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JÚPITER-NETUNO E PLUTÃO-SATURNO

Dois Perdidos numa Noite Suja
A peça de Plínio Marcos, um clássico
dos anos 60, virou filme pela segunda vez. A primeira versão, de
1971, foi bem mais fiel ao texto original. Na segunda, de 2003, a ação
se passa nos Estados Unidos, onde Paco e Tonho são imigrantes brasileiros
ilegais. Carlos Hollanda viu o filme e analisa o simbolismo astrológico
dessa história sobre desejo, compaixão,
remorso e culpa.
Do diretor José Joffily, com Débora Falabella
e Roberto Bomtempo nos papéis principais, "Dois Perdidos Numa
Noite Suja" narra a história de dois brasileiros que como
tantos, trocaram a falta de perspectiva do país pela ilusão
do sonho americano. O encontro dos dois se dá de forma sui generis:
Tonho, personagem de Bomtempo que trabalha como faxineiro, ajuda Paco,
personagem de Falabella, após esta ter feito um "servicinho"
para um cliente no banheiro de um bar num bairro periférico de
Nova Iorque. Paco, ou Rita, seu verdadeiro nome, traveste-se de menino
para obter dinheiro de homossexuais pedófilos em troca de sexo
oral. O "cliente" percebe que trata-se de uma mulher, não
de um menino e resolve estruprá-la, como vingança por ter
sido enganado. Tonho dá uma vassourada na cabeça do homem,
que desmaia. Os dois fogem e vão para o galpão (ou seria
melhor dizer "pulgueiro"?) onde vive Tonho.
Tonho
é tímido, humilde, sincero. Paco é misteriosa, arrojada,
agressiva. Ele, cansado de 5 anos de subempregos sem o retorno esperado,
quer voltar para o Brasil. Ela quer virar uma pop-star cantando Rap e
não pensa em retornar a seu país. A convivência de
ambos, forçada pelas circunstâncias, revela a falência
da esperança do que eles acreditavam ser uma vida mais digna. O
desespero leva os personagens a aplicarem golpes, sendo que Tonho, um
tanto sem malícia, acaba preso durante cinco meses, período
no qual é estuprado. A diferença de temperamentos e objetivos
provoca diversos conflitos entre os dois, com grande dose de agressividade
por parte de Paco, que reage às dificuldades que enfrentou no mundo
enxergando-o como algo a ser vencido, controlado e subjugado, tal como
o mundo fizera com ela. Sua desesperança com relação
ao ser humano e à vida cotidiana é contrastante com o modo
como Tonho enfrenta sua dor e desespero por estar longe de casa. Ele ainda
luta para não se corromper ante o sistema desumano em que vive.
Apesar do estupro sofrido na prisão, não encara o mundo
como uma ameaça, como o faz Paco.
Paco - ou Rita - e Tonho exprimem algumas facetas de uma
relação entre fatores dissonantes numa sinastria. Paco/Rita
expressa uma possível combinação Áries-Peixes-Capricórnio
ou algo como Marte-Júpiter-Saturno em aspectação
tensa ou em conjunção em seu mapa. Entre suas configurações,
Plutão ou Escorpião podem estar em posição
evidente no mapa, como no Meio do Céu ou até na casa 4,
a casa dos genitores. A casa 4, se pensarmos na relação
patriarcal da sociedade que deu origem à nossa, seria a casa referente
ao pai, ao invés da casa 10. Antigamente a mulher, ao casar, assumia
o nome do marido. Os filhos recebiam o sobrenome do pai e era o pai quem
devia reconhecer a filiação. Assim, a ancestralidade era
definida pela figura paterna. Disso decorre a possível associação
feita aqui entre Plutão e a casa 4 e a problemática envolvendo
o pai. De qualquer forma, o eixo 4-10 das casas astrológicas refere-se
ao eixo parental, pai ou mãe, e posicionado numa ou noutra casa,
em aspectação com Saturno, o processo seria um tanto semelhante.
