A ascensão ao poder de um novo presidente da República pode ser analisada com base no mapa de vários eventos, três dos quais se destacam pela importância: o primeiro deles é o da eleição, que no Brasil vem sendo realizada em outubro, três meses antes do início do novo mandato. Seguem-se o mapa da posse junto ao Congresso Nacional e o da passagem da faixa presidencial, já no Palácio do Planalto. Consideramos que o mapa da posse no Congresso é, por diversas razões, mais importante que o da transmissão da faixa e que os mapas anteriores, do início da eleição e da proclamação do presidente eleito.
A carta da eleição, em outubro, mostra as expectativas do país em relação ao novo governante e o perfil ao qual ele deverá corresponder. Mas o início real do novo governo, o momento a partir do qual o eleito passa a ser efetivamente o novo presidente, é o da posse no Congresso Nacional. Isto porque, a partir do momento em que o candidato eleito é declarado empossado no cargo pelo presidente do Senado, torna-se de fato o novo presidente da República.
Por outro lado, a transmissão da faixa tem um fortíssimo sentido simbólico, na medida em que corresponde às antigas festas de coroação e de consagração do novo governante diante do povo. Sobre este ponto, assim diz Carlos Hollanda, em texto de 2002:
Por mais que estejamos numa conjuntura que tem como foco político central o direito democrático, a massa ainda age e sente conforme um padrão medieval ou, se quisermos ser mais amenos, um padrão semelhante ao do Brasil-Colônia, haja vista o modo como nos portamos perante autoridades e haja vista a existência de coronéis como ACM. Eles reproduzem as relações sociais existentes na colônia, que, por sua vez, reproduziam as relações feudais, que já deixavam de existir na Europa Moderna (embora nunca tenham deixado de existir na psique da humanidade).
Outro porém: o comportamento da população perante a posse e perante a figura do presidente assemelha-se ao de uma multidão em clamor religioso. (…) Daí eu ter usado a figura do rei como exemplo, uma vez que o rei não é somente o chefe político, mas o representante de uma ordem universal, uma ordem divina na terra. É a velha história da necessidade humana de estabelecer um universo ordenado e, para isso, cria eixos, focos, centros de referência.
O Dragão da Independência é uma coisa bastante alienígena, diga-se de passagem, pois remonta ainda aos padrões do exército português do século XIX. Era a guarda de elite do Império e também simboliza a questão da hierarquia, da diferenciação e da exclusão social que ainda “reinam” por aqui e reinam com endosso da cultura que preza o título muito mais do que o ser humano que está por trás do título.
Entretanto, por mais convincente que seja a argumentação de Hollanda, se a cerimônia da transmissão da faixa não acontecesse, ainda assim o empossado pelo Congresso seria o legítimo presidente. Por outro lado, é impensável, ao menos em tempos de normalidade democrática, que o eleito se aproprie da faixa sem passar antes pelo ritual da posse no Congresso.
O fato de haver duas cerimônias bem revela a natureza ainda dual do Estado brasileiro: juridicamente, somos uma república baseada no princípio do equilíbrio entre os três poderes, cada um dos quais confere legitimidade aos demais. Por isso, o presidente eleito precisa tomar posse diante do Congresso, que reúne os legítimos representantes do povo (Câmara) e dos estados da Federação (Senado). A transmissão da faixa, por sua vez, é um resquício de uma época em que o governante absoluto, justificado pelo direito divino, é a única fonte de poder capaz de legitimar seu sucessor.
De qualquer forma, o ideal é que o astrólogo interessado em traçar um quadro completo das perspectivas do novo período presidencial analise pelo menos os dois mapas – o da posse e o da transmissão da faixa – e compare-os com os mapas da Independência, da República e do Descobrimento.
Observe-se que a cerimônia da passagem da faixa é importante apenas no caso do presidente da República. No caso dos governos estaduais, o importante é considerar o mapa da posse na respectiva Assembleia Legislativa, o que torna a avaliação astrológica mais simples.