Um bispo aventureiro descobre a história de Jorge da Capadócia
São Jorge é considerado um mártir dos primeiros tempos do Cristianismo. Durante a Idade Média, transformou-se num símbolo idealizado da coragem guerreira e do desapego cristão. Nenhum fato de sua lenda pode ser realmente confirmado. Considera-se que viveu no século III e que foi um soldado romano convertido ao Cristianismo.
Segundo a lenda, teria conseguido resgatar a filha de um rei líbio de um dragão que a aprisionara e, em seguida, enfrentado e derrotado o dragão em troca da promessa de conversão do rei e de todos os seus súditos.
Manifestações de fé e coragem tão ostensivas logo despertariam suspeitas. Preso e inquirido por seus superiores, Jorge confirmou a fé cristã e recusou-se a abjurar, enfrentando heroicamente a tortura e a morte. Acredita-se que morreu na Palestina, num dia 23 de abril, data que até hoje é a ele dedicada.
A lenda de Jorge preservou-se entre os cristãos da parte oriental do Império Romano, a mesma que seria chamada mais tarde de Império Bizantino. Só chegou à Europa por volta do século VII, e daí em diante só fez aumentar e tornar-se cada vez mais extravagante.
As primeiras notícias sobre a lenda de São Jorge na Europa devem-se a Arculf, bispo talvez da Germânia, talvez de Périgueux, na Aquitânia (atual França), que foi também o primeiro europeu ocidental a arriscar-se em peregrinação ao Oriente Médio após o advento do Islamismo.
Ao voltar de sua longa viagem, Arculf embarcou num navio que, colhido por tempestades inesperadas, foi dar com os costados na ilha de Iona, litoral da Escócia. Lá, o bispo aventureiro encontrou hospedagem junto ao abade Adamnan, a quem relatou suas experiências. Mais tarde, o abade escreveu De locis sanctis, uma narrativa das viagens de Arculf, que davam margem realmente a um livro dos mais interessantes.
O bispo Arculf esteve nos lugares santos da Judeia, de Samaria e da Galileia; visitou Damasco e Tiro e ainda navegou pelo rio Nilo e pelas ilhas gregas. Foi ao longo dessas andanças que Arculf tomou contato com a história de São Jorge, cuja lenda cheia de detalhes fantásticos foi incluída no livro do abade Adamnan.
Mais tarde a narrativa chamou a atenção de outro erudito, o Venerável Bede, que por sua vez incluiu algumas referências em sua História Eclesiástica do Povo Inglês. Começou aí a paixão da Inglaterra pelo santo-guerreiro, que acabou-se tornando o patrono do país.
Por volta do século VIII, Jorge já era bem conhecido na Inglaterra. Mais tarde, com as Cruzadas, cavaleiros que voltavam do Oriente traziam novas versões da história, que começa a tornar-se popular em toda a Europa. Contava-se, por exemplo, que o guerreiro romano fora visto a auxiliar os cruzados franceses na Batalha de Antioquia, em 1098.
No século XIII, o monge dominicano Jacobus de Voragine, arcebispo de Gênova, escreveu Legenda aurea (1265 ou 1266), obra que se tornou uma espécie de best-seller medieval. Era uma coletânea de vidas de santos e de relatos de eventos milagrosos, sem qualquer preocupação com a veracidade ou com a cronologia, mas num estilo muito familiar aos devotos da época.
A lenda de Jorge ganha nesta obra seus contornos definitivos: o santo-guerreiro surge como um precursor romano do cavaleiro andante medieval, vestindo a armadura de ferro e a capa vermelha, portando lança e espada e montado em um cavalo branco para enfrentar o dragão.
No século XIV, Jorge já é admitido como patrono da Inglaterra e também de Portugal, de Veneza e de Gênova. Sua popularidade está no auge. Com o fim da era da cavalaria e com o advento do Protestantismo, o culto a São Jorge sofre alguns abalos. Contudo, permanece forte entre as camadas populares, resistindo até mesmo ao expurgo no calendário religioso promovida pelo papa Paulo VI, que retira o status de santo dos personagens sobre os quais não há evidência histórica.
