O Sol e a Terra
Como uma alternativa para caminhar pelo mapa pessoal em busca de acolhimento e integração de todas as suas partes, considero que a consciência encontra meios de se tornar mais clara a partir de dois pontos principais, o Sol e a Terra. Partindo do próprio mito, vemos que Eros é o Centro do Ovo Primordial, e que as duas metades, Céu e Terra, saíram de sua casca partida (ver Nota). O centro do sistema dentro do qual nascemos, deste Céu que nos cobre, é o Sol. Sua parceira, a Terra, pode ser percebida através de nosso corpo físico e, para tanto, a simbolizamos refletida em nosso mapa, através da cruz e das casas que ela determina. Mais que isto, a Terra é o planeta onde vivemos. Do ponto de vista de nossa consciência Solar ela tem uma existência própria. E, porque é densa, projeta sua sombra no signo oposto àquele onde o Sol se encontra, já que está posicionada à sua frente. Lá no signo e grau oposto ao Sol, ela aparece concentrada, mostra-se sintética, com a mesma imagem que vemos inscrita na Mandala do mapa: um círculo com uma cruz em seu centro, sua própria representação simbólica.
Enquanto somos crianças, sem consciência própria, estamos confundidos com a mãe que nos gerou e, por analogia, com a Terra. À medida que crescemos, nos diferenciamos e vamos assumindo uma consciência individual. Uma vez adultos, passamos a ver nossa mãe, assim como o planeta, como um ser independente, com individualidade e vida própria e que merece nosso cuidado e carinho.
O respeito à Terra e à Natureza só acontece quando o ser humano sabe que precisa “cuidar e proteger” sua mãe e seu solo, do qual depende para nutrição e amparo, da mesma forma que apenas um ser adulto e amadurecido se preocupa em atender e cuidar de quem o gerou ou criou.
Considero a posição da Terra, no mapa, um ponto importante. Ela deve ser usada para a compreensão das qualidades através das quais podemos vivenciar nossas sombras, assim como a indicação de como trabalhar para nosso aperfeiçoamento.
Durante o período de um ano solar, podemos ir observando toda a Mandala em polaridades de luz e sombra e, integrando as percepções de nossas experiências, ampliar a compreensão de todos os signos o que, naturalmente, apenas pelo mapa natal desconheceríamos.

Gaia, a Terra, em alto-relevo romano.
Percebendo as casas e seus conteúdos expressivos (pontos e planetas), iluminados pela consciência solar, assim como os aperfeiçoamentos requeridos pela posição da Terra, em oposição, podemos vivenciar a totalidade da sabedoria astrológica.
Outro ponto a acompanhar é o significado da posição e aspectos da Terra com o tipo de realização que cada ser humano concretiza de forma mais preponderante, durante sua existência. Como exemplo, neste momento em que escrevo, o Sol ilumina o signo do Escorpião, podendo trazer, para todos, uma visão clara da mudança de formas, da necessidade de desapego e de aprofundamento, e, para cada um, a área de vida onde esta clareza se faz necessária. Simultaneamente, a Terra projeta sua sombra no signo de Touro e mantém, no plano menos consciente, a forma estável, os apegos e os desejos de permanência e segurança.
Este mesmo exemplo ocorre com uma cliente neste exato momento. Trabalhando sua consciência através do dia a dia e anotando suas experiências sob diversas formas criativas em um “diário pessoal”, ela me trouxe os resultados de suas observações quanto à passagem do Sol em Escorpião, sobre sua casa onze, onde se encontram Vênus e Netuno em conjunção.
Durante esta passagem do Sol por seus planetas em Escorpião, minha cliente me relatou o enorme receio que a estava possuindo, de forma imprecisa, de que o parceiro amoroso fosse deixá-la, rompendo a relação. Por outro lado, isto a estava fazendo compensar a ansiedade despertada, encontrando prazer apenas em comer e estava engordando, o que não pretendia de forma consciente (Terra sombreando Touro na Quinta casa). O companheiro também estava distante, em outra cidade, e seus relacionamentos eróticos estavam se dando apenas por telefone, através de fantasias sexuais, o que ampliava os medos de traição. Seu caderno estava sendo preenchido com sonhos relativos ao mesmo tema.
