Local Space: espaços que dão certo sob a linha certa

No artigo Local Space: como funciona apresentamos as bases da técnica astrológica que, em vez de representar os planetas como pontos distribuídos pelos signos, transforma-os em linhas planetárias que cruzam o céu e criam uma rede de referências com os pontos cardeais. Em vez de zodíaco, o que importa é o horizonte local. Também já analisamos no artigo Curitiba explicada pelo Local Space como a capital do Paraná, uma das cidades com melhor qualidade de vida do país, reage a seu mapa Local Space. Este artigo completa o anterior, aprofundando alguns exemplos que confirmam a acuidade da técnica.

É interessante observar como algumas instituições curitibanas e equipamentos urbanos que deram certo estão exatamente sob as linhas mais propícias à sua localização. Um bom exemplo é o estádio Couto Pereira, sede do tradicional Coritiba Foot Ball Club. O estádio está sob a linha Sol-Mercúrio, o que garante brilho, projeção e afluência de público. O Coritiba foi o primeiro clube paranaense a obter um título de campeão brasileiro de futebol (em 1985), situação que condiz com sua localização solar. Já a Arena da Baixada, do rival Atlético Paranaense, encontra-se sob a linha de Marte, a mais diretamente relacionada ao esporte. Não é à toa, aliás, que o estádio do Atlético carrega o nome de arena (um espaço de lutas) e é chamado de “Caldeirão”, termo que remete ao calor e à fervura, simbolizados por Marte!

Estádio Couto Pereira, bairro do Alto da Glória. A localização sob as linhas do Sol e de Mercúrio de Curitiba ajuda a explicar por que o Coritiba já foi campeão brasileiro.

Dentre os shopping centers mais concorridos da capital, dois, o Mueller e o Curitiba, têm ambos a linha de Vênus passando nas proximidades de suas entradas principais. Vênus rege a beleza, a moda, os cosméticos, a diversão e a sensualidade, o que está de acordo com a natureza desses dois templos de consumo. A diferença é estabelecida pelas linhas planetárias que passam nos fundos de cada shopping, dando um subtom netuniano ao Curitiba e marciano ao Mueller. Como Netuno tem a ver com sedução e escapismo, o shopping Curitiba é mais “feminino”, favorecendo a instalação de cinemas (desde sua fundação contou com quatro salas, sempre cheias) e a promoção de eventos sofisticados. Já o toque marciano do Mueller torna sua dominante venusiana mais dinâmica. É um espaço que estimula o consumo, a corrida às lojas e o clima de “azaração” adolescente. Basta lembrar que, mesmo sem contar por muito tempo com o atrativo dos cinemas (o shopping foi inaugurado em 1983 e só ganhou suas salas de projeção em 2004), o Mueller sempre foi um bom alavancador de vendas para as lojas ali instaladas. Aliás, qualquer shopping, em qualquer cidade, com tais linhas passando junto à porta principal e à porta dos fundos já tem meio caminho andado para dar certo.

O Shopping Mueller, Curitiba, foi instalado numa antiga fábrica (Marte).

As instalações da Universidade Federal do Paraná, no bairro Alto da XV, estão onde as linhas de Júpiter e de Urano conjugam-se para criar um clima propício ao ensino superior e às atividades de pesquisa. Urano, planeta do experimentalismo, das propostas grupais e do avanço científico, contribui para fazer da UFPR um espaço onde fermentam inquietações intelectuais e propostas inovadoras. Por outro lado, a imprevisibilidade de Urano também deixa sua marca na eterna desorganização burocrática da universidade, assim como na criação de um esporte original, inventado pelos estudantes de História e transformado em febre em todo o campus: o ogrobol.

Já o Centro Cívico, área que congrega os centros de decisão político-administrativos do Paraná, está apenas razoavelmente bem posicionado, cortado ao meio pela linha de Marte. A localização ideal deste conjunto de repartições públicas, onde se destaca a sede do governo estadual, seria sob a linha de Saturno. Contudo, a regência marciana, que indica dinamismo e estímulo à produtividade, não é de todo ruim, desde que a administração pública seja conduzida por homens de ação e iniciativa. O aspecto mais negativo é o fato de que Marte injeta muita adrenalina em atitudes de confronto e reivindicação, exigindo dos órgãos de governo instalados no Centro Cívico uma boa dose de cuidado ao lidar com manifestações populares. Apenas um exemplo: no ano 2000 o Movimento dos Sem Terra ocupou terrenos próximos à sede do governo estadual e ali permaneceu em protesto, acampado por quase um ano. Ninguém chegou a riscar o fósforo, mas o pavio do barril de pólvora esteve em evidência durante toda a longa confrontação.

