Os fatos
Segundo publicado no jornal O Estado de São Paulo de 13.3.99, a queda de um raio elétrico na subestação de Bauru da Companhia Energética de São Paulo “ocasionou o desligamento de cinco linhas de transmissão, retirou de operação diversas usinas hidrelétricas do sistema CESP e sobrecarregou a usina de Itaipu”. Esta foi a explicação dada pelo Ministério de Minas e Energia para o blecaute da noite de quinta-feira, 11 de março de 1999, o maior em toda a história do Brasil. O ministro Rodolpho Tourinho disse que o evento foi provocado por “fenômenos naturais, tratando-se de um fato excepcional”. Segundo o governo, na noite de quinta-feira havia grande concentração de raios na região de São Paulo, sul de Minas Gerais e Paraná, especialmente no noroeste paulista. Um dos raios atingiu a subestação de Bauru, apesar dos para-raios – afirma a matéria do Estadão. A saída das usinas – segundo o governo – desequilibrou o sistema e provocou o desligamento das linhas que transportam energia de Itaipu, que voltou aos poucos por causa da extensão do problema.
Já o diretor-presidente do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Mário Santos, afirmou que o fenômeno é muito raro e nunca aconteceu no sistema elétrico nacional. “É como o amor, a paixão, não acontece todo dia” (sic!). O raio caiu exatamente sobre a central de distribuição das linhas da subestação, desarmando “todos os sistemas de proteção existentes”. A subestação de Bauru recebe linhas de transmissão de pelo menos 10 usinas hidrelétricas do interior de São Paulo – diz a matéria do Estado.
Alguns dados
1 – Foram cortados 22 mil megawatts – o equivalente a 34% da capacidade de geração de energia do país. O evento começou com o desligamento das linhas de transmissão entre Foz do Iguaçu e Ibiúna (SP) e Foz do Iguaçu/Ivaiporã (PR)/Tijuco Preto (SP). A partir daí, o desligamento se estendeu pelas linhas de transmissão das regiões Sul-Sudeste-Centro-Oeste e pela CESP, por Furnas e por Angra I.
2 – O governo levou 20 horas para detectar as razões do blecaute: às 17 horas é que foi identificado o problema – diz a matéria do Estado. Descartou-se oficialmente a hipótese de sabotagem, como ocorreu em setembro de 98, quando duas bombas explodiram em Foz e Ivaiporã. Aliás, a Polícia Federal não sabe que rumo tomaram as investigações e não chegou a nenhuma conclusão, diz uma pequena nota do jornal O Estado, dentro do Caderno de Cidades de 13 de março. Já com relação ao blecaute de quinta, o ministro Tourinho justificou: “Demoramos para divulgar os resultados, porque queríamos trazer a versão completa, definitiva.”
3 – Ainda segundo o Estado, os técnicos afirmaram que o raio queimou uma chave da subestação de Bauru.
Cronologia
- 22h16 – desligamento de cinco linhas de transmissão causado por queda de raio na subestação de Bauru (SP) da CESP paulista. Em efeito cascata, foram desligadas as linhas de transmissão do Sul e Centro-Sul.
- 22h50 – fornecimento restabelecido em toda a região Sul.
- 23h38 – produção de Itaipu retomada.
- 2h30 do dia 12/3/99 – fornecimento restabelecido no Sudeste.
- 03h15 – produção de Itaipu normalizada.
170 mil linhas telefônicas ficaram mudas durante a madrugada e a manhã do dia seguinte em São Paulo. 4,7 mil semáforos foram desligados na capital de SP. Destes, 209 ainda estavam desligados na manhã de sábado.
A SABESP ficou 5 horas sem produzir os 62 mil litros de água por segundo. O prejuízo da Sabesp foi de 1,2 milhões.
O prejuízo da Eletropaulo foi de 2 milhões de reais.
16 máquinas de Itaipu que estavam ligadas deixaram de produzir automaticamente às 22h17. Foi a primeira vez que a usina de Itaipu precisou desligar todas as turbinas. O Paraguai ficou 15 minutos sem luz. 55 milhões de pessoas foram afetadas no país e 34% da capacidade de geração de energia foi paralisada.

