Um professor da UFRJ, especialista em prevenção de catástrofes, levantou em entrevista na TV, dias após o atentado ao World Trade Center, algumas hipóteses assustadoras, caso fosse intenção dos terroristas infligir aos Estados Unidos uma perda realmente inimaginável em termos de vidas humanas e prejuízos materiais.
Lembrou o especialista que, no caminho entre os aeroportos de onde partiram os aviões sequestrados e seus respectivos alvos, há pelo menos duas usinas nucleares que poderiam ter sido atingidas, provocando um acidente de proporções muito mais vastas do que o de Chernobyl, em 1985. Por causa da contaminação, cidades inteiras teriam de ser evacuadas, e o número de mortos seria muitas vezes superior ao das vítimas do World Trade Center.
Como os aviões tinham combustível suficiente, poderiam ser também desviados para alvos como as bases de mísseis na região das Montanhas Rochosas, ou – horror dos horrores – poderiam atingir e romper uma das represas que regulam o abastecimento de água e a irrigação das plantações da Califórnia. Neste caso, a súbita liberação de uma imensa tromba d’água arrastaria tudo que encontrasse pela frente, com uma estimativa de mais de cem mil mortes em menos de uma hora!
Por que exatamente Nova Iorque?
Por que os terroristas escolheram Nova Iorque? E por que exatamente o World Trade Center? Evidentemente o objetivo principal não era a destruição em massa de vidas humanas, nem a desorganização total da economia americana. Mercúrio no Ascendente da tragédia já deixa bem claro que o atentado foi um ato de comunicação, comportando uma mensagem que precisa ser decifrada.
Os efeitos da destruição das torres, se bem que terríveis do ponto de vista objetivo, foram ainda mais dramáticos no âmbito simbólico. Bombardeios muito mais destrutivos em países remotos, que deixaram milhares de mortos anônimos, não provocaram tanta comoção quanto a imagem, divulgada ao vivo pela TV, das torres a desabar numa nuvem de pó.
Para traduzir o significado simbólico dos ataques, temos de entender antes o significado simbólico de Nova Iorque para o mundo. Só assim será possível compreender o que exatamente aquele ato de terror tencionava destruir. Mas, para isso, é preciso recuar um pouco no tempo. Para sermos exatos, é preciso recordamos o início da era de Peixes.
O conceito de era astrológica
O conceito de eras astrológicas tem por base o fenômeno de precessão dos equinócios, ou seja, a não correspondência entre os zodíacos sideral e tropical. Ao longo de um ciclo de quase 26 mil anos, a Terra cumpre um movimento completo de “bamboleio” de seu eixo imaginário, o que faz com que o polo norte aponte ora para uma constelação, ora para outra. A estrela polar de hoje não é a mesma estrela polar de dois mil ou quatro mil anos atrás. Da mesma forma, também há uma lenta mudança, no sentido inverso ao dos signos do zodíaco, do ponto vernal, ou seja, o ponto de interseção entre a eclíptica (órbita aparente do Sol em torno da Terra) e o equador celeste (que é uma projeção do equador terrestre).
O grau zero de Áries, no zodíaco tropical – aquele que utilizamos na Astrologia ocidental – não corresponde ao início da constelação de Áries, mas sim ao ponto da eclíptica onde o Sol se encontra quando cruza o equador celeste no equinócio de primavera do hemisfério norte. Em outras palavras: o que define os signos tropicais não são as constelações celestes, mas sim as estações do ano.
Atualmente, o ponto vernal – zero de Áries – encontra-se nos primeiros graus da constelação de Peixes e dentro de aproximadamente mais um século estará em Aquário. Como o ponto vernal demora pouco mais de dois milênios para deslocar-se de um signo sideral a outro, diz-se que cada um desses períodos corresponde a uma era astrológica, sendo que as mudanças de era definem também grandes viradas no processo civilizatório.
De Roma aos Estados Unidos na Era de Peixes
Existem infindáveis controvérsias sobre o momento exato em que se inicia a era de Peixes. Mas é fora de dúvida que os dois fenômenos sociais mais significativos do alvorecer da era atual foram o advento do Cristianismo e o deslocamento do eixo de poder no Velho Mundo, que se transfere do Oriente Médio para a Europa. Pela primeira vez uma potência européia – o Império Romano – dominará vastas áreas do mundo conhecido e submeterá regiões inteiras da Ásia e da África.
