No passado, eclipses sempre foram vistos como fenômenos assustadores e portadores de maus augúrios. Em especial temiam-se os ocultamentos do Sol, quando a luz do dia era subitamente substituída pelas trevas. Na medida em que representam uma ruptura com a ordem natural do cosmo eclipses são associados com frequência a catástrofes, quebra de colheitas, guerras e epidemias.
Eclipses: intensificação e desconexão
Astronomicamente, os eclipses resultam do alinhamento da Terra com o Sol e a Lua, exatamente os dois corpos celestes mais importantes para a vida humana. Como este alinhamento se dá no eixo dos nodos lunares – os pontos de interseção entre as órbitas da Terra em torno do Sol e da Lua em torno da Terra –, podemos associar o eclipse a um momento de interferência, semelhante ao que ocorre quando dois circuitos de energia afetam-se mutuamente, gerando um processo de sobrecarga que tanto pode levar a um apagão (corte súbito de energia) quanto a um incêndio ou uma explosão. O curto-circuito é, portanto, uma imagem bastante útil para compreender o que ocorre ao longo do eixo de um eclipse. O desequilíbrio pode manifestar-se como excesso ou, ao contrário, como paralisia, mas sempre ocorrerá uma desconexão com relação ao fluxo de energia antes existente.
Os nodos lunares cumprem um movimento retrógrado ao longo do zodíaco, que se estende por pouco mais de 18 anos. Isto significa aproximadamente um ano e meio em cada eixo de signos zodiacais. Neste período, intensificam-se os acontecimentos e processos relacionados ao significado dos signos envolvidos, assim como das casas ativadas, quando pensamos em cartas pessoais ou de instituições.
A interação Sol-Lua
A compreensão do simbolismo astrológico do eclipse passa pela compreensão dos significado dos dois luminares e de como se processa sua interação.
O Sol representa a única fonte real de luz e energia em todo o sistema solar, o que permite uma analogia imediata com os conceitos de consciência e vontade: só é possível perceber aquilo que está iluminado, ou aquilo sobre o qual projetamos um foco de atenção.
A expressão “lançar luz sobre uma situação” dá conta desta associação natural entre luz e atenção consciente. Já o uso da vontade exige um esforço de concentração e investimento de energia com vistas à consecução de alguma meta, o que lembra, mais uma vez, a função solar.
Há, finalmente, uma identidade natural entre o papel do Sol, cujo brilho e força de atração mantêm unidos em torno de si todos os planetas do sistema solar, e o papel do rei, do líder, do chefe tribal ou, na modernidade, do presidente da República ou do executivo principal de uma grande corporação. Liderança é, portanto, mais um atributo solar facilmente verificável.
Lua, repositório de experiências adquiridas
A Lua não tem luz própria, apenas refletindo a luz do Sol. Simbolicamente, a Lua expressa todos os processos repetitivos, cujo padrão já se encontra memorizado e cuja execução está mais a cargo de nosso “piloto automático” do que da vontade e da atenção consciente. Assim, a Lua representa instinto, automatismo, hábito, reatividade, inconsciência (por associação com a noite e com os processos oníricos) e memória.
Na interação Sol-Lua, o Sol responde pela criatividade com que enfrentamos novos desafios e situações inéditas, enquanto a Lua funciona como um repositório de soluções que já funcionaram em situações passadas. Na medida em que reflete o Sol, a Lua é como a memória de um computador, onde arquivamos, para posterior consulta, todos os arquivos resultantes dos trabalhos sobre os quais nos debruçamos com foco, atenção consciente e criatividade.
O eclipse como indicador de descontinuidade
Sol e Lua constituem um sistema em permanente processo de retroalimentação. Tanto no nível pessoal quanto coletivo, exercitamos este mecanismo em todas as situações, ora lidando com a consciência e a vontade solares para enfrentar circunstâncias inéditas, ora recorrendo ao “arquivo” da memória lunar para conduzir as situações habituais e conhecidas. No eclipse, temos um rompimento deste modelo de retroalimentação. No nível do coletivo, que é o que nos interessa neste artigo, pode ocorrer um curto-circuito no enfrentamento de crises: ora é a inteligência criativa que parece entrar em colapso diante de desafios absolutamente desconhecidos, que acabam sendo tratados com base num repertório de soluções que deram certo no passado, mas são inapropriadas para a nova situação; ora é a amnésia coletiva que não reconhece um velho problema que retorna sob nova roupagem, e enfrenta-o de forma confusa e ineficiente.
A pandemia do coronavírus, maior desafio enfrentado pela humanidade desde a Segunda Guerra Mundial, trouxe todas estas formas de desconexão à tona. Ao mesmo tempo em que os eclipses de 2020 e 2021 intensificaram os problemas associados aos signos envolvidos, também revelaram uma grande incapacidade para administrá-los de forma coerente e em correto alinhamento com as necessidades coletivas.
