Brasília
A eleição de Juscelino Kubitschek para a presidência da República, em 1955, faz com que Niemeyer também esteja, de certa forma, no comando. Às vésperas de completar 50 anos o arquiteto carioca estava frente a frente com a maior oportunidade de sua carreira. Afinal ele tinha diante de si a chance de criar uma cidade inteira, que passaria a ser a própria capital do país onde nascera. Ainda que Niemeyer tenha recusado o convite para desenvolver o plano urbanístico – o que ficaria a cargo de seu parceiro Lúcio Costa –, ele aceita criar os principais edifícios e se torna representante da entidade responsável pela elaboração dos planos de construção da nova capital (Novacap).
Em 1958 é nomeado arquiteto-chefe de Brasília, transferindo-se para a cidade. Quando isto ocorre, já se encontravam em andamento os projetos para os prédios públicos (83 no total) e logradouros da nova capital, como o Palácio da Alvorada (residência oficial do presidente da República), o Palácio do Planalto (sede do governo federal), o Congresso Nacional, o Palácio da Justiça, a Esplanada dos Ministérios, a Praça dos Três Poderes e o Itamaraty. As ofertas de “comissões por fora” eram constantes e ele sempre as recusou. Chegaram a oferecer um cartório para a sua filha, o que ele também repudiou.
Quando perguntado pelo Marechal Lott se o edifício do Exército seria “clássico”, Niemeyer respondeu com uma pergunta, sorrindo: “O senhor, numa guerra, o que vai querer? Arma antiga ou moderna?”
Com a construção de Brasília, Oscar Niemeyer passa a ser, definitivamente, o mais destacado representante do modernismo na Arquitetura brasileira, tendo como marca registrada a leveza das formas curvas e os grandes espaços livres. Contudo, um empreendimento de tal magnitude na carreira de um arquiteto extrapola a simples análise dos trânsitos e progressões envolvendo a sua trajetória pessoal, e pede que comecemos a nos debruçar mais atentamente na relação do homem com seu próprio país. Naquela fase de sua vida, Niemeyer era não apenas um dos brasileiros mais importantes do mundo, mas também, além disso, o braço direito do presidente numa arrojada missão.
Então, num primeiro momento, iremos nos ater ao contexto astrológico envolvendo Niemeyer e a construção de Brasília, para em seguida compreender a aliança com Juscelino e a inserção que tiveram na vida nacional.
No mapa acima vemos os trânsitos dos planetas lentos para Oscar Niemeyer entre a posse de JK, em 31.01.1956, e a inauguração de Brasília, em 21.04.1960.
Primeiramente gostaria de chamar atenção para o fato de, no momento da posse presidencial, Saturno estar sobre a cúspide da cada VII, indicando o compromisso e a missão que tinha assumido com o antigo “parceiro”, que o convoca novamente (note que Saturno natal de Niemeyer está na Casa X). Ao longo do período, Saturno faria conjunção a Mercúrio e Sol natais; obviamente foi uma época de muito esforço e trabalho. Júpiter inicia fase ascendente ao cruzar o Fundo do Céu, marcando mudança de residência (casa IV), plenitude criativa (casa V), grande volume de trabalho (casa VI) e expansão de suas próprias capacidades e da dinâmica de suas parcerias (conjunção a Mercúrio e Sol na casa VII: JK, Lúcio Costa e uma série de outros colaboradores).
Urano passa a transitar pela sua casa III, indicando uma fase de deslocamentos incessantes entre o Rio de Janeiro e Brasília [conjunção com Júpiter e quadratura com a Lua] e também uma inédita e singularíssima oportunidade profissional [Urano em conjunção com o corregente do Meio do Céu]. Netuno, o outro regente do Meio do Céu, estava em trígono com o zênite natal durante todo o período, revelando a “oportunidade de ouro”. Finalmente Plutão, corregente da casa VI, estava recebendo conjunção de Júpiter, ressaltando a fase especial na vida profissional e o grande trabalho que tinha pela frente. Quando Brasília é inaugurada, Plutão chega ao Fundo do Céu de Niemeyer: o brasileiro havia sido decisivo na transformação política, geográfica e econômica do próprio país onde nascera. Certamente, aqui, Oscar Niemeyer era também um outro que não aquele de antes.
Niemeyer e Kubitschek
Não é qualquer dia que um presidente e um arquiteto resolvem construir juntos uma nova capital para o seu país no meio do nada. É claro que aqui caberia uma análise mais aprofundada do próprio Lúcio Costa, mas isto terá de ficar para uma outra oportunidade. Com relação ao mapa de JK, utilizei os dados fornecidos pelo Astrotheme: 12.09.1902, 14:00h [hora local], Diamantina, MG.
