Surgido sob a luz de um lampião de gás, em plena rua, o Corinthians antecipa, em seu mapa, o processo de conquistas sociais que levou São Paulo à liderança econômica do país.
O Corinthians Paulista nasceu em 1° de setembro de 1910, às 20h30, em plena rua e sob a luz dos lampiões de gás da iluminação pública. A ideia foi de um grupo de rapazes fascinados com o que viram durante a excursão a São Paulo de um clube inglês, origem, aliás, do nome Corinthians. A carta do clube apresenta um Ascendente em Áries com Marte em Virgem na casa 6, a da massa trabalhadora. O Corinthians é o clube dos pobres, dos humildes, dos que têm de lutar pela sobrevivência. Urano é o planeta mais elevado, na casa 10, destacando-se do grupo dos outros nove planetas. Com Urano em Capricórnio e Saturno em Touro na 1, o Corinthians oferece uma carta onde o tema da ascensão social destaca-se de imediato. Urano e Saturno são planeta individualizadores, o primeiro destacando a ideia de “ser alguém na multidão”, e o segundo, os conceitos de respeitabilidade e status. Nada mais adequado como elemento simbólico de preenchimento de expectativas de uma comunidade submetida à despersonalizante condição de mão de obra para o crescimento fabril e comercial da São Paulo do início do século.
Urano no Meio-Céu expressa a latente rebeldia e o desejo de autodeterminação de uma massa de operários e pequenos empregados do comércio que, naquele distante 1910, mal sonhava com direitos trabalhistas. Neste sentido, a carta do Corinthians antecipa em alguns anos os movimentos operários que explodiriam a partir de 1917, as greves e a organização sindical que levariam, pouco a pouco, à formação de uma verdadeira classe média paulistana. Com Marte em Virgem na 6, o Corinthians é a expressão, no plano esportivo, do mesmo espírito de colmeia que transformou São Paulo na capital econômica e financeira do país. O Sol na casa 5, também em Virgem e em trígono com Saturno na 1, simboliza o impulso da vontade voltada para a afirmação da identidade através do trabalho duro e constante.
Apesar da origem humilde, o Corinthians tem um potencial de crescimento que já o transformou no mais popular dos clubes paulistas e no segundo maior do Brasil. Em número de torcedores em todo o país, só perde para o Flamengo do Rio. Netuno na casa 4, regente da 12, faz do clube a casa acolhedora de todos os excluídos sociais. A quadratura com Júpiter na cúspide da 7 explica a torcida imensa e compassiva, capaz de perdoar sempre e manter-se fiel mesmo durante um jejum de títulos que durou 22 anos. É um aspecto escapista, sonhador, visionário, exagerado (quadraturas de Júpiter sempre têm a ver com excesso), descrevendo uma torcida que espera ser transportada para o paraíso através de sua identificação com o clube. Torcer pelo Corinthians é uma experiência onírica.
Vênus e Lua, conjuntas em Leão na cúspide da 5 e em sextil com Júpiter, mostram como funciona o pacto entre o clube e seus aficcionados: no fundo, o torcedor espera mais prazer do que títulos, e este prazer estará relacionado ao sentido do jogo como espetáculo, como exibição de talento e criatividade, como deslumbramento pela jogada original e bem trabalhada. O Corinthians precisa de craques, especialmente de atacantes capazes de produzir jogadas vistosas, dribles estonteantes, movimentos ornamentais. Para esta torcida esteticamente exigente, a vitória por 1 a 0 com um gol de placa capaz de humilhar o goleiro adversário será mais saborosa do que um 4 a 0 construído de forma feia e objetiva. Sócrates, com seu estilo refinado, era a cara do Corinthians. Nos anos 90, o estrelismo do ex-técnico Vanderlei Luxemburgo e sua relação de amor-ódio com o exibido Marcelinho Carioca também preencheram a necessidade desta torcida de identificação com o arquétipo leonino.
Voltando ao Netuno em Câncer junto ao Fundo do Céu do mapa corintiano: como dissemos, o clube foi fundado numa assembleia em plena rua, com todos de pé sob a luz de um lampião de gás. É o único caso de grande clube brasileiro que surgiu ao relento e passou um bom tempo sem sede. Gás é assunto netuniano, com certeza, assim como a garoa que caía sobre a cidade naquela noite fria…
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