Facetas
individuais
Dois Perdidos numa Noite Suja
em dois tempos: o filme de 2003 (acima) e a montagem do Teatro Nacional
de Comédia, em 1966.
O Júpiter de Paco-Rita também pode estar em
posição evidente, haja vista sua necessidade de expansão
e sua sensação de superioridade intelectual sobre Tonho,
coisa que ela faz questão de deixar clara.
Tonho expressa algo como Câncer-Sagitário-Peixes
ou o que poderia ser uma combinação Lua-Júpiter-casa
12 (ou uma espécie de fator Lua-Júpiter-Júpiter).
Piedoso, maternal, romântico, Tonho mantém em seu "esconderijo"
diversas fotos do Brasil, de sua casa, seu cão, sua mãe,
seus amigos. Vive relembrando os bons tempos passados e, já que
depois de 5 anos se aventurando num local desconhecido e, de certa maneira
hostil, vive sonhando em retornar e ser acalentado pelos seus. A capacidade
de Tonho relevar as grosserias, as artimanhas e a falta de respeito de
Paco por qualquer ser humano, em especial ele, retrata o papel tipicamente
pisciano da vítima, onde, de algum modo, o tipo Peixes aos poucos
constrói seu algoz. Para que haja uma vítima é preciso
haver um vilão. E tanto Paco quanto Tonho têm fortes características
piscianas atuando em níveis e expressões diferentes: ambos
são vitimados pela sociedade e por seus próprios sonhos.
Ambos vivem numa espécie de reclusão e numa situação
de marginalidade. Entretanto, Rita se entrega às drogas para anestesiar
sua percepção rude, construída ao longo das diversas
frustrações às expectativas. Para ela os fins justificam
os meios: ela quer ser uma pop-star (um sonhar alto, jupiteriano, solar
e pisciano) cantando Rap. Não é dotada de uma voz privilegiada,
coisa que poderia denotar um caráter taurino ou venusiano em evidência.
No entanto, seu mundo é também um mundo musical, bastante
netuniano.
O lado pisciano ou de casa 12 muito enfática de Tonho
se manifesta também através de um engano ridículo
que o leva à cadeia como se fosse um aproveitador de menores e
ainda por cima tendo que aturar o policial que o prende dizendo que "no
México as coisas podem ser daquele jeito, mas ele estava na América".
A combinação Câncer-Peixes é muito capaz de
englobar, de acolher. A acolhida que Tonho dá a Paco e o fato de
ele agüentar sua total falta de respeito e gratidão é
marca da capacidade de renúncia a si próprio característica
dessa combinação de fatores. Há que se considerar
também o nascimento de uma paixão mesclada com a dependência,
que por sua vez é causada pela solidão. Tonho sente grande
carinho por Rita, carinho este mesclado com pena, compaixão por
saber que, embora a mulher resista em admitir, a vida que ela leva é
por demais sofrida e triste, sem rumo e sem significado. Rita debocha
do fato de Tonho demonstrar emoções explicitamente, chorando
muito quando percebe que pode ser deportado ou quando vê que não
tem mais esperanças de arrumar emprego. Também é
sádica o suficiente para conseguir, com sexo oral, dinheiro para
pagar a passagem de Tonho de volta para o Brasil, o que evitaria a humilhação
da deportação, e compra um par de botas de $ 500,00.
Rita, apresenta uma sensibilidade exacerbada característica
de combinações entre as nuances de Áries e Peixes,
Marte e Peixes, Marte e Netuno ou Netuno e Áries, quando esses
fatores estão em evidência num mapa astrológico individual.
O excesso de sensibilidade pisciano quando associado ao mapa de alguém
com Sol, Lua, Ascendente, enfim, com alguma ênfase em Áries
ou com Marte angular no mapa, produz reações extremadas
de autodefesa àquilo que faz o sujeito sentir-se agredido ou vitimado.