O mapa composto de Niemeyer e Juscelino apresenta uma poderosa conjunção entre Sol, Mercúrio, Vênus e Júpiter em Escorpião, na casa VIII. Percebe-se que há uma ótima sintonia entre a natureza de ambos, com afinidades intelectuais e estéticas além, é claro, de um potencial muito fecundo para a associação. Um Grande Trígono no elemento Água com a Lua em Peixes na XII e Netuno em Câncer na IV cria uma formidável conexão de espíritos, inspirações e sensibilidades. O Ascendente do mapa composto é Peixes; Júpiter e Netuno estão em ótima posição.
Urano, sobre o Meio do Céu da parceria, dá a medida do interesse em transformarem a realidade e construírem o futuro com ousadia. Indica também a confiança na “modernidade” e a pressa em tocar o megaprojeto, pois o interesse de JK era inaugurar Brasília ainda em seu mandato [note que a “pressa” já estava presente na realização anterior, Pampulha].
A ênfase em Água torna a questão do relacionamento entre os dois uma tarefa muito mais complexa e, quando transpomos o Grande Trígono da dupla visionária para o mapa do Brasil, as coisas soam, de fato, grandiosas. Como o triângulo fica sobre as casas I (Lua), V (Netuno) e IX (Sol, Mercúrio, Vênus e Marte – em conjunção com Marte do Brasil), percebe-se a dimensão dos papéis que desempenharam na vida da nação.
Como disse, ambos foram capazes de criar uma radical transformação político-geográfica (e consequentemente, econômica) do Brasil. Mas eu gostaria de chamar atenção principalmente para os detalhes desta “interferência criativa”.
A Lua, na casa I, denota certamente uma considerável identificação popular. Eles tinham, de fato, este interesse no homem simples e acreditavam estar beneficiando a população. Do ponto de vista da integração nacional, o sucesso da empreitada é fato. Netuno na casa V torna evidente o impacto da imaginação, das esperanças, dos sonhos e do senso estético de Oscar e JK. Ambos cercavam-se de artistas, sendo o próprio Niemeyer um dos maiores. O presidente era bossa-nova. De fato, quando ambos chegam ao poder o país estava envolto numa aura fantástica de otimismo. Que duraria, de fato, apenas o mandato de Juscelino.
Finalmente, o Grande Trígono é fechado pelo stellium em Escorpião que, em conjunção com Marte na casa IX do país, indica a grande pujança de suas ações e metas. A repercussão no exterior foi evidentemente enorme. O Brasil, por sua vez, se embrenhava no próprio interior do país, no caso à maneira das jornadas sagitarianas (casa IX) e com o poder de finalidade escorpiano.
Dois detalhes importantes são a conjunção de Marte da dupla ao Fundo do Céu do Brasil e a de Saturno de ambos ao Ascendente do país. Em quadratura, ambos refletem o lado negativo do impacto que geraram. De certa forma, houve uma migração desenfreada e um discutível ônus político. Gastou-se bastante dinheiro também e o sistema ferroviário foi totalmente desprezado. Brasília ter sido concebida sem metrô, por exemplo, demonstrava uma falta de visão absurda.
Assim, a construção de Brasília suscitou grandes discussões internacionais desde sua construção. Mesmo antes do projeto, os preceitos do urbanismo modernista já estavam sendo criticados por sua grande dependência ao automóvel (em detrimento do pedestre), sua monumentalidade e sua falta de uma escala próxima do homem. Hoje, apenas uma pequena parte da população total vive na área planejada. O crescimento da cidade não foi previsto e a instalação da nova população se deu de forma espontânea nas cidades satélites, mas consideraria o saldo geral incrivelmente positivo.
Mais ainda: o ponto médio da Lua de JK e Niemeyer está em oposição ao Sol do Brasil na casa VII e, ao que parece, isso tem ligação direta com a tentativa de mudar a visão da população do Brasil como uma bando de caranguejos arranhando o litoral (casa VII). Urano está em Sagitário, mas em conjunção com Urano-Netuno do país, além do Ascendente Peixes estar próximo a Plutão. Ambos explicam a revolução política e migratória (casa XI), além da gastança (casa II). No caso, como Urano está no Meio do Céu dos dois utopistas-realizadores, vê-se que o foco era de fato mudar completamente a realidade social e administrativa do Brasil, no sentido mais amplo possível.
Próxima etapa: O regime militar e o exílio (1964-1976)
NIEMEYER, A SÉRIE COMPLETA:
1 – Dos cabarés da Lapa à arquitetura moderna (1907-1927)
2 – Niemeyer, o boêmio que virou marido (1928)
3 – Niemeyer e Lúcio Costa: a descoberta do Modernismo (1934-1939)
4 – Pampulha, a revolução da arquitetura brasileira (1940-1943)
5 – Um comunista na terra do Tio Sam (1945-1947)
6 – Niemeyer e Le corbusier: do Copan ao Ibirapuera (1949-1955)
7 – Brasília, a utopia de Juscelino e Oscar Niemeyer (1956-1960)
8 – O regime militar e o exílio (1964-1976)
9 – Oscar Niemeyer, a vida começa aos setenta (1978-1993)
10 – A paixão aos 99 anos (1997-2007)