Segue-se uma relação dos eclipses relacionados à pandemia, desde dezembro de 2019:
S/L | TIPO | DATA | POSIÇÃO |
Solar | Anular | 26/12/19 | 04°Cp06’51” |
Lunar | Penumbral | 10/01/20 | 20°Cn00’13” |
Lunar | Penumbral | 05/06/20 | 15°Sg34’02” |
Solar | Anular | 21/06/20 | 00°Cn21’23” |
Lunar | Penumbral | 05/07/20 | 13°Cp37’47” |
Lunar | Penumbral | 30/11/20 | 08°Ge38’01” |
Solar | Total | 14/12/20 | 23°Sg08’14” |
Lunar | Total | 26/05/21 | 05°Sg25’45” |
Solar | Anular | 10/06/21 | 19°Ge47’06” |
Lunar | Parcial | 19/11/21 | 27°Ta14’28” |
Solar | Total | 04/12/21 | 12°Sg22’02” |
Os eclipses 2019-2020 em Câncer-Capricórnio: médicos exaustos e políticos batendo cabeça
A sequência de eclipses em Câncer-Capricórnio coincidiu com a formação da tríplice conjunção Júpiter-Saturno-Plutão em Capricórnio, enfatizando todos os processos relacionados a este eixo. O mais importante acontecimento do período foi exatamente a eclosão da pandemia do coronavírus, com todo seu cortejo de consequências: mortes em massa, sobrecarga do sistema hospitalar nos países mais afetados (China, num primeiro momento, e depois os países do Mediterrâneo), necessidade de medidas de isolamento social e forte impacto transformador na vida social e econômica.
Na primeira fase da pandemia, a temática capricorniana predominou amplamente, já que as questões políticas e de gestão do Estado tornaram-se vitais para o enfrentamento da crise sanitária: de um momento para outro a administração pública (Capricórnio) das principais nações do planeta voltou-se para o equacionamento do uso de recursos escassos: desencadeou-se uma competição internacional pela compra de respiradores e equipamentos de proteção e iniciou-se o atrito com os setores produtivos pela necessidade do estabelecimento de medidas de restrição à circulação de pessoas e mercadorias. Se lembrarmos que escassez, restrição e isolamento são conceitos saturninos, que os três planetas da tríplice conjunção têm forte afinidade com gestão financeira e que equipamentos de proteção são regidos exatamente por Câncer e Capricórnio, logo perceberemos que o céu concorreu fortemente para o quadro de preocupações que dominou o primeiro semestre de 2020.
As figuras dominantes naquele período foram personalidades públicas como Tedros Adhanom e Trump (que corporificaram o conflito entre os “alarmistas” e os negacionistas), e os médicos e enfermeiros que por toda parte enfrentaram a superlotação dos CTIs. Basta observar a foto acima, onde três médicos exaustos se abraçam num corredor de hospital, para perceber a imediata semelhança de seus trajes com a carapaça do animal-símbolo de Câncer, o caranguejo. Capacetes e vestimentas de proteção, aliás, são equipamentos cancerianos!
Um eclipse em Capricórnio traça o caminho do vírus
O próprio processo de difusão do coronavírus já estava, aliás, prefigurado na área de visibilidade do eclipse solar de dezembro de 2019, em Capricórnio. Em vermelho, a linha central indica a faixa onde a luz do sol foi totalmente coberta pela sombra da Lua. Cabe observar que a cidade de Wuhan, no centro-sul da China, onde foram registrados os primeiros casos de Covid-19, está na região onde o eclipse foi visível, e que o avanço da epidemia em direção à Europa ocorreu ao longo das linhas indicadas na imagem. Cumpre lembrar que este eclipse ocorreu apenas cinco dias antes do anúncio dos primeiros casos, em território chinês.
A mudança de eixo dos eclipses muda o epicentro da pandemia
A mudança definitiva do eixo dos eclipses de Câncer-Capricórnio para Gêmeos-Sagitário ocorreu em 30 de novembro de 2020, com um eclipse. O evento marcou também uma virada no epicentro, na preocupação central e nos personagens em evidência no enfrentamento da pandemia. Do ponto de vista geográfico, a área de maior concentração de contágios e de mortes deslocou-se lentamente dos Estados Unidos para a América Latina. O eixo central do eclipse solar de 14 de dezembro de 2020 cruzou Argentina e Chile, e o fenômeno também atingiu em cheio o Brasil, Uruguai, Bolívia, Paraguai e Peru. Nos meses subsequentes o continente registrou forte aumento de letalidade, especialmente o Brasil, que se tornou o novo epicentro mundial da Covid-19 a partir de março de 2021.
