Leonino com Ascendente em Touro, estudioso de astrologia por mais de 40 anos, o professor Waldyr Bonadei Fücher fundou em 1975 a Escola Regulus, em São Paulo, considerada uma das mais reconhecidas instituições de astrologia, pioneira em especialização nas áreas vocacional e empresarial (o nome Regulus foi adotado em 1980). Em 2002, aos 76 anos, o professor Waldyr foi homenageado no congresso Astrológica e respondeu a uma sessão de perguntas da plateia. Confira os principais assuntos da entrevista.
PLATEIA – O que é importante para a formação profissional do astrólogo?
FÜCHER – Ética é fundamental. Mas é preciso ter formação em astrologia… eu, por exemplo, estudo astrologia há 38 anos e ainda continuo estudando.
PLATEIA – É preciso saber fazer cálculos e conhecer coordenadas celestes?
FÜCHER – Noções de astronomia são fundamentais. Quanto aos cálculos: e se um dia faltar eletricidade? Eu sempre digo aos nossos alunos: se souberem um pouco de mecânica de automóvel, vocês dirigirão o veículo muito melhor.
PLATEIA – O Sr. vê a psicologia como um conhecimento necessário à astrologia contemporânea?
FÜCHER – Bom, deve haver psicólogos na plateia e eu preciso sair vivo daqui… mas eu não condeno a psicologia não, pois cada um consulta a pessoa que o destino lhe indica. Agora, a astrologia é uma ferramenta e tanto na mão de um psicólogo. Já vi casos interessantíssimos de união dos dois conhecimentos, mas o sistema de prognóstico mais prático, mais objetivo, e eu diria até infalível, é a astrologia.
PLATEIA – Qual sua opinião sobre a polêmica da formação do astrólogo: escolas regulares x autodidatismo?
FÜCHER – Sou contra essa expressão “autodidata”. Chegam pessoas na escola dizendo que já leram dezenas de livros e conhecem astrologia. Estes são casos sérios, pois lendo livros talvez possamos nos aprimorar, mas, para o principiante, ler livros não leva a lugar nenhum. Hoje em dia são editados livros e mais livros sobre astrologia, mas pegando dez destes livros, vocês terão onze conceitos de astrologia. Além disso, a astrologia deve ser estudada em grupo. Ela não é Urano? Aquário? 11ª casa? Como é que o indivíduo vai estudar sozinho? Não pode! Ele vai perder tempo e dinheiro na vida!
PLATEIA – Das antigas publicações, o que o Sr. recomenda?
FÜCHER – Eu aconselho a leitura dos clássicos… colegas nossos de dois ou três mil anos atrás, que trazem um conhecimento muito profundo. Mas precisamos adaptá-los à nossa vivência atual. Ao contrário do dicionário da língua portuguesa, que de 50 anos para cá vem mudando seus conceitos, a astrologia não muda, a sinonímia é sempre a mesma.
Primeiro Contato
PLATEIA – Como o Sr. começou a estudar astrologia?
FÜCHER – Eu não acreditava em absolutamente nada, porque só tinha acesso à astrologia de rádios e jornais. Um dia me levaram a um astrólogo alemão de 73 anos, que interpretou meu mapa e disse coisas da minha vida que só eu sabia. Fez previsões de que eu iria estudar astrologia e disse coisas que até hoje estão acontecendo. Eu estava numa graaaande encruzilhada e não sabia que caminhos tomar, e ele me indicou esse caminho.
PLATEIA – Qual o nome dele?
FÜCHER – W. F. Bader, que, por sinal, tem as mesmas iniciais do meu nome… coincidência, não é?
Técnicas de previsão
PLATEIA – O Sr. acha que previsão funciona?
FÜCHER – Quando eu faço, funciona!
PLATEIA – A previsão pode ser uma técnica para o autoconhecimento?
FÜCHER – Até certo ponto, sim. O mapa tem um potencial, mas quando ele vai se desenvolver? Não há o ditado americano: “O homem certo, no lugar certo, na hora certa”? Nós podemos ter um potencial, mas não sabemos se está na época de desenvolvê-lo.
PLATEIA – Qual a técnica de previsão mais objetiva?
FÜCHER – Eu uso tudo: direções secundárias de Sol, Lua, Meio do Céu e Ascendente, ciclos, conjunções e trânsitos planetários, eclipses, lunações… quanto mais recursos, mais fácil se torna o resultado.
PLATEIA – Durante muito tempo, os astrólogos usaram somente revolução solar para previsões pessoais…
FÜCHER – Mas existe um questionamento sobre a técnica da revolução solar: há quem calcule a revolução solar para o exato momento (grau, minuto, segundo etc) do Sol gravital e quem use o Sol precessional, se o indivíduo já está com 50 anos, pois o Sol já se deslocou. Aconselho que se façam os dois cálculos e vejam o que mais acerta.
PLATEIA – O que se deve analisar num horóscopo para uma boa orientação vocacional?
FÜCHER – Acho que o Maurício Bernis pode nos ajudar…
MAURÍCIO BERNIS – Um planeta muito próximo ao Sol e oriental a ele é um grande indicativo vocacional. Qualquer planeta em conjunção com o Meio do Céu ou Ascendente também é muito indicativo.
FÜCHER – É muito importante também ver os elementos e quadruplicidades no mapa de uma pessoa.
A delicada questão da ética
PLATEIA – É possível prever a data da morte de uma pessoa?
FÜCHER – Em 99% das vezes sim, mas não podemos falar para ninguém. Um exemplo: vi que havia um aspecto de morte num ponto da vida de um cliente, mas como ele estava vivo, resolvi perguntar. Ele disse: como o Sr. descobriu? Ele havia tentado o suicídio e foi salvo, mas a partir daquele dia havia morrido para todo o seu passado. Quantas vezes morremos em nossas vidas?
PLATEIA – Em uma Sinastria, devemos orientar a pessoa para ficar ou abandonar um relacionamento?
FÜCHER – Quando faço uma sinastria, faço o mapa dele e dela isolados para ver as compatibilidades e possibilidades de casamento. Transmito isso para cada um separadamente. Muitas vezes, só esta interpretação resolve. Se precisar de mais, verifico se o Sol de um está em aspecto com a Lua e o Ascendente do outro. São os três pontos mais importantes: Ascendente, Sol e Lua. Se estes três pontos fazem bons aspectos (mas não valem aspectos Sol-Sol, Lua-Lua e Ascendente-Ascendente, aliás Ascendente-Ascendente não é bom em sinastria, a não ser que sejam Ascendentes opostos). Se houver compatibilidade, o resto é puro acidente de percurso. Saturno de um em quadratura ou mau aspecto com o do outro também não é ruim, pois ao acontecer alguma coisa ao Saturno do primeiro, provavelmente acontecerá algo ao do segundo também. E um vai chorar no ombro do outro.
PLATEIA – O Sr. lê mapa de uma pessoa a um terceiro?
FÜCHER – O primeiro item proibido é fazer previsão de morte. O outro é interpretar o mapa de uma pessoa sem seu conhecimento. Claro, interpretamos durante aulas, mas é preciso tomar cuidado: astrólogo só não vai para cadeia porque a profissão ainda não é regulamentada.
PLATEIA – Quais os limites da astrologia em termos terapêuticos?
FÜCHER – A astrologia é regida por Saturno e Urano. Isso significa saber até onde você tem conhecimento para usar astrologia. Temos limites e, acima de tudo, responsabilidade. Uma das atribuições de Saturno é a humildade. Devemos ser humildes com nossos clientes caso eles façam perguntas que não possamos responder. Eu digo aos nossos alunos: é preciso riscar dos atendimentos a expressão “acho”. Diga que há uma grande propensão de algo acontececer. Além disso, o astrólogo não pode receitar remédios. Se o mapa indicar facilidade para cura com Reiki, então indica-se um profissional. Se for preciso um psicólogo, indica-se alguém.
Destino ou livre arbítrio?
PLATEIA – Pra que serve a astrologia?
FÜCHER – Fundamentalmente para dar autoconhecimento e orientação ao indivíduo. Um bom exemplo são os testes vocacionais… a pessoa pode ter um tio médico que é milionário. Ela pode querer ser médico porque o tio é milionário, mas pode chegar a ser milionário a partir de um talento para engenharia. E a gente pode ajudar…
PLATEIA – Destino ou livre arbítrio?
FÜCHER – No meu entender o destino comanda a vida, mas a pessoa deve reconhecer até onde pode ir com seu livre arbítrio…
PLATEIA – Ela pode alterar seu destino?
FÜCHER – Se é destino, ela não pode alterar. Quem se diz contra a astrologia sempre pergunta sobre isso… têm pessoas que podem gerir melhor seu livre arbítrio que outras. Dando autoconhecimento para a pessoa, ela sabe as limitações que ela tem.
Waldyr Fücher defende a regulamentação da profissão de astrólogo