imaginar a função de cartomancia realizada a contento quando levada a efeito pelas matriarcas, pelas anciãs familiares e comunitárias, que juntaram experiência viva, prática, emocional e religiosa suficientes para não cometerem equívocos ou darem palpites desastrados. Acredito que aos mais jovens, que não tiveram aprendizado ao vivo, caberia a função de orientar pessoas apenas após a conclusão de cursos de psicologia, pedagogia, terapias psicofísicas.
Contudo, num quadro mais desafiador ainda que o da astrologia, o campo da atividade informal de consultas com as cartas do baralho permite tudo. Fica na mão de cada um estabelecer a distinção entre o conselheiro experiente e o enganador cartomântico.
Entrevista muito elucidativa e necessária aos que, como eu, pretendem aprofundar os estudos em Tarô. Agradecida.
Constantino, sempre agudo, pontual, objetivo e refinado nas suas considerações. parabéns!
Excelente entrevista. Sempre sinto-me grata quando encontro informações coerentes e baseadas na observação do “outro” como primeiro elemento para interpretar.
Ótima entrevista. Como toda aprendizagem, precisamos primeiro compreender nossa natureza intuitiva e não nos moldarmos à uma forma que não nos cabe.
Ufa!!! até que enfim alguém que tem coerência sobre a intuição.
Linda imagem e excelente entrevista!