O novo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, foi declarado empossado pelo presidente do Senado às 15h10 de 1º de janeiro de 2019. A posse de um ocupante de cargo eletivo é o ponto de partida para um ciclo de gestão, e o mapa deste momento pode definir algumas questões centrais para o período de governo que se inicia. É importante observar que o mapa da posse não funciona sozinho, devendo ser considerado, antes de tudo, como uma fonte de informação complementar ao mapa natal do empossado, ao mapa do país, estado ou município governado e aos ciclos astrológicos correntes, indicados por trânsitos, progressões e outras técnicas.
Na posse de Bolsonaro, o regente da carta é Vênus exilada em Escorpião, em conjunção com a Lua em queda no mesmo signo. Ambas estão na casa 7 – a dos compromissos, dos parceiros, dos adversários abertos, das contendas e também das relações exteriores. Trata-se de um mapa do tipo Taça ou Tigela (todos os planetas contidos num ângulo de 180 graus), e a conjunção Lua-Vênus exerce a função de guia dos demais planetas, o que dá a esta conjunção um papel de máximo destaque na carta. A casa 7 é, portanto, essencial para compreendermos a tônica do governo Bolsonaro. Marte, o regente clássico de Escorpião, dispõe de Vênus e Lua e está domiciliado em Áries (seu próprio signo), na casa 11, dos partidos políticos e do Congresso Nacional.
As fragilidades da carta de posse
Com Vênus refém de um Marte muito fortalecido, Bolsonaro não terá vida fácil com o poder legislativo. Na votação de algumas questões importantes pode haver parceria entre o Executivo e o Congresso, mas a balança sempre tenderá a favor de deputados e senadores. Em outras votações, impasses e obstruções podem gerar conflitos passionais entre os dois poderes. Historicamente, desde a retomada democrática, em 1985, o Legislativo tem conseguido impor ao Executivo sua pauta de interesses fisiológicos nem sempre republicanos, e desta vez não será diferente.
Marte é ainda um símbolo adequado para o significativo grupo de militares que participará do governo Bolsonaro. Marte em trígono aberto com Vênus indica que as relações entre o presidente e as Forças Armadas tendem a ser bastante fluentes, constituindo um dos pilares do poder do presidente.
Outra interpretação possível para Vênus em exílio na casa 7 é uma forte dependência do sucesso do governo Bolsonaro a questões de política externa fora do controle do Brasil. É o caso, por exemplo, da disputa comercial entre Estados Unidos e China, ou dos desdobramentos de questões internas da Comunidade Europeia e do Oriente Médio. Não significa que a situação internacional seja a priori favorável ou desfavorável ao Brasil, e sim que o Governo Federal precisará estar especialmente atento ao quadro externo, com vistas a adaptar-se às mudanças conjunturais e aproveitar oportunidades.
O aspecto mais crítico da carta de posse é a quadratura entre Júpiter em Sagitário na casa 8 (dos impostos, da política tributária e da Previdência Social) e Netuno em Peixes na casa 11 (novamente o Congresso Nacional e os inúmeros grupos de interesse que nele atuam). Não será nada fácil a aprovação da reforma tributária, da reforma da previdência e da extinção de isenções fiscais a grandes empresas. Estes projetos tendem a ser aprovados em troca de pesadas contrapartidas. Em caso de inflexibilidade do Executivo, podem ser simplesmente rejeitados.
O aspecto Júpiter-Netuno também é um símbolo adequado para descrever outro dos pilares de apoio ao novo governo: a chamada bancada evangélica, unida em torno de uma pauta ideológica. As perspectivas, aqui, não são das melhores: trata-se de um apoio frágil e pouco confiável, que pode esgarçar-se ao longo do tempo e trabalhar contra o projeto presidencial.
O fato de o regente da casa 10 (a presidência em seu aspecto institucional) ser Urano retrógrado na casa 12 também não ajuda muito. Contudo – e aqui começam os fatores positivos da carta – Urano forma um trígono com Mercúrio presente na casa 8 (questões tributárias e previdenciárias). Este Mercúrio é regente das casas 2 (a economia, os recursos) e 5 (que, entre outros significados, indica as bolsas de valores, os investimentos de natureza especulativa e as elites do país).
Os pontos fortes da carta de posse
Para compensar as resistências do Poder Legislativo, o Executivo poderá estabelecer canais de negociação discretos e pouco convencionais com o setor produtivo (Urano na 12), levando ao Congresso projetos já respaldados pelo apoio de segmentos essenciais da economia. Este é um dos mecanismos de atuação mais promissores para o governo no período 2019-2022 e exigirá um forte esforço do Ministro da Economia (Paulo Guedes ou quem vier a sucedê-lo) como mediador de acordos e como interlocutor do setor produtivo.