O santo-guerreiro: do Ares grego ao São Jorge cristão
Há mitos tão resistentes que sobrevivem ao desaparecimento da cultura que os gerou. Ganham nova roupagem, assumem aqui e ali nuances inesperadas, mas preservam sua essência. Alguns mitos parecem mesmo ser universais, dintinguindo-se apenas de uma cultura para outra nos detalhes acessórios. Este é exatamente o caso de São Jorge, em quem encontramos traços de deuses pagãos, como o Ares grego, o Marte romano e o Kalvis ou Kalvelis dos povos bálticos.
Entre os gregos, Ares é o deus da guerra, ou o espírito da batalha, símbolo da brutalidade e da turbulência. Destemperado e frequentemente retratado a praticar atos de violência gratuita, Ares não era uma divindade das mais populares, nem seu culto chegou a expandir-se da mesma forma como o de outros representantes do Olimpo.
Havia mesmo alguma coisa de diabólico em Ares, que chegou, nos primeiros tempos, a receber sacrifícios de prisioneiros de guerra. Em Esparta, fazia-se também a Enialo, uma das representações de Ares, o ritual do sacrifício noturno de cães.
Na pintura grega — vasos de cerâmica, por exemplo — Ares sempre é mostrado como o guerreiro armado, pronto para a guerra. A correspondência astrológica é imediata e completa. Ares expressa atributos de Áries, o primeiro signo, e de Marte, seu planeta regente. É a força, a energia, a combatividade, em seu aspecto mais destemperado e rústico.
Marte, o vingador de César, e Kalvelis, o libertador do Sol
Ao contrário de Ares, o deus romano Marte foi bastante popular, sendo neste aspecto superado apenas por Júpiter. É também um deus da guerra, mas tem o papel adicional de protetor da agricultura e dos rebanhos.
Roma era uma potência militar, cujo poder estava em boa parte fundamentado na organização e disciplina do exército. Em Roma Marte não é apenas o guerreiro selvagem e bestial, mas — digamos — um deus integrado ao restante do panteão e exercendo papéis bem definidos. Nele, a violência gratuita e antissocial de Ares ganha um propósito e uma utilidade.
A correspondência astrológica continua presente: é outro aspecto de Áries/Marte, mais harmônico e direcionado, se bem que na essência a simbologia seja a mesma. Ambos são deuses do corte, das armas, da força, da energia masculina, da iniciativa, do combate, da coragem, da adrenalina.
Quando o Cristianismo supera os cultos pagãos entre gregos e romanos, os velhos cultos a Ares e a Marte infiltram-se sub-repticiamente nas novas crenças até encontrarem em São Jorge uma figura que incorpora muitas das mesmas características. O santo-guerreiro também porta a armadura e o elmo de ferro, as armas pontiagudas, e está sempre envolvido na batalha, a mesma atividade que ocupava o melhor dos esforços de seus antecessores. São Jorge é, assim, a versão cristianizada de Ares e Marte, que submete a energia ariana a um propósito mais elevado.
Há uma nítida sequência entre Ares-Marte-São Jorge: Ares é amoral, cruel, perverso, primário, instintivo. Luta sem razão, com cego furor, e, por isso mesmo, leva a pior na maioria dos combates. O Marte romano comanda exércitos; é Marte Ultor, o vingador de César, o guardião do poder do imperador. Já o São Jorge católico é o guerreiro que não luta mais pelas coisas desse mundo, mas para combater o mal e ampliar o domínio do Cristo.
Numa comparação grosseira, podemos ver neles a sequência de Marte pelos signos de Fogo: no Ares grego, o individualismo de Marte em Áries; no deus romano, o toque imperial de Marte em Leão; e em Jorge, o espírito aventureiro e cruzadista de Marte em Sagitário.
A permuta simbólica entre culturas raramente se dá de forma linear. Jorge não é apenas a tradução cristã de Marte. Em parte, os atributos deste deus romano foram transferidos para Miguel Arcanjo, o senhor dos exércitos celestiais; e, em parte, por sua vez, São Jorge incorpora características de deuses de outros povos não-mediterrâneos.
