No escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão
Entre os anos 1934-36 temos outra fase importante da vida de Oscar Niemeyer, que poderíamos chamar de sua “fase estagiária” na Arquitetura. Entre 1929 (entrada na universidade) e 1934 (formatura) não há nada de mais significativo mencionado em sua biografia, talvez porque sua transformação pessoal continuasse “em processo”. Nesta época, Saturno, domiciliado, passava por sua casa VIII indicando as lições da vida compartilhada e de sua própria metamorfose pessoal [lembre que Niemeyer tem Sol em oposição a Plutão], prosseguindo com suas importantes experiências acerca dos temas das casas II-VIII. Júpiter estava na casa XII, simbolizando a introjeção de um novo “estado de espírito” e certo entusiasmo, que redundaram no engrandecimento de sua própria experiência como indivíduo.
Ainda no segundo semestre de 1929, Júpiter chega enfim ao Ascendente e, provavelmente, seu progresso acadêmico começava a aparecer de forma mais evidente. Contudo, o homem não virou santo: quando estava na Escola de Belas-Artes, acordava toda manhã com o telefonema de um garçom do restaurante Lamas, onde adorava jogar palitinho. Matava aula para jogar futebol. Apesar disso, Saturno ingressa na casa IX do mapa natal em meados de 1932 e permanece neste setor até a sua formatura, período dedicado à formação acadêmica.
Em 1934 Niemeyer sai da Universidade do Brasil como Engenheiro Arquiteto e entra para o escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão. Apesar de ter escolhido trabalhar de graça no novo emprego, foi a decisão acertada porque ele teve a oportunidade de adquirir enorme experiência, conhecer pessoas de inestimável valor para a sua formação e engajar-se em projetos importantíssimos.
No início de 1934, Saturno e o Nodo Norte estavam em conjunção, marcando o final de sua formação superior, numa profissão em que viria a ser realmente um dos maiores expoentes de todos os tempos. Urano, em trígono com o Sol natal durante todo o ano, indicava que finalmente ele conseguira a revolução que havia proposto à sua própria vida.
Durante 1934, Júpiter migrara da casa V [desenvolvimento de uma vocação e formação pessoal] para a casa VI, revelando a ótima oportunidade de trabalho que passaria a ter no escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão, no ano seguinte. Ainda no final de 1934, Saturno na casa IX aplicava sextil ao Sol natal e a Urano em trânsito [este em trígono com o Sol de Niemeyer]. Júpiter estava em trígono com Netuno e o Nodo Norte natais [condições favoráveis para a vida profissional] e em sextilha com Netuno em Virgem [ambos regentes do Meio do Céu]. Oscar, então, já era um arquiteto com ótimas oportunidades diante de si e todo um futuro pela frente, pronto para trabalhar no melhor escritório carioca que existia, tendo em vista seu apreço pela Arquitetura moderna.
Entre 1935-36, a sua vida profissional dá um grande salto. Em 1936, participa da equipe que elabora, junto com Le Corbusier, o projeto do Ministério da Educação e Saúde.
“Recém-formado pela Escola Nacional de Belas-Artes, Oscar Niemeyer procurou trabalho no escritório de Lúcio Costa com o intuito de preencher as lacunas de sua formação acadêmica. Naquele momento, Lúcio, um atento observador da arquitetura colonial e de nossas tradições construtivas, já flertava com o movimento moderno, que tentava ganhar fôlego na Europa. Estava selado um encontro definitivo na vida de Oscar. O trabalho deu-lhe a oportunidade de ciceronear o arauto do modernismo, o franco-suíço Le Corbusier. Ele desembarcou no Rio de Janeiro, em 1936, com a expectativa de realizar finalmente sua primeira obra monumental: a sede do Ministério da Educação e Saúde Pública. Veio a convite de Lúcio Costa, funcionário público destacado pelo ministro Gustavo Capanema para projetar o prédio, que se transformaria em um ícone da modernidade, talvez a obra arquitetônica mais publicada no século XX” (Lívia Pedreira, O Inventor de um Novo Mundo).
Le Corbusier e a nova sede do Ministério da Educação
O projeto do Ministério da Educação e Saúde (Oscar Niemeyer, Affonso Reidy, Jorge Moreira, Carlos Leão, Lúcio Costa, e Ernani Vasconcellos segundo risco original de Le Corbusier), para Niemeyer, “mostrou para o povo e os governantes o que era a Arquitetura contemporânea. A razão dos pilotis, do brise-soleil, da fachada de vidro, tudo isso”.
No início, o grupo de arquitetos brasileiros sabia que queria algo moderno para o prédio do MEC, mas não sabia como fazê-lo. Daí a insistência de Lúcio Costa para que Le Corