A prática da Astrologia já era comum em São Paulo desde o início do século XX, mas foi a geração dos astrólogos nascidos nas décadas de 1920 e 1930 que implantou as primeiras escolas estáveis, organizou os primeiros congressos e fundou as primeiras instituições de classe. A essa geração pertencem, entre outros, nomes como Waldyr Bonadei Fücher (Escola Regulus), Juan Alfredo Müller e Raul Varella Martinez (primeiros a promover cursos de extensão em Astrologia em universidades), Sergio Mortari (médico pioneiro no uso de Astrologia para anamnese em Homeopatia) Antonio Facciollo (fundador da ABA) e Zeferino Pina Costa, o mais longevo de todos.
O Professor Zeferino nasceu no Rio de Janeiro em 22 de junho de 1926 e faleceu em 27 de maio de 2018, em São Paulo, na condição de mais antigo astrólogo em atividade no país. Tendo começado a estudar Astrologia ainda adolescente, exerceu a atividade por inacreditáveis 77 anos, deixando uma infinidade de clientes, alunos e amigos. Formado em Engenharia Eletrônica, desempenhou um papel de destaque na implantação das primeiras redes de televisão no país, tendo trabalhado, entre outras, na pioneira Rede Tupi e, a partir de 1983, na Rede Manchete, onde foi diretor técnico.
Sua formação na área das ciências exatas ajudou-o a desenvolver um approach fortemente técnico da Astrologia. Foi o primeiro profissional brasileiro a ter um computador pessoal para cálculo de mapas, ainda na década de 1970, e sempre soube tirar partido dos recursos da informática. Dedicou-se a alguns temas pioneiros, como o estudo da importância de Quíron no mapa natal (um dos primeiros no mundo a fazê-lo). Contribuiu para a difusão de técnicas experimentais, como a Proluna, e atuou como professor em diversas escolas paulistanas.
Zeferino em congressos e escolas dos anos 1980
O ano de 1980 assiste ao 1º Congresso Brasileiro de Astrologia, realizado em São Paulo no dia 19 de outubro. Dele participam os melhores quadros da ABA naquela época, assim como convidados de outras regiões. Do Rio de Janeiro vieram Maria Eugênia de Castro, a criadora da SARJ; Danton Pereira de Souza, que então preparava seu livro Predições Astrológicas, de Astrologia Mundial; e Gary Dale Richman, americano radicado na capital fluminense. Do Uruguai veio o búlgaro Boris Cristoff, criador do método Proluna e da tabela de correlação de períodos históricos com as fases decorrentes da precessão dos equinócios. O ufólogo e matemático Ademar Eugênio de Mello também estava lá, para fazer uma análise astrológica de tremores de terra. Zeferino não podia faltar, e foi o responsável pelo tema A mensagem do novo planeta Quíron – lembrando que Quíron havia sido descoberto há apenas três anos.
Em 1988 surge em São Paulo uma nova escola. É a Astro*Logos, conforme relata Ana Maria González:
Os professores da escola eram além de Mônica Alencar e Valdenir Benedetti, Wanderlei Vernilli, Marylou Simonsen, Zeferino Pina Costa e Antônio Carlos Bola Harres. Os convidados eram muitos entre os quais podemos citar Ademar Eugênio de Melo, Cláudia Castelo Branco, Márcia Mattos, Walderson de Souza e Heloisa Cupini.
A Astro*Logos trazia uma proposta inovadora, unindo ecletismo e seriedade, além de tentar estabelecer uma ponte com a Astroscientia do Rio de Janeiro. Durou até 1992.
Zeferino no Congresso da SARJ de 1989
No site do escritor Paulo Coelho encontramos uma preciosidade: o folder de divulgação do 6º Congresso de Astrologia do Rio de Janeiro, promovido pela SARJ (leia-se: Maria Eugênia de Castro) nos salões do Copacabana Palace, entre 10 e 12 de novembro de 1989. Através deste documento, descobrimos que o prof. Zeferino apresentou-se no dia 11 de novembro, às 12h45, no Salão Azul do Copacabana Palace, com o tema Proluna x Age Point. Na sala ao lado apresentava-se o recifense Eduardo Maia, enquanto na terceira sala tinha lugar uma mesa-redonda sobre a Morte.
Na época, a SARJ era a mais ativa entidade astrológica no Rio de Janeiro (o recém-fundado SINARJ só ganharia maior evidência na década seguinte). O público atraído pelos congressos da SARJ em espaços nobres, como o Copacabana Palace e o Hotel Glória, alcançava um montante ainda não igualado pelos congressos posteriores. Zeferino estava lá, ao lado de nomes como Paulo Coelho e Valdenir Benedetti – e já era naquela ocasião, provavelmente, o palestrante mais antigo, com nada menos de 40 anos de experiência até aquele momento remoto, anterior à queda do Muro de Berlim!
Já era internauta desde os primeiros dias da internet brasileira. Agora, começava a descobrir as redes sociais e decidia voltar aos bancos escolares. Criou seu perfil no Facebook após os oitenta anos, mesma época em que completou o curso livre de Homeopatia pela Universidade Federal de Viçosa.
Em 2015, aos 89 anos, continuava em atividade. Em outubro daquele ano, o site do Instituto Avalon anunciava uma palestra em que Zeferino demonstraria “a interação da Astrologia, Homeopatia e sua aplicação no equilíbrio da saúde”. Três meses antes, em julho, fora entrevistado por George Ferreira Jorge no evento Astrológica, da Gaia, esbanjando bom humor diante de uma atenta plateia que o aplaudiu de pé no final.
As manifestações após a partida de Zeferino dão a medida de sua importância. Uma boa parte dos astrólogos paulistanos aprendeu alguma coisa com ele em algum momento. E as marcas ficarão, como revelam os depoimentos do próximo artigo: