Sem a harmonia cósmica, o caos vence e tudo fica devastado, mas sem o caos, a ordem cósmica se paralisa, desaparecendo toda a vida e toda a história.
(Luc Ferry in A sabedoria dos mitos gregos, Ed.Objetiva, 2009)
Cronocratores, os Marcadores do Tempo
Desde tempos muito antigos, os planetas Júpiter e Saturno são chamados de Cronocratores, ou Marcadores do Tempo, ou Senhores do Tempo. Era o maior ciclo a que tinham acesso os astrólogos da antiguidade, o que os fez conceber um sistema preditivo bastante original, constituído de conjunções que ocorrem em signos do mesmo elemento a cada 20 anos; seguia-se-lhe o ciclo médio, quando a conjunção ocorre em um elemento distinto do anterior, a cada 200 anos aproximadamente (se era em Terra passa a ser em Ar, como agora) e o grande ciclo, a cada 800 anos, quando havia o recomeço em Áries. E assim se contava e se previa o caminhar da História…
Barbault¹ me ensinou que a conjunção Saturno-Netuno sincroniza com a trajetória histórica da Rússia (ex-URSS). É o ciclo representativo do Socialismo-Comunismo. Entre inúmeras possíveis decodificações, foi chamado de “ciclo de construção (Saturno) das utopias (Netuno)”. Por similitude, o ciclo Júpiter/Saturno expressa, em maior ou menor intensidade, a viabilização estrutural da sociedade. Por isso mesmo, chamarei o ciclo Júpiter-Saturno de “ciclo de construção do progresso”, porque estruturas (Saturno) de poder (Saturno), organizando (Saturno) leis (Júpiter), sistema financeiro (Júpiter) e a própria sociedade (Júpiter), são o cenário de fundo onde os atores – cada um de nós – atuamos.
E este ciclo de construção de ideais recomeça em 2020, um destes momentos em que podemos sentar à janela e ver a História desnudar-se diante de nossos olhos; a conjunção Júpiter-Saturno, ao passar de um ciclo de Terra que começou no Século XIX, e que fundamentou todo o percurso do Capitalismo até os nossos dias, para um ciclo de Ar, permitirá que observemos uma quebra de paradigma: vislumbraremos o fim do Capitalismo² como até hoje concebido e os desdobramentos deste fato notável, tal Fênix renascida. As cortinas se abrem, o palco está posto. Acompanhemos…
Ciclo Júpiter-Saturno 2020 e analogias medievais
Acima o mapa que mostra o inicio do ciclo Júpiter-Saturno em Aquário em 2020, um signo de Ar, conforme já antecipei. Na reflexão que se segue, o leitor deverá relativizar, necessariamente, os conceitos emitidos. Por exemplo, se for afirmado algo do tipo “o povo vai sofrer”, leve em conta que o povo europeu não é o mesmo povo africano e que, portanto, aquilo que devem vivenciar será experimentado cada um ao seu nível³.
De volta ao passado – Antes de prosseguir e sugerir algumas hipóteses (amplas) de vivências e cenários futuros, sabemos da conveniência de observar o passado, o já experienciado, de recuperar de onde viemos, a fim de estabelecer fronteiras de prognósticos e tentar errar menos. Um passeio pelo acontecido me permitiu filtrar (um perigo isso!), algumas marcações no tempo que caracterizaram anterior conjunção de Júpiter/Saturno em signos de Ar (1226-1425). Desde o privilégio que concede meu posto de observação, alguns dos grandes eventos que deixaram marcas no passado em configuração semelhante a esta que estamos tentando entender – “as primaveras não são iguais, mas se assemelham”⁴ – são:
Penumbra sobre a Igreja Católica
- Em 1296 a Bula “Clericis Laico” pretendia impedir os reis de tributarem o clero.
- Em 1302 a Bula “Unam Sanctam” desenha amplo manifesto do que a Igreja pretendia ser o poder papal. Nela, Bonifácio VIII expressa que “(…). Por isso, declaramos, dizemos, definimos e pronunciamos que é absolutamente necessário à salvação de toda criatura humana estar sujeita ao romano pontífice”. Também nestes anos começa o conflito entre Felipe IV, “O Belo”, contra o Papa Bonifácio VIII, que levou à dominação do papado pelo rei da França, no que se conhece como o episódio do “Cativeiro de Avignon”.
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1409: Cisma: três pretendentes reivindicam o papado.
- 1414: Concilio de Constança contempla o fim do Cisma. Eleição de Martinho V.
Judeus, os eternos perseguidos
- “Outra fonte de renda para a coroa eram os judeus ingleses. Os judeus eram propriedade pessoal do rei e ele podia cobrar impostos do grupo como desejar[sic]. Os judeus foram tão explorados que por volta de 1280 eles já não eram mais de grande uso financeiro para a coroa, porém ainda assim podiam ser usados como barganhas políticas. Seus negócios de usura, proibidos para cristãos, deixaram muitas pessoas endividadas com eles e criou um sentimento de ressentimento geral”.
