A porção Peixes de cada um de nós
Em algum lugar do seu mapa, você tem o signo de Peixes. Ele estará no início de uma Casa Astrológica, e nos assuntos governados por ela você manifestará características deste signo. Por exemplo, se você tem Peixes na Casa 4, da família, você será mais emotivo e sensível neste âmbito. Mas se Peixes ocupa a Casa 6 do seu mapa, será no cotidiano e na saúde que você viverá sua porção Peixes, sendo menos lógico e certinho no dia a dia do que alguém que tenha Capricórnio nesta casa.
Parar de pensar a si mesmo como somente seu signo solar é quebrar um velho e inútil preconceito astrológico. Todos nós temos os doze signos dentro de nós. Além disso, talvez você tenha algum planeta ou ponto em Peixes, como Sol, Ascendente, Lua, Vênus, Mercúrio, Marte, Júpiter, Saturno.
Mas se você AINDA acha que está muito distante deste signo, saiba que existe uma Casa Astrológica que remete a ele, a décima-segunda. Planetas nesta Casa ganham matizes piscianos.
Por último, Peixes é regido por Netuno, e se este planeta fizer contatos com planetas do seu mapa, vai deixar marcas piscianas.
A autora deste artigo, por exemplo, não tem planetas em Peixes e tampouco na Casa 12, mas tem Netuno destacado. E o que Netuno confere? Sensibilidade, intuição, empatia, conexão espiritual. Todavia, escapismos e desconexão com a realidade também são possibilidades deste planeta (veja artigo Você é uma pessoa netuniana?).
1962: o ano de A Forma da Água
O filme se passa em 1962. Antes de abrir o software de Astrologia para olhar o céu daquele ano, eu disse para mim mesma: tem de haver algum planeta lento (de Júpiter em diante) transitando em Peixes para que este ano tenha sido escolhido para ambientar um filme tão pisciano. E, bingo, Júpiter estava ali.
Este trânsito é considerado especial para a Astrologia, pois Júpiter aumenta o que toca, e, em Peixes, amplifica a imaginação, a empatia e a fé. Quantidades grandes de fé e criatividade, além de uma conexão mais profunda com o Universo, podem fazer parte deste posicionamento, e são atributos da protagonista. Peixes é um dos domicílios de Júpiter.
Em 1962, Quíron, asteroide que não é consenso na comunidade astrológica, também estava em Peixes. Júpiter e Quíron faziam trígono com Netuno, reverberando, assim, a temática pisciana do ano escolhido para a história.
Diretor libriano com marcas de Netuno e Peixes
O diretor do filme, Guillermo del Toro, nasceu dois anos depois do ano da história do filme, quando Quíron ainda estava em Peixes. Del Toro tem um exuberante e criativo Marte em Leão. Marte é o planeta da ação e em Leão tem um fôlego especial para a diversão, o lazer e a criação.
Só que o Marte leonino do diretor faz quadratura com nada mais, nada menos, que Netuno. Suas criações (algo associado a Marte em Leão) são, assim, netunianas. Ele é especialista em adentrar em mundos fantásticos, com a película em questão ou o também tocante O Labirinto do Fauno.
O Labirinto do Fauno guarda fortes semelhanças temáticas com A Forma da Água. É, contudo, mais violento e opressivo onde o segundo é mais lírico e doce. Todavia, ambos nascem de uma mesma configuração astrológica do mapa do cineasta, como você verá a seguir.
Nascidos nos anos 60: os filhos rebeldes da guerra
Como foi dito, Del Toro tem Quíron em Peixes (ficou neste signo de 7/03/60 a 19/08/60, 21/01/61 a 31/01/68 e 19/10/68 a 30/01/69). E onde você acha que está Quíron no lançamento de A Forma da Água? Acertou se disse em Peixes (fevereiro/11 a março/19).
Este asteroide tem um ciclo de cerca de cinquenta e um anos para retornar a um mesmo signo. Esta coincidência astrológica entre o tempo em que foi ambientado, o mapa do diretor e a época em que foi lançado, para além da beleza de A Forma da Água, ajuda a explicar o impacto do filme: repetições astrológicas tornam obras mais fortes, já que as alinham com o tempo em que são lançadas.
Quíron para a Astrologia está associado à ferida, uma área em que podemos ter sido machucados e isto não ser fácil de curar. Quando está em Peixes, pessoas sensíveis, generosas e delicadas, como Elisa e a criatura fantástica pela qual ela se apaixona, tendem a ser feridas.
Contudo, há uma particularidade nos anos 60: o intenso Plutão e o tecnológico Urano estavam opostos ao asteroide. Houve muitos conflitos violentos naquela década, tendo sido a Guerra do Vietnã o maior da segunda metade do século XX, atravessando a década de 60 e só terminando em 1975.
No seu pior, Plutão rege o abuso do poder, e Urano, a frieza extrema. Juntos, podem indicar comportamentos tirânicos, psicopatas, abusos da ciência e da tecnologia. E tudo isto, na oposição com Quíron, pode ferir toda uma geração.
Os nascidos nos anos 60 muitas vezes enfrentam conflitos com pessoas de perfil negativo de Plutão/Urano, que usam o poder contra elas ou de alguma forma as exploram.
O excelente filme que também concorre ao Oscar em 2018, The Post: a guerra secreta, trata de um episódio da história americana que sugere que o governo dos EUA já sabia que a guerra do Vietnã era inútil e improdutiva, mas que, por uma série de motivos, não interessava interrompê-la. Isto resultou nas mortes desnecessárias de centenas de pessoas, na destruição de muitas famílias e nos muitos traumas posteriores de guerra. Isto é ou não um comportamento psicopata? Nossa sociedade, infelizmente, tem fortes traços assim, quando, em nome do lucro, abusa de anabolizantes, substâncias químicas destrutivas e assim por diante. A corrupção endêmica no Brasil, que suga impiedosamente recursos da saúde, segurança e educação, é um exemplo deste sério desvio.
Quíron: a ferida que não cura e que marca o mapa do cineasta
Guillermo nasceu, portanto, no seu mapa astrológico, com a dor (Quíron) dos comportamentos abusivos (Plutão e Urano negativos) ferindo a inocência (Peixes), e é esta dor que retrata em O Labirinto do Fauno e também em A Forma da Água. A espinha dorsal dos dois filmes é em torno deste único aspecto do mapa do cineasta, que representa a polaridade entre beleza, inocência e amor versus tirania e destruição.
Leia também:
- A Forma da Água, a porção Peixes que nos habita, de Vanessa Tuleski
- Oscar 2018: Escorpião, Capricórnio ou Peixes?, de Fernando Fernandse