A volta ao Brasil
Quando Oscar Niemeyer ainda estava no exílio, o regime militar ousou encomendar-lhe o projeto do Anexo 4 do Congresso Nacional. A obra foi concluída em 1978 e abriga 428 gabinetes parlamentares.
Um dia eu tava no exterior, chateado, longe de tudo. Pensava no Brasil, nos amigos, na família. Tava tão revoltado que eu fiz um verso, preguei na parede, assim:
“Estou longe de tudo/De tudo que eu gosto
Dessa terra tão linda/Que me viu nascer.
Um dia me queimo/Meto o pé na estrada
É aí no Brasil/Que eu quero viver.
Cada um no seu canto/Cada um no seu teto
A brincar com os amigos/Vendo o tempo correr.
Quero olhar as estrelas/Quero sentir a vida
É aí no Brasil/Que eu quero viver.
Estou puto da vida/Essa gripe não passa
De ouvir tanta besteira/Não me posso conter
Um dia me queimo/E largo tudo isso
É aí no Brasil/Que eu quero viver.
Isso aqui não me serve/Não me serve de nada
A decisão tá tomada/Ninguém vai me deter.
Que se foda o trabalho/Esse mundo de merda
É aí no Brasil/Que eu quero viver.”
Note que os versos “um dia me queimo”, “meto o pé na estrada”, “estou puto da vida”, “largo tudo isso”, “isso aqui não me serve”, “ninguém vai me deter” e “esse mundo de merda” retratam o “lirismo poético” de um sagitariano cujo Sol está numa Quadratura T com Saturno em Peixes e Plutão em Gêmeos.
Finalmente, em 1980, Niemeyer volta a viver no Brasil. Projeta o Memorial JK, em Brasília (1980), a sede da Rede Manchete, no Rio (1980); a sede do Jornal L’Humanité, na França (1980), a Passarela do Samba (1983) e os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) do Rio de Janeiro. Uma retrospectiva de sua obra é exibida no MAM. Torna-se “Cavaleiro da Legião da Honra” pelo governo francês, recebe a Ordem de Comendador das Artes e Letras e a medalha de ouro da Academia de Arquitetura de Paris (Niemeyer construiu 16 edifícios na França).
A volta ao Brasil é marcada pelo trígono de Plutão à sua posição natal, com um sextil para o Sol em Sagitário. Voltar à terra fez Niemeyer renascer, com toda a certeza. Não que sua carreira estivesse em declínio, muito pelo contrário, mas se exílio já é coisa muito amarga, na velhice então nem se fala. Niemeyer já tinha mais de 70 anos, e é interessante observar que Júpiter e Saturno fizeram uma conjunção em Virgem na casa IV [este setor ficara marcado na partida e no retorno].
A vontade de morar aqui novamente era imensa. Urano já estava em Sagitário [desejo de mudar de vida] e Netuno aplicava conjunção ao Sol natal [saudade e encantamento em retornar à terra natal]. O eixo nodal cruzava o eixo Meio do Céu-Fundo do Céu. Tempos depois, uma conjunção entre Júpiter e Netuno [regentes do Meio do Céu] sobre o Sol natal, Saturno na casa VI em trígonos com Marte, Saturno e Netuno natais, além do trígono de Plutão ao Meio do Céu, indicavam o início de mais uma fase da carreira.
Em 1985, Oscar Niemeyer volta a desenvolver mais projetos para Brasília e, três anos depois, em 1988, projeta o Memorial da América Latina (São Paulo) e o Memorial 9 de Novembro (Volta Redonda). Ainda neste ano recebe o Prêmio Pritzker, considerado o prêmio máximo da Arquitetura, e cria também a Fundação Oscar Niemeyer para Fins Culturais, instituída por escritura pública no Cartório do 16º Ofício de Notas, Rio de Janeiro, em 31.05.88.