Nos vinte séculos que se seguiram, verificou-se uma hegemonia cada vez maior, que se afirma especialmente a partir da época das Grandes Navegações, de valores europeus sobre o restante do globo. Quando falamos em Europa, referimo-nos à civilização ocidental, fundamentada no Direito Romano e na religião cristã. Neste sentido, os Estados Unidos são hoje o legítimo herdeiro da Roma dos césares.
Cidades geminianas como centro do mundo civilizado
Se considerarmos que, simbolicamente, o signo que dá o tom de cada era astrológica corresponde a uma espécie de Ascendente planetário, podemos imaginar o mapa da civilização ocidental com Peixes no Ascendente e, consequentemente, com os demais signos mutáveis ocupando os outros ângulos da carta. Assim, Virgem, o signo da discriminação e da seletividade, estaria no Descendente, mostrando o teor das relações do Ocidente com as demais civilizações ao longo da presente era: os ocidentais cristãos (Peixes) são os civilizados, enquanto o resto do mundo, visto sob a ótica criticista de Virgem, não passa de um aglomerado de povos bárbaros e exóticos.
Foi com essa atitude que os navegadores portugueses e espanhóis tomaram contato com os nativos da América e com as velhas civilizações da Índia, China e Japão. É com esta atitude que o povo americano ainda lida com seus adversários de outras etnias e religiões.
Se Peixes está no Ascendente, Sagitário ocupa o Meio-Céu da era de Peixes. É a era da afirmação do estado de direito, em que as relações sociais são reguladas com base em princípios abstratos consubstanciados em códigos escritos. De Sagitário vêm o Direito Romano, a Carta Magna inglesa e as constituições modernas.
Nos Estados Unidos, país de Ascendente sagitariano, o primado da lei elevou-se à categoria de valor cultural máximo, a ponto de tribunais e julgamentos serem um dos assuntos preferidos dos filmes de Hollywood e dos seriados da TV. Não foi por acaso que o primeiro nome que se cogitou para a operação de vingança contra Osama bin Laden foi Justiça Infinita – uma típica expressão de Sagitário e de seu regente, Júpiter.
Se Sagitário está no Meio-Céu, Gêmeos ocupa o Fundo do Céu da era de Peixes. E o que significa o Fundo do Céu? Antes de tudo, é a base, o alicerce, a origem, o fundamento, aquilo que gera uma sensação de segurança e de familiaridade. O centro simbólico da civilização na era de Peixes tem, portanto, uma conotação geminiana.
As capitais geminianas do Ocidente
O mundo ocidental e cristão jamais esteve unificado sob um único poder e uma única capital, mas é inegável que algumas cidades desempenharam, ao longo da era, um papel informal de núcleo do mundo civilizado, ponto de referência que constituía uma espécie de alicerce da civilização. Num primeiro momento, esta capital informal foi Roma, depois Bizâncio (Constantinopla), depois oscilou entre cidades como Madri, Paris e Londres até fixar-se, já no século XX, em Nova Iorque, o exemplo mais acabado de centro cosmopolita desde a época do Império Romano.
Um dado curioso é que as cidades que melhor desempenharam este papel de capital informal do Ocidente são aquelas que exprimem um simbolismo claramente geminiano, assumindo uma identificação arquetípica com o Fundo do Céu da era de Peixes. Consideremos: Roma, de acordo com a lenda, foi fundada por Rômulo, que, quando bebê, perdeu os pais e foi alimentado, junto com seu irmão gêmeo, por uma loba. “Todos os caminhos levam a Roma”, diz o ditado, e caminhos também são regidos por Gêmeos.
A cidade, na fase que antecedeu o império, era sede de uma república governada por dois cônsules. Mais tarde, a partir do século IV, passou a ser a capital da porção ocidental de um império dividido em dois (a porção oriental tinha sede em Constantinopla). Naturalmente, a função de grande centro comercial e a multiplicidade étnica e linguística da população que para lá acorria são outros fatores que permitem definir Roma como uma cidade bem de acordo com o arquétipo geminiano.
