A Pampulha e a parceria com Juscelino Kubitschek
Em 1940, Oscar Niemeyer recebe de Juscelino Kubitschek, então prefeito de Belo Horizonte, a incumbência de projetar a área de lazer do futuro bairro da Pampulha. É quando o arquiteto carioca tem a oportunidade de fazer a sua “revolução” na Arquitetura. Tinha então 33 anos.
Em Pampulha minha ideia já era fazer uma arquitetura diferente. Naquele tempo a Arquitetura não compreendia nem representava bem o concreto armado. Ela era rígida, como se fosse feita com estrutura metálica. E o concreto, ao contrário, sugeria um novo campo de experiências e invenções. E eu então procurei introduzir a curva na Arquitetura.
O conjunto arquitetônico da Pampulha inclui um cassino, um restaurante circular (Casa de Baile), um iate clube e a Capela de São Francisco de Assis, com painéis de Candido Portinari e esculturas de Alfredo Ceschiatti.
O cassino tem um quê de Corbusier, a igreja é completamente brasileira e um pouco barroca, e a coisa mais importante é o pequeno baile popular, não é? Ele quis fazer uma ilhazinha, ficou parecendo, você sabe, uma serpentina que você joga no ar… então ficou brasileiro, carnaval, povo, barroco. É esse diabo desse prediozinho que transformou a imagem da Arquitetura brasileira no mundo, eu acho. O pequeninho. (Ítalo Campofiorito)
Entre o convite de Juscelino e a inauguração das obras, passaram-se três anos (1940-43). Niemeyer teve apenas uma noite para preparar o projeto num hotel de Belo Horizonte, já que o prefeito mineiro queria apresentá-lo no dia seguinte. Assim, ambos selaram uma parceria [convém não esquecer o Sol de casa VII de Niemeyer e a importância de suas associações com Lúcio Costa, Le Corbusier e o futuro presidente do Brasil. Mesmo o seu casamento, foi decisivo]. “Ele compreendeu que comigo podia correr, não é? E por isso fomos juntos, e Pampulha foi o início de Brasília”.
Antes do trabalho para JK, vemos que Urano fez conjunção com a Lua natal de Niemeyer, em seguida aplicando trígonos para Vênus e Urano natais [com a participação de Júpiter, que fica sobre o Ascendente em 1941]. Certamente durante o trânsito de Urano pelo signo de Touro a necessidade de atribuir um caráter mais inventivo e original à sua obra teve ali o seu germe, manifestando-se concretamente quando Urano e Saturno cruzaram juntos o Ascendente (1942), durante a construção do complexo. Plutão, entre 1940-44, formou trígonos com Mercúrio natal, dando enorme convicção a suas ideias e solidificando mais uma parceria.
A curva e o concreto armado
No conjunto da Pampulha Niemeyer começa um estilo que irá marcar o seu trabalho quase todo: utiliza-se das propriedades estruturais do concreto armado para dar formas sinuosas aos prédios. Quando Niemeyer desenha um prédio ele o faz com o mínimo de traços possíveis. Ele porém nega que seus prédios tenham uma estética que ofusca o utilitarismo: sempre escreveu justificativas de projetos, onde descreve a função de cada curva do edifício. Ele costuma dizer que se não pode justificar uma ideia em um parágrafo, desiste dela (Wikipédia).
Prontos em 1943, os prédios renderam muitas críticas e admiração. Niemeyer conseguiu sua primeira projeção internacional num trabalho exclusivamente seu e muitas polêmicas locais. A Igreja católica negou-se a benzer a Igreja de São Francisco de Assis, em parte por sua forma não ortodoxa, em parte pelo mural moderno pintado por Portinari. O mural possuía traços abstratos e reconhecia-se um cachorro, representando um lobo junto de São Francisco de Assis. Apesar de o projeto ser de Niemeyer, ele fez questão de contar com colaboradores de outras áreas (como Portinari e Ceschiatti), uma constante em seu trabalhos [Sol na casa VII].
