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Você está em: Home / Astrologia Aplicada / Literatura e Arte / Professor Pardal, a invenção como ato de desespero

Professor Pardal, a invenção como ato de desespero

02/07/2021 por Fernando Fernandse

O Professor Pardal, um dos personagens mais conhecidos de Patópolis, é o retrato da solidão e do medo da rejeição. Surgido sob uma quadratura Urano-Saturno, vive o paradoxo de exacerbar a excentricidade para ser aceito pelos normais.

Professor Pardal

Um dos personagens mais famosos das histórias em quadrinhos dos Estúdios Disney é o Professor Pardal, cujos inventos podem ser definidos por três características: a genialidade da concepção, o individualismo da execução e a inadequação do uso. É o inventar como compulsão e exercício, num total descompromisso com a lógica do sistema produtivo e com a racionalidade das linhas de montagem.

Para entender as características básicas deste personagem, é preciso dar uma olhada nas historinhas e vê-lo trabalhando. E o que temos?

A primeira evidência é que Pardal é um individualista, que gosta de trabalhar sozinho e em casa. É o que chamaríamos hoje de trabalhador autônomo, cujos esforços são motivados por dois tipos de input, sendo que o mais evidente é o atendimento de uma necessidade do cliente – e nesse ponto Pardal trabalha por encomenda, como qualquer trabalhador autônomo, muitas vezes “engolindo sapos”. Uma das histórias mostra-o, por exemplo, desenvolvendo com má vontade uma geringonça cujo objetivo é recuperar, do fundo de um pântano lamacento, o pé de coelho perdido por Gastão, o pato sortudo. Pardal considera o invento desnecessário e sente-se importunado pela insistência do outro, mas conforma-se lembrando que “o cliente sempre tem razão”.

O outro motivo que leva-o a inventar independe de encomendas, sendo de natureza puramente subjetiva: Pardal quer ser reconhecido como o autor de uma contribuição única para o progresso da humanidade, algo grandioso e que possa estar sempre relacionado ao seu nome.

Em uma história de 1959, ele descobre, lendo o jornal, que a máquina a vapor de Robert Fulton está prestes a completar cem anos, o que já é motivo suficiente para despertar-lhe a ambição de construir algo que seja tão importante para o nosso século quanto foi a máquina de Fulton para o desenvolvimento da navegação. Constrói, então, um foguete a vapor para ir a Marte, movido a carvão, cuja partida (ele próprio é o piloto) espalha uma nuvem de fuligem sobre Patópolis e cuja decolagem mal sucedida acaba levando-o não ao planeta vermelho, mas ao prédio da Prefeitura, contra o qual se espatifa. O último quadrinho mostra-o no hospital, todo engessado, novamente lendo o jornal e comentando para si próprio que realmente conseguira ficar famoso, mas não do jeito que desejara, e sim como a “calamidade pública número um de Patópolis.”

Pardal: um frango no mundo dos patos

Carl Barks

Carl Barks

Pardal – que, na verdade é um frango – é uma das muitas criações geniais do desenhista Carl Barks, que também lançou o Tio Patinhas, os Irmãos Metralha, os Sobrinhos do Donald e a maior parte dos habitantes de Patópolis. Aliás, a própria cidade fictícia de Patópolis também é invenção de Barks, um artista discreto que sempre se contentou em trabalhar como assalariado nos Estúdios Disney (a única criação importante do próprio Walt Disney é o camundongo Mickey).

Em inglês, Pardal tem o nome de Gyro Gearloose, um trocadilho que faz referência a engrenagens desengatadas, ou com funcionamento problemático. Numa tradução livre, Pardal é o “parafuso de menos”.

Pardal é movido por uma intensa necessidade de reconhecimento. Para isso, sente-se na obrigação de produzir algo grandioso, em que possa deixar sua marca pessoal. Parece não atentar, em momento nenhum, para o fato de que pode obter afeto e reconhecimento sendo simplesmente o que é, independentemente de feitos históricos. Coloca no ato de inventar fortes expectativas afetivas, transferindo para a esfera da produção carências pessoais que não são preenchidas na esfera própria. Pardal não tem atividade social, jamais é visto namorando e sua vida de relação resume-se ao contato com clientes e com Lampadinha, um amigo eletrônico que ele mesmo inventou. É um personagem que não dá espaço para a dimensão emocional e que lida com o próximo com um distanciamento que faz do outro  apenas o cliente, o usuário, ao qual está vinculado pela invenção. Esta, no fundo, não é um vínculo, mas um elemento mediador, que tanto reúne quanto separa. A única forma que Pardal encontra para ser tocado é através das geringonças que fabrica. Mas, ao deslocar o foco de atenção do outro para a coisa inventada, Pardal esconde-se atrás do objeto e permanece só.

