Conceitos Preliminares
A esfera celeste é a esfera cujo centro é o centro da Terra e cujo raio é suficientemente grande, de forma a se poder desprezar, com relação a ela, a órbita que a Terra descreve em torno do Sol. Nessa esfera, a partir de seu centro, são projetados todos os elementos do Universo.
O eixo terrestre coincide com o eixo em torno do qual se processa o movimento diurno dos corpos projetados na esfera, agora chamado eixo do mundo; o equador terrestre está no mesmo plano do equador celeste. Os planos dos meridianos terrestres determinam na esfera celeste círculos máximos que recebem o nome de Círculos Horários ou Círculos de Declinação.
O Horizonte de um Lugar, na esfera celeste, é o círculo máximo cujo plano é tangente à superfície da Terra nesse ponto considerado. Dessa forma, o ponto simétrico, com relação ao centro da Terra, possui o mesmo Horizonte.
Foi o advento dos computadores pessoais que permitiu a criação e o uso das técnicas astrocartográficas atuais – uma com o nome genérico de Astrocartografia (ACG) e a outra chamada de Espaço Local ou das Linhas Azimutais. Essas técnicas podem ser utilizadas separadamente, ou em conjunto, uma complementando a outra.
Programas que transformam um sistema de coordenadas astronômicas em outro contribuíram para o surgimento das linhas do espaço local, na forma como são conhecidas agora. Michael Erlewine, um dos criadores dos softwares Blue*Star e Win*Star, foi pioneiro na apresentação dessas linhas. Já a idéia de traçar linhas ACG, que mostram em mapas geográficos onde os astros estão fortalecidos nos horizontes e nos meridianos, foi de Jim Lewis. Ambos autores são norte-americanos.
Embora de outra natureza, as linhas dos eclipses solares sobre mapas terrestres – principalmente suas linhas centrais – são as formas mais antigas e conhecidas de linhas astrocartográficas.
Linhas de Astrocartografia (ACG)
Para cada astro (ou ponto da esfera celeste), em determinado instante, a astrocartografia (ACG) considera, inicialmente, duas linhas na superfície da Terra: uma, a do meridiano que passa pelos locais onde esse astro está culminando ou anticulminando, e outra, a que passa pelos locais da Terra onde ele está nascendo ou se pondo em seus horizontes. Essa segunda linha, como a do meridiano, também é um círculo máximo da Terra, pois:
- na esfera celeste, todo plano que passa pela reta “Astro-Terra” é um plano do horizonte onde esse astro está nascendo em um dos hemisférios que ele determina na Terra e se pondo no outro;
- a cada um desses planos celestes correspondem dois planos de horizontes terrestres, que tangenciam a Terra em pontos opostos;
- no conjunto, esses pontos de tangência estão em uma circunferência, com centro no centro da Terra.
A primeira linha astrocartográfica, a meridiana do astro (ou do ponto da esfera celeste), pode ser dividida em duas partes, uma onde o astro culmina e a outra onde anticulmina – ou seja, a linha meridiana do astro pode ser dividida na linha meridiana de seu Meio do Céu (MC) e na linha meridiana de seu Fundo do Céu (FC).
A segunda linha astrocartográfica, a dos horizontes terrestres, onde o astro (ou ponto) está nascendo ou se pondo, também pode ser dividida em duas partes – uma, a que contém os lugares onde está nascendo, chamada de linha dos ascendentes, e outra, a que contém os lugares onde o astro está se pondo, chamada de linha dos descendentes.
A Astrocartografia do atentado de Madri
Eis um exemplo de imagem astrocartográfica – um astrocartograma – calculado para o momento exato do atentado a trens suburbanos que matou 201 pessoas em Madri, no dia 11 de março de 2004. Observe que há duas linhas que se cruzam perto de Madri (o cruzamento, ou paran, está indicado por uma seta vermelha). Uma delas é a linha meridiana do Meio do Céu de Plutão, que avança para o Atlântico e passa entre a Inglaterra e a Irlanda. Isto significa que todos os pontos ao longo desta linha apresentavam, naquele momento, mapas com Plutão no Meio do Céu.