Em 1988, sem dúvida um ano especialmente produtivo e que trouxe o reconhecimento máximo do meio da Arquitetura, uma conjunção entre Saturno e Urano estava sobre o Sol em Sagitário. Podemos reconhecer nitidamente um ciclo muito significativo. Em 1942, quando iniciou de fato sua “revolução estética” com o complexo da Pampulha, Saturno e Urano estavam em conjunção sobre seu Ascendente, mantendo a conjunção até Gêmeos em sua casa I. Agora, no ciclo seguinte, ele recebia o “Nobel” dos arquitetos e estava totalmente consagrado no mundo inteiro.
No início daquele ano, Júpiter em Áries formava trígonos com o Sol natal e a conjunção Saturno-Urano, formando um quadro realmente especial. Naquele ano o dispositor do Sol e do Meio do Céu de Niemeyer [Júpiter] aplicou trígonos para Vênus [regente do mapa] e Urano, em Capricórnio. No fim de 1988, chegava ao Ascendente. O arquiteto estava pronto para iniciar mais um ciclo de Júpiter.
Plutão, domiciliado [casa VI], estava em trígono com Marte natal na casa X. Ambos são dispositores da casa VI e demonstram que Oscar Niemeyer estava num momento de grande vigor e oportunidades profissionais, numa fase adiantada de sua vida (já tinha 80 anos). O prêmio Pritzker também pode ser associado a este trânsito. Finalmente, o eixo nodal cruzou suas casas IV e X, estabelecendo ligações com Marte, Saturno, Meio do Céu e Plutão em Escorpião.
Saturno, Urano e Netuno começavam a formar a poderosa conjunção em Capricórnio. O que, sem dúvida, era outro trânsito com força em sua vida.
A luta em Volta Redonda
O Memorial 9 de Novembro, construído em Volta Redonda, a “cidade do aço”, foi inaugurado no dia 1º de maio de 1989 em homenagem aos três operários da CSN (William, Walmir e Barroso), mortos durante conflito com as tropas do Exército ocorrido na greve dos operários em 1988.
No dia seguinte à inauguração, por volta das três horas da manhã, o local foi parcialmente destruído por um atentado a bomba. Com a explosão, o memorial tombou para a frente, ficando preso apenas pelos vergalhões. Foi reinaugurado em 12.08.1989, e Niemeyer fez questão de que as marcas da violência ficassem mantidas, para sempre.
É interessante observar que, a despeito da violência e da covardia, os trânsitos em geral são benéficos para Niemeyer, que de certa forma “contabiliza” em sua carreira este episódio. Afinal, como uma pessoa com uma Quadratura T entre Sol, Saturno e Plutão não teria um atentado contra uma obra sua, ainda mais tendo (à época) 81 anos? Por outro lado, nada mais valoroso para um arquiteto “revolucionário”, no próprio sentido político do termo.
Sol e Vênus [regente do mapa de Niemeyer] estão na casa XII, a dos inimigos secretos, em oposição a Plutão na casa VI, a do trabalho pessoal [o arquiteto tem Sol-Plutão]. Mas, de fato, Sol e Vênus aplicam inúmeros trígonos [assim como a Lua natal] para a conjunção Vênus-Urano na casa VIII, e ainda para as posições de então de Saturno, Urano e Netuno em Capricórnio [sem falar os sextis para Marte e Saturno natais]. Plutão em trânsito obviamente está na configuração.
De certa forma, isso só veio a acrescentar mais charme esquerdista à sua biografia. Confesso que chego a pensar que lhe fizeram um favor.
Repare agora o Ascendente [mesmo que a informação seja de “por volta das três da manhã]. Ele destaca a Lua em Peixes, na casa X; ambos próximos a Saturno. Um atentado à sua obra, inevitavelmente vindo a se tornar lenda. Lua e Ascendente do vilipendioso ato estão em quadratura com Sol e Plutão natais, ativando a Quadratura T. O Meio do Céu está sobre o Sol. Por fim, o Nodo Norte terminava de cruzar o eixo Meio do Céu-Fundo do Céu, e Marte [em oposição a Urano em Capricórnio] estabelecia trígonos com o Meio do Céu natal e o Nodo Norte.