- “O rei [Eduardo I] mandou em 1280 que todos os judeus comparecessem a sermões especiais pregados por freis dominicanos na esperança de persuadi-los a se converterem, porém isso não aconteceu. O ataque final veio com o Edito de Expulsão de 1290, em que Eduardo formalmente expulsou todos os judeus da Inglaterra. Esse ato acabou gerando rendas a partir da apropriação de empréstimos e propriedades judaicas, e também deu ao rei capital político para negociar um subsídio considerável com o parlamento. A expulsão durou até 1656 e virou um precedente seguido por outros monarcas europeus: Filipe II de França expulsou em 1182 [sic] todos os judeus de seus territórios; João I, Duque da Bretanha, fez o mesmo em seu ducado em 1239 [sic]; e Luís IX de França expulsou os judeus no final da década de 1240 [sic] de seus domínios reais antes de ir para o oriente”⁵
No Medievo, o oposto do Brexit
A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) começou quando Luiz de Nevers, o Conde de Flandres, deflagrou uma atitude política anti-inglesa. Eduardo III, da Inglaterra, reagiu, implantando embargos à exportação de lã desde a Inglaterra para Flandres, provocando importantes perdas no fluxo comercial flamengo.
A seguir, Eduardo III, que não havia protestado quando Filipe VI de Valois assumiu a coroa francesa em seu lugar, proclamou-se rei da França. A guerra teve sequência – com curtos e longos intervalos de suspensão de hostilidades – até 1453. “Nunca se chegou a assinar um tratado de paz , e até 1801 [o glifo é meu] os reis da Inglaterra continuaram a ostentar o título de rei da França⁶.”
Depressão Econômica e Peste Negra
Enlaçaram-se, num abraço suicida, duas questões de implacável impacto: de um lado Felipe IV, “O Belo”, na constante busca de fundos para financiamento de suas guerras, inaugurou o conceito de tributação permanente do estado sobre o cidadão, sobre o comerciante, sobre a Igreja, diploma inexistente antes dele. Gerados pela “emergência” das guerras, tornaram-se permanentes⁷.
Concomitantemente, à subnutrição que tomara conta do continente a partir de 1315/1317 somou-se a denominada Peste Negra, vinda provavelmente da Mongólia e adentrando pela Sicilia em 1347/48. Matou de um quarto a um terço da população europeia da época. A histeria da carência por vezes voltava-se contra os judeus (de novo!), “acusados de terem envenenado os poços e causado a peste”. Milhões de mortes reduziram drasticamente a mão de obra e, pois, a produção de alimentos, de mercadorias e o consumo de bens. Estava criado o caldo de cultura para uma grande e longa depressão econômica⁸.
Nascimento de novo ímpeto comercial
As Cruzadas, iniciadas em 1096 – especialmente a quarta (1202-1204), a Cruzada Comercial – escondiam, na verdade, objetivos comerciais de abrir espaços de comercialização com o oriente. As cidades italianas foram as grandes beneficiadas desta abertura, através do Mar Mediterrâneo.
O fortalecimento das atividades comerciais, principalmente por meio dos recursos fluviais dos rios Danúbio, Reno e Ródano, propiciou o surgimento das feiras, a mais importante a de Champagne, na França, onde se negociavam tecidos, peles, madeira, mel e peixes oferecidos aos italianos, deles adquirindo mercadorias orientais. Houve, então, grande impulso comercial-financeiro e a entrada em circulação das letras de câmbio. “A terra deixava de ser a única expressão de riqueza”. Os que intermediavam bens e serviços começavam a ocupar espaço, “aparecendo com destaque um novo grupo social, os mercadores”⁹.
Veja também:
Notas
1 El Pronostico Experimental em Astrologia, Andre Barbault,Visión Libros, 1981
2 Fique claro que falo de transição, não de ruptura.
3 O astrólogo Antonio Carlos Fini explicaria que tudo depende dos passivos que o país deveria saldar. Por exemplo, este mapa, calculado para Montevidéo (Uruguay) e Buenos Aires (Argentina) é extremamente similar num e noutro caso. Nem por isso suas populações vivenciarão experiências iguais, sim de mesma natureza e de acordo com o mapa natal de cada país.
4 Tito Macia em www.ning,com
5 https://pt.wikipedia.org/wiki/Eduardo_I_de_Inglaterra
6 Helio Jaguaribe, Um Estudo Crítico da História, Ed.Paz e Terra, 2002, Volume II, pg.401
7 http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1091
8 Marvin Perry, Civilização Ocidental, Uma História Concisa, Ed.Martins Fontes, 3ªEdição, 2002
9 História Geral, Cláudio Vicentino, Ed.Scipione, 1999, pg.137
2020: utilitarismo, déficit alimentar e rupturas financeiras