O problema é que com tal sensibilidade, coisas bem pequenas podem
soar como enormes agressões e a reação é ariana
ou marcial em suas piores expressões: violência gratuita,
ações excessivamente individualistas e o atropelo aos sentimentos
e necessidades alheias. Muitos podem pensar que uma combinação
Marte-Peixes resultaria em alguém sem energia para enfrentar a
vida. Mas embora tenhamos também, em vários momentos, essa
manifestação, é bastante comum que o fato de estes
indivíduos não suportarem sofrimentos com facilidade leve
a uma afirmação exagerada de sua dor e de um desejo de perpetrá-la
a outrem. Tal combinação acaba tendo uma certa semelhança
com o lado menos agradável do Escorpião, que é um
signo marcial, quando os escorpianos não se tornam cientes de que
podem estar enganados quanto às verdadeiras intenções
de terceiros e jogam todo um conteúdo emocional muito intenso numa
tentativa de resolução abrupta de um problema. Acontece
que uma catarse pode ser ótima para alívio da pressão
interna, mas pode destruir completamente uma relação onde
o "agressor" na verdade não agrediu, apenas o "agredido"
sentiu-se como tal por algum motivo.
Rita, em seu componente Saturno-Capricórnio, reprime
suas emoções e tende aconsiderá-las ridículas,
pois elas soam como algo que poderia vir a enfraquecê-la perante
o mundo, este mundo, do qual ela tanto tenta escapar ao mesmo tempo em
que tenta controlar para não ser controlada. Entretanto, seu lado
Áries-Peixes, profundamente romântico e abafado pela dor
e pela auto-repressão, deseja ardentemente alguém em quem
confiar, alguém com quem possa ter um caso de amor e alguém
sobre cujo ombro possa chorar de vez em quando. Todo esse aspecto reprimido
vem à tona quando Tonho revela seu amor por ela, mas já
era tarde demais.
Desejo, compaixão, remorso, culpa e revelações
Tonho, por fim, acaba, com uma arma na mão, exigindo
de Paco-Rita o produto de um assalto que fizeram e do qual Rita resolvera
que Tonho não deveria ter mais que 20% devido à sua incapacidade
para pressionar, ferindo cruelmente, a vítima do roubo, forçando-a
a revelar onde estava o dinheiro. Com dor no coração, Tonho
deixa Paco sozinha no galpão, sem dinheiro e sem as botas tão
usadas para humilhá-lo. O filme não mostra o que Tonho fará
com as botas, mas a impressão que se tem, pelo modo como ele as
carrega em sua fuga, é a de que ele as guardará com carinho,
como uma lembrança querida e ao mesmo tempo amarga de alguém
que ele amou e que não o entendera. Paco, agora convencida pela
arma de Tonho, de que é Rita, finalmente percebe que o único
ser humano em que ela podia confiar não era um sonho: estava diante
dela todo o tempo e ela, em sua descrença de qualquer capacidade
de nobreza humana, não vira.
Curiosamente o filme foi lançado numa época
(2002) em que ocorrem dois aspectos astrológicos completamente
análogos aos ambientes retratados no filme, às ilusões
dos dois personagens e aos conflitos e explosões emocionais decorrentes:
Júpiter em oposição a Netuno e Saturno em oposição
a Plutão. A ilusão de um local idílico (Netuno) e
de uma vida mais abastada num país distante (Júpiter) e
cheio de promessas, confrontando-se com preconceitos, taras, complexos
psicológicos, violência (Plutão-Saturno), numa realidade
muito diferente do mundo cor-de-rosa que tantas pessoas pensam existir
fora do Brasil. Outra analogia a Saturno-Plutão sob aspecto tenso
são as reações de Rita quando se pergunta sobre seu
relacionamento com o pai (Saturno). Ela não diz, prefere ocultar
(Plutão), mas imediatamente revela um trauma talvez decorrente
de abuso sexual (Plutão) realizado pelo próprio pai (Saturno).
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Hollanda.
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