A segunda linha, que também corta o centro da Inglaterra e o extremo noroeste da França, é a dos Descendentes de Júpiter. Todos os pontos ao longo desta linha apresentavam, naquele momento, mapas com Júpiter na cúspide da casa 7, em oposição ao Ascendente. A segunda seta vermelha, que aponta para Síria e Iraque, mostra o trajeto da linha dos Ascendentes de Marte (em branco, quase invisível). O envolvimento da Espanha na Guerra do Iraque foi a causa que motivou o atentado. (Nota de Constelar)
As linhas astrocartográficas normalmente são apresentadas sobre mapas de países, ou de regiões, ou ainda sobre representações da superfície da Terra. Os locais por onde passam as linhas astrocartográficas de um astro são associados a significados desse astro na carta astrológica. Esses locais, por estarem ligados a meridianos e a horizontes onde o astro está fortalecido, reúnem melhores condições para exteriorização ou concretização de fatos por ele indicados, e pelos respectivos “ângulos” da carta astrológica (Ascendente, Meio do Céu, Descendente e Fundo do Céu).
Essa carta pode ser de nascimento, ou de retorno, ou de trânsitos, direções, horária, eletiva, de lunação, de ingresso etc. Esses locais, admitem certa orbe – de até dois graus da superfície terrestre, cerca de 220 km.
As linhas astrocartográficas podem auxiliar em relocações e no estudo de questões que envolvam lugares onde haja maiores possibilidades de ocorrência de acontecimentos indicados em carta astrológica, ou por configurações particulares – como conjunções de planetas lentos, por exemplo.
Parans
Os locais geográficos onde as linhas meridianas e as linhas dos horizontes terrestres se cortam são denominados parans – a rigor, esses pontos são os “parans iniciais” dos astros envolvidos.
Na maioria dos casos, os parans são determinados por linhas de naturezas diferentes – uma meridiana e outra de horizontes terrestres –, mas também podem ser determinados pelo cruzamento apenas de linhas de horizontes terrestres. Neste caso, os astros que determinam essas linhas na Terra, estão, no Espaço, no plano do horizonte do paran que determinaram. Ou seja, no local do paran, esses astros estão nascendo juntos. As linhas meridianas, quando coincidentes, indicam que no Espaço seus astros estão culminando juntos, nesse mesmo meridiano.
Por sua vez, um paran determinado por duas linhas de naturezas diferentes (uma meridiana e outra de horizontes terrestres), ocorre quando no Espaço um dos astros dessas linhas está no horizonte do local do paran e o outro no meridiano que passa pelo paran.
Ainda, um paran é determinado por mais de duas linhas astrocartográficas quando essas linhas se cruzam em mesmo ponto.
A palavra paran vem do grego paranatello, que significa “levantar-se próximo” – (Do Diccionario Griego-Español, de Florêncio I. Sebastián Yarza (página 1030), Editorial Ramón Sopena, Barcelona, 1964).
Em seus parans, os astros (ou os pontos da esfera celeste) que os determinam atuam como se estivessem nos respectivos ângulos, favorecendo a exteriorização ou a concretização de fatos indicados por eles na figura astrológica.
Conceito de Paran, de forma ampla
A condição de astros poderem estar ao mesmo tempo em ângulos de uma carta astrológica é o que fundamenta o conceito de paran. Em ACG, não apenas o cruzamento de linhas indica um paran, mas também são considerados parans dos astros dessas linhas todo local da superfície terrestre que admita esses astros concomitantemente angulares – dentro de intervalo de tempo que contém o horário da carta inicial.
Esses locais possuem necessariamente a latitude geográfica de seus parans iniciais, pois durante o movimento de rotação da Terra, no intervalo de tempo, somente os lugares com essas latitudes mantêm em seus horizontes e meridianos as posições relativas dos astros que determinaram o paran inicial. Ou seja, os parans de dois astros não se limitam aos cruzamentos de suas linhas astrocartográficas, mas se estendem aos círculos paralelos com as latitudes desses cruzamentos.
Com isso, a palavra paran, com muita propriedade, pode também ser associada a paralelo terrestre. Aqui também a órbita é de dois graus.
