As posições planetárias das posses dos prefeitos em 1º de janeiro de 2021 são praticamente as mesmas, com exceção dos poucos graus que a Lua avançou ao longo do dia. Contudo, devido aos variados horários de posse país afora, a estrutura de casas variou de cidade para cidade, proporcionando uma grande variedade de possibilidades de interpretação. Neste artigo, vamos entender os mapas de posse em algumas das maiores metrópoles do país.
- Para entender a técnica, leia Como analisar mapas de posse
- Para uma análise ampla das configurações de 1ºde janeiro, leia Os prefeitos da pandemia e do dinheiro curto
- Aqui: as posses de Bruno Covas e Eduardo Paes
- Artigos mais antigos: as posses de Marcelo Crivella e João Doria, em 2017, e de Jair Bolsonaro, em 2019
Cabe lembrar mais uma vez uma observação já inserida nos artigos anteriores: mapas de posse não falam dos prefeitos, mas sim do mandato, ou seja, da atmosfera geral, ou das condições objetivas que caracterização a nova administração. O mapa da posse mostra o tamanho e a natureza do desafio, mas não permite julgamentos sobre as qualidades ou intenções dos ocupantes do cargo. Mesmo que o prefeito venha a ser substituído ao longo dos quatro anos, o mapa do mandato permanece o mesmo, pois não é uma carta vinculada à pessoa física.
Em Niterói, um desafio semelhante ao do Rio de Janeiro
Niterói é a cidade com maior IDH do estado do Rio de Janeiro, sétimo mais elevado do Brasil. Mesmo assim, o novo prefeito Axel Grael – irmão dos velejadores e medalhistas olímpicos, Torben e Lars Grael – não terá vida fácil. É um mapa muito semelhante ao da posse de Eduardo Paes no Rio de Janeiro, mas com muito mais tensão. Enquanto Marte e Éris enquadram o Ascendente, Plutão e Saturno fazem o mesmo com o Meio do Céu. A única chance de Grael é governar com seriedade absoluta e foco total em seu programa de governo.
De positivo, o prefeito poderá contar com a condescendência do Judiciário, mas não com a fidelidade da Câmara Municipal. A quadratura de Urano na casa 1 à Lua na casa 4 (o povo comum e as forças oposicionistas) indica que em muitos momentos o prefeito estará envolvido num cabo de guerra com seus adversários. Serão muitas as questões emergenciais que desafiarão o novo governante municipal, que terá de ser rápido e enérgico sem perder a serenidade. Enfim, um desafio e tanto!
Quatro prefeitos brigando com o orçamento
Em Belo Horizonte, Manaus, Porto Alegre e Curitiba, o grande desafio do mandato parece ser o mesmo: de onde tirar recursos para dar conta da máquina pública e dos projetos de governo. Em todas estas cidades o foco estará no orçamento, o que pode resultar, conforme o caso, em tentativas impopulares de aumento da carga tributária (que sempre encontrarão grande resistência) ou em paralisia governamental pela impossibilidade de cobrir despesas correntes ou obter insumos necessários para o funcionamento de serviços essenciais.
Nestas quatro capitais, os novos prefeitos assumiram com Netuno na casa 10, de forma semelhante à posse de Bruno Covas em São Paulo. Insegurança e saúde pública serão desafios sérios, especialmente em Belo Horizonte e Manaus.
Questões de casa 12 podem ser um permanente problema para a administração de Belo Horizonte neste mandato. Isto inclui comércio ilegal (camelôs, contrabando etc.) e insegurança nas vias públicas, tendo em vista a quadratura de Urano na 12 com a Lua na casa 3. As tentativas de solução podem esbarrar em impasses com o Judiciário ou gerar ações repressivas que não serão bem recebidas (tensões casa 12-casa 9). As questões orçamentárias estarão muito visíveis, mas podem ser atenuadas pela presença de Vênus, regente do Ascendente, na cúspide da casa 8.
