Este artigo é a terceira parte da dissertação de mestrado Narrativas do Céu – A presença da Astrologia nos Meios de Comunicação, apresentada em 2015 pela jornalista e astróloga Titi Vidal. Se você não leu as partes iniciais, não perca tempo:
Em 1824, foi publicada a revista The Straggling Astrologer, em Londres. Segundo o astrólogo Guilherme Salviano,[8] essa provavelmente foi a primeira revista de previsões astrológicas semanais, contendo os assuntos ainda encontrados hoje em colunas astrológicas: amor e casamento, finanças, economia e viagens. Era escrita por Robert Cruz Smith, o primeiro astrólogo a escrever a The Prophetic Messenger (Londres, 1827) com o pseudônimo Rafael. Vários seguiram o mesmo pseudônimo e também escreveram até 1850.
Uma possível origem do horóscopo como é feito hoje seria na França, por um astrólogo chamado Fakir Birman, no século XX.
Com relação aos horóscopos como são escritos hoje, quem primeiro considerou o signo solar e, portanto, individualizou as previsões, foi Alan Leo. Segundo o astrólogo Guilherme Salviano,[9] até então os horóscopos eram feitos de forma genérica, considerando datas e eventos coletivos. Foi Alan Leo, nascido em 7/8/1860 em Westminster, junto a Londres, que ofereceu, pela primeira vez, horóscopos gratuitos aos assinantes do Astrologer’s Magazine. Assim, popularizou os horóscopos para o signo solar. Para Salviano, Leo, que se chamava William Frederick Alam, que criou esse pseudônimo por seu signo solar, Leão, dirigiu o que se poderia qualificar de a primeira empresa astrológica do mundo, com uma dezena de empregados para fazer os cálculos e redigir os textos. Isso aconteceu entre 1889 e o início do século XX. Dessa forma, Alan Leo conseguiu aperfeiçoar uma técnica de confecção maciça de horóscopos, graças a textos pré-fabricados para cada tipo de mapa e uma máquina copiadora.
Nos Estados Unidos, a primeira coluna de Astrologia surgiu em 1931 na revista Boston Record, e as primeiras previsões para cada signo solar, em 1936 no New York Post (MCMILLAN, 1985). Em 1941 cerca de 20% dos jornais americanos tinham arquivo em bibliotecas públicas com colunas de Astrologia, e as bancas de jornais pelo menos quatro ou cinco revistas de Astrologia. Em 1945 cerca de 150 jornais tinham colunas de Astrologia, números que aumentaram rapidamente com a popularização da Astrologia. Em 1975 cerca de 1.250 dos 1.500 jornais nos Estados Unidos tinha colunas de Astrologia diárias (KURTZ, 1975).
Uma curiosidade sobre os horóscopos publicados nos Estados Unidos tem a ver com Edward Wagner, um dos pioneiros em horóscopos de jornal nos Estados Unidos, que, além de astrólogo, era jornalista e meteorologista. Trabalhava em um jornal na cidade de Cleveland, em 1924, que publicava como verdadeiras invenções de charlatões e espiritualistas. Para fazer essa tarefa, Wagner mergulhou no assunto, aprendendo a interpretar mapas e horóscopos. Ao invés de publicar qualquer desmerecimento da Astrologia, tornou-se um astrólogo profissional. Durante dois anos publicou o National Astrological Journal (1933-1935). Em 1936, ele começou uma coluna diária no New York Post. Outra curiosidade é que, nos Estados Unidos, algumas colunas astrológicas foram suspensas durante a Segunda Guerra Mundial, como um gesto voluntário da comunidade jornalística com quem escrevia conteúdo astrológico, devido ao fato de A. Hitler usar a Astrologia para definir suas estratégias (HUGHES, 1988).
Ainda assim, em 1941, cerca de 20% dos jornais americanos e quatro a cada cinco revistas tinham colunas de Astrologia. Em 1954, o número de jornais com coluna de Astrologia passou para aproximadamente 150 e em 1975 eram 1.250 dos 1.500 jornais existentes nos Estados Unidos, sendo todas colunas diárias.[10]
Nas emissoras europeias, o sucesso de uma astróloga-vidente
Por volta de 1960, o horóscopo faz sua entrada no rádio, na Europa, com participação diária de um astrólogo, sendo que a partir de setembro de 1970 Madame Soleil passa a ter um programa no qual respondia perguntas feitas pelo telefone através de seus horóscopos, que eram calculados na hora (FISCHLER, 1972, p. 34). As primeiras rádios europeias a terem colaboração diária de um astrólogo foram a R.T.L., na Itália, e a Europe 1, na França.
Claude Fischler, coautor do livro O retorno dos astrólogos, organizado por Edgar Morin conta, ainda, que no período entre as duas guerras, “ao mesmo tempo que se desenvolvia a Astrologia da imprensa de grande divulgação” (1972, p. 36), também existiam publicações confidenciais, ou marginais, especializadas. Segundo Fischler, “depois da Libertação”, surgiu “uma imprensa especializada com tiragens importantes, gestão moderna e lucros baseados na publicidade”, como a Astres, fundada em 1948, com tiragem de aproximadamente 70 mil exemplares, e a Horoscope, com tiragem de aproximadamente 150 mil exemplares. Ambas eram publicadas mensalmente e ofereciam “signo por signo, previsões e conselhos que pouco diferem – a não ser pela abundância dos desenvolvimentos – dos que se encontram na imprensa não especializada”.
Com isso, de acordo com Fischler, passam a coexistir “dois tipos de imprensa astrológica” (1972, p. 36), sendo “uma confidencial, de conteúdo teórico e fins proselíticos, que vai vivendo sem publicidade” (1972, p. 36) e a outra “de grande difusão, de fins comerciais, conteúdo horoscópico, integrando numa publicidade abundante e sincrética todos os sectores do oculto e do mágico” (1972, p. 36). Até porque, para Fischler, é a “imprensa de astro-magazines que constitui o suporte privilegiado do mercado das ciências ocultas, do qual vive e que faz viver” (1972, p. 36). Mas Fischler também aponta publicações intermediárias em jornais, como o Astral, com tiragem de 25 mil exemplares e confirma que mesmo as revistas astrológicas de grande tiragem também publicam alguns “artigos consagrados à Astrologia erudita” (1972, p. 36).
Vale ressaltar que Astrologia erudita, para Philippe Defrance é aquela que se contrapõe à Astrologia de massa, “vulgarizada pelos horóscopos” (DEFRANCE, 1972, p. 81).
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NOTAS:
[5] Hoje em dia já podem ser encontrados mais livros sobre o assunto, mas, ainda assim, há lacunas, divergências e falta de informações.
[6] Mânticas são técnicas ou saberes utilizados para prever o futuro. Por exemplo, tarô, runas, etc.
[7] Não foram obtidos todos os dados das publicações.
[8] Palestra Astrologia dos Horóscopos, ministrada pelo astrólogo Guilherme Salviano, em 3/8/2014, no 15º Encontro Anual de Astrologia, realizado na GAIA, Escola de Astrologia.
[9] Idem.
[10] Palestra Astrologia dos Horóscopos, ministrada pelo astrólogo Guilherme Salviano, em 3/8/2014, no 15º Encontro Anual de Astrologia, realizado na GAIA, Escola de Astrologia.