O Shad Bala
A maior parte da ciência espiritual tibetana veio da Índia, como vimos no artigo O mapa da morte na Astrologia Tibetana. Dentre as ferramentas oferecidas pela astrologia védica, uma das mais importantes é o shad bala, um cálculo que nos permite conhecer a força de cada planeta em um dado mapa (há programas astrológicos que calculam esses valores).
Assim como os gregos valorizavam mais o planeta pessoal (uns tinham temperamento “lunático”, outros natureza “solar”, alguns eram “saturninos” etc.), a pesquisa astrológica ocidental – concentrada principalmente nos trabalhos de Michel Gauquelin – constatou que, de fato, um dos poucos elementos estatisticamente significativos da astrologia é a posição de certos planetas em certas “zonas de força” do mapa astrológico, como as vizinhanças do Ascendente e do Meio-Céu. Normalmente, os planetas fortes em shad bala encontram ressonância na interpretação ocidental. Há um significado cármico para cada planeta forte ou fraco em shad bala.
É bem possível que os tsi-pa usem alguma forma simplificada de shad bala para conhecer a força dos planetas de um mapa fatal. O regente de uma casa ou o planeta mais forte podem determinar o loka da viagem da alma, e a direção de bússola que esse planeta indica pode mostrar ao tsi-pa a região da Terra onde aquela alma irá reencarnar.
O Local Space Chart
Estamos, é claro, falando de uma hipótese de trabalho, uma vez que não foi possível localizar um único exemplar do livro usado pelos lamas-astrólogos. Contudo, sabemos que a técnica ocidental do Mapa do Espaço Local (Local Space Chart) nos permite analisar as direções apontadas pelos planetas em um mapa-múndi ou em uma região mais específica, o que nos dá um método para explorar essa hipótese. O mapa do espaço local é a figura que tem por plano fundamental o horizonte do lugar, orientado, onde estão assinalados os pontos onde os astros nasceram ou vão nascer nesse horizonte, nesse dia. São esses pontos que fornecem as direções procuradas.
Algumas descobertas preliminares parecem mostrar uma conexão mais forte entre o mapa da morte anterior e o do nascimento imediatamente seguinte do que entre o mapa de nascimento e o de morte da mesma encarnação ou do que entre sucessivos mapas natais, o que o livro dos tsi-pa parece confirmar.
Exemplos extraídos de leituras de Cayce
Cayce falou muito de ciclos, e a leitura de vida que fez para uma moça é um exemplo. Ela tinha sido sua prima Leila na encarnação anterior; como Leila, morreu em 24/08/1876. Sessenta anos depois, Barbara Murry – Leila reencarnada – pediu a Cayce uma leitura. Ele a reconheceu na hora, dizendo que ela permaneceu 33 anos no plano astral de Mercúrio antes de voltar à Terra em 4/08/1910.
A leitura 2060 foi feita para um homem que nasceu a 12/09/1915, e que antes fora o rei François I (Francisco I, da dinastia francesa dos Valois), nascido a 12/09/1494. A leitura 3155 disse que o político americano Henry Clay, nascido a 12/04/1777, voltou à Terra em 12/04/1895!
A leitura 2015 foi feita para uma mulher nascida em 27/09/1939; antes, tinha sido Frances Willard, nascida em 28/09/1839 e falecida em 1898 (um século exato entre nascimentos). Na leitura 3340, vemos que William Gladstone, estadista e primeiro-ministro da Inglaterra, reencarnou em 29/12/1939, tendo antes nascido a 29/12/1809 e falecido em 1898. Por curiosidade, Frances e Gladstone morreram no mesmo ano e reapareceram também no mesmo ano.
Madame Pompadour (leitura 1849) nasceu a 29/12/1721 (Capricórnio) e voltou em 13/01/1902 (também Capricórnio). Alexander Hamilton (leitura 142) mostra uma série de signos cardinais (nascido em Capricórnio, 11/01/1757, morto em Câncer, 1804 e reencarnado em 4/04/1927, em Áries).
A leitura 1208 foi feita para o sobrinho da secretária de Edgar Cayce, Gladis Davis. Em suas encarnações anteriores mais famosas, tinha sido Thomas Jefferson (nascido em 13/04/1743 à 1:53 LMT em Shadwell, VA, 38N01/78W24; falecido em 4/07/1826 às 12:00 LMT [horário estimado] em Monticello, VA, 38N02/78W29) e Alexandre o Grande (nascido em 22/07/-0355 às 11:00 LAT em Pela, Macedônia, 40N45/22E33; falecido em 13/06/-0322 às 12:00 LAT [horário estimado] em Pela). Foi batizado Thomas Jefferson Davis, nascido em 21/06/1936 às 14:45 EST em Oceana, VA, 36N51/76W01 na cúspide de Câncer, signo sob o qual Jefferson morreu. Cayce disse que o garoto deveria se tornar mais importante para a história mundial do que o fez como Jefferson. Isto não ocorreu porque seus pais não seguiram os conselhos de Cayce com relação à sua educação (isso confirma que o fator astrológico, embora importante, não é o único que compõe os quadros dos eventos.)
Em uma encarnação remota, Jefferson fora um atlante que liderou os filhos de Belial contra os filhos da Lei do Um. Casou-se com uma moça espiritualizada e se corrigiu, fundando colônias atlantes na América. Depois de ter sido Alexandre, foi um dos soldados que libertou a França do domínio romano – um Asterix!
Os indicadores astrológicos para os cinco mapas – nascimento e morte de Alexandre e de Jefferson, e o nascimento de T.J. Davis – são muito interessantes.
