Qual a relação entre a política e a indústria cultural – cinema, programas de TV, histórias em quadrinhos? Esta analogia, que pode parecer gratuita à primeira vista, tem sido utilizada sistematicamente como recurso de prognóstico astrológico pela autor desta palestra, gravada em 26 de novembro de 2016 na Escola Espaço do Céu, no Rio de Janeiro, como parte da produção do painel Presságios 2017. A técnica é muito simples, e pode ser assim resumida:
As conjunções entre planetas lentos, que marcam o início de novos ciclos, assim como as mudanças de signo dos planetas geracionais (Urano, Netuno e Plutão), tendem a apresentar reflexos quase imediatos nos valores estéticos e na produção cultural. As mudanças astrológicas são acompanhadas, assim, pela emergência de novos temas e novas tendências, com reflexos no gosto do público, na moda, nos gêneros musicais e na popularidade de personagens do cinema, TV e histórias em quadrinhos.
O melhor exemplo são os ingressos de Netuno e Plutão nos signos, que costumam provocar uma reorientação completa na indústria cultural: durante o período de um a dois em que cada transição de signos acontece, personagens antes imbatíveis despencam no gosto do público, enquanto outros, recém-lançados, tornam-se estrondosos sucessos na noite para o dia. O fenômeno acontece exatamente com os personagens e as situações que guardam relação direta com a atmosfera trazida pelo ingresso ou ciclo planetário recém-iniciado.
A resposta às novas configurações celestes ocorre com muito mais rapidez no plano do imaginário – arte e indústria cultural – do que nos outros níveis da realidade. Na verdade, são quase instantâneas. É por esta razão que as produções culturais antecipam, às vezes com muita antecedência, o que se materializará nos nível social, econômico e político algum tempo mais tarde.
É exatamente o que fizemos com o novo presidente americano: fomos buscar os personagens que faziam sucesso quando da entrada de Plutão em Capricórnio, assim como aqueles que caíram no gosto do público sob configurações astrológicas análogas às que marcaram a fase de lançamento da candidatura e eleição de Donald Trump. O resultado é bastante perturbador.
Trump está em ressonância com heróis e vilões que não primam pela ética, nem pela serenidade. Sua ascensão ao poder é antecipada por produções da indústria cultural que refletem uma sociedade distópica, doente, e em grave crise de valores morais. Isto não significa, necessariamente, que Trump está condenado a ser um mau governante, mas ao menos acende um sinal amarelo: as motivações e expectativas do eleitorado americano são agora bem mais sombrias e do que a utopia social que elegeu Barack Obama.