Um
olhar brasileiro em Astrologia
Edição 77 :: Novembro/2004 :: - |
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A DESCOBERTA DO MEIO DO CÉUInício do artigoAscendente x Meio do CéuEnquanto o Ascendente é a identificação de si para si mesmo, o Meio do Céu é a identificação de si como símbolo ou como representação de expectativas sociais. É o desdobramento ou uma espécie de resultante da persona do Ascendente ao longo de seu desenvolvimento e integração entre os elementos internos e pessoais e os externos e sociais. O abdicar do individual, a perda de referencial em si mesmo, tomando como centro não mais o ego, mas a condição humana no mundo. Talvez possamos dizer que o Meio do Céu é uma resultante do ideal do Ascendente de projeção de si mesmo no mundo e uma maturação do mesmo pela aplicação individual tendo em vista objetivos que fazem parte das necessidades de grandes grupos de pessoas. O Meio do Céu ocorre após as experiências da sétima (o outro, as sociedades, as parcerias, o declínio do ego), da oitava (o ingresso numa sociedade onde requer-se compromisso e a consciência da necessidade da contribuição para os demais) e da nona casa (a participação na ritualística social, os protocolos, as regras que preparam para a assunção das responsabilidades vindouras). É a passagem do particular para o geral, o sacrifício da auto-importância em prol de um bem maior. É o início da percepção que levará à expressão do que os místicos entenderiam como o desenvolvimento do amor-dedicação universal. É no momento que nos tornamos "indivíduos", no sentido junguiano da palavra, que acabamos por deixar de sê-lo, no sentido sociológico. O indivíduo, então, passa a reproduzir seu mito pessoal conscientemente. Esse processo só pode ocorrer como amadurecimento, quando o indivíduo passa a ser co-autor da obra que inconsciente e aleatoriamente produzia. Com a tomada de consciência do significado do Meio do Céu em nosso mapa (que não ocorre de súbito, mas após um bom processo de maturação, coisa que leva tempo e requer experiência de vida, embora possa ocorrer relativamente cedo), obtém-se uma diretriz e uma sensação de eixo, de prumo. Deixamos de ricochetear em profissões ou em lugares sociais que, sim, têm analogia com o signo e os planetas associados ao Meio do Céu em nosso mapa, já que não temos como deixar de sermos o que somos, mas que não satisfazem aquela centelha íntima que direciona nossa vontade e nos faz sentir como que familiarizados com o papel que desempenhamos. Quanto mais se amadurece - e, repito, amadurecimento, embora tenha a ver com a idade, não necessariamente ocorre numa idade específica e nem todo amadurecimento é completo - mais próximo se fica da consciência que está relacionada ao signo e planetas ligados ao Meio do Céu. Persona-Social, Persona-Símbolo e Mobilizadores de MultidõesExemplos (extremos) de vidas que passaram a reproduzir, com grande clareza, um drama arquetípico, freqüentemente identificado em mitos de diversas culturas: Chico Xavier, Ghandi, Antônio Conselheiro, Sócrates etc. Isso não quer dizer que somente pessoas que tenham desenvolvido uma persona social capaz de mobilizar multidões ou que tenham tido impacto ad eternum no pensamento humano sejam as únicas a desenvolverem o sentido de persona-símbolo do Meio do Céu. Um cidadão comum que tenha atingido um bom grau de ativismo e que se tenha tornado relativamente conhecido por suas obras, que tenha bom grau de credibilidade, está vivendo seu Meio do Céu. E às vezes plenamente, se estivermos falando de uma perspectiva holística da vida. É possível que ele ali esteja realizando seu dharma (termo hindu que significa, no sentido teosófico, "dever", "missão", grosso modo). Gandhi (à esquerda) e o beato Antonio Conselheiro (abaixo, em foto do corpo após a tomada de Canudos) foram pessoas que, de maneira bastante diversa, vivenciaram plenamente o sentido do Meio do Céu. Dizer a alguém que está havendo um grande desenvolvimento da persona social ou da persona-símbolo implica dizer que sua vida já não mais lhe pertence, ao contrário do que parece ser para o ego individual relativamente despercebido de seu eixo de conexão com o restante da sociedade. Ela pertence a um desígnio maior, mesmo que esse desígnio não tenha nada de aparentemente espiritual, e obedece a uma lógica diferente daquela dos interesses individuais de autopreservação. A lógica, então, é a que transcende o indivíduo e que encontra eco na necessidade da humanidade de encontrar seu referencial de se realizar como obra da Criação (se usarmos a terminologia cabalística). A vida do indivíduo passa a ser uma espécie de, na falta de um termo menos limitado, "patrimônio humano", não mais algo privado. Ele tem que preencher determinadas expectativas sociais ou espirituais de sua época. Pode-se alinhar a consciência com esse ser modelar que existe dentro de si à medida que se dirige o esforço pessoal para situções e atitudes análogas aos símbolos envolvidos na dinâmica do Meio do Céu. É um