Início do Blecaute – queda de raio em Bauru – 11.03.1999 – 22h16 – 049w04, 22s19.
A análise
Foi no dia de Júpiter e na hora de Marte, domiciliado em 11°57’ de Escorpião, conjunto a Alphecca dos militares, posicionado na casa 12 dos segredos e das sabotagens, e a Zuben El Genubi, que indica perda de negócios, no signo que aponta o zênite da Independência e o Sol da República. O Ascendente em conjunção com Toliman, das águas. O Meio do Céu a 16°44’ de Leo, conjunto a Caput Draconis a 20°41’ de Leo, uma conjunção de 4 graus. O Fundo do Céu em 16°44’ de Aquário, entre Urano a 14°52’ de Aquário, antecedido – espantosamente – pela Roda a 11°09’ de Aquário e precedido pela Cauda Draconis a 20° de Aquário.
O dispositor – e almuten – da casa 4 dos fins é Saturno, enfraquecido por estar cadente, refém de uma Vênus, também enfraquecida em seu detrimento em Áries e entrando na casa 6. Logo, no limite, quem decide, mais uma vez, é Marte, dos exércitos e do fogo, colocado na 12 das sabotagens, repito.
Saturno das baixas de energia quadra Netuno das névoas na casa 3 das informações e da circulação – seja da notícia, seja da eletricidade. Urano sai da terra, na posição clássica dos terremotos e dos deslocamentos de terra – naquela madrugada, em Sorocaba, não muito longe, houve dois tremores de terra – posicionado a menos de dois graus da cúspide da 4 do subsolo, mostrando como um indício a mais que o “raio” saiu de dentro da terra – os raios saem da terra também – e não tão próximo ao centro de Bauru. Não tenho a coordenada exata da subestação, mas estes dois graus podem querer dizer que a subestação está mais à esquerda do centro da cidade, se formos exatos. O regente e almuten do Meio do Céu é o Sol, sem nenhum aspecto – mostrando a desconexão do governo, das informações, do povo – e a desorientação em meio à escuridão das águas que desciam do céu (em Peixes) perdido na cinco das autoridades públicas e próximo de Sítula, estrela relacionada com aviação. Mesmo assim, eles conseguiram veicular uma informação enevoada, em meio a outras contraditórias: Mercúrio em Áries, conjunto ao Júpiter almuten da carta, forma sextil com Netuno – plático, diria Lilly? – na 3 das informações e dos boatos.
Fui ver os Lotes Gregos. Nêmesis, da cobrança dos deuses devido à ignorância humana, estava conjunto à Cauda, com menos de 41 minutos de distância, apontando uma falha humana provocada por ignorância ou por cometimento da hübris, ir além do humano. O lote da Traição, a 9°06’ de Áries, em quadrado fechado com a Lua do povo e do clima emocional, exilada em Capricórnio e na casa 2 dos recursos e da segurança. O lote da Traição arma um trígono com Pluto, do subterrâneo e da invisibilidade, posicionado na 1 e em conjunção com Antares da guerra, como sabemos. Claro, Marte em quadrado com Urano, ali ficará algum tempo, sinal de ameaças imprevistas nos céus brasileiros, com o retorno de Saturno na casa 3 do mapa do grito do Ipiranga. No dia do blecaute, a Lua formava um sextil com Marte.
“Crise, o retorno”, poderia ser o sumo, o subtítulo dos meses que viveremos.
