Como interpretar a dinâmica da tríplice conjunção de Júpiter, Saturno e Plutão que se estenderá por todo o ano de 2020 e início de 2021? Um bom ponto de partida é considerar o significado destes planetas, dois a dois. É o que faremos a seguir.
Júpiter-Plutão – Este ciclo de aproximadamente treze anos carrega um forte componente de ousadia. As conjunções costumam indicar poderosos grupos de interesse, movimentos políticos ou potências emergentes que entram em cena e buscam o protagonismo, por vezes através de golpes, ações militares ou terrorismo. Como Plutão é um significador do poder financeiro (plutocracia) e da ação de bastidores, sua união com Júpiter destaca a atuação de grupos ou instituições com muitos recursos e agindo na surdina.
Júpiter-Saturno – Com uma nova conjunção a cada duas décadas, este ciclo tem forte relação com o desenvolvimento e a ampliação de estruturas de poder. Nas conjunções são comuns os acordos internacionais, a assinatura de pactos e a ampliação de estruturas estatais (às vezes transnacionais). Muitos momentos importantes da progressiva organização da Comunidade Europeia estão associados a aspectos deste ciclo. A cada intervalo de 200 a 240 anos, aproximadamente, as conjunções Júpiter-Saturno passam a ocorrer em um novo elemento, dando lugar, por analogia, a uma mudança na tônica civilizatória.
Apenas exemplificando: entre 1603 e 1792 as conjunções ocorreram em signos de Fogo, indicando uma era de expansão, aventuras, valorização da liberdade de pensamento e individualismo. Já de 1801 a 2000 as conjunções ocorrem em signos de Terra, em correspondência com a expansão da produção industrial e com uma era de crescente desenvolvimento material e de aperfeiçoamentos na infra-estrutura da produção e na tecnologia. A fase que se inicia em 2020 simboliza uma era de desenvolvimento intelectual, com impacto na educação, na comunicação e na produção de conhecimento.
A última vez em que tivemos conjunções Júpiter-Saturno em Ar foi de 1226 a 1405, uma fase em que a sociedade medieval torna-se progressivamente mais dinâmica, com o renascimento do comércio internacional e da vida urbana, assim como das trocas culturais e do desenvolvimento da arte (estilo gótico e pré-renascimento).
Saturno-Plutão – Este ciclo de aproximadamente 33 anos tem relação direta com a exacerbação dos sentimentos nacionalistas, do racismo, da intolerância política e religiosa, do conservadorismo, da intransigência nas relações internacionais e da xenofobia. Conflitos já existentes se radicalizam, novos conflitos ganham espaço e os diferentes tendem a ser demonizados ou por vezes exterminados. Nos últimos cento e poucos anos, vimos a marca deste ciclo na eclosão da Primeira Guerra Mundial, no assassinato de Gandhi e nos sérios conflitos religiosos que se seguiram à independência de Índia e Paquistão, nos insolúveis impasses da Palestina e das Coreias, na Guerra das Malvinas e no atentado ao World Trade Center.
O eco guerreiro das tríplices conjunções do passado
Já para a análise da dinâmica da tríplice conjunção, há que considerar que existem duas abordagens possíveis para a compreensão de um ciclo astrológico em Astrologia Mundial: uma delas é a análise dos significados habitualmente atribuídos aos planetas e signos envolvidos e sua aplicação a cenários reais. A outra abordagem é a análise detalhada dos processos históricos relacionados aos ciclos do passado, com vistas a identificar correspondências e traços comuns que permitam inferir um modelo de atuação que possa ser transposto para o presente. Na prática, a maioria dos astrólogos utiliza uma mescla dos dois métodos, num constante diálogo entre teoria astrológica e análise historiográfica.
No artigo Tríplice conjunção de 2020: ecos de uma guerra sem fim analisamos as cinco únicas tríplices conjunções ocorridas durante a era cristã e, ao considerar o que têm em comum, os resultados são impressionantes.
Todas colocam em evidência confrontos políticos, militares e civilizatórios sempre opondo uma grande potência ocidental e a maior potência do Oriente Médio daquele momento. Basta recordar:
- 113 – Império Romano x Armênia e Império Parta (Irã)
- 411-412 – Bárbaros visigodos x Império Romano
- 709-710 – Califado Omíada (exército islâmico) x Reino Visigótico da Espanha
- 848-849 – Interesses muçulmanos x interesses cristãos na região do Mediterrâneo
- 1146-1147 – Segunda Cruzada (França e Alemanha) x Turcos muçulmanos
Em duas destas ocasiões são agressores europeus que tentam o domínio de territórios orientais; nas três restantes, são exércitos originários do oriente que agridem a Europa.