Pardal é um retrato acabado da solidão e da crise de autoestima. Seu produzir é um esforço desesperado para criar vínculos. Estes, porém, por serem de caráter utilitário, desfazem-se tão logo cessa o espanto pela novidade, ou tão logo a necessidade do cliente é satisfeita, o que obriga o inventor a mais inventar. E eis que Pardal é um prisioneiro.

Professor Pardal pensando

Pardal é mesmo um aquariano?

Uma avaliação apressada poderia levar-nos a defini-lo como um aquariano em estado puro, já que estão presentes muitas características de que Aquário e seu regente moderno, Urano, são significadores: a inventividade, a absoluta desenvoltura no plano mental, a independência de pensamentos e ações, a generosidade no compartilhamento do saber e a capacidade de manter-se teimosamente na trilha dos próprios valores e ideais, a despeito da opinião alheia. O culto à liberdade está presente na ausência de um emprego fixo e na falta de hábitos restritivos. Pardal parece ter conquistado a autonomia de fazer de seu tempo o que quiser. Seus inventos reúnem uma porção de elementos uranianos, como a eletricidade, a eletrônica, radiações da mais variada espécie e um desejo constante de subir pelos ares, consubstanciado nos mais exóticos equipamentos.

Vejamos com mais atenção a questão da excentricidade. O Professor Pardal compõe com o Tio Patinhas a dupla de personagens disneyanos que mais foi incorporada pelo imaginário popular. Mickey é mais famoso, não resta dúvida, mas quem se lembra de ter tido na escola um colega cujo apelido fosse o nome do ratinho? Contudo, lá está o menino pão-duro, e eis que logo alguém se lembra de chamá-lo de Tio Patinhas. E quem é aquele outro garoto de aparência esquisita e óculos de lente grossa, parado na beira da quadra enquanto o resto da turma joga futebol? Experimente gritar “Professor Pardal” e você o verá dando uma olhada desconfiada e saindo de fininho, com um andar meio desengonçado. Professor Pardal é sempre o menino estranho, olhado pelos colegas com uma mistura de admiração e desprezo, geniozinho precoce que jamais se integra completamente na comunidade dos meninos “normais”.

Pardal, o inadaptado

Apelidos são cruéis. Visam a destacar o que o outro tem de anormal e a tornar público aos quatro ventos o que o outro adoraria poder esconder. O apelido é uma nódoa permanente, representando, algumas vezes, a senha para a exclusão do grupo. E se há tantos garotos e adolescentes condenados a carregar o apelido de Professor Pardal, é porque o nome do personagem virou sinônimo de inadaptação.

Revista do Professor PardalNas histórias de Disney, Pardal não parece estar desadaptado nem infeliz com sua situação. Os demais personagens não fazem pouco dele. Por que então a reclusão voluntária, a rotina de trabalho estafante compartilhada apenas com o mudo Lampadinha, um pequeno androide que usa sapatos (!!!) e necessita de doses periódicas de lubrificantes em suas juntas metálicas? O que subjaz nas historinhas poderia ser traduzido como uma consciência da diferença e uma recusa em tentar superá-la pelos meios convencionais, provavelmente pelo medo da rejeição. A integração é tentada, então, exatamente pela exacerbação da diferença, ou seja, pela adoção de um comportamento crescentemente excêntrico, em que as invenções são despejadas sobre a comunidade como um recurso extremo que seu autor utiliza para fazer-se presente. É o inventar como ato de desespero.

Pardal é Aquário, sim, mas em seu mapa a força criativa de Urano convive com a intensidade compulsiva e com a rigidez de Plutão a afetar os planetas significadores da vida emocional e afetiva. É possível a existência de contatos tensos de Plutão com planetas pessoais ou ainda entre Plutão e os regentes das casas 5 e 7. A necessidade de autoexpressão criativa é assunto de casa 5, e a interferência plutoniana nesta casa gera dificuldade para a fluência espontânea do que há de mais autêntico no próprio ser. Os inventos passam a ser, então, os portadores da energia deste fluir complicado, que se realiza à base de marteladas e noites viradas em claro.

Por falar em martelos, o que é realmente Pardal? Um inventor ou um artesão? Na verdade, é um pouco dos dois. Ao contrário do comportamento típico dos signos de Ar, que tendem a gerar ideias sem muito compromisso com sua viabilidade prática, Pardal é do tipo que pensa fazendo. O impulso criativo é imediatamente seguido de esforço físico. O personagem é habilidoso e capaz de trabalhar pesado, transportando objetos daqui para ali e enfiando-se sob as geringonças para apertar parafusos. Tem, certamente, um Marte muito resistente e alguma ênfase em signos de Terra. Seu Ascendente pode ser Virgem ou Capricórnio, com maior possibilidade para o primeiro signo, o que deixaria o Sol aquariano e os planetas interiores – Mercúrio e Vênus – entre as casas cinco e seis.

O uso da própria residência como oficina faz pensar em aspectos entre os regentes das casas 4 e 6, talvez uma recepção mútua.