Para entender a análise de Barbara
Barbara Abramo é hoje, provavelmente, a astróloga brasileira mais envolvida com a pesquisa das técnicas da Astrologia praticada da antiguidade até o século XVII, que incluem o uso frequente de estrelas fixas, lotes gregos e um sem número de conceitos que a Astrologia de orientação psicológica relegara praticamente ao desuso. Nas últimas décadas, o interesse pela Astrologia tradicional vem passando por um momento de renovação, com a tradução e pesquisa de muitos textos clássicos. Para entender a análise feita por Barbara, incluímos abaixo um pequeno glossário dos termos utilizados. Cabe observar que o significado das estrelas fixas é um tema controverso. Alguns dos significados aqui apresentados provêm de fontes diferentes das utilizadas por Barbara, agregando novas possibilidades de interpretação. (Nota do Editor)
Glossário
Organizado por Fernando Fernandse
Almuten – é um termo da Astrologia tradicional que indica o planeta que tem a maior dignidade essencial em determinado grau do zodíaco. Lilly [veja o verbete] define o Almuten de uma casa como sendo o planeta que tem mais dignidades no signo que se encontra em sua cúspide, ou ponto inicial. Acrescenta que o mapa como um todo pode ter um Almuten geral, que seria o planeta mais poderoso em termos de dignidades essenciais e acidentais. Cabe lembrar que o conceito de dignidade tem relação com o peso ou a importância de um planeta no contexto de uma carta, sendo consideradas essenciais aquelas que dizem respeito ao estado celeste do planeta, ou seja, à sua relação com o signo que ocupa. Por exemplo: o domicílio, que é o posicionamento do planeta no signo com o qual apresenta maiores analogias naturais, é uma forma de dignidade essencial. Já as dignidades acidentais guardam relação com o estado terrestre do planeta, ou seja, sua situação no esquema das casas. O conceito de casas decorre do movimento de rotação da Terra, que provoca um movimento aparente de todos os planetas em torno da Terra a cada 24 horas. Alguns momentos deste movimento são considerados de especial relevância, como a passagem dos planetas pelos ângulos (eixos Ascendente-Descendente e Meio Céu-Fundo do Céu). A angularidade é uma das dignidades acidentais, se bem que sejam levados em conta também outros fatores, como aspectos, conjunções com estrelas fixas e a velocidade aparente com que o planeta se desloca.
Alphecca – Também chamada Gemma, localiza-se na constelação de Corona Borealis (a Coroa do Norte), a quem Ptolomeu atribuía uma natureza semelhante à de Vênus e Mercúrio. Alphecca é, especialmente, uma estrela venusiana (ou seja: de espectro semelhante ao de Vênus), e a tradição atribui-lhe honras, dignidade, habilidades artísticas e poéticas. Cabe lembrar porém que astrólogos medievais também associavam Alphecca ao lado pior de Vênus, indicando, quando no Ascendente, indivíduos que poderiam chegar à ruína pelo excesso de prazeres, assim como pelo desperdício, imprevidência, promiscuidade e amores proibidos. Se bem que Barbara Abramo associe Alphecca aos militares, outras leituras também são possíveis no caso do blecaute, já que a conjunção de Alphecca com Marte (energia) pode ser uma indicação de uma atitude de descuido e despreocupação em relação aos equipamentos de transmissão, assim como de prováveis desperdícios.
Antares – Estrela mais importante da constelação de Escorpião, tradicionalmente associada a Marte e, consequentemente, à energia, à guerra, à combatividade e também a acidentes com máquinas e com fogo.
Caput Draconis – Cabeça do Dragão. O mesmo que nodo lunar norte. Os nodos lunares (e não nódulos, forma errônea) são os dois pontos em que o plano da órbita da Lua em torno da Terra cruza a eclíptica, ou seja, o plano da órbita da Terra em torno do Sol. O ponto de cruzamento no sentido Sul-Norte marca a Cabeça do Dragão, enquanto a Cauda do Dragão é a passagem no sentido Norte-Sul. A Cabeça e a Cauda estão sempre em oposição, formando um eixo, e deslocam-se em sentido retrógrado pelos signos. A conjunção de qualquer planeta ou ângulo da carta com os nodos é sempre um indicador relevante na interpretação de eventos.
Lilly – William Lilly, astrólogo inglês do século XVII e um dos maiores responsáveis pela codificação do conhecimento clássico num sistema lógico e gramaticalmente coerente.
Lotes Gregos – O mesmo que partes arábicas, nome pelo qual ficou mais conhecida a técnica de calcular pontos no mapa a partir de somas e subtrações da longitude (posição por signo e grau) de três fatores, que podem ser planetas ou cúspides de casa. A Parte da Fortuna, por exemplo, é a distância em graus do Sol à Lua somada ao Ascendente (cúspide, ou ponto inicial, da casa 1). A técnica surgiu entre astrólogos de origem grega ou ainda na Índia, tendo chegado ao conhecimento dos astrólogos europeus medievais através da tradução de obras de astrólogos muçulmanos.