Os acontecimentos de maior impacto ocorrem numa faixa de tempo de até um ou dois anos antes ou depois do momento de maior força do aspecto.
Os conflitos sempre se dão na orla do Mediterrâneo ou os exércitos envolvidos utilizam o Mediterrâneo como passagem.
Os acontecimentos ocorridos nos períodos de tríplice conjunção produzem desdobramentos de longo alcance e longa duração. Por exemplo: a ocupação muçulmana na Espanha (711) durou oito séculos; a conquista da Sicília (847) desdobra-se em pelo menos 400 anos de regime feudal; a derrota dos cristãos na Terceira Cruzada (1147) resulta em mais de 800 anos de prevalência da religião muçulmana na Síria, e assim por diante.
Analogias possíveis com o momento atual
Numa analogia literal entre passado e presente, podemos pensar que a tríplice conjunção de 2020 trará em sua esteira mais um conflito de grandes proporções na região do Mediterrâneo e do Oriente Médio entre a Europa cristã (os países da Comunidade Europeia, em especial) e alguma das principais potências islâmicas (Irã, Turquia, Egito etc.). Contudo, numa analogia mais ampla, podemos pensar nos países líderes do mundo ocidental em geral, o que destaca de imediato o papel dos Estados Unidos (lembrando que as Américas sequer haviam sido descobertas quando das tríplices conjunções anteriores). Os Estados Unidos representam hoje o que foi o Império Romano do século II, ou a influência da Igreja Católica na época das Cruzadas. Estados Unidos e seus aliados europeus formam a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que inclui, por coincidência, todos os atores em movimento nas tríplices conjunções anteriores, como França, Alemanha, Espanha e Itália.
Do outro lado, temos no presente momento um bom sortimento de potências asiáticas: a China, por seu poderio econômico e militar, já envolvida numa forte disputa comercial com os Estados Unidos; o Paquistão, país muçulmano com tradicional rivalidade com a vizinha Índia – dois países superpovoados, com enormes exércitos e ambos equipados com armas nucleares; e ainda Turquia, Irã e Arábia, nações muçulmanas com forte protagonismo regional e, no momento, todas governadas por regimes autoritários.
Como a conjunção Saturno-Plutão acirra questões étnicas, a xenofobia e a intransigência em todos os níveis, as rivalidades que emergem com maior potencial explosivo são aquelas entre Estados Unidos e Irã e Índia-Paquistão. A Rússia não parece ser um país especialmente sintonizado com a tríplice conjunção, devendo desempenhar em eventuais conflitos um papel coadjuvante.
Por outro lado, a vertente jupiteriana da tríplice conjunção sinaliza não apenas a possibilidade de um grande conflito armado, mas também uma pesada disputa por tecnologia e mercados, o que põe um foco imediato no conflito de interesses entre Estados Unidos e China, maiores potências econômicas da atualidade. As configurações do ano trabalham contra o livre comércio e tornam mais restritivas as trocas de qualquer espécie entre potências rivais, seja no nível econômico, seja no cultural ou até mesmo no prosaico fluxo turístico.
Leia também: Tríplice conjunção de 2020: os ecos de uma guerra sem fim
Lourdino Maques diz
Grato pela partilha. Embora não seja astrólogo profissional , a Astrologia Mundana, é algo que me fascina!
Hoje dei um salto qualitativo em termos de conhecimento astrológico!
Continuarei e seguir as suas publicações com muito interesse!
~
Fernando Fernandse,um abraço daqui de Portugal,
Joao diz
Essa guerra se realmente for acontecer pode ter início em agosto, quando Marte fazer quadratura a essa tríplice conjunçao , e em junho vai ter um eclipse solar que irá fazer aspecto tenso com Marte , que pode intensificar mais a tensão entre os países.
Fernando Mendes diz
ESTUPENDA INTERPRETAÇÃO. SUCESSO.
Teresa Chaves Terra diz
Caro Colega sigo teus artigos desde a época que vc criou Constelar e só posso dizer muito grata por mais um excelente trabalho Fernando!
Podemos divulgar né?
Lourdinha Biagioni diz
Um artigo admirável! Parabéns, Fernando Fernandse.
Walter Anliker diz
excelnte trabalho colega
Redação Constelar diz
Gracias, Walter.