Jefferson nasceu e morreu no estado de Virgínia, onde T.J. Davis nasceu. Jefferson estudou grego, foi marinheiro e viajou à Grécia, seguindo assim caminhos que trilhou como Alexandre. O shad bala deste mostra um Sol poderoso, confirmando sua liderança em uma encarnação anterior e favorecendo a continuidade mostrada por sua liderança pessoal. Contudo, no mapa natal de Jefferson, o Sol não é tão forte, mas Marte sim, indicando que sua vida como guerreiro na França enfatizou as tendências marcianas geradas na Atlântida e reforçadas por Alexandre. O uso positivo do poder pessoal na encarnação como Jefferson fez com que seu Sol recuperasse quase toda a força perdida anteriormente, o que aparece no shad bala de TJ.
Júpiter tem exatamente a mesma força nos shad balas de Alexandre e Jefferson, o que é raro; mais raro ainda é o fato de Júpiter estar em Virgem em 3 dos 5 mapas. Nos 3 mapas natais, Vênus forma aspecto forte com a Cabeça do Dragão, seja uma conjunção (Jefferson), seja oposição (Alexandre e TJ). Saturno estava nos últimos graus de Gêmeos nos mapas de morte de Alexandre e de Jefferson.
O Local Space apontando a próxima encarnação
O mapa de espaço local é outro indicador importante a ser explorado, como disse. Vou mencionar um exemplo e depois ilustrar o que digo com o caso de um dos filhos de Cayce.
É o caso ocorrido com o revolucionário Marat, nascido em 24/03/1743 às 18:00 LMT em Boudry, Suíça, 46N57/6E50, assassinado em Paris (48N52/2E20) em sua banheira por volta das 18:00 LMT de 13/07/1793 (com o Sol como planeta mais forte do mapa fatal) e reencarnado em NY, NY (40N43/74W00) em 17/03/1913, às 16:11 EST. Se o momento da morte fosse 18:45, o Sol fatal passaria exatamente sobre NY.
Mas o caso mais nítido é o de Milton Porter Cayce. Foi o segundo filho do casal Edgar e Gertrude Cayce, nascido em 28/03/1911 às 20:30 CST em Hopkinsville, KY, 36N52/87W29, onde morreu a 17/05/1911 às 11:15 CST. Alguns anos depois, em 25/05/1936, um médico americano que havia trabalhado durante anos na China pediu a Cayce que fizesse uma leitura para seu filho, nascido a 31/03/1923 em Pequim, 39N55/116E25 [não temos o horário, mas isto não atrapalha nosso estudo].
Durante a leitura, Cayce, então semiconsciente, fez um comentário interessantíssimo. Disse que os indivíduos relacionados com a leitura poderiam falar do caso com conhecimento pessoal, pois “a entidade agora conhecida como David Hoffman entrou [antes] no plano terrestre durante algumas semanas”, identificando as datas do nascimento e morte de seu próprio filho, Milton. Cayce também disse que sua mulher reconheceria o menino na hora se o visse. A Lua de Milton está forte no shad bala natal, confirmando a relação forte entre mãe e filho. Curiosamente, a Lua natal de Milton está a 18 de Peixes e a de David a 20 de Virgem.
O período entre encarnações também é curioso. Alguns espiritualistas dizem que o ciclo de reencarnações foi acelerado neste século para permitir o retorno de um número maior de almas, pois estamos atravessando um período difícil. Milton nasceu em Áries (28/03) e reencarnou em Áries (31/03) em um ciclo de Júpiter (12 anos). Nos três mapas, Júpiter está em Escorpião.
O Local Space Chart confirma aqui seu potencial como indicador do lugar da próxima encarnação. O shad bala da morte de Milton tem no Sol o planeta mais forte, com 1.60 rupas (pontos relativos, com 1.00 como média). Com o horário da morte dado na leitura, a linha do Sol no Local Space Chart passa um pouco a leste de Pequim. Se, porém, retificarmos o horário de sua morte para 11:22 em vez de 11:15, uma diferença de apenas 7 minutos, perfeitamente compreensível na época de seu nascimento, a linha do Local Space Chart do Sol fatal de Milton Porter Cayce passa EXATAMENTE sobre Pequim!
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Nota sobre Edgar Cayce:
Edgar Cayce foi um dos maiores paranormais de todos os tempos. Nasceu em 18/3/1877 15:03 LMT (horário controvertido) em Hopkinsville, KY, e faleceu em 3/01/1945, às 19:15 EWT, em Virginia Beach, VA. Descobriu cedo que tinha a capacidade de canalizar informações extraídas dos chamados “registros acásicos” (de “akasha”), e dava “leituras” enquanto ficava em estado de semi-inconsciência. Dentre as quase 15.000 leituras que deu entre inícios dos anos 1920 e 1944, mais ou menos, a maioria era para casos de saúde (muitos dos quais solucionados), e umas 2.000 eram leituras de “vida,” nas quais ele falava das principais vidas passadas daquele indivíduo (as existências que estariam mais relacionadas com a atual), de seu karma e… da relação entre o indivíduo e a astrologia. Vários livros foram escritos a respeito da visão Cayceana da astrologia, que é bem pouco convencional, inclusive o meu (Técnicas de Equilíbrio Holístico) e o Astrologia da Alma (Toward a New Astrology) de Ry Redd. O leitor pode conhecer melhor as leituras e a biografia de Cayce pelo site www.edgarcayce.org. (Marcello Borges)