O Teatro Guaíra – um teatro público de tamanho realmente descomunal, abrigando mais de dois mil espectadores – recebe a dupla regência das linhas de Júpiter e Saturno. Se Júpiter tem relação direta com as atividades ali desenvolvidas (eventos artísticos de grande porte, constantes montagens de espetáculos vindos de outros centros), a presença de Saturno faz-se sentir de forma um tanto restritiva, impedindo que os espetáculos do Guaíra “decolem” com a amplitude desejada (Saturno pode indicar, entre outras coisas, uma certa frieza da platéia). Os espetáculos que tendem a dar certo são aqueles de tom mais conservador, ou que representem o resultado de um processo artístico muito bem estruturado e exaustivamente ensaiado. O Guaíra não é o palco adequado para a experimentação e a improvisação.

Há também os desacertos, em que a natureza do espaço não corresponde à sua vocação astrológica. Um típico caso é o do estádio Pinheirão, cuja regência plutoniana não está de acordo com a proposta de ser um local destinado a receber grandes contingentes de público. O Pinheirão é um exemplo de estádio que não deu certo, rejeitado pelos clubes e pelo público, dado o toque sombrio que a linha de Plutão lhe confere.

E o que não dizer de um shopping center em área sob a regência mista das linhas de Marte e Plutão? Este foi o caso do Estação Plaza Show, um imenso centro de entretenimento inaugurado em 1997 na antiga estação ferroviária da cidade. Em função dos planetas envolvidos, a região era propícia para um quartel ou um centro esportivo – ou ainda uma estação ferroviária, como foi no passado – mas pouco vocacionada para transformar-se num espaço de lazer. Contudo, ali foi construído um complexo de grande porte, com dezenas de restaurantes e um moderno conjunto de salas de cinema. Foi moda durante algumas semanas, mas acabou tornando-se um ponto de encontro de tribos de adolescentes barulhentos. Os frequentadores habituais de shoppings logo perceberam que o local não era exatamente relaxante, nem estimulante para a imaginação. Favorecia mais o extravasamento de energia física, e temia-se, inclusive, a ocorrência de episódios de violência e de comportamentos antissociais.

Com apenas três anos de funcionamento, o Estação Plaza já era um fracasso. Acabou vendido, em 200o, para um novo grupo de investidores, que tentou transformá-lo num shopping mais convencional, sob o nome de Polloshop Estação. Mais uma vez, as coisas não andaram bem. Em 2002 o elefante branco foi rebatizado como Shopping Estação, mas só em 2004 a verdadeira vocação do espaço começou a aparecer, com a inauguração de um gigantesco centro de convenções. Hoje, o Estação Convention Center é um dos mais modernos da América Latina, desempenhando papel importante na revitalização do shopping.

As poltronas vermelhas do Estação Convention Center e a natureza dos eventos, muitos dos quais voltados para oportunidades na área de negócios, revelam a vocação Marte-Plutão (estes planetas, quando associados, têm muito a ver com negócios, finanças e empreendedorismo).

Além dos limites da cidade

Projetadas para além dos limites do município, as linhas planetárias do mapa Local Space de Curitiba vão atingir outras cidades paranaenses e brasileiras, marcando o tom de algumas relações específicas. Por exemplo: as linhas do Sol e de Mercúrio avançam diretamente para São Paulo, mostrando os laços de identidade e de comunicação existentes entre as duas capitais. Curitiba foi fundada e povoada inicialmente por paulistas, e jamais rompeu totalmente esse vínculo.

Água (Lua) e clandestinidade (Plutão) regem as viagens dos curitibanos às Cataratas do Iguaçu e à vizinha Ciudad del Leste.

A projeção da linha de Urano penetra no Oceano Atlântico, nas proximidades de Cananeia, e volta à terra firme outra vez sobre a cidade do Rio de Janeiro. Curitibanos vão ao Rio, portanto, em busca de novidades, excitação e ideias arejadas. Já as linhas superpostas de Lua (memória, passado) e de Plutão (atividades clandestinas) estendem-se, a leste, para o litoral, na Baía de Paranaguá, e, a oeste, para a região de fronteira com o Paraguai e a Argentina. Mostram, ao mesmo tempo, os caminhos históricos do povoamento do Paraná e a atual rota do contrabando, seja em grande escala, seja dos sacoleiros que enchem as malas de bugigangas em Ciudad del Leste para revender nas bancas de camelô da capital.

