Existem dezenas de técnicas astrológicas destinadas a antecipar o resultado de competições esportivas. Nenhuma delas apresenta resultados totalmente conclusivos, até porque a maioria depende de informações difíceis de obter e, quando disponíveis, nem sempre muito confiáveis: o mapa dos competidores (clubes ou países), os dados de nascimento dos atletas envolvidos, dos treinadores, e assim por diante.
Uma alternativa bastante simples é o levantamento da carta da competição, que consiste em calcular o mapa do momento e do local em que esta é oficialmente inaugurada. Num torneio de futebol ou basquete, levantaríamos o mapa do início da partida inaugural; já num campeonato de automobilismo, o mapa da bandeirada de largada da primeira corrida da temporada.
Já no caso das Olimpíadas, o mais indicado, pelo peso simbólico do evento, seria considerar o mapa do início da cerimônia de abertura, quando ocorrem os desfiles de todas as delegações, o acendimento da pira olímpica e os discursos solenes de diversas autoridades. A análise desta carta nos dará um insight sobre a atmosfera geral da competição.
Para verificar o desempenho de cada país, podemos relocar esta carta para as respectivas capitais. Assim, teremos sempre a mesma distribuição de planetas por signos e os mesmos aspectos, mas com diferentes domificações (distribuição dos planetas e signos pelas casas). O mapa relocado pode ser objeto de duas abordagens:
a) análise do mapa relocado isoladamente, considerando regentes e ocupantes da casa 1 como significadores do país ou clube, os da casa 7 como significadores do adversário etc.;
b) sinastria da carta relocada com a carta do país ou clube (na prática, trata-se de uma carta de trânsitos sobre o mapa da entidade coletiva que se quer considerar.
Esta técnica não permite conclusões muito fechadas, mas oferece uma ideia geral sobre os pontos positivos e os riscos da competição. É preciso sempre ter em conta as possibilidades reais da entidade estudada. Por exemplo: considerando a participação dos Estados Unidos numa Olimpíada, um mapa excepcionalmente favorecido pode indicar que o país terá a oportunidade de liderar o quadro de medalhas. Contudo, se o dono do mesmíssimo mapa fosse o Uruguai ou as Filipinas, países sem tradição olímpica, deveríamos pensar apenas numa participação melhor do que a habitual, talvez com algumas medalhas inesperadas.
Um exemplo prático: o Brasil nas Olimpíadas de 2000
Das cinco medalhas de ouro esperadas pelo Brasil nas Olimpíadas de Sydney, acabou não vindo nenhuma. Em algumas modalidades, atletas brasileiros deixaram o ouro escapar por muito pouco. Literalmente por entre os dedos, como no caso do vôlei de praia. Em outras, jogou-se muito aquém das expectativas, como na desastrada participação do time de Wanderley Luxemburgo no futebol masculino. A última chance real de medalha seria o hipismo, e o que aconteceu? O cavalo em que foram investidas todas as expectativas verde-amarelas inexplicavelmente recusou-se a saltar, encerrando a decepcionante participação brasileira nas Olimpíadas da terra dos cangurus.
Cabe agora perguntar: por que o fracasso da representação brasileira em Sydney? Por que o retrocesso em relação ao desempenho na Olimpíada de 1996, em Atlanta? A comparação entre alguns mapas pode dar a resposta.
A cerimônia de abertura oficial das Olimpíadas teve início em Sydney às 18h do dia 15 de setembro de 2000 (8h UT, ou 5h da madrugada, hora de Brasília). Como a carta deste evento apresenta o Ascendente em 26º28′ de Peixes, os regentes são Netuno e Júpiter, que formam entre si um trígono em signos de Ar. Júpiter rege também o Meio do Céu, em Sagitário, e encontra-se em oposição a Plutão, numa configuração frequentemente associada ao exagero e às demonstrações explícitas de poder. Efetivamente, a Austrália não mediu esforços para fazer daquela a maior Olimpíada até então realizada.
Sydney, uma cidade multiétnica e multicultural (um em cada três habitantes é estrangeiro), fez jus ao arquétipo Júpiter-Netuno do exagero e da utopia da convivência harmônica entre os diferentes. Foram Jogos Olímpicos pacíficos e alegres (nove planetas em signos masculinos!), que contribuíram para aumentar a popularidade dos australianos no mundo (Lua na casa 1), mas resultaram num prejuízo financeiro que jamais chegou a ser plenamente recuperado.
O mapa relocado para Brasília
O mapa das Olimpíadas relocado para Brasília fala especificamente das possibilidades referentes à delegação brasileira, e o que vemos não é animador. O Ascendente é Virgem. Seu regente, Mercúrio, encontra-se na casa 2, dos ganhos, prestes a receber uma oposição da Lua, na casa 8, regendo a 11 (dos projetos) e a 12 (dos assuntos não percebidos, ou sobre os quais não se tem controle). Temos aí, portanto, uma clara indicação de que os possíveis ganhos brasileiros (as medalhas) seriam frustrados por limitações dos próprios atletas ou por causas fortuitas que passaram despercebidas.