O Poder Judiciário, que tantas dores de cabeça trouxe aos três presidentes anteriores, desta vez tende a ter uma atuação mais pragmática. A conjunção Saturno-Plutão de 2019-2020 ocorre exatamente na casa 9 do mapa da posse, indicando profundas transformações na legislação federal e na jurisprudência. Temos aí não apenas um protagonismo do STF como também do Ministério da Justiça e Segurança Pública, cujo titular, Sergio Moro, é alvo de uma forte expectativa da opinião pública. A presença na casa 9 de Sol-Saturno e de Plutão em Capricórnio sinaliza uma atuação estruturada e dura contra o crime organizado e a corrupção. É uma das áreas onde o novo governo pode obter resultados mais positivos, desde que siga à risca a receita de Sol-Saturno: seriedade, profissionalismo, impessoalidade e foco muito claro em resultados. A casa 9 surge neste mapa como uma área bastante explosiva, sendo essencial que o governo tome iniciativas muito rápidas, para não correr o risco de ser atropelado pelos acontecimentos.
O mapa da transmissão da faixa
Conforme já explicamos no artigo Mapa da posse ou da passagem da faixa: qual utilizar?, o mapa da posse de Bolsonaro junto ao Congresso Nacional é o que melhor define o tom geral do novo governo. Contudo, pela sua importância simbólica, a cerimônia da passagem da faixa não pode ser esquecida. Trata-se da carta onde vemos com mais clareza as expectativas que a população projeta sobre o novo presidente.
A transmissão da faixa ocorreu uma hora e 51 minutos após a posse no Congresso Nacional, resultando num mapa com estrutura de casas totalmente diversa do anterior. Mesmo assim, mais uma vez o senhor do Ascendente – que agora é Mercúrio, regente de Gêmeos – encontra-se na casa 7 e em exílio (exatamente a mesma situação de Vênus na carta da posse!). A passagem da faixa confirma, assim, a vinculação do governo Bolsonaro a questões de política externa e a necessidade de governar fazendo acordos e firmando compromissos. O dispositor de Mercúrio é Júpiter, domiciliado em Sagitário e também na casa 7, da qual é o regente. A imagem de um governo cuja sorte está indissoluvelmente ligada a acontecimentos externos ressurge aqui com toda força.
Em breve Constelar publicará artigo de Americo Ayala Jr. – Índice Cíclico, a tempestade que se aproxima em 2020 – que mostra que o mundo será sacudido por um momento de crise, durante o período 2020-2022, e que a sorte do Brasil dependerá da forma como irá se adaptar e tirar proveito de acontecimentos em escala mundial.
Se o mapa da posse enfatiza o confronto do Executivo com o Legislativo, o da transmissão da faixa, que fala mais diretamente das expectativas do povo e do papel do novo presidente no imaginário coletivo, coloca mais ênfase na casa 8, da Previdência Social e dos impostos. A configuração mais explosiva da carta está aí, reunindo os três planetas em Capricórnio, onde logo acontecerá a tríplice conjunção de Júpiter, Saturno e Plutão. Em outras palavras: as pessoas comuns não estarão muito interessadas nos conflitos do Executivo com o Congresso Nacional, e sim no tamanho da mordida do Leão e nas mudanças nos critérios de aposentadoria.
Os dois Planetas Guias – Lua e Vênus conjuntas em Escorpião – estão agora na casa 6, destacando a importância de questões ligadas ao emprego e ao salário.
Netuno, agora no Meio do Céu e em quadratura com Júpiter, fala das elevadíssimas expectativas projetadas sobre o novo presidente (Netuno é a própria tradução astrológica do epíteto com que Bolsonaro é saudado por seus correligionários: é o “mito”). A tensão da quadratura informa que a ausência de resultados imediatos pode corroer a popularidade do presidente e gerar um clima de profundo desânimo. Netuno próximo do Meio do Céu informa também que a percepção da imagem do presidente nem sempre corresponderá à realidade, tendo em vista o efeito de desfocamento associado a este planeta. Em outras palavras: Bolsonaro poderá, paradoxalmente, ganhar popularidade em momentos adversos e perdê-la em momentos de bons resultados. Com Netuno tão elevado, o carisma pessoal fala mais alto do que os dados objetivos.
Conclusão
No conjunto, o mapa da passagem da faixa apresenta configurações mais difíceis do que as do mapa da posse. Isto significa que Bolsonaro tem mais chance de êxito através do fortalecimento dos mecanismos institucionais já existentes, sem ignorar o peso e a importância do Congresso, do STF e dos partidos políticos, do que através de um governo populista e baseado no carisma pessoal. O enfrentamento imediato das questões fundamentais, especialmente o déficit da Previdência Social, o aumento da dívida pública, a corrupção e o chamado “custo Brasil”, é o único caminho seguro para o sucesso.