Em 1945, Niemeyer filia-se ao Partido Comunista Brasileiro, que havia voltado à legalidade com o fim do Estado Novo. Antes disto, já contribuía para a organização “Socorro Vermelho”, que ajudava revolucionários e seus familiares.
Uma vez, passou uma noite inteira transportando camaradas (alguns armados) pela cidade. Comícios, colagem de cartazes e faixas nos muros, reuniões clandestinas e ameaças faziam parte da rotina do militante Niemeyer.
Eu entrei pro Partido em 45. Quando o pessoal saiu da prisão, o Prestes foi lá pro escritório, alguns companheiros… eu ajeitei uns quinze lá no meu escritório. Fiquei ouvindo aquela conversa, aquela luta, aquele entusiasmo, aquela abnegação pela ideia. Emprestei a casa ao Prestes, ele criou lá o Comitê Metropolitano e foi indo.
Vemos, naquele ano, Júpiter e Netuno [regentes do Meio do Céu] em conjunção na cúspide de sua casa V, adentrando-a durante o período. Netuno é um planeta ligado ao movimento comunista e ali, Niemeyer expressava [casa V] suas convicções ideológicas. Outro aspecto envolve Netuno, agora o de nascimento. Saturno e o Nodo Norte passam pelo planeta, compelindo-o a assumir um compromisso frente ao ideário socialista. Urano, na casa I, reflete o caráter vanguardista introjetado, apostando suas fichas quanto ao futuro na moderna arquitetura e na revolução do proletariado.
De todo modo, fica claro também que não podemos dissociar a fidelidade à causa comunista (que permaneceu até os últimos anos) da conjunção entre Netuno e Nodo Norte na casa II. E, por outro lado, que as contradições de sua origem familiar, sua arquitetura e de algumas das características do seu próprio estilo de vida em relação a esta ideologia ficam simbolizadas pela conjunção entre Vênus [regente do mapa], Nodo Sul e Urano na casa VIII.
No ano seguinte, a filiação ao Partidão lhe custa o impedimento de entrar nos Estados Unidos para atender a um convite para dar um curso na importantíssima Universidade de Yale. É interessante observar que Plutão chega à conjunção com Júpiter natal [co-regente do Meio do Céu] na casa III, um trânsito com potencial para criar antagonismos ou mesmo situações que “bloqueiem vias de acesso”, como no caso de vistos de entrada. Saturno segue o mesmo caminho, e temos portanto uma conjunção Saturno-Plutão envolvendo Júpiter na terceira casa. Júpiter, em trânsito por Escorpião, ingressava na casa VI [sistema filosófico-ideológico], formando quadratura com sua posição original, Saturno e Plutão. E, dentro do conjunto de aspectos, está sua Lua natal. Vemos um período tenso, mas isso nunca lhe foi novidade dada a natureza de sua Quadratura T entre Sol, Saturno e Plutão natais.
O arquiteto cassado entra nos EUA pela porta da frente
Ora, logo após, em 1947, o cassado Oscar é convidado pela ONU para participar da comissão de arquitetos encarregada de definir os planos de sua futura sede em… Nova Iorque! O cidadão do mundo (afinal, trata-se da ONU) vencia a barreira ideológica. Mais uma vez Le Corbusier estaria em cena.
“E todo mundo conhece inclusive o caso da ONU, que na verdade quem ganhou o concurso foi ele, não foi Le Corbusier. A sede da ONU em Nova Iorque quem ganhou foi o Oscar [risos]. O prédio, o projeto é do Oscar. Isso não quer dizer nada, isso não diminui o Le Corbusier. Isso mostra é o talento criativo do Oscar, que não foi com o projeto pra lá, que fez no hotel, porque o presidente da Comissão que ia julgar os projetos [Wallace Harrison] falou pra ele: ‘Oscar, você tem que apresentar um projeto. Nós não vamos aceitar que você venha pra cá e não apresente um projeto’. Aí ele foi pro hotel e bolou” (Ferreira Gullar).
Durante sete meses, ainda em 1947, Niemeyer radica-se em Nova Iorque trabalhando nas propostas das empreiteiras como membro do comitê consultivo para a sede.
Naquele ano, Urano chegava à conjunção com Plutão natal, ativando sua Quadratura T. Saturno, na casa III, aplicava trígono ao Sol na casa VII e sextilha a Plutão e Urano na casa I.
Em primeiro lugar Saturno, ao afinar-se à Quadratura T com um sextil e um trígono, simboliza o acesso de Niemeyer aos EUA, em posição privilegiadíssima. A conjunção de Urano a Plutão demonstra um poder fenomenal de concretização de suas ambições profissionais, ao projetar e construir o prédio que é a casa dos povos. Júpiter [dispositor do Sol e co-regente do MC], cruzava sua casa VII, favorecendo a relização de uma obra que é um marco na sua carreira. Afinal, Plutão estava sobre Júpiter natal, que é um dos regentes do MC. Nada podia segurá-lo agora.
“O edifício da ONU, eles escolheram meu projeto. No livro que eu publiquei tem uma fotografia de todos me abraçando (…). Meu projeto foi o escolhido, mas o Corbusier no dia seguinte me procurou e me pediu para mudar o prédio [da extremidade para o centro do terreno]. Acabava com a praça. Mas eu senti que ele gostaria de fazer o projeto. E ele era o mestre. Eu disse: ‘Está bem’. Não me arrependo.
“Então, o projeto dele era o 23, o meu era o 32, e nós apresentamos o projeto 23-32 (…). Houve depois pequenas modificações, mas se você olhar a planta o projeto que eu fiz com a modificação do Corbusier é a solução adotada. Mas eu olho para trás e acho que foi bom, eu era jovem, fui generoso.
“Tempos depois, eu almocei com ele no apartamento dele e ele ficou me olhando e disse: ‘Você é generoso’. Eu pensei: ‘Esse cara está se lembrando daquela manhã em que eu concordei em mudar a posição do bloco’”.
Ao tirarmos a Progressão Lunar de Niemeyer para o seu aniversário em 1947, vemos Vênus [regente do mapa radical] sobre o MC natal, indicando o excelente momento profissional, de muita valorização pessoal, reconhecimento público, satisfação com o próprio trabalho e, como ele diz “generosidade”.
Como as vidas de Oscar Niemeyer e Le Corbusier se cruzam em fases emblemáticas da vida de ambos, convém agora uma rápida Sinastria dos dois arquitetos que são expoentes da Arquitetura do século XX.
Próxima etapa: Niemeyer e Le corbusier: do Copan ao Ibirapuera (1949-1955)
NIEMEYER, A SÉRIE COMPLETA:
1 – Dos cabarés da Lapa à arquitetura moderna (1907-1927)
2 – Niemeyer, o boêmio que virou marido (1928)
3 – Niemeyer e Lúcio Costa: a descoberta do Modernismo (1934-1939)
4 – Pampulha, a revolução da arquitetura brasileira (1940-1943)
5 – Um comunista na terra do Tio Sam (1945-1947)
6 – Niemeyer e Le corbusier: do Copan ao Ibirapuera (1949-1955)
7 – Brasília, a utopia de Juscelino e Oscar Niemeyer (1956-1960)
8 – O regime militar e o exílio (1964-1976)
9 – Oscar Niemeyer, a vida começa aos setenta (1978-1993)
10 – A paixão aos 99 anos (1997-2007)