tipo de alinhamento com a vocação do indivíduo. E à palavra "vocação" atribuem-se, aqui, conotações além das meramente profissionais, apesar de isso cobrir boa parte dos atributos do Meio do Céu. Identifique em seu histórico pessoal, manifestações profissionais ou não dos arquétipos associados ao Meio do Céu (o signo da cúspide, o dispositor ou os planetas da casa 10). O que você viveu de análogo a isso? Pergunte-se: "Que tipo de simbólica eu incorporo perante as expectativas da sociedade?" Mas e se...?Em função do que foi escrito nos parágrafos anteriores, é bem possível que seja feita uma pergunta como esta: "Mas e quando o Sol (ou algum outro fator importante do mapa) está no Meio do Céu? O indivíduo já age, sente e pensa como um símbolo vivo?" Não. Se assim fosse, diversas pessoas que enfrentam crises sucessivas em suas vidas profissionais, as que têm dilemas existenciais e aquelas que têm certa dificuldade em definir um lugar social não existiriam. Mesmo com o Sol na casa 10 é preciso passar por um processo de amadurecimento e integração para expressá-lo em todo o seu potencial. Quando você desenvolve a auto-estima, isso repercute também no Meio do Céu. Tem que ser assim, do contrário não estaríamos falando de uma integração com a totalidade do ser. Identificar-se com o Meio do Céu significa atuar como símbolo, coisa que é inerente a todo ser humano em nível inconsciente. É viver o mito pessoal. E quanto às pessoas que não se realizam? Elas deixam de experimentar o Meio do Céu em suas vidas? E quanto àquelas que têm tudo sem esforço ou têm uma herança que as permite uma vida muito confortável? Elas já nasceram realizadas e por isso não precisam passar por um processo de autodesenvolvimento? Estas perguntas também podem ter surgido na mente de vários leitores, mas o fato de alguém se "realizar" (ênfase nos aspas, por favor) é bastante relativo. Por um lado tanto o primeiro quanto o segundo tipo de pessoa pode não ter desenvolvido suficientemente sua consciência social, permanecendo circunscritas nos limites de suas inseguranças (tantas vezes produzidas pelomodo como a própria sociedade se estrutura num mecanismo repressivo e coercitivo) ou de suas visões de mundo cristalizadas. Essas pessoas, podem não ter sido encorajadas a desconsiderar toda uma estrutura estratificadora da sociedade (mesmo a nossa), indo adiante em seus objetivos. Por outro lado, nem sempre a realização como indivíduo integrado vem acompanhada do enriquecimento. Ele até pode vir da plenitude decorrente do uso dos talentos (casa 2 do mapa astrológico) e das repercussões que isso terá no futuro (uso dos talentos ao longo do tempo, otimizando-os e adaptando-se a novas circunstâncias). Aí já estamos falando do desdobramento da casa 10 na casa 11, que remete à idéia de futuro ou projeções dos ideais para a posteridade. Quanto a quem "tem tudo", não necessariamente se chega a essa plenitude enquanto ser. Embora tais pessoas sejam materialmente estabelecidas, chegar à consciência do Meio do Céu é um estado de ser, algo que implica haver a passagem por um processo de morte do ego. Aliás, diga-se de passagem, a expressão "morte do ego" aqui é tratada não como "anulação do ego", mas como seu uso subordinado a algo maior do que ele - uma anulação total do ego inviabilizaria uma atuação mais contundente na sociedade, faria com que se perdesse o poder motivador e mobilizador. O processo também envolve o contato com uma filosofia ou visão de mundo dilatada, algo que transcenda a importância da vontade pessoal. Quando se atinge esse grau de consciência, a perseguição do ideal de prestígio resulta na percepção de que aquele prestígio é um elemento secundário, apenas um suporte para um trabalho maior e mais importante que o indivíduo sente que precisa realizar e que a ele se subordina. Tendo tudo isso em vista, faz parte do processo que leva a atingir um estado de auto-estima quando, ao invés da busca pura e simples por prestígio, aceitação e privilégios, integra-se a esta faceta o interesse pelo bem do grupo. Quando se atinge esse ponto, ao invés de se utilizar de subterfúgios - e tremendos esforços que enrijecem e esterilizam a criatividade - para a manutenção de uma ilusória posição de poder, abre-se caminho para uma postura de serviço à humanidade (casas 11 e 12) e de reintegração da imagem-símbolo (a persona social integrada à personalidade) à memória coletiva através de atos de abnegação e remissão das fraquezas humanas. O Meio do Céu abre a consciência individual para o processo de indiferenciação. E o faz justamente por intermédio de um emergir de conteúdos arquetípicos no indivíduo. Para finalizar, gostaria de propor um breve exercício em 5 passos com base no que foi visto ao longo deste artigo:
Após feito esse exercício, experimente-o com outras pessoas de seu convívio. É uma boa maneira de começar a entender o que vem acontecendo com você e com os seus. Outros artigos de Carlos
Hollanda. |
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