O longo trânsito de Plutão em Capricórnio, que persistirá até 2024, motivou uma enxurrada de previsões astrológicas. Entre as primeiras estão a deste artigo, publicado por Dimitri Camiloto em Constelar em janeiro de 2008. Confira o que foi dito e compare com o que realmente aconteceu.
É praticamente uma unanimidade entre os astrólogos de que o trânsito de Plutão pelo signo de Capricórnio marcará grandes transformações políticas e econômicas. Por tratar-se de um signo que compõe o eixo central da mandala astrológica junto com Áries, Câncer e Libra, a passagem de Plutão por Capricórnio promete impactos na organização do mundo de modo geral.
Um claro exemplo destas transformações vem ocorrendo na França. O presidente Nicolas Sarkozy anunciou recentemente que seus ministros serão submetidos a uma avaliação de resultados feita por uma empresa privada que irá estabelecer metas de desempenho e objetivos para cada área de seu governo. Assim, vislumbramos uma das tendências de Plutão em Capricórnio: a gestão do Estado nos moldes de uma empresa privada. [1]
Tendo como países pioneiros Austrália, Nova Zelândia e Holanda, a organização do governo como uma empresa é uma perspectiva cada vez mais evidente nos chamados países desenvolvidos. A legislação destes países vem exigindo a produção de resultados, tendo como mote a ideia de administrar seus respectivos governos como entidades privadas onde a burocracia, a ineficiência e a falta de controle das finanças públicas são substituídas pela busca de resultados, gestão eficiente e controle rigoroso das despesas.
Na Nova Zelândia, ao contrário do que está ocorrendo na França, a empresa de auditoria de que controla o governo local é uma instituição governamental, e não privada. Todavia, pouco importa se o órgão que fiscaliza o governo e seus ministros é público ou não: o realmente significativo é a criação de meios para validar/invalidar os resultados alcançados pelas administrações locais e para compará-los com os compromissos assumidos pelos respectivos governos no início da cada ano.
Austeridade e autoridade
O Brasil é um país que desperdiça muitos recursos, onde o governo muitas vezes diz uma coisa e faz outra. Seria de bom grado que passássemos a nos orientar segundo estes novos preceitos de gestão? Posto que nas democracias republicanas os mandatos presidenciais são relativamente curtos e as alternâncias de poder representam muitas vezes uma forma de desconstrução do que vinha sendo feito, este tipo de orientação poderá ser uma das vertentes do pragmatismo de poder de Plutão em Capricórnio.
Outra das tendências relativas ao trânsito de Plutão em Capricórnio envolve a temática da autoridade. Neste recorte específico tem lugar o caso da Rússia contemporânea, cuja população historicamente submeteu-se e foi submetida a regimes com forte ênfase na autoridade e na centralização, através de um prisma essencialmente monolítico.
A nova Rússia, surgida durante o encontro dos ciclos Saturno-Urano, Saturno-Netuno e Urano-Netuno em Capricórnio, tem cada vez mais atrelado seu destino ao líder Vladímir Putin, que detém grandes índices de popularidade há vários anos. A justificativa do povo russo em apoiar a concentração de poder nas mãos de Putin é a “governabilidade”, algo muito caro ao signo de Capricórnio. [2]
Diante da verdadeira sociedade subterrânea que domina a cena russa através dos tentáculos de sua grande e complexa máfia, os russos entendem que, sem Putin, a vida seria um caos. Junte-se a isto, naturalmente, o incrível desempenho econômico que o país vem conquistando sob a sua administração.
A Rússia é, portanto, um interessante laboratório de observações acerca da transição de Plutão de Sagitário para Capricórnio. Os trânsitos de Plutão em Sagitário, Netuno em Aquário e Urano em Peixes tiveram como uma de suas marcas fundamentais a infiltração de elementos hostis aos governos, aos órgãos controladores e aos processos formais, favorecendo reações contra forças sociais que ameaçam a “ordem” e o “sistema”. Outro país é um excelente exemplo, a China, com sua sociedade controlada pelo Partido e o Exército, pilares vitais para que ela chegasse à vanguarda da corrida econômica justamente quando Plutão entrava em Capricórnio. Em se tratando de Plutão em Capricórnio, “tamanho é documento” e convém não esquecer que a nova superpotência tem a maior população do planeta.
Quanto ao Brasil, é importante ter em mente que a popularidade do presidente Lula vem sendo um formidável alicerce de estabilidade política, mas nada garante que esta legitimidade quase cega seja estendida ao seu sucessor. Fatores como violência e corrupção podem, num futuro talvez nem tão distante, levar a população brasileira a clamar por regimes e/ou políticas mais rígidas. Pesquisas indicam que na América Latina, como um todo, a democracia vem sendo cada vez mais um modelo pelo qual as pessoas têm indiferença, associando-a inclusive à corrupção. [3]
Por outro lado, o último trânsito de Plutão em Capricórnio nos deu a primeira república moderna, os Estados Unidos. Seríamos capazes agora de criar novas formas de organização social e política? Partiremos para a governança global? Reviveremos o caudilhismo? São questões muito pertinentes, pois envolvem fenômenos já em curso.
Notas de 2019 (onze anos depois)
[1] Ao longo do trânsito de Plutão em Capricórnio o mote do estado administrado em moldes empresariais elegeu dezenas de governantes mundo afora. Muitos não tiveram sucesso. Entre governantes com este perfil podemos lembrar Donald Trump, nos EUA; Sebastián Piñera, no Chile; Mauricio Macri, na Argentina; e o governador de São Paulo, João Doria. Todos foram empresários bem-sucedidos no passado e todos têm perfil conservador.
[2] Ao longo da passagem de Plutão em Capricórnio, governos de viés autoritário foram instaurados em diversos países, na maioria das vezes através do voto e com forte apoio de pelo menos uma parte da população. É o caso do controverso presidente Duterte (Filipinas), do dirigente turco Recep Erdogan (hoje, na prática, com poderes ditatoriais), do Primeiro-Ministro da Hungria Viktor Orban e de muitos outros. A ascensão de regimes populistas conservadores de extrema-direita é um fenômeno de Plutão em Capricórnio.
[3] No Brasil, a tendência conservadora de Plutão em Capricórnio produziu uma onda de protestos populares direitistas (MBL, por exemplo), encerrou o ciclo de governos do PT com o impeachment de Dilma Rousseff e trouxe ao poder governantes identificados com o grande capital e o agronegócio (Temer e Bolsonaro).