No traçado das linhas de parans sempre é considerado o intervalo de tempo igual a 24 horas – uma volta do movimento diurno da Terra. Para a Lua, devido sua maior translação no dia, esse intervalo deveria ser considerado menor, mas usualmente, é mantido o mesmo, de 24 horas.
As “linhas de parans” constituem o terceiro tipo de linha da ACG.
Linhas do Espaço Local, ou Linhas Azimutais
As linhas do espaço local, ou linhas azimutais, fundamentam outra forma de técnica astrocartográfica. Essas linhas podem ser consideradas separadamente ou juntas com as da ACG.
O sistema de coordenadas astronômicas chamado de horizontal local tem por plano fundamental o horizonte do lugar e por eixo principal a vertical do lugar. Uma dessas coordenadas é o azimute e a outra é a distância zenital, ou seu complemento, a altura. A direção do astro, projetada ortogonalmente sobre o horizonte local, fornece seu azimute. Sobre esse horizonte, o azimute é o ângulo que essa projeção forma com o semiplano de origem na vertical do lugar e que contém (normalmente) o ponto Sul.
Essa projeção da direção do astro também está sobre um círculo máximo da esfera celeste, que gera na superfície da Terra sua linha do espaço local, ou linha azimutal. Nos lugares por onde passa essa linha, de forma semelhante ao que ocorre com as linhas meridiana e dos horizontes, o astro ganha força em sua natureza básica e nos significados que possui na figura astrológica. A órbita, angular, das linhas azimutais é de dois graus.
As linhas azimutais também são traçadas sobre mapas – que podem ser do globo terrestre, de países, de estados, de municípios, de parte de cidades e de até áreas restritas, como a planta de residência, de local de trabalho ou mesmo de aposento, em uma espécie de “feng shui” astrológico.
Um exemplo: atentado em Madri em 2004
Eis um mapa do atentado de 11 de março, em Madrid, com representação das linhas do Espaço Local, ou Horizonte Local, naquele momento. A partir do ponto em que ocorreu o atentado, são traçadas linhas planetárias que correm em todas as direções. Todas as regiões sob o trajeto de determinada linha passam a ter, no contexto daquele mapa, o sentido do planeta correspondente.
Observe que a linha de Mercúrio (indicada em amarelo) parte de Madri para cruzar o Iraque. Mercúrio, no mapa do atentado, rege a casa 7 – dos inimigos abertos. Segundo comunicação atribuída a lideranças terroristas, o atentado era um aviso (Mercúrio) para que as tropas espanholas deixassem o Iraque. (Nota de Constelar)
A Astrogeografia e a rosa dos ventos
Notas importantes
- O conhecimento de linhas astrocartográficas de elementos de uma carta astrológica pode ajudar a reforçar ou a atenuar possibilidades de realização de acontecimentos indicados nessa carta.
- Nas linhas devem ser considerados principalmente os lugares que possuam características concordantes com o que está sendo estudado, ou que estejam nos cruzamentos de linhas que possam ser associadas a mesmo fato, embora tenham sido geradas por cartas diferentes. Por exemplo, uma das linhas é da carta radical e a outra de retorno solar – como será visto adiante, com mais detalhes, quando for considerada a morte de Ayrton Senna, em acidente em Ímola, na Itália.
Quando Senna nasceu, a linha descendente de Plutão, principal significador de sua morte, passava por Ímola; no retorno solar anterior ao acidente, a linha meridiana do Sol também passava por Ímola. Nessa figura do retorno o Sol rege a casa IV, do fim.
- Os cruzamentos de linhas associadas a mesmo fato, mas geradas por cartas diferentes, embora guardem certa relação com os pontos iniciais dos parans, não devem ser considerados como parans ou pontos parans.
Astrogeografia, conhecimento antigo, próximo da Astrocartografia
A busca de lugares que melhor se harmonizem com pessoas, atividades ou coisas, a partir de figuras astrológicas, essa astrogeografia, muito próxima da astrocartografia como um todo, é praticada há muito tempo, como se depreende de estudos e narrativas:
– Jean Richer, no livro Géographie Sacrée du Monde Grec, da Librairie Hachette, 1967, mostra que em torno de certos centros gregos, como Delfos, havia locais com vínculos ao círculo dos 12 signos. Considerando a sequência planetária antiga sobre o meridiano de Delfos e construções geométricas, esse autor estabelece ligações desse local, onde estava o famoso oráculo e templo de Apolo, com diferentes partes do território grego.