Além disso, Marte, junto ao Ascendente, aplica uma quadratura a Saturno retrógrado na casa 9, dos países distantes. A capacidade atlética e a combatividade (Marte) aparecem aqui severamente limitadas por Saturno, um símbolo de rigidez e “engessamento”.
Estes dois aspectos mostram que o rendimento dos atletas brasileiros estaria contido, aquém das expectativas (Saturno quadrando Marte na 1), e que acontecimentos fora de controle (Plutão angular oposto a Júpiter no Meio do Céu) agiriam no sentido de reduzir as possibilidades de vitória. O que se viu foi exatamente isso: esportes com rendimento abaixo do esperado (futebol masculino, por exemplo) ou derrotas incompreensíveis, em situações de franco favoritismo (a perda da medalha de ouro no vôlei de praia pela dupla Adriana e Shelda).
Comparando com o mapa do Brasil
Netuno, regente do Ascendente da Olimpíada, transita pela casa 12 da Independência do Brasil, simbolizando algo que está inacessível ou perdido. Além do mais, forma quadratura ao Marte em Escorpião, regente do Meio do Céu do país: tínhamos uma noção enganosa acerca de nossas possibilidades. Júpiter do evento, em Gêmeos, ativa por conjunção o encontro do mesmo Júpiter com a Lua, na carta brasileira. Contudo, é um Júpiter em exílio e que recebe uma oposição de Plutão em Sagitário, na 10 do país. Este Plutão agride por quadratura o Sol do Brasil em Virgem, enquanto Marte do evento, em Leão, opõe-se ao Ascendente da Independência e Saturno em trânsito ocupa o Fundo do Céu da carta brasileira.
Portanto, em concordância com o mapa relocado, este conjunto de interaspectos também não sinaliza grandes vitórias.
O mapa da verdadeira estreia do Brasil em Sydney
Todavia, as Olimpíadas de 2000 não começaram na festa de abertura. Alguns esportes já tiveram suas primeiras disputas antes, e a verdadeira estreia do Brasil ocorreu em Melbourne, às 17h (3h da madrugada no Brasil) do dia 13 de setembro, com a primeira partida do torneio de futebol feminino. A carta da abertura “real” confirmaria ou negaria as indicações que já vimos?
Na carta levantada para Melbourne, a Lua ocupa a casa 1, em Peixes, envolvida numa grande quadratura com Sol na 7, Plutão no Meio do Céu e Júpiter no Fundo do Céu. Relocando-se a carta para Brasília, o Ascendente passa a ser Câncer e seu regente, a Lua, aparece na 8, envolvida nos mesmos aspectos tensos. O Ascendente desta carta relocada faz conjunção com a cúspide da casa 6 da carta da Independência, uma casa de subalternidade. Portanto, qualquer que seja a técnica utilizada, o mau desempenho olímpico do país já era um fato previsível.
Os Jogos Olímpicos do Japão em 2021
Para testar a metodologia aqui apresentada nas Olímpiadas de Paris, em 2024, é possível utilizar o mapa da abertura oficial dos jogos ou o mapa do acendimento da pira olímpica, relocando-os, em seguida, para os países desejados.
Leia também:
- Tóquio, as olimpíadas da solidão
- Rio 2016, as Olimpíadas do Fogo
- Jogos olímpicos de todos os signos
- Os esportes coletivos na Olimpíada
Mario diz
Fernando,
A sede do Comitê Olímpico Brasileiro (assim como a dos Jogos) fica no Rio. Se analisasse por esta cidade em vez de Brasília, não obteria um registro mais preciso?
Vale lembrar tb que a meta do COB é ficar entre os dez primeiros países no número total de medalhas.
Redação Constelar diz
Olá, Mario. Volta e meia esta questão é colocada, especialmente durante Copas do Mundo: usar o mapa do país ou o da CBF? Particularmente, já testei em diversas situações o mapa do país em competições esportivas e cheguei a conclusão de que não é determinante. Já no caso da relocação do mapa de inauguração do evento, não estamos utilizando o mapa do país, mas apenas uma referência geográfica, que é a capital. Contudo, para muitos países, o centro de decisões não corresponde à capital formal, o que já coloca uma outra questão. Por exemplo: no caso da Austrália, faz mais sentido usar Camberra ou Sydney? Sucre ou La Paz para a Bolívia? Abuja ou Lagos para a Nigéria?
No caso específico das Olimpíadas, a questão é: até que ponto o COB tem real autonomia para decidir alguma coisa? Quando estamos falando de COB (RJ), não estamos, na verdade, falando de Ministério dos Esportes (DF)? Não estou afirmando, estou só pensando alto. Mas o trecho abaixo, do site “Observatório das Metrópoles”, dá o que pensar:
Naturalmente, o financiamento da preparação dos atletas também sai, na maior parte, do orçamento federal e de bancos estatais (Caixa e Banco do Brasil, por exemplo), o que coloca a questão do esporte como um dos aspectos das políticas públicas do Estado Brasileiro. Enfim: o mais seguro é testar as duas relocações!