A queda da geminiana Roma
A partir do século IV da era cristã, com o império enfraquecido pela anarquia interna e pela desorganização da economia em função das frequentes invasões bárbaras nas províncias, Roma não era mais do que uma sombra do antigo poderio. Mesmo assim, era para lá que hordas e hordas de bárbaros voltavam suas tropas. A motivação não era exatamente geopolítica, nem econômica. Roma já não tinha sequer grande importância estratégica como objetivo militar. Contudo, conquistar Roma significava destruir o alicerce da velha ordem, ou, simbolicamente, mudar o curso da história.
Assim, quando os ostrogodos finalmente tomam a cidade, em 476, o que se derrubava não era mais o império (que continuou a sobreviver em Constantinopla), mas sim a mística da cidade poderosa, que deixava de ser o centro de referência (casa 4, a do Fundo do Céu) do mundo civilizado. O impacto militar não foi de maiores consequências, mas o impacto simbólico foi tremendo, a ponto de, durante muitos séculos, a queda de Roma ser considerada como o marco final da Idade Antiga.
Bizâncio, outro símbolo geminiano derrubado
Papel semelhante desempenhará Bizâncio (o nome grego para Constantinopla) durante a Idade Média. Durante alguns séculos, Bizâncio, com mais de um milhão de habitantes, é a maior cidade do mundo conhecido, entroncamento entre a Europa e a Ásia (o papel de mediador entre duas culturas: Gêmeos), ponto de passagem de todas as rotas comerciais (Gêmeos de novo), centro de produção e disseminação de conhecimento (idem) e cidade de múltiplas etnias, onde era possível encontrar bairros inteiros onde se falavam os dialetos sírio, armênio, vêneto, búlgaro… nem é preciso dizer que esta Torre de Babel é puro Gêmeos.
Depois de ter seu território sucessivamente reduzido e arrasado por invasões árabes, turcas, mongóis e dos próprios cruzados europeus, o império bizantino do século XV não era mais que uma pálida lembrança do antigo poderio. Os turcos otomanos já dominavam todas as rotas comerciais alternativas e eram, de fato, os sucessores dos bizantinos na região. Mas a velha Constantinopla continuava de pé, e o sultão turco concentrou todos os esforços em sua conquista, que afinal se deu em 29 de maio de 1453.
A queda de Bizâncio provocou um choque tão grande no mundo cristão quanto a queda de Roma, e novamente foi utilizada como marco final de uma época, a Idade Média. Até pouco tempo atrás, todos os garotos de colégio aprendiam que a Idade Média terminava com a tomada de Constantinopla pelos turcos… Novamente, pois, a prevalência do sentido simbólico, a destruição do alicerce geminiano do mundo civilizado.
As quedas de Roma, Bizâncio… e Nova Iorque?
A hipótese que defendemos é, portanto, que a derrubada dos pilares do poder do Ocidente pelos invasores asiáticos “bárbaros” consubstancia-se na desaparição de símbolos urbanos geminianos. Aqui voltamos a Nova Iorque e entendemos por que, ao escolher um alvo, os terroristas optaram exatamente pelo máximo ícone geminiano da cidade, as duas torres idênticas do World Trade Center.
O nome do conjunto arquitetônico não podia, aliás, ser mais significativo: Centro (casa 4) Mundial (da civilização ocidental, da era de Peixes) de Comércio (Gêmeos!). Por isso, o impacto tremendo sobre o imaginário coletivo, pois os atentados em Nova Iorque evocam a memória arcaica de outros momentos em que a civilização ocidental chegou à beira do desmoronamento, com as quedas de Roma e de Bizâncio.
A mensagem dos terroristas é exatamente esta: a civilização ocidental chegou ao fim – ao fim de um ciclo, pelo menos. Não dizem nada de novo as montagens fotográficas que circularam pela Internet em 2001 mostrando George Bush de longas barbas, vestido como um mulá muçulmano, ou que retratam Nova Iorque cheia de minaretes árabes e a estátua da Liberdade, coberta por um véu, portando o Corão.
Os ostrogodos também encheram Roma de símbolos bárbaros, enquanto os turcos apressaram-se, na Constantinopla recém-tomada, a destruir as imagens de santos da catedral de Santa Sofia e a substituí-los por arabescos com versículos do Corão. As grandes transições da História precisam ser demarcadas por atos simbólicos, e estes, com uma surpreendente constância, sempre traduzem arquétipos astrológicos.
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Marisa Sanabria diz
Muito boa essa reflexão.