Em 15 de março de 2004 astrônomos americanos confirmaram oficialmente a descoberta de mais um corpo celeste no sistema solar, que recebeu o nome de Sedna. A classificação inicial como um possível planeta revelou-se pouco apropriada, seja pelas reduzidas dimensões (menor do que Plutão e pouco maior do que Quaoar, descoberto em 2001), seja pelo insuficiente volume de informações sobre a órbita desse longínquo e gélido objeto transnetuniano. A partir de 2006, a tendência é considerá-lo um planeta anão, mesmo conceito aplicado a Plutão e a Éris.
Entretanto, por menor que seja e por menos que se saiba sobre ele, Sedna foi o mais importante objeto encontrado desde a descoberta de Plutão, em 1930. E mais: descobertas de corpos celestes costumam coincidir com a ampliação dos horizontes civilizatórios, como se cada novo novo membro do sistema solar representasse a emergência de um novo processo na consciência humana.
Novos objetos no céu, mudanças na Terra
Desde a antiguidade, considerava-se que Saturno representasse o limite entre nosso sistema e o restante do universo. Tanto na visão geocêntrica quanto heliocêntrica, Saturno era o último planeta visível, o mais distante, a fronteira final.
O progressivo avanço científico permitiu a descoberta de Urano, em 13 de março de 1781, pelo astrônomo inglês William Herschel. Tudo quanto Urano passou a simbolizar tem relação com as grandes questões sociais daquele momento histórico, quando a Revolução Industrial preparava terreno para a Revolução Francesa e a afirmação do estado burguês.
A descoberta de Netuno acontece em 23 de setembro de 1846, num período em que o socialismo e os movimentos de massa ganham terreno. Já Plutão, descoberto em 1930, entra em cena no momento da ascensão do nazifascismo e dos avanços com a energia nuclear.
Nesta sequência é possível, então, contextualizar eventos mais recentes, como as descobertas de Quaoar, Sedna e Éris. Considerando que os novos corpos celestes sempre expressam desafios emergentes, basta observar o que ia pelo mundo no momento em que estes três objetos se revelaram aos astrônomos. A conclusão é bastante óbvia.
Quaoar, avistado em 2001, coincide com uma nova modalidade de terrorismo – o ataque às torres gêmeas – assim como com um confronto civilizatório entre Oriente e Ocidente e um ciclo de guerras tecnológicas com motivações arcaicas (Estados Unidos versus Talibã).
Já as descobertas de Sedna e Éris coincidem com os alertas mais dramáticos já emitidos pela natureza e pelos cientistas encarregados de monitorá-la.
A temporada de inverno 2003/2004 foi a mais fria já registrada nos Estados Unidos e na Europa desde o século XIX. Nova Iorque, por exemplo, viu-se às voltas com um clima semelhante ao do Labrador, no litoral canadense, muito mais ao norte. As mortes pelo frio surpreenderam a França e países vizinhos.
Enquanto isso, a desertificação se espalhou pelo Rio Grande do Sul e pela região subsaariana, na África, em contraste com as enchentes que fizeram transbordar açudes no nordeste brasileiro. E se alguém ainda duvidava de que algo estava errado, o ciclone – ou furacão? – que atingiu o litoral de Santa Catarina na madrugada de 28 de março de 2004 acabou de tirar as últimas dúvidas.
Colapso climático, o pesadelo do Pentágono
O Pentágono sabe muito bem o que está acontecendo. No dia 9 de fevereiro de 2004 a revista americana Fortune publicou matéria divulgando o relatório Climate Collapse, The Pentagon’s Weather Nigthmare (Colapso Climático, o Pesadelo do Pentágono) em que resume as conclusões do estudo sobre as mudanças climáticas no mundo encomendado pela agência americana de defesa.
Em 22 de fevereiro do mesmo ano a revista britânica The Observer publica nova matéria sobre o mesmo tema, desta vez com grande repercussão em todos os meios de comunicação de massa.
Jamais os cientistas tinham sido tão enfáticos. As previsões, absolutamente sombrias, ultrapassavam em gravidade até mesmo as preocupações dos grupos ambientalistas, frequentemente acusados de fazerem tempestade em copo d’água. Desta vez, aliás, não se tratava de um copo d’água, mas sim de toda a água do planeta.
Segundo o estudo do Pentágono, a Terra está próxima do ponto de ruptura a partir do qual o clima pode modificar-se repentinamente. Um cenário bastante plausível é que isso possa acontecer ainda na década iniciada em 2020, como resultado do aquecimento global e do consequente derretimento das geleiras do Ártico.
A água doce liberada das geleiras, somada ao aumento do volume de chuvas em outras regiões, reduziria a salinidade da Corrente do Golfo, tornando-a menos densa. Assim, a corrente deixaria de ser submarina e ficaria retida na superfície, sem forças para alcançar as regiões do Atlântico Norte e da Europa Ocidental.
Os efeitos seriam o congelamento de boa parte dos países europeus, como Inglaterra, Holanda e França. Icebergs seriam vistos até mesmo em Portugal. A temperatura cairia em média três graus em todo o Hemisfério Norte. Seria uma mini-idade do gelo.
Paralelamente, a temperatura estaria subindo nas áreas tropicais. Em muitas regiões do planeta haveria mais chuvas e inundações. As mudanças no habitat natural provocariam a extinção de até metade das espécies hoje existentes, com drástica redução no estoque disponível de alimentos.
Os efeitos seriam terríveis para a economia e as comunidades humanas. Países superpovoados, como Japão e Coreia, teriam hordas famélicas prontas a invadir vizinhos com áreas desocupadas, como a Rússia. Um quarto da população mundial poderia morrer em conflitos bélicos, desastres naturais ou simplesmente de fome.
O estudo do Pentágono divulgado em 2004 considerava perfeitamente possível esse cenário apocalíptico e ia direto ao ponto ao sinalizar a futura necessidade de defender militarmente os Estados Unidos contra multidões de imigrantes miseráveis e desesperados.
Toda essa discussão aconteceu exatamente entre a descoberta de Sedna, em novembro de 2003, e a divulgação da notícia, em março de 2004. E, seja por coincidência, seja por uma escolha intencional dos astrônomos, o nome do novo objeto celeste remete a uma divindade do Ártico cujo mito põe o dedo na ferida mais sensível da tragédia ambiental. Vejamos, na sequência, o mito e suas conexões astrológicas.
André Alcantara diz
Pesquisando mais sobre Sedna descobri que sua orbita em torno do Sol dura 11.408 anos ! Seu periélio, ponto mais perto do Sol nessa orbita, será na segunda metade de 2076. Interessante.