A linha de Marte, por sua vez, avança para o norte para atingir… Brasília, revelando o que as autoridades curitibanas podem encontrar na capital federal: muito trabalho, alguns conflitos, irritação e poucas verbas.

Projetadas para o exterior, duas linhas planetárias avançam diretamente para a Europa: a de Vênus corta a França e a Alemanha, enquanto a de Netuno atinge a Itália e a Europa Oriental, onde estão a Polônia e a Ucrânia. Justifica-se aí a importância de alemães, italianos e eslavos na formação dos valores estéticos, culturais e espirituais dos curitibanos. Estas mesmas linhas também projetam-se para o Uruguai e a Argentina, sendo que a de Vênus passa junto de Montevidéu e Mar del Plata. Assunção e Ciudad del Leste, no Paraguai, estão sob as linhas de Lua e Plutão. Os imigrantes japoneses chegaram a Curitiba pela linha de Urano, uma influência científica e progressista.

Nenhuma linha corre em direção aos Estados Unidos, mas sete avançam para a África. É interessante observar que o Egito fica próximo ao trajeto das linhas de Sol e Mercúrio de Curitiba, o que tem relação com os Faróis do Saber, bibliotecas regionais implantadas por Rafael Greca e inspiradas no Farol de Alexandria. Bibliotecas são assunto mercuriano, enquanto faróis têm uma conotação solar.

Farol do Saber

O acaso não existe no Local Space: os Faróis do Saber, pequenas bibliotecas de bairro, estão conectadas ao Farol de Alexandria, sua inspiração distante, pelas linhas do Sol e de Mercúrio.

Conclusão

O mapa do Horizonte Local é um recurso precioso quando o objetivo é aplicar o potencial astrológico ao espaço geográfico. Como vimos no caso de Curitiba, há um estreito paralelismo entre o significado de cada linha planetária e o tecido urbano que cai sob sua regência. Assim, os diferentes bairros ganham fisionomia própria, expressando particularidades do simbolismo planetário. Se temos dúvidas sobre o horário de fundação de uma cidade, podemos levantar mapas Local Space para cada hipótese de horário, verificando qual seria aquele que encontraria respaldo mais evidente na realidade urbana. Às vezes as correspondências são tão claras que falam por si.

A Ópera de Arame é outro exemplo de conjugação de significados Lua-Marte.

Para fechar este artigo, vejamos ainda dois conhecidos equipamentos urbanos de Curitiba que se localizam em áreas mistas, caindo sob a regência de duas linhas planetárias diferentes. O primeiro é a Ópera de Arame, uma casa de espetáculos de concepção bastante original: trata-se de uma construção em estrutura metálica levantada sobre um espelho d’água e cercada de densa vegetação, na região noroeste da capital paranaense. O simbolismo é o mesmo da Torre Mercês: Marte-Lua, se bem que manifestado de forma diversa. O espelho d’água e o aspecto bucólico do entorno denotam a regência lunar, enquanto a estrutura metálica aparente aponta imediatamente para a regência de Marte. Áreas na linha deste planeta costumam apresentar uma arquitetura despojada, econômica, às vezes um tanto rústica.

O Jardim Botânico, sob a regência principal de Plutão e secundária de Marte, recebe relativamente poucas visitas.

Outra estrutura metálica é a que aparece na estufa do Jardim Botânico, talvez o cartão-postal mais divulgado de Curitiba nos últimos anos. Novamente temos aqui um simbolismo de Marte, mas a presença dominante é de Plutão, pois esta área verde situa-se na região Leste-Sudeste da capital. Apesar de ser um ponto turístico muito conhecido, o Jardim Botânico não chega a atrair um grande número de visitantes. É um belo lugar para ser visto de longe, mas não estimula a permanência. Nos fins de semana, a população curitibana corre para os outros parques, especialmente o Barigui (linha da Lua), e deixa o Jardim Botânico por conta de turistas que batem meia dúzia de fotos e vão embora.

Áreas que são desviadas de sua verdadeira identidade astrológica lembram um pouco a história do Chapeuzinho Vermelho: mesmo vestido de vovozinha e fazendo voz de falsete, o lobo não deixa de ser lobo, e continua tão esfomeado como sempre. Da mesma forma, um bairro plutoniano será sempre um bairro plutoniano. O mapa do chão reflete o mapa do espaço, e as linhas planetárias deixam nas ruas seus rastros inequívocos.