Um caso notável é o deus pagão lituano Kalvelis, um ferreiro celeste e matador de dragões. Como ferreiro, sempre munido de seu martelo celestial, Kalvelis lembra também uma versão nórdica do deus grego Hefesto. De acordo com a lenda lituana, todos os dias Kalvelis cria em sua forja um novo sol para a deusa da aurora, assim como um cinturão de prata e estribos de ouro para as estrelas matutina e vespertina. Ainda com o martelo mágico, Kalvelis também liberta diariamente o sol de sua prisão (outra conotação astrológica, já que o Sol nasce na casa 12!).
Tanto Hefesto quanto Kalvelis lembram algumas características de Marte em Virgem (o Marte ferreiro, o artesão, o perito que fabrica instrumentos, o industrioso), o mesmo ocorrendo, por outras vias, com São Jorge (o Marte escrupuloso, puro, montado no cavalo imaculadamente branco).
A relação entre Marte e Virgem é, aliás, evidenciada no aspecto astrológico do quincunce (150 graus) e na configuração chamada Yod (três planetas unidos por dois quincunces e um sextil). Se considerarmos 0º de Áries como ponto de partida, podemos traçar dois quincunces: um deles alcançará 0º de Escorpião (sendo este signo o outro domicílio tradicional de Marte); o outro alcançará 0º de Virgem.
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… “Se considerarmos 0º de Áries como ponto de partida, podemos traçar dois quincunces: um deles alcançará 0º de Escorpião (sendo este signo o outro domicílio tradicional de Marte); o outro alcançará 0º de Virgem”. É, só quem estuda, pesquisa e se aprofunda na Astrologia descobre que, na astrologia, nada é por acaso, ela foi criada por seres acima dos homens e, estes, só colocam em prática – por falta de um conhecimento cósmico maios – uma pequena parcela (diria 10%) de todas as informações que a Astrologia pode nos revelar.
Na verdade ela é extremamente complexa mesmo para homens de mentes mais evoluídas atualmente, principalmente. Homens de antigamente eram muito mais inteligentes – intuitivamente –, pois não ficavam na dependências de equipamentos, e os equipamentos não recebem informações dos registros Akásicos, onde TODAS as informações – do passado e do futuro – estão gravadas. Um exemplo é a Astronomia, enquanto os grandes homens cientistas do passado, só olhando diretamente para o céu à olho nu, catalogaram 48 constelações, já os grandes homens cientistas do presente, olhando para o céu através de potentes telescópios, catalogaram 40 constelações. Os astrônomos modernos pegaram meio caminho andado, mastigado e pronto para saborear as informações do espaço – e é o que eles estão fazendo, saboreando-as.
Voltando a Astrologia, para realmente entender toda a essência, ou seja, captar toda a essência que envolve a Astrologia como um todo, a pessoa precisa ter algo mais em sua alma, e cientistas – e todas as pessoas que criticam a Astrologia – não tem. Elas são iguais aquelas pessoas que não possuem olfato, podemos dizer para elas que o almoço – só pelo cheiro que sentimos à distância – está saboroso, mas elas continuam dizendo que não, pois não estão sentindo cheiro algum, mal sabem que o problema está com elas e não na Astrologia.
Costumo dizer que, atualmente, o que mais atrapalha a Astrologia – no que se refere as previsões, principalmente – são as coordenadas geográfica: Latitude, Longitude e Altitude (o programa astrológico de Morinus conta com a opção Altitude). Essas coordenadas servem para o local onde a pessoa nasceu – para identificar este lugar, em particular –, não servem para a pessoa. Se fizermos um Mapa Astral do momento (Astrologia horária) para a cidade de São Paulo (Lat.23 graus e 33 minutos e Log.46 graus e 38 minutos), essas mesmas coordenadas servirão para outras milhões de pessoas que moram e/ou que estão naquele momento em São Paulo. Jesus conseguiu dividir cinco pães para cinco mil pessoas, mas nós, astrólogos, não conseguimos dividir 4211 minutos (Latitude + Longitude) por milhões de pessoas de um mesmo lugar.