Com a mudança de eixo, mudam os personagens em evidência
Quanto aos personagens em evidência em cada fase da pandemia, os profissionais da linha de frente, heróis do período em que os eclipses estiveram em Câncer-Capricórnio, deram lugar ao maior protagonismo dos cientistas e pesquisadores, figuras relacionadas ao eixo Gêmeos-Sagitário (dois signos ligados à cultura e à educação). No Brasil, os profissionais do Butantan e da Fundação Oswaldo Cruz entraram de vez no radar dos noticiários de TV, em função da ansiedade da opinião pública com relação às vacinas recém-desenvolvidas. Vacinação é um tema mais apropriado para Virgem e casa 6 (saúde pública, medicina preventiva), mas a pesquisa e o desenvolvimento das vacinas ocorre em instituições de alto nível, de conotação sagitariana.
Os idosos deixam de ser a maior preocupação das autoridades de saúde pública e os mais jovens tornam-se as vítimas preferenciais da Covid – até mesmo em função das baladas e aglomerações (Gêmeos-Sagitário outra vez, o eixo da juventude e do movimento). O coronavírus ganha cada vez maior número de variantes (variações e mutações: Gêmeos-Sagitário de novo!) e o debate político desloca-se da questão da gestão da escassez para uma pesada disputa ideológica entre os defensores de medidas sanitárias e os negacionistas. As fake-news, presentes desde o início da pandemia, ganham dimensões diluvianas.
O eclipse de 26 de maio de 2021
Especificamente para o Brasil, o eclipse lunar de 26 de maio de 2021, cujos desdobramentos tendem a atuar até o novo eclipse lunar de 19 de novembro, avulta como o mais importante do ano, dado seu impacto sobre as três cartas que definem a identidade do país.
A sinastria entre o mapa do eclipse (círculo externo da figura abaixo) e o mapa da Independência, de 1822 (círculo interno), mostra que o eixo do eclipse ativa de maneira intensa a conjunção Lua-Júpiter em Gêmeos da carta brasileira. Nesta, a Lua rege a casa 6, da saúde pública e das crises de toda ordem, e está presente na casa 4, simbolizando o povo comum. Júpiter, por outro lado, rege a casa 11 do Brasil, significadora do Congresso Nacional, hoje no centro das atenções em função da CPI da Covid e da discussão de importantes medidas de ordem econômica.
Considerando os típicos significados do eclipse – curto-circuito, “apagão”, intensificação de crises, desdobramentos inesperados – é possível que a CPI caminhe em ziguezague nas próximas semanas e chegue a resultados confusos ou imprevisíveis. Júpiter em trânsito na casa 1 do Brasil, em quadratura com o eixo do eclipse, reforça esta possibilidade e agrega publicidade ao processo: tudo o que for dito ou feito na CPI pode ganhar uma evidência maior do que o programado.
O risco de aumento da sobrecarga na rede hospitalar também é muito possível em função das ativações da Lua brasileira. A chegada da cepa indiana, em associação com atitudes negacionistas em todos os níveis, pode deflagrar uma nova e perigosa onda de contágios, internações e mortes. O mapa do eclipse informa com clareza que a pandemia ainda não terminou e que não é hora de alimentar o lado negativo de Gêmeos-Sagitário, qual seja, o otimismo irresponsável.
Se cruzarmos o mapa do eclipse de 26 de junho com o dos demais mapas definidores da identidade brasileira, vemos que o eixo do eclipse também atinge em cheio Vênus do mapa do Descobrimento do Brasil, em Gêmeos (e regente do Ascendente Libra da carta da chegada de Cabral). A Lua do Descobrimento, em 5ºde Peixes, também recebe uma quadratura quase exata. Já no mapa da Proclamação da República, os planetas mais atingidos são Netuno e Plutão, por conjunção, e Saturno, por quadratura.
Na verdade, considerando as cartas do Descobrimento, da Independência e da República no conjunto, não há nenhuma área tão crítica quanto a região entre os graus 3º e 7º dos signos mutáveis. Assim, apesar de tradicionalmente darmos menos importância aos eclipses lunares do que aos solares, as ativações trazidas pelo eclipse de 26 de maio não são nada desprezíveis.
Eclipses não devem ser vistos como ameaças incontornáveis, mas sim como avisos de que processos que parecem estar sob controle podem desdobrar-se de maneira mais intensa e imprevisível do que imaginamos. Se quisermos evitar um recrudescimento das mortes ao longo dos próximos seis meses, os cuidados com a pandemia não devem ser relaxados em nenhuma hipótese.