Plático (amplo) – Aspecto que, mesmo não sendo exato, está dentro de uma órbita aceitável.
Refém – O termo é utilizado no texto para indicar que o planeta não se encontra em seu signo de domicílio, estando, portanto, enfraquecido e submetido ao “senhor” do signo ocupado.
Sítula – Estrela do tipo K1 (avermelhada), cujo espectro, onde predominam elementos metálicos, especialmente o ferro, guarda analogia com Marte. Está localizada na constelação de Aquário que, quando se levantava ou punha-se junto com o Sol, era considerada uma indicação de chuvas benéficas (mas não de enchentes).
Toliman – Localizada na constelação do Centauro, é a conhecida Alpha Centauri, a estrela mais próxima do Sol. Apontada por alguns astrólogos como tendo características de Vênus e Júpiter, e, por outros, como sendo de natureza solar, por sua classe espectral. Quando no Ascendente (como ocorreu na carta do blecaute), pode indicar esportes equestres ou relacionados à criação de cavalos. A projeção da longitude de Toliman sobre a eclíptica coloca-a no último grau de Escorpião. Contudo, considerada a carta para Bauru, o Ascendente já se situa nos primeiros minutos de Sagitário, signo também relacionado a cavalos. Por coincidência, existe uma estreita associação entre este animal e a medida de energia, consubstanciada no conceito de HP (Horse Power, cavalos de força).
Zênite – É o ponto mais elevado da esfera celeste, diretamente sobre a cabeça do observador.
Zuben El Genubi (também grafada Zubenelgenubi) – É a estrela mais importante da constelação de Libra. O nome vem do árabe, significando a garra sul do escorpião (as constelações de Libra e Escorpião são vizinhas, sendo tratadas, no passado, como uma coisa só). Também é conhecida por outros nomes, como Kiffa Australis (do árabe Kiffa, prato de balança, e de austral, do sul: prato sul da balança). Zuben El Genubi faz contraponto à estrela Zuben El Schamali, a garra boreal do escorpião, também chamada Kiffa Borealis, o prato norte da balança. Esta última é considerada uma estrela extremamente positiva, favorecendo colheitas e boa fortuna. Astrólogos antigos atribuíam o mesmo significado a Zuben El Genubi, mas de forma atenuada, enquanto modernamente a tendência é identificá-la com perdas e mesmo com a violência.
Desculpem, mas confesso que parei de ler quando ela chamou “parte da fortuna” de “roda”.
Nossa, que leitura maravilhosa. É claro que Bárbara não precisa que ninguém diga isso, é uma mestra.
Que belo ver a Astrologia Tradicional sendo executada. Eu vejo no mapa do blecaute a Lua Minguante, como dizia Firmicus, o romano, a Lua quando mingua não trás coisas boas. Justamente na 2ª casa, dos valores e do dinheiro. Ela se afasta de um aspecto com Júpiter (raios e electricidade), mas ainda dentro do orbe. Como disse Bárbara, houve uma perda milionária para as empresas de energia SABESP e Eletropaulo!
Netuno cadente na 3ª, era o deus dos cavalos. E Fernando apontou no glossário a medida de energia Horse Power. Ele era pai de Pégaso o cavalo alado cujo nome que dizer “fonte (das nuvens)”. E Bárbara mostrou o Asc. conjunto com Toliman, como como ela disse, fala das águas e está em Sagitário. Para mim os planetas modernos dividem com os antigos as regências, Sagitário e Peixes, ambos pertencem a Júpiter e Netuno.
Faz todo o sentido, Marte tem mesmo papel determinante, ele é o planeta “haym”, isto é, o único planeta do mapa noturno que está dignificado pelo seu séquito. Ele está forte como “haym” e em Escorpião, um dos seus domicílios, mas infelizmente não pode parar ou “brecar” a Lua Minguante nem com o sextil positivo. Segundo Sahal, Marte não pode impedir a Lua de causar males quando está minguante, assim como Saturno não impede seu poder benéfico quando ela está Crescente. Além disso, seu dispositor, Saturno, está péssimo, como disse Bárbara. Assim ele não tem força para recebê-la e retardar os males em fase minguante.
Urano próximo à cúspide da 4ª é literalmente o raio saindo de dentro da terra!
Muito legal mesmo!