Quando o complexo da Pampulha terminou de ser construído (1943), vemos que Saturno estava sobre Plutão, em oposição ao Sol e em quadratura com Saturno. Isto explica as críticas que recebeu, mesmo com suas criações tendo grande repercussão internacional.
A beleza é importante. Você vê as pirâmides, foi uma coisa sem o menor sentido, mas são tão bonitas, são tão monumentais, que a gente se esquece da razão das pirâmides e se admira, não é? Se você ficar preocupado só com a função, fica uma merda.
Voltemos a 1940. Neste ano Niemeyer recebe a encomenda de JK e vemos que sua Lua progredida havia saído de um trígono com Meio do Céu natal para aplicar oposições a Vênus-Urano na casa VIII e conjunção a Netuno [co-regente do Meio do Céu] e o Nodo Norte ao longo do período. Seu trabalho é reconhecido por um homem que viria a ser o presidente e aquele projeto resultaria em algo muito maior, que foi Brasília. Naquele momento, Oscar concebia para o complexo da Pampulha uma mistura de elementos “racionais europeus” [Vênus-Nodo Sul-Urano em Capricórnio] e “sinuosidades brasileiras” [Netuno-Nodo Norte em Câncer]. E deve ter rendido um bocado de dinheiro.
Brazil Builds: o reconhecimento em Nova Iorque
No mesmo ano de 1943 foi montada a exposição Brazil Builds, no Moma de Nova Iorque. Organizada por Philip Goodwin, a exposição e seu catálogo são tidos como responsáveis por colocar a Arquitetura moderna brasileira em destaque internacional. O livro lançado abriu portas para o reconhecimento, dentro e fora dos EUA, da arquitetura então feita no Brasil. Dentre os profissionais apresentados, desponta Oscar Niemeyer, com dez projetos selecionados, seguido de longe pelos irmãos Roberto (Maurício, Milton e Marcelo), com quatro.
Não há dúvida alguma de que a Arquitetura do Oscar nasce da Arquitetura do Le Corbusier nos seus elementos básicos. Porque ninguém inventa nada de nada, de zero. Não existe isso, a cultura é herança e transformação. Agora, o que é extraordinário é que ele, de fato, aprende a lição do Le Corbusier e em seguida, muito cedo, ele já faz uma coisa que é a negação dos dados daquela arquitetura, entendeu? (Ferreira Gullar)
Os financiamentos das obras de Niemeyer pelo Estado e por órgãos públicos são um fato que não pode passar desapercebido, tanto por governantes e instituições brasileiros quanto estrangeiros. De certo modo, podemos observar que o arquiteto vivia entre o seu ideal comunista de sociedade e uma origem e realidade burguesas cuja dicotomia a Quadratura T entre Sol, Saturno e Plutão natais explica. Há uma forte tensão entre forjar um “homem novo”, como ele gosta de dizer, e a realidade social e urbana na qual suas obras inevitavelmente tomam parte. Políticos como Getúlio Vargas, Jânio Quadros, Leonel Brizola e Paulo Maluf contrataram seus serviços. Existe um radicalismo e quebra de convenções que permeia toda a sua obra.
Próxima etapa: Um comunista na terra do Tio Sam (1945-1947)
NIEMEYER, A SÉRIE COMPLETA:
1 – Dos cabarés da Lapa à arquitetura moderna (1907-1927)
2 – Niemeyer, o boêmio que virou marido (1928)
3 – Niemeyer e Lúcio Costa: a descoberta do Modernismo (1934-1939)
4 – Pampulha, a revolução da arquitetura brasileira (1940-1943)
5 – Um comunista na terra do Tio Sam (1945-1947)
6 – Niemeyer e Le corbusier: do Copan ao Ibirapuera (1949-1955)
7 – Brasília, a utopia de Juscelino e Oscar Niemeyer (1956-1960)
8 – O regime militar e o exílio (1964-1976)
9 – Oscar Niemeyer, a vida começa aos setenta (1978-1993)
10 – A paixão aos 99 anos (1997-2007)