– Desde a antiguidade a Astrologia associa partes do corpo humano com a sequência dos signos do zodíaco. Começa com Áries, na cabeça, e termina com Peixes, nos pés.
– Os magos (astrólogos) que vieram do oriente a Jerusalém, em busca do lugar onde Jesus teria nascido – como está no Capítulo 2 do Evangelho Segundo Mateus – caminharam na direção da “estrela” que os precedia. Ou seja, os astrólogos seguiam a linha azimutal da “estrela”, ou stellium (agrupamento planetário) existente na época.
– Ptolomeu e outros astrólogos antigos atribuíam à sequência dos signos do Zodíaco a sequência dos países situados em torno do Mediterrâneo. Ou seja, consideravam o Mediterrâneo no centro de um círculo zodiacal.
– O professor Roger Cotte, do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista, Unesp, em São Paulo, em estudos sobre o simbolismo tradicional, demonstra que disposições de instrumentos musicais em orquestras antigas seguiam a ordem zodiacal.
– Sepharial, na Teoria dos Equivalentes Geodésicos, aplicada à Astrologia mundial, faz coincidir o Meridiano de Greenwich com o 0° de Áries, continuando para Leste com os signos seguintes, de 30 em 30°, até voltar à origem. Nessa disposição dos signos, o meridiano do lugar determina o Meio do Céu da carta astrológica que se pretende construir. Em seguida, esse Meio do Céu e a latitude geográfica do lugar determinam o Ascendente.
A Astrogeografia dos Pontos Cardeais
A Astrologia Clássica, de forma parecida com as direções dadas por azimutes, associa casas e signos às direções dos Pontos Cardeais. Associa o Ascendente e Áries ao Leste (E) – lado onde o Sol nasce, ou ascende, no horizonte; associa o Descendente e Libra ao Oeste (W); associa o Meio do Céu e Capricórnio ao Sul (S), e associa o Fundo do Céu e Câncer ao Norte (N).
As bússolas, aparelhos que fornecem essas direções, possuem seus círculos graduados a partir de N. Com isso, com o 0° e o 360° coincidindo com o ponto N, também estão concordando com os significados “de início e de fim”, atribuídos a Câncer e a casa IV – que tem o Fundo do Céu por cúspide.
Além das correspondências usuais entre casas e signos, a Astrologia Clássica associa ainda o E (o Ascendente) aos signos de Fogo; o S (o Meio do Céu) aos signos de Terra; o W (o Descendente) aos signos de Ar, e o N (o Fundo do Céu) aos signos de Água.
Rosa dos ventos astrológica (invertida em relação à posição normal)
Para a orientação terrestre basta que se conheça um dos pontos cardeais. A partir desse, os outros pontos da “rosa dos ventos” são facilmente determinados.
Compõem a rosa dos ventos os pontos cardeais, seus quatro pontos colaterais e seus oito pontos subcolaterais.
Pontos colaterais:
· Nordeste (NE), entre o Norte e o Leste
· Noroeste (NW), entre o Norte e o Oeste
· Sudeste (SE), entre o Sul e o Leste
· Sudoeste (SW), entre o Sul e o Oeste
Pontos subcolaterais (não grafados na figura):
· Nor-Nordeste (NNE), entre o Norte e o Nordeste
· Nor-Noroeste (NNW), entre o Norte e o Noroeste
· Sul-Sudeste (SSE), entre o Sul e o Sudeste
· Sul-Sudoeste (SSW),entre o Sul e o Sudoeste
· Este-Nordeste (ENE), entre o Leste e o Nordeste
· Este-Sudeste (ESE), entre o Leste e o Sudeste
· Oeste-Noroeste (WNW), entre o Oeste e o Noroeste
· Oeste-Sudoeste (WSW), entre o Oeste e o Sudoeste