Tal como em Belo Horizonte, falta de segurança pública será um problema nesta gestão. Contudo, o regente do Ascendente já não é Vênus, como na capital mineira, e sim Mercúrio conjunto a Netuno na complicada casa 8. Plutão é o regente moderno de Escorpião, na cúspide da casa 6, a das crises agudas envolvendo funcionalismo, saúde pública e trabalhadores em geral. Não é um mapa fácil, até porque o regente do Meio do Céu também está mal posicionado na casa 12, indicando um prefeito sempre às voltas com situações limitadoras indicadas por esta casa: presídios, hospitais, facções criminosas e grupos periféricos estarão em pauta por todo o mandato.
De todas as gestões que se iniciam sob a égide de Netuno na 10, a que parece mais propensa a apelar para um tarifaço é a prefeitura de Porto Alegre – por outro lado, com a possibilidade também de lançar mão de soluções criativas para geração de receitas. Nada menos que cinco planetas, além da Parte da Fortuna, estão na casa 8, dos tributos e taxações. Netuno colado ao Meio do Céu indica que o melhor e o pior desta gestão podem estar associados às características deste planeta: no melhor, a preocupação social e a atenção aos hospitais municipais ou a segmentos mais carentes da população. No pior, a falta de transparência na gestão e a dificuldade de estabelecer diretrizes governamentais claras. Fake news e escândalos também rondam a nova gestão.
Se bem que o mapa da posse não possa ser visto como o mapa do governante, é difícil não pensar que esta carta lembra muito a figura do veterano Rafael Greca: Peixes e Gêmeos nos ângulos falam de jogo de cintura, lábia e capacidade de sedução pela palavra, recursos que Greca sempre utilizou muito bem. Os planetas mais angulares são Vênus e Netuno, indicando uma gestão onde a diplomacia deve sobrepor-se ao enfrentamento. Das grandes cidades, Curitiba é a única com mapa de posse onde o Nodo Norte aparece conjunto ao Ascendente, um ótimo indicador. Mesmo assim, haverá pesados embates no Legislativo municipal em torno de questões tributárias e orçamentárias. Neste aspecto, o Executivo não terá vida fácil.
Ascendente e Meio do Céu no último grau de signos mutáveis não é um indicador de estabilidade para a gestão de Edmilson Rodrigues em Belém do Pará. Pode indicar que o quadro político e econômico do início do mandato sofra alterações rápidas, obrigando a uma mudança igualmente rápida nos planos de governo.
O mapa da posse do novo prefeito de Belém enfatiza a casa 7, dos acordos e compromissos. Contudo, ao contrário do mapa de posse de João Campos em Recife, analisado a seguir, aqui não há tanta possibilidade de controle sobre o orçamento. A Parte da Fortuna na cúspide da casa 8, em conjunção com Saturno, promete dificuldades de arrecadação e dinheiro curto. O asteroide Quíron como fator mais angular da carta pode indicar uma gestão um tanto sacrificial, ou que esteja voltada na maior parte do tempo para minorar crises. Saúde pública é uma das áreas em que esta gestão tem melhores possibilidades de êxito, caso dê a ela real prioridade.
Recife: entre o voo solo e a busca do consenso
Dentre as grandes cidades, este é o mapa de posse com maior peso na casa 7, a dos relacionamentos. Num mapa de posse, a casa 7 pode falar da necessidade do estabelecimento de parcerias para governar. Pode indicar a grande importância seja de aliados seja de adversários. Pode indicar alianças ou conflitos. Com quatro planetas na casa 7 e com o Sol em conjunção com o Descendente, a última coisa que o prefeito de Recife pode pretender é governar sozinho. A capacidade de interlocução – e eventualmente de alianças com aqueles que pensam diferente – será fundamental.