A obra-prima
Em 1990, ano em que Luiz Carlos Prestes veio a falecer, Niemeyer desliga-se do PCB. Um arquiteto catalão publica um livro sobre a sua obra e ainda recebe do papa João Paulo II o título da Ordem de São Gregório, o Grande. No ano seguinte é condecorado pelo ministério das Relações Exteriores com a Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco, cria o projeto do Parlamento da América Latina em São Paulo e aquela que muitos consideram sua obra-prima: o MAC de Niterói.
Em primeiro lugar, a saída do Partidão, juntamente com alguém nada mais nada menos que o próprio “Cavaleiro da Esperança”, está diretamente relacionada ao trânsito de Júpiter em Câncer [conjunção a Netuno e o Nodo Norte natais; o “socialismo”] e a Plutão em Escorpião [trígonos para a mesma posição]. Também devemos incluir a conjunção entre Saturno e Netuno [posteriormente, Urano] à conjunção entre Vênus, Urano e o Nodo Sul. Niemeyer prescindia de permanecer atado à estrutura burocrática do partido. Sai em grande estilo. Apesar de ateu, recebe uma homenagem do papa, o que também está ligado à configuração astrológica envolvida.
Mas, sem dúvida, este quadro astrológico antecipa a vinda de uma de suas obras mais belas, inserida na paisagem que sempre louvou. O MAC de Niterói é de uma formosura e atualidade impressionantes, revelando que mesmo aos 83 anos o velho arquiteto não tinha perdido o dom de “surpreender”, premissa máxima de seu trabalho, como sempre fez questão de enfatizar. Surpresa é uma palavra que condiz perfeitamente com os principais aspectos do mapa natal de Oscar Niemeyer. As piores críticas que se fazem do museu é que sua forma é tão bela que ofusca as obras de arte dentro delas.
No ano de 1991, quando concebe o MAC, Júpiter cruzou o Fundo do Céu e chegou à casa IV, assim como no seu retorno do exílio. Niemeyer assinava uma obra magnífica em sua terra natal (pois Niterói tem a melhor vista do Rio) em total harmonia com o cenário curvo das montanhas. É evidente para mim que se trata de mais um de suas edificações “definitivas” do ponto de vista arquitetônico. No final do ano, Júpiter formava trígonos com Vênus e Urano natais [além de sextilha com Netuno] e com a conjunção Urano-Netuno em Capricórnio [que aplicavam conjunções aos anteriores]. Nesse ínterim, Plutão estava em trígono com os planetas da casa X.
Nos anos seguintes Niemeyer seguiu com a vida profissional publicando inclusive dois livros: Meu Sósia e Eu e Conversa de Arquiteto. Cria os monumentos a Luiz Carlos Prestes, em Palmas (TO), ao centenário de Belo Horizonte e o Eldorado Memória (para o Movimento Sem-Terra).
Em São Paulo foi o presidente de honra da 2ª Bienal de Arquitetura, recebeu o título de Cidadão Honorário de Brasília e, no prédio do MEC, foi inaugurado o Espaço Niemeyer, com uma exposição permanente de sua obra. Recebe os títulos de Doutor Honoris Causa das Universidades de São Paulo e de Minas Gerais, a Royal Gold Medal do Royal Institute of British Architects (Grã-Bretanha) e o Prêmio Leão de Ouro da Bienal de Veneza por ocasião da VI Mostra Internacional de Arquitetura.
Próxima etapa: A paixão aos 99 anos (1997-2007)
NIEMEYER, A SÉRIE COMPLETA:
1 – Dos cabarés da Lapa à arquitetura moderna (1907-1927)
2 – Niemeyer, o boêmio que virou marido (1928)
3 – Niemeyer e Lúcio Costa: a descoberta do Modernismo (1934-1939)
4 – Pampulha, a revolução da arquitetura brasileira (1940-1943)
5 – Um comunista na terra do Tio Sam (1945-1947)
6 – Niemeyer e Le corbusier: do Copan ao Ibirapuera (1949-1955)
7 – Brasília, a utopia de Juscelino e Oscar Niemeyer (1956-1960)
8 – O regime militar e o exílio (1964-1976)
9 – Oscar Niemeyer, a vida começa aos setenta (1978-1993)
10 – A paixão aos 99 anos (1997-2007)