Em 1º de janeiro de 2019 ocorreram as posses do presidente, governadores e ministros da safra 2019-2022. As posições planetárias nos signos pouco mudaram ao longo do dia, com exceção da Lua, que avançou quase treze graus, entre 13º27′ e 26º18′ de Escorpião. Em função das diferenças de horário e local, cada posse gerou uma carta específica, com sua própria estrutura de casas. Neste artigo, vamos observar o que há de comum em todas as cartas, tentando definir uma espécie de atmosfera geral do período. Para isso, utilizaremos uma carta-padrão calculada para o horário do meio-dia (horário de verão), onde analisaremos apenas a distribuição de planetas por signos e os aspectos que formam entre si, sem considerar a estrutura de casas.
O modelo planetário, ou a gestalt da carta
O desenho geral do mapa é um dos recursos que temos à disposição para compreender rapidamente sua dinâmica. O mapa solar das posses mostra os dez planetas distribuídos por uma faixa de pouco menos de 180 graus, caracterizando o modelo planetário conhecido como Taça ou Tigela. A característica deste modelo é a tensão entre a metade ocupada e a metade vazia, que põe em evidência comportamentos como:
- Alto grau de autossuficiência;
- Sentido de missão e de defesa de causas consideradas importantes;
- senso de timing e oportunidade;
- Bom rendimento em situações críticas e tensas;
- Uma atitude de tudo ou nada.
Isto não significa que todos os governantes que tomaram posse em 1º de janeiro terão estes traços, mas sim que enfrentarão desafios que exigirão estas qualidades. Quanto mais incorporarem as características positivas do modelo Tigela, mais chance de sucesso terão.
O planeta mais enfatizado das posses
No modelo Tigela, o planeta mais enfatizado – o chamado Planeta Guia ou Condutor – é aquele que “puxa” a fila no sentido horário, por ser também o primeiro a cruzar os ângulos ao longo do dia. No caso em questão, quem ocupa esta função é a Lua. Nas posses ocorridas de manhã (governos do Rio e São Paulo, por exemplo), a Lua ainda está distante de Vênus. Nas posses mais tardias, como a do presidente Bolsonaro e do governador gaúcho Eduardo Leite, a Lua já está em conjunção com Vênus, de forma que ambos os planetas exercem, juntos, a função de Guia.
Nenhum dos dois planetas está à vontade em Escorpião, que é exatamente a queda da Lua e o exílio de Vênus. Neste signo de Marte e Plutão, os princípios femininos de Lua e Vênus funcionam num registro especialmente intenso e passional. A memória (Lua) e os sentimentos (Vênus) podem sintonizar com velhas mágoas e ressentimentos. Considerando que o país passa por uma fase de polarização crescente, que se iniciou em 2010 e alcançou momentos de pico em 2013-2014, 2016 e 2018, há o risco de que, de tempos em tempos, o clima de radicalização volte à tona, trazendo dificuldade para a elaboração de pautas consensuais. A esfera de atividade coletiva em que esta tendência mais fortemente se manifestará guarda relação com a casa ocupada pela Lua em cada carta de posse (presidente, governadores e ministros).
No sentido mais positivo, esta forte Lua escorpiana no papel de Condutora da carta pode acender o espírito guerreiro para a solução de problemas que assolam o país há décadas, seja o enfrentamento de facções criminosas, seja o combate à corrupção. Cabe não esquecer que os dois regentes de Escorpião estão em posição especialmente vantajosa: Marte está em Áries, seu próprio domicílio, indicando iniciativa e assertividade; e Plutão está em Capricórnio, avançando para a conjunção com Saturno, sinalizando a disposição de erradicar aquilo que se considera pernicioso.
O gatilho da carta
Em cartas que apresentam o modelo Tigela, é comum a ocorrência de quadraturas, sendo que a mais exata, dentre as existentes, costuma funcionar como um “gatilho” para o restante do mapa, ou seja, uma espécie de circuito sensível que, quando ativado, desencadeia ações e acontecimentos. No mapa das posses de 2019, a função de gatilho é exercida pela quadratura entre Júpiter em Sagitário e Netuno em Peixes (órbita de 2º12′). Os dois planetas estão em domicílio, o que os torna ainda mais fortes. No que tem de melhor, o aspecto Júpiter-Netuno indica idealismo, altruísmo, sensibilidade, devotamento a boas causas e um impulso espontâneo para a fé e a religiosidade. Por outro lado, quando mal trabalhado, este mesmo aspecto pode sinalizar falta de senso de realidade: é um aspecto “viajante”, de pés fora do chão, que valoriza muito mais crenças e ideologias do que indicadores objetivos. Pode levar, portanto, à adoção obstinada de discursos teóricos pouco eficazes, com supervalorização de princípios filosóficos ou religiosos. O aspecto pode simbolizar ainda um conflito entre a Justiça (Júpiter) e a corrupção ou o narcotráfico (Netuno).
Sem dúvida, este é o aspecto mais difícil das posses de 2019, tornando-se ainda mais crítico no mapa das posse em que ocupar posições angulares.
Sol-Saturno, um aspecto de gestão pública
Nenhum aspecto é tão promissor na carta das posses de 2019 quanto a conjunção Sol-Saturno em Capricórnio. Se bem que indique dificuldades e limites (basta olhar em volta para ver que os novas administrações herdarão dívidas e carências de toda ordem), é um aspecto que favorece a seriedade, o trabalho duro, a gestão de recursos escassos, a valorização da experiência e o compromisso com resultados. Contudo, o padrão de gestão pública de Sol-Saturno em Capricórnio não é exatamente dos mais coparticipativos: é a administração hierarquizada, elitizada, às vezes com forte viés tecnoburocrático.
Em síntese
Quatro configurações conflitantes caracterizam o mapa das posses do presidente e de governadores da safra de 2019:
- o toque intenso e passional da Lua em Escorpião;
- o tom ideológico e a falta de senso prático da quadratura Júpiter-Netuno;
- o pragmatismo tecnoburocrático de Sol-Saturno.
- A autossuficência e o sentido de missão do modelo Tigela.
São tendências divergentes que, de alguma forma, terão de ser conciliadas no governo do novo presidente e dos governadores recém-empossados.
No próximo artigo veremos como se manifestam no mapa da posse e da transmissão da faixa do novo presidente da República.
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