Recife é também a única capital onde o mapa da posse apresenta Éris – o planeta anão descoberto em 2005 – em conjunção com o Meio do Céu. Em nossas observações, temos visto Éris como um significador de desafios inéditos, que precisam ser resolvidos de uma forma também inovadora. Uma palavra-chave para Éris é inclusão. Para um administrador público, isto significa que o tradicional modelo de “nós e eles” não será suficiente para dar conta dos grandes desafios de gestão. Aqui, apesar de todas as tensões entre a casa 10 e a casa 7, o prefeito terá de colocar a cidade acima de seu projeto pessoal (o que deveria ser verdade sempre, mas que, com Éris, coloca-se de uma maneira ainda mais compulsória).
A Lua, regendo o Ascendente e bem aspectada na cúspide da casa 2, fala de uma gestão que terá condições acima da média para equilibrar o orçamento e encontrar recursos para tocar seu plano de governo. Fala também da possibilidade de construir uma boa imagem junto à opinião pública e ao funcionalismo municipal. Mercúrio regendo a casa 3 e em situação angular abre boas oportunidades no campo da educação fundamental.
Enfim: trata-se de uma das cartas de posse mais interessantes da safra 2021. Se tentar brilhar sozinho, o novo prefeito só terá a perder. Mas, se admitir a necessidade de coalizão e consenso, terá de ser excepcionalmente desastrado para não aproveitar este “bônus astrológico”.
A posse numa cidade minúscula: Manhumirim, Minas Gerais
Incluímos neste estudo uma posse tardia, já na noite de 1º de janeiro, que serve de exemplo para outras cidades onde o prefeito foi empossado nas últimas horas do dia. Trata-se de Manhumirim, pequena cidade cafeicultora na região da Serra do Caparaó, fronteira de Minas com o Espírito Santo. Manhumirim e sua vizinha maior, Manhuaçu, não são cidades obscuras na política brasileira: nelas tiveram origem, nos últimos quarenta anos, diversas figuras públicas de grande destaque nacional, como o ex-ministro da Justiça Ibrahim Abi-Ackel e o ex-presidente do STF Maurício Corrêa.
Nesta cidadezinha que respira política, A Lua em Leão na casa 1 em trígono com Vênus na casa 5 dá uma chave imediata para entender o que este prefeito precisará fazer para conduzir o mandato com êxito: restaurar ou estimular a autoestima da população, desenvolvendo mecanismos que possam trazer algum protagonismo aos “invisíveis”. A Lua rege a casa 12, indicando a parcela mais carente da população, e Vênus rege o Meio do Céu – a própria administração municipal. Este pacto tanto pode se dar de forma sustentável (desenvolvimento social) quanto pelo velho caminho do clientelismo. Idealmente, deve contemplar alguma solução na área da economia criativa (Sol e outros quatro planetas na casa 6), baseada em requalificação de mão de obra (Mercúrio-Plutão na 6) e muita criatividade.
A saída para Manhumirim (e para todas as pequenas cidades cujas posses aconteceram por volta das oito da noite) é descobrir um novo ovo de colombo, como já fizeram Monte Sião (MG), com o tricô, Venda Nova do Imigrante (ES), com o ecoturismo, ou Penedo (RJ) com o turismo étnico. Sobra orçamentária, não haverá. Resta então arregaçar as mangas e fazer as coisas acontecerem. O único milagre possível é o do trabalho constante e bem direcionado (casa 6). Esta é a receita para centenas de pequenas cidades brasileiras.
Eliane Caldas diz
Muito boa sua análise, Fernando. Já acompanho esse seu trabalho nas eleições e posses anteriores. Achei pertinente a tônica que você deu sobre o prefeito daqui do Recife João Campos. Mesmo com um belo discurso, apesar de tão jovem, durante toda a campanha ele disse que mais do que falar bem, o político precisa ouvir. Interessante que na sua avaliação do momento da posse apareça a questão do consenso em destaque por conta da casa sete cheia. Estamos aqui na torcida pela boa gestão do novo prefeito que aprendeu com o pai a questão do consenso. Eduardo tinha o Ascendente Libra.