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A DESCOBERTA DO MEIO DO CÉU
A Persona Social e a Realização no Mundo
Este artigo contém parte de um dos eventos organizados
pela Escola Rio Constelar, que ocorreu no Espaço Saúde,
no bairro de Laranjeiras, Rio de Janeiro. O texto faz referência
à palestra A auto-estima está no Meio do Céu,
proferida pelo astrólogo Carlos Hollanda. Entre os palestrantes
estavam Fernando Fernandes, Roseane Debatin, Alexey Dodsworth, Angela
Schnoor e Vanessa Tuleski. Todas as palestras contavam com a gratificante
participação do público através de exercícios
práticos com os mapas natais ali presentes e com exemplos conhecidos
de todos.
Costuma-se negligenciar o Meio do Céu como elemento
definidor da personalidade e do comportamento. A ênfase da leitura
astrológica para muitos intérpretes se concentra no Sol,
na Lua e no Ascendente, secundarizando o Meio do Céu, situando-o
como uma das cúspides das demais casas astrológicas, algo
de peso menor em relação à tríade supramencionada.
Coisa bem comum, tanto nas leituras corriqueiras quanto
nos textos difundidos em livros e pela Internet, é a afirmação
de que o Meio do Céu está relacionado à carreira.
Nisso, inclui-se a profissão, a vocação, a realização,
sendo esta última uma referência a conquistas freqüentemente
materiais derivadas do status, da posição ocupada numa empresa
ou da respeitabilidade que se obtém por algum título honorífico.
Todas essas acepções são, sim, corretas. Convém
lembrar, no entanto, que status não significa apenas uma
posição elevada na escala social ou algo que dê a
idéia de honra e prestígio. Status, que quer dizer
literalmente "estado", vem das antigas sociedades rigidamente
estratificadas, cuja visão de um universo ordenado ("por Deus")
indicava a cada coisa e a cada pessoa um lugar específico, intransferível
e imóvel.
Embora
desde a Antigüidade tenhamos indícios de diversas sociedades
onde não havia mobilidade social (se alguém nascia camponês,
morria camponês, fizesse o que fizesse), o termo latino "status"
ganhou sentido na Europa medieval, com a sociedade de ordens. Cada ordem,
um "estado". Isso dividia as pessoas em primeiro, segundo e
terceiro estados. O primeiro, o clero, o segundo, a nobreza, e o terceiro,
o "resto", que comprendia desde camponeses a pequenos comerciantes,
passando por andarilhos, mendigos e tudo o que não pudesse ser
classificado dentro dos dois primeiros estados. As distinções
dos estados e a estratificação social passava também
pelo uso de roupas, cores, gestos, modos de falar, além de outras
regras proibitivas à força por um lado ou, por outro, impeditivas
pelos sinais característicos de cada ordem, que inviabilizavam
ou dificultavam sobremaneira a um camponês tentar se fazer passar
por um nobre ou por um clérigo. Para se ter uma idéia, quando
alguém, atualmente, quer humilhar outra pessoa ou tenta discipliná-la
para que se encaixe numa ordem que considera mais "justa" do
ponto de vista do mérito ou do direito de nascença, normalmente
usa a conhecida frase "ponha-se no seu lugar". A raiz dessa
frase tão comumente utilizada em momentos de irritação
de alguém que se julga superior a outrem está também
na sociedade medieval e ainda permaneceu nos séculos XVI, XVII
e por aí afora. Não é de espantar que no Brasil isso
seja comum, afinal herdamos dos portugueses, europeus, portanto, diversos
hábitos que permaneceram desde o medievo.
A frase, que para nós, hoje, é conotativa,
anteriormente era denotativa, quer dizer, era uma afirmação
literal, especialmente quando pensamos na divisão feita dentro
das igrejas, onde havia o lugar do nobre, do prestigiado e o do "resto",
isto é, do terceiro estado. Aquele que pertencia ao "resto",
se estivesse sentado num local da igreja reservado àqueles que
tinham prerrogativas, era passível de receber a reprimenda: "ponha-se
no seu lugar!". E lá ia o sujeito sentar-se no lugar que lhe
competia, que era o que ele deveria ocupar consoante seu "status".
Do que estamos falando, afinal, de Meio do Céu ou
de história e sociologia? Podemos dizer que uma compreensão
mais aguda das funções do Meio do Céu no mapa e o
que ele representa em nossas psiques individuais só pode ser obtida
se conjugarmos esse conhecimento histórico-cultural com o astrológico.
Tudo o que foi dito acima retrata a tendência de os grupos humanos
subdividirem-se em lugares exclusivos na sociedade. É o que se
chama "lugar social", e o Meio do Céu é, no mapa
astrológico, um dos mais coerentes indicadores do modo como procedemos
para sermos enquadrados num determinado lugar, numa classificação
que os outros nos dão, diferenciando-nos dos demais por um título,
por um apelido carinhoso ou por uma classificação pejorativa.
É certo que hoje em dia temos uma mobilidade social.
Em outras palavras, um operário pode tornar-se presidente ou um
camelô pode vir a se transformar num rico empresário do mundo
da mídia (apesar de essa mobilidade não ser tão ideal
quanto parece ser ao vermos esses casos especiais - a maioria das pessoas
não tem o conjunto de oportunidades que favoreceram a ascensão
daqueles indivíduos, sejam elas oriundas de um contexto histórico,
sejam da possibilidade de desenvolverem suas expectativas). De qualquer
jeito, mesmo com a mobilidade que atualmente acreditamos ter, esses indivíduos
que ascenderam têm um lugar social, eles ocupam uma posição
na qual podem ser reconhecidos e rotulados de forma a dar à sociedade
a noção de que existe uma ordem, uma regra a ser seguida
e níveis hierárquicos a serem respeitados. Essas posições
indicam aos outros quem nós somos. Aquilo que fazemos fala muito
a respeito daquilo que realmente somos, mesmo que todo um verniz de convivência
em sociedade pareça ocultar nossa essência.
O Epíteto
Ao indicar não apenas a vida profissional, mas a
forma como nos enquadramos na sociedade e aquilo que nos tornamos internamente
ao fazê-lo, o Meio do Céu indica também o epíteto
que somos passíveis de receber por desempenharmos nossas funções
na sociedade. "Mas isso não é o mesmo que falar da
profissão?" - logo alguém pode perguntar. Na verdade
não. "Desempenhar nossa função", muitas
vezes não é algo com o que trabalhamos. Na maior parte dos
casos é cumprir expectativas de terceiros. Assim, o autor deste
artigo não é apenas Carlos Hollanda, mas "o astrólogo"
Carlos Hollanda. Reparem que junto com o nome vem o epíteto: "o
astrólogo". Assim também temos; Zé das Couves,
o segurança de banco; Dom Manuel, o Venturoso e assim por diante.
Ora, e o que é um epíteto senão um nome ou uma frase
que qualifica uma pessoa? Reparem bem no termo: "qualifica".
No caso de uma sociedade isso é o mesmo que enquadrar essa pessoa,
rotulá-la, dar a ela um lugar social, um meio através do
qual ela possa encaixar-se no sistema e por ele ser reconhecida e aceita,
o que implica não ser rejeitada. Não rejeitada ao menos
em teoria. Como? Pode-se receber um epíteto depreciativo, como
"Fulano, o gosma", mas ainda assim, tem-se uma identificação
do sujeito pelo rótulo e isso o torna menos ameaçador para
os demais, algo conhecido, cujos limites estão socialmente estabelecidos:
"ele é um 'gosma', portanto afaste-se dele para não
ficar 'infectado com sua gosmice". A sociedade busca, com isso, manter
a estabilidade, e o indivíduo com o epíteto depreciativo
representa o que não fazer ou como não obter
a estima pública. Ele, portanto, tem um lugar social importante,
embora nada confortável e completamente desprestigiado.
O Meio do Céu também identifica o processo
de amadurecimento pela dissociação do indivíduo consigo
mesmo. É representativo da mudança gradual que faz com que
sejam levados ao centro das ações individuais os interesses
de terceiros acima dos próprios. Isso se consolida na casa 11,
a casa dos ideais, da fraternidade (seria melhor dizer "fraternidades",
agrupamentos por afinidade ideológica, como partidos políticos
ou aquelas que selecionam seus membros impedindo a entrada de quem não
está de acordo com o modelo de conduta adotado). Mas é na
casa 10, a casa subseqüente ao Meio do Céu, que encontramos
nossa persona-símbolo no mundo. É ali que, num nível
maior de integração entre o aspecto individual e o coletivo,
tornamos nossa individualidade semelhante a um arquétipo. Muitas
vezes, agimos, sem imaginar que o fazemos, como tal, pois assumimos, pelo
amadurecimento de nossos anseios, a imagem que o público projeta
sobre o indivíduo. É ali que, ao alcançarmos a individualidade
integral, tornamo-nos, tal qual afirma Jung, o mais geral de todos os
seres, alguém que se torna símbolo vivo numa cultura e época
despertando a identificação dos demais com a imagem ideal,
realizada na parte mais alta do céu no momento do nascimento. E
quem disse que o que é ideal só se encontra nas casas 11
e 12? A casa 10 e o Meio do Céu indicam, em casos de um alto nível
de dedicação e esforço, o assumir de uma condição
ideal perante as expectativas dos demais. É, ao mesmo tempo, uma
forma de emergir do público, destacando-se, tal qual afirma a oposição
do eixo das casas 4 e 10 do mapa astrológico individual, e uma
maneira de representar o público em suas mais altas aspirações.
É ser e não ser ao mesmo tempo. Complexo? Paradoxal?
Ascendente
x Meio do Céu
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