Revista Constelar Revista Constelar

 

 

 
 
 
A CRÔNICA DO ECLIPSE

Serginho, o jogador que morreu de Lua

Fernando Fernandes

 

Na noite de 27 de outubro de 2004, enquanto a escuridão começa lentamente a lamber o disco lunar, um jogador de futebol desaba no gramado do estádio do Morumbi e entra em agonia. Era o sentido do eclipse se desdobrando ao vivo diante de milhões de telespectadores.

No céu, a Lua cheia estava prestes a ser engolida pela sombra da Terra, mas ninguém no estádio do Morumbi parecia prestar muita atenção. Em campo, as equipes do São Paulo e do São Caetano empatavam em zero a zero num jogo que valia o terceiro lugar no campeonato brasileiro. Eram 14 minutos do segundo tempo e faltavam aproximadamente quinze minutos para as dez da noite.

Lance de perigo na área do São Caetano. O jogador Serginho ajuda a isolar a bola, dá pois passos e desaba sozinho no gramado. O primeiro a perceber que algo de muito grave acontecera é Silvio Luiz, goleiro do São Caetano. Após tentar reanimar o colega, ele acena nervosamente, reclamando a presença do médico. Correria. Susto. A massagem cardíaca não funciona. A respiração boca-a-boca também não ajuda muito. Chega a maca. A ambulância. A partida paralisada. Serginho é levado para o hospital. No céu, a Lua começa a ser engolida pela sombra da Terra, mas ninguém vê. Como disse a Folha de S.Paulo no dia seguinte:

Muitos jogadores choravam em campo enquanto Serginho era retirado. Em seguida, jogadores dos dois clubes, árbitros e membros das comissões técnicas formaram um círculo no centro de campo e rezaram pelo atleta. A torcida presente no estádio gritou em coro o nome do jogador. "Serginho, oramos por você", dizia o placar.

São 21h55 quando a ambulância sai do estádio. Plutão, o senhor do mundo subterrâneo, está cruzando o Descendente. Às 22h05 Serginho dá entrada no Hospital São Luiz, ainda com vida. Contudo, não resiste e morre às 22h45, após fracassarem todas as manobras de ressuscitação cardiopulmonar. O Ascendente está agora em 5° de Câncer, signo da Lua. Esta, cada vez mais alta no céu, já mostra as mordidas da sombra. Marte, planeta da energia física e das atividades esportivas, está no Fundo do Céu, ângulo associado ao fim da vida. Marte está em Libra, exilado, quase em conjunção com o Marte natal de Serginho, também em Libra. No gramado do Morumbi, maior estádio particular do mundo, atletas dos dois clubes se abraçam e rezam, em prantos. Em todo o Brasil, partidas de futebol são interrompidas para que, sob a Lua cheia eclipsada, jogadores e público façam um minuto de silêncio pelo zagueiro que se foi. Torcidas rivais unem-se no mesmo grito: "Serginho, Serginho..."

Morte do jogador Serginho - 27.10.2004, 22h45 - São Paulo, SP - 23s32, 46w37. Como em vários outros mapas associáveis ao eclipse, este tem Marte e Saturno em situação de destaque: Marte é angular (Fundo do Céu, fim da vida) e Saturno está na casa 1.

Quando uma configuração astrológica mais notável se faz presente, é comum que acontecimentos terrestres concomitantes manifestem analogias com os fatores celestes envolvidos. Nem sempre a analogia é muito literal, pois o simbolismo astrológico é aberto o suficiente para comportar dezenas de possibilidades de tradução. Mas às vezes o símbolo se revela de maneira tão precisa que chega a surpreender os próprios astrólogos, que não ousariam esperar uma manifestação tão óbvia. Foi o caso, por exemplo, da oposição de Plutão em Sagitário a Saturno em Gêmeos, em 2001. Todo astrólogo sabe que Saturno representa torres, enquanto Gêmeos é um signo de comércio e comunicação. Saturno em Gêmeos pode, então, ser traduzido ao pé da letra por torre de comércio, entre outras possibilidades. Plutão simboliza perigos invisíveis e atos extremistas, enquanto Sagitário rege lugares distantes, culturas estrangeiras e religiões. Então, Plutão em Sagitário pode ser traduzido como perigo de atos terroristas vindos de longe e motivados por religião. Óbvio, não? Mesmo assim, pouquíssimos astrólogos teriam a coragem de prever algo tão direto, tão assustadoramente objetivo quanto um grande ataque terrorista a uma elevada torre comercial. Mas o atentado que destruiu as torres gêmeas do World Trade Center mostrou que às vezes a melhor interpretação do aspecto é exatamente a mais simples - tão simples que ninguém pensou.