Esta observação, feita por cada indivíduo, pode ser vista como repetitiva, sempre que, a cada ano, o sol iluminar estes padrões. Por outro lado, muitas vezes, sem que seja necessário haver a passagem completa do ciclo anual, muitas pessoas percebem o que costumo denominar seu trabalho de Sísifo , ou seja, a repetição constante e inconsciente do mesmo padrão, vivido por vezes, quase que na íntegra, pelo receio das mudanças, do aprofundamento e da perda.
Dentro deste tema, uma cliente me telefonou, um dia, abruptamente, e perguntou: “Caramba, é isto que você queria que eu sacasse? Todos os anos, nesta mesma época, passo pela mesma situação, com pessoas diferentes… mas é sempre a mesma coisa! ” O trânsito solar estava na casa sete desta cliente.
Observando, em nós, a relação entre o Sol e a Terra, é como se acompanhássemos a relação afetiva entre o masculino e o feminino, entre o espírito e a matéria, entre o ativo e o receptivo, que são partes nossas mas que podem ser expressos nas relações com os outros. A experiência é simples e bastante rica em conteúdo e resultados, uma vez que estes ciclos se repetem com regularidade, permitindo a constatação de padrões e sua consequente conscientização.
Quando o amor se faz, pelo conhecimento, pela aceitação e pela integração dos potenciais contidos em nossa semente, tornamo-nos mais flexíveis às mudanças, podemos aprimorar as qualidades com as quais nascemos e as escolhas serão mais livres, pois o amor pelo outro seguirá os mesmos preceitos em nós assimilados.
A Terra e a Lua
Esta primeira aceitação, este primeiro amor, poderia vir de nossos pais ou seus substitutos, isto é, do meio ambiente que nos acolheu pela primeira vez, incluindo o ambiente social no qual nascemos. Quantas vezes, um ser, cuja função psíquica principal é o sentimento (função inscrita no mapa através de uma quantidade razoável de pontos e planetas pessoais em signos de Água), nasce em uma família com fortes valores mentais, que tenderá a bloquear e impedir o pleno desenvolvimento desta pessoa em seus próprios padrões naturais, o que a levará então, a rechaçar, em si mesma, suas reais potencialidades, transformando-se em um ser incompreendido, inadequado e mal sucedido em seus empreendimentos. Neste caso, penso que o amor pode ser manifestado e devolvido ao indivíduo pela figura de um outro alguém, muitas vezes a pessoa do terapeuta, que irá acolher e apoiar estas funções básicas, representando simbolicamente a Lua, uma das formas principais e essenciais de amor.
A Lua é a manifestação do apoio, do abrigo, do acolhimento e do suporte. Como um cadinho alquímico que suporta as experiências nele efetuadas, a figura lunar, encontrada em qualquer relação onde exista apoio à manifestação, sustentação, crescimento, transformação e parto, está longe de representar, como lhe é atribuído tradicionalmente, o papel da mãe biológica.
A Mãe que traz à luz, fisicamente é a Terra. Não a Lua!

A relação Terra-Lua, do ponto de vista astronômico: uma situação de “parceria”.
Através da Terra, vemos o despertar do Sol natural, quotidiano, assim como a nossa vida individual (o nosso Sol de nascimento). A Lua, sua filha e parceira, não é mãe parideira em mito algum que eu conheça.
No mito greco-romano, no qual a Astrologia que usamos no ocidente é embasada, a Lua (Ártemis ou Diana) auxilia sua mãe no parto de seu irmão Sol (Apolo) e, vendo o sofrimento pelo qual a mãe passa, pede a seu pai, Zeus, que lhe dê o privilégio de manter-se virgem. Ela, desde o nascimento, é aquela que cuida, que ampara, que suporta e ajuda e depois vai, sempre, assumir suas funções como protetora da natureza e dos animais. Fecundadora, pela umidade da noite, onde reina, mais óvulo que útero, protetora dos partos assim como fez com sua mãe, Leto, penso que ela representa as funções maternais de cuidado e proteção, mas nunca a de parir os filhos. Neste caso, as parteiras, babás, governantas, amas, enfermeiras, médicas e todas as criaturas que dão apoio, segurança e acolhimento, são lunares.
Esta separação de papéis, Terra e Lua, (hoje já consideradas, pela astronomia, como um planeta bipartido) nos traz, como recurso astrológico, a possibilidade de visualizar potenciais presentes por ocasião do parto, através dos trânsitos planetários sobre a posição da Terra no mapa natal da mãe naquele momento.