O mapa do Professor Pardal

O inventor mais conhecido do mundo surgiu pela primeira vez na revista Walt Disney’s Comics and Stories, edição nº 140, de maio de 1952. A revista sempre chegava às bancas no início do mês, o que nos permite traçar uma carta – sujeita a correções – para o dia 1º de maio de 1952, em Los Angeles.

Estreia do Professor Pardal

Carta solar especulativa do lançamento do Professor Pardal: 1º de maio de 1952, 12h (horário-padrão), Los Angeles.

Não faz sentido tentar uma análise detalhada desta carta, dado seu caráter especulativo. Também não devemos tomá-la como a carta do personagem, mas sim de seu impacto sobre o imaginário coletivo. Os personagens de ficção de maior sucesso nunca surgem por acaso, mas sempre numa relação de sincronicidade com as questões mais importantes daquele momento, simbolizadas especialmente pelos aspectos mais tensos envolvendo planetas geracionais.

Considerando apenas os planetas lentos, o aspecto mais crítico desta carta é a quadratura entre Saturno e Urano. A outra configuração a levar em conta é a presença de três planetas geracionais – Júpiter, Saturno e Netuno – em signos regidos por Vênus (Touro e Libra).

Casal Rosenberg 1952

Casal Julius e Ethel Rosenberg, acusado de espionagem para os russos e executados pelo governo americano em 1953.

A ênfase venusiana destaca a necessidade da troca afetiva (dar e receber afeto), mas a quadratura Saturno-Urano coloca em cena um fator de frustração, na medida em que indica tensão, rigidez, intolerância, dificuldades de adaptação e sufocamento do instinto. É um momento complicado, em que a sociedade americana discute com intensidade a questão dos diferentes. Vivia-se a época do Macarthismo, em que qualquer pessoa podia ser acusada de espionar para os russos, e o medo de uma guerra nuclear faz o cidadão comum perder o sono. Cientistas são vistos como tipos especialmente dúbios, e precisam provar que são capazes de colocar seu conhecimento a serviço do “lado certo”. Não é coincidência que Pardal tenha sido criado quando o grande assunto da imprensa americana era o julgamento de Julius e Ethel Rosenberg, um casal de judeus comunistas que acabou executado no ano seguinte por acusações de espionagem.

Pardal traz em si toda a tensão da quadratura geracional Saturno-Urano. É o diferente que vive o paradoxo de acentuar a diferença para ser aceito pelos normais.

Lampadinha

Lampadinha

Lampadinha é o alter ego do Professor Pardal e, quando não está ajudando o inventor, dedica-se a fazer tudo o que Pardal não faz, divertindo-se a valer. Observem as historinhas: enquanto Pardal debruça-se concentradamente sobre um invento, Lampadinha está sempre por perto, envolvido com atividades lúdicas. Lampadinha é um circuito elétrico (Aquário) que emite luz própria (Sol, Leão) e tem um corpo que não passa de um esqueleto metálico reduzido ao estritamente essencial (Capricórnio). Sua concepção é fruto de um ato plutoniano do inventor, o de clonar um companheiro sobre o qual mantém absoluto controle. Por outro lado, a permanente necessidade de lubrificação mostra qual é seu maior problema: o endurecimento das juntas, o que aponta mais uma vez para um Ascendente Capricórnio. Não é difícil imaginar a cena de Pardal a criar o amigo numa solitária madrugada de início de fevereiro, sob a lua cheia de inverno do hemisfério norte, com o que sobrou de um invento fracassado.

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Sobre Fernando Fernandse

Jornalista, astrólogo, educador e profissional de RH. Editor de Constelar e diretor da Escola Astroletiva, pioneira na formação a distância em Astrologia. Foi Diretor Técnico do SINARJ - Sindicato dos Astrólogos do Estado do Rio de Janeiro. Nascido Fernando Fernandes, trocou as letras da última sílaba para não ser mais confundido com seus 87 homônimos. Veja a relação completa de artigos ou entre em contato com Fernando Fernandse.

Comentários

  1. Larissa diz

    15/07/2021 em 17:48

    Adorei a análise e as hipóteses trabalhadas!! Interessante pensar sobre aspectos entre plutão e os planetas pessoais para justificar alguns comportamentos!
    Parabéns!

  2. Fernanda chacel diz

    09/07/2021 em 07:35

    Adorei! Maravilhoso!quero fazer o curso de astrologia e personagens dos quadrinhos

  3. Alvaro diz

    04/07/2021 em 14:23

    Excelente matéria. Uma boa análise e uma excelente “engenharia reversa astrológica” do personagem.

    Pardal é o típico “esquizoide”, que poderia muito bem integrar o elenco de Big Bang Theory.

    Há um outro gênio que poderia ser analisado: Ludovic von Pato, provavelmente inspirado em Einstein. Também solitário, porém com um viés acadêmico, aparentemente bem sucedido.

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