O mesmo com o eclipse lunar total na noite de 27 para 28 de outubro. Escrevemos, em Constelar n° 76, que o eixo Sol-Lua do eclipse atingia em cheio a oposição Saturno-Marte do mapa da Independência do Brasil, sobre o que deixamos registrado o seguinte:

Como a oposição Saturno-Marte encontra-se no eixo das casas 3 e 9, o eclipse atinge em cheio os significadores de forças armadas e polícias militares (Marte), política de defesa de fronteiras (Saturno na casa 3), comércio exterior e suas restrições, contrabando, imprensa, estrutura de transportes, universidades e funcionamento do Poder Judiciário. Em todas essas áreas, é possível manifestar-se o sentido negativo da oposição Marte-Saturno obscurecida por um eclipse lunar.

Círculo interno: Independência do Brasil - 7.9.1822, 16h30 LMT - 23s32, 46w37; círculo externo: planetas do eclipse de 28.10.2004. Observar a ativação do eclipse ao eixo Saturno-Marte do Grito do Ipiranga.

Tudo isso está no nível macro (o das grandes questões econômicas, políticas e sociais), e pode-se materializar aos poucos no período de vigência do eclipse, que é de aproximadamente seis meses. Contudo, os acontecimentos no estádio do Morumbi, bem debaixo da lua cheia, ilustram de forma dramática a possibilidade de manifestação do mesmo simbolismo no nível micro - o de pequenos dramas humanos envolvendo gente de carne e osso.

Marte é significador de guerreiros, de uma forma geral. Por isso representa os militares, mas também podemos colocar sob sua regência os atletas, que são guerreiros em outro nível. O futebol, em especial, responde muito bem ao simbolismo de Marte em Escorpião, como já demonstramos em artigo na edição 33 de Constelar (e não é à toa que o Brasil é pentacampeão mundial).

O eixo das casas 3 e 9, que o eclipse ativou no mapa do país, representa a imprensa, incluindo rádio, televisão e jornais. Milhões de telespectadores viram Serginho (o jogador de futebol, Marte) desabar no gramado e agonizar diante da impotência (Saturno) de médicos e de colegas. A partida foi paralisada (Saturno) aos 14 minutos do segundo tempo (14 é o número de anos que Saturno leva para formar uma oposição). Enquanto o eclipse se iniciava, formava-se no gramado um círculo de preces reunindo homens de equipes rivais que, momentaneamente unidos, buscavam apoio espiritual para uma perda que, por atingir um colega de profissão, foi sentida por todos. No mapa do Brasil, Saturno, que é um significador essencial de restrições, rege também a casa 12, que tanto fala de perdas quanto de transcendência. Já a casa 9, onde se encontra Marte, é a casa da religião, ou seja, da religação com o todo.

O sentido simbólico: testando a resistência do brasileiro

Atalhos de Constelar 77 - novembro/2004

A crônica do eclipse lunar | O jogador que morreu de Lua | testando a resistência do brasileiro | Catuaba corrupta | Lula, Revolução com eclipse |
Prognósticos de Constelar e resultados das eleições | São Paulo | Rio, Porto Alegre e Curitiba |
Os maias e os seis vetores do tempo | A cultura maia | Especulações sobre o tempo |


Anterior | Próxima | Sumário desta edição | Índices

© 1998-2004 Terra do Juremá Comunicação Ltda.