Esta questão torna-se mais marcante se considerarmos os aspectos que existem entre a Lua e a Terra, não apenas no mapa natal daquela que vai parir, mas, sobretudo, os aspectos do instante do parto, visto que a Lua deste momento será a mesma do mapa da criança em sua dinâmica com o mapa de sua mãe. Esta observação, que deve ser percebida como um todo, deve ter um enfoque especial em relação à Terra e ao Ascendente da parturiente. Crianças que nascem na hora em que a Lua se encontra em ângulo tenso com a Terra de sua Mãe tendem a passar por um parto mais difícil ou demorado porque o apoio e suportes necessários (Lua) à natureza biológica da mãe podem ser inadequados, estarem ausentes ou serem de alguma forma prejudiciais às necessidades do momento. Nestes casos, na medida do possível, retardar por minutos o nascimento já pode gerar um alívio nesta tensão, visto que o passo da Lua é rápido e o aspecto mais difícil poderá ser diluído em muito pouco tempo.
Figuras lunares em nossa vida
Tenho observado também que os aspectos de Plutão em relação à Terra de uma mulher parecem trazer à tona sua fertilidade (semelhante ao mito de Perséfone ao voltar à superfície da Terra, ao encontro da mãe, liberada por Plutão, do qual é a esposa grávida).
Mas, voltando à função conscientizadora da Astrologia, encontramos, além desta relação Sol-Terra, fecundante e geradora, também as figuras lunares em nossa vida. A Lua, além de poder encontrar suas funções no cuidado, amparo e acolhimento exercidos pela própria mãe biológica, pode também ter estas funções assumidas pela figura da avó que cria seu neto, por uma pessoa que adota uma criança, pela babá que cuida enquanto as mães trabalham fora de casa, enfim, por pais, irmãos, tios e tias, personagens que povoam com amor o mundo infantil, independentemente do papel social, de sexo ou de determinantes fisiológicas.
Este acolhimento e esta aceitação irão, certamente, estabelecer as bases afetivas com que vamos nos aceitar e nos aprovar. Como diz Lutz Müller em seu pequeno e belo livro O Herói, “no olhar da primeira pessoa da nossa vida estão ocultos o brilho e a miséria da nossa existência.”
Sabemos, também, através da sabedoria infinita da Astrologia contida na relação Céu e Terra, que temos a oportunidade de vivenciar todas as formas da Lua, todas as suas qualidades, tanto em seu passageiro trânsito diário, como através de suas progressões. Portanto, tornando-nos conscientes de nossos padrões repetitivos, podemos integrá-los sob novas formas, através da acolhida e suporte de todas as relações de amor autêntico em nossas vidas.
Aprendemos através da Astrologia a acatar o potencial presente em cada indivíduo, sabendo que cada um é fruto de um único e especial ato de amor, possui significado próprio e tem um papel expressivo e essencial a desempenhar na trajetória humana.
O mapa desta união amorosa norteia e dá sentido à Vida.
Sol, Terra e Lua
Costumamos trabalhar juntos, o cliente e eu, como se seu mapa fosse uma casa com doze aposentos. Para tanto, dou a cada um, além de um caderno de capa dura, uma tabela com períodos e datas especiais a serem observadas com mais atenção. Estas tabelas são retiradas das cúspides de suas casas natais e das posições planetárias ali contidas. A cada “mês individual” a pessoa deve inscrever no caderno suas impressões principais sobre o período e as datas especiais, da forma que mais lhe aprouver. Esta expressão varia de acordo com as tendências principais de cada um e são partilhadas durante as sessões. Para alguns, o relato escrito é a melhor forma, outros expressam suas percepções através de desenhos, colagens, fantasias vividas através de poesias, fotografias, sonhos, filmes que os impressionaram, textos e frases que leram ou ouviram etc.
Assim sendo, a passagem da luz do Sol e a sombra projetada pela Terra sobre o mapa natal vão ser sentidas como se um aposento desta “casa” estivesse sendo iluminado e aberto à consciência. Da mesma forma, as “peças” contidas em cada aposento (planetas natais e pontos importantes) serão também clareadas e percebidas pelas sombras que geram e que podem estar sendo projetadas em eventos e pessoas da vida da pessoa.
As percepções, assim como as anotações, podem ir além das orientações dadas por mim, pois deixo para o cliente a percepção espontânea dos planetas em trânsito ou das progressões a que ele está, naquele momento, mais sensível.
Muito bonito….