“Praticar Astrologia é uma forma de ganhar dinheiro fácil”
Um dos preconceitos mais comuns é o que associa a opção pela prática profissional da Astrologia ao sonho de fazer dinheiro fácil. Não há matéria publicada na grande imprensa que não aproveite para insinuar, aqui ou ali, que Astrologia é um ótimo negócio, capaz de trazer elevados rendimentos a quem se decidir a explorar o “filão”.
Vamos aos fatos: consultas astrológicas normalmente são mais longas do que consultas médicas ou sessões de psicoterapia, o que faz com que o valor/hora seja proporcionalmente mais modesto. Os clientes não retornam com a mesma frequência verificada em outras especialidades de consultoria, já que a própria natureza do atendimento raramente predispõe a mais do que duas ou três consultas anuais. Muitos clientes fazem seu mapa apenas uma vez na vida, obrigando o astrólogo a um permanente trabalho de renovação de público.
Em resumo: Astrologia não é um bom negócio para quem deseja ganhar dinheiro fácil – e quem tem apenas este objetivo não consegue sobreviver profissionalmente durante muito tempo.
“É impossível viver de Astrologia”
Trata-se de outro preconceito muito difundido, e de sentido oposto ao primeiro. Sempre que alguém anuncia ao mundo sua disposição de dedicar-se ao atendimento em tempo integral, aparece imediatamente um pai, um cônjuge ou um amigo preocupado para dizer algo como: “Você enlouqueceu? Astrologia não sustenta ninguém! Astrologia não é profissão, é bico! Você não vai resistir três meses!” Ou ainda: “O quê? Você vai trocar os quatro (ou cinco, ou seis) anos de faculdade de … (e vem o nome de um curso convencional) por uma vida incerta numa profissão que nem existe? Onde você está com a cabeça?”
A boa notícia é que existem muito mais astrólogos exercendo a profissão em bases regulares do que as aves agourentas poderiam imaginar. São relativamente raros os casos de astrólogos competentes que desistem de praticar o atendimento ou o magistério por falta de clientes ou alunos. Muitos estão no mercado de trabalho há mais de vinte ou trinta anos.
A falsa impressão de que há muitos desistentes vem do fato de que muitos principiantes experimentam a atividade de consultoria durante um ou dois anos e depois optam por outros caminhos. Ou seja: o elevado grau de desistência ocorre nos primeiros anos de prática, exatamente como em qualquer outra ocupação.
Para confirmar, basta consultar qualquer turma de Direito ou de Psicologia formada em 2007 – há apenas quinze anos – e perguntar quantos estão efetivamente exercendo a profissão. Os resultados não serão diferentes daqueles obtidos com estudantes de Astrologia.
Outro erro é considerar que, do ponto de vista formal, a Astrologia é uma “profissão que não existe”. Astrólogos têm a opção de trabalhar como autônomos, pagando os impostos devidos (ISS e contribuição previdenciária, por exemplo) e fazendo jus aos mesmos direitos de qualquer trabalhador.
A Astrologia é reconhecida como ocupação pelo Ministério do Trabalho e seu status é semelhante ao de outras ocupações que, mesmo não regulamentadas, são valorizadas no mundo real.
Ocorre que, vivendo num país que sofre com o peso da burocracia e da altíssima carga tributária, a maioria dos astrólogos acaba fazendo opção semelhante à de nada menos que 60% da força de trabalho nacional: atuar na informalidade, como estratégia para reduzir custos e simplificar processos. Neste ponto, astrólogos não são diferentes de webdesigners, mestres de obras, técnicos em refrigeração ou tradutores especializados. A informalidade é um problema estrutural do país, e não uma característica específica da ocupação de astrólogo.
“Quem procura astrólogos são pessoas incautas e de boa fé.”
Críticos ferozes – normalmente combatendo em nome da Ciência e contra o “obscurantismo” – costumam apresentar os astrólogos como exploradores da credulidade pública. Haveria nisso algum fundo de verdade? A clientela seria realmente formada por pessoas ingênuas e incapazes de avaliar um bom profissional?
Os fatos mostram que não. O típico cliente costuma ter boa formação escolar, excelente nível cultural e prévio conhecimento das alternativas terapêuticas existentes, desde as mais acadêmicas até as de linha holística. Tal cliente normalmente chega ao astrólogo por indicação pessoal e tem um elevado grau de exigência. Um percentual surpreendente dos que procuram atendimento já se submeteu a psicoterapias convencionais e conhece bem o jargão das várias modalidades de relacionamento terapeuta-paciente.
Há, contudo, um fundo de verdade no preconceito. Ocorre que muitos “videntes” voltados para uma clientela menos instruída e pouco exigente também se apresentam como “astrólogos”, o que pode confundir o consulente desavisado. Falamos, é claro, daqueles que distribuem filipetas na rua, com apelos do tipo “trago seu homem de volta em três dias”. Mas é fácil observar que tal forma de atendimento raramente está focada na Astrologia, que entra apenas como uma espécie de molho para dar mais tempero à salada – e que salada!
“Astrólogos são pessoas intelectualmente despreparadas.”
Quanto ao preparo teórico-cultural do praticante de Astrologia, há que fazer uma distinção: como o exercício profissional é livre, qualquer pessoa pode oferecer seus serviços no mercado, do que resulta um quadro bastante heterogêneo. Mas se considerarmos apenas os profissionais que são reconhecidos pelos colegas e associações de classe, a situação é bem diferente. Com poucas exceções, a maioria têm curso superior nas mais diversas áreas. Muitos são pós-graduados.
A maioria dos astrólogos prepara-se durante mais tempo para exercer sua atividade do que um profissional de áreas mais convencionais. Poucos são os que não investem quantias consideráveis em livros e congressos e que não são capazes de ler pelo menos em mais uma língua além do português.
Desde o início dos anos 1990, e em especial nos últimos dez anos, tem aumentado substancialmente o número de dissertações de mestrado e teses de doutorado versando sobre Astrologia. Confirma-se assim a existência de uma nova geração de pesquisadores disposta a abrir espaços dentro das universidades e enfrentar – ou ao menos contornar – o preconceito e a irritação do meio acadêmico contra os que ousam assumir a Astrologia publicamente.
O filósofo, cientista político e professor da USP Renato Janine Ribeiro, ex-Ministro da Cultura entre abril e setembro de 2015, tem em seu currículo acadêmico a orientação de alguns trabalhos acadêmicos na área de Astrologia. O astrônomo Marcelo Gleiser, hoje professor de física, astronomia e história natural no Dartmouth College (EUA), foi palestrante em um dos últimos Simpósios de Astrologia do SINARJ. Há astrólogos lecionando as mais diversas disciplinas em pelo menos quinze universidades públicas brasileiras, alguns deles ocupando cargos de chefia de departamento.
As resistências à Astrologia concentram-se hoje em três áreas distintas:
- Religiosos, especialmente grupos evangélicos neopentecostais;
- Entidades de classe e conselhos profissionais que defendem o monopólio da atividade terapêutica;
- Meios de comunicação de massa, que boicotam a divulgação de trabalhos acadêmicos e pesquisas em Astrologia porque se beneficiam da popularidade dos horóscopos baseados em signos solares (foram os jornais americanos que inventaram as colunas de horóscopos, não os astrólogos!).
“É impossível saber se um astrólogo é realmente preparado.”
Como não? Eis quatro cuidados básicos que qualquer pessoa pode ter na busca de um bom profissional:
- busque artigos em publicações especializadas e na internet – Bons astrólogos escrevem de forma clara, coerente, utilizando uma metodologia transparente e verificável. Textos confusos, eivados de erros ou excessivamente dogmáticos não são um bom cartão de visitas.
- Suspeite de astrólogos que nunca escreveram nada, seja em publicações especializadas, seja pelo menos numa lista de discussão na internet. Isso pode ser um sintoma de preguiça, de despreparo intelectual ou de insegurança.
- Procure saber sobre a reputação de seu astrólogo junto a outros astrólogos – o respeito e o reconhecimento dos colegas costuma ser, em qualquer profissão, um indicador seguro de que você está diante de um bom profissional (ou, no mínimo, de um relações públicas de primeira!).
- Verifique a opinião de seus amigos que já fizeram consultas antes de você.
- Use o bom senso. Fuja de quem se diz astrólogo fazendo promessas mirabolantes e alardeando poderes especiais.
“Astrologia é uma forma de ocultismo e/ou esoterismo.”
Definitivamente não. Ocultismo e esoterismo são termos vagos, de escopo bastante amplo, que costumam englobar diversos movimentos e correntes de pensamento voltados para aspectos simbólicos ou cifrados das religiões, magia, ou para o estudo da paranormalidade e dos fenômenos “psi”. Em princípio, Astrologia, Esoterismo e Ocultismo são campos de conhecimento absolutamente distintos, com objetivos diversos.
Isso não impede, é claro, que uma parcela dos estudiosos da Astrologia tenha também interesse ou envolvimento direto com essas outras questões, praticando uma abordagem interdisciplinar. Assim, existem linhas específicas de especialização intituladas Astrologia Esotérica, Astrologia Cármica etc. Isso não significa, entretanto, que todos os astrólogos sejam também esotéricos ou que todo ocultista tenha conhecimentos astrológicos.
“Astrólogos são pessoas com uma capacidade psíquica especial.”
Quando o médico analisa um exame de raio-X e diz que um paciente está com pneumonia, ninguém acha que ele tenha precisado de habilidades psíquicas para chegar a essa conclusão. Por outro lado, há gente que, quando ouve uma afirmação certeira de um astrólogo, sente-se possuída de um certo terror supersticioso, enquanto pergunta: “O que mais você está vendo no meu mapa?”
Por mais irritante que seja para os astrólogos, uma boa percentagem do público leigo ainda acredita que a interpretação do mapa é fruto de algum dom psíquico, e não do uso sistemático de uma técnica de leitura. Outra vez, é o estereótipo do paranormal, que não corresponde à realidade.
Por quê, então, insiste-se tanto no mito do astrólogo-sensitivo, que “capta os fluidos” do que está por vir com suas poderosas antenas? Porque esta visão distorcida interessa aos críticos apressados, que assim têm uma boa desculpa para sequer se dar ao trabalho de estudar as bases teóricas e os métodos de investigação do conhecimento que pretendem combater. E interessa também aos espertos que, através de supostos poderes paranormais, enganam com mais facilidade os desavisados. Quem não se lembra de Walter Mercado?
Alguns astrólogos podem ser também paranormais, é claro. Mas não é uma condição sine qua non. Uma coisa não depende da outra, e é perfeitamente possível fazer Astrologia de primeira qualidade com base exclusivamente na lógica e no bom senso.
Conclusão
Alguns críticos mal-intencionados querem fazer crer que toda a Astrologia se restringe aos tipos exóticos que se exibem de turbante em shopping centers e nas famigeradas “feiras esotéricas”. O quadro, frequentemente reiterado nos meios de comunicação e no ambiente acadêmico, é do astrólogo como um esperto que, por despreparo para exercer outra atividade mais nobre, opta por ganhar dinheiro fácil atendendo clientes ingênuos e endinheirados. Nada mais errado e nada mais injusto.
A realidade choca-se frontalmente com os preconceitos existentes. Para percebê-lo, basta conhecer um pouco a comunidade de profissionais de qualquer grande cidade brasileira. Constelar escolheu uma dessas cidades – Recife – para traçar um retrato realista das verdadeiras condições em que a Astrologia é exercida neste país. Lá, as características locais determinaram o surgimento de toda uma geração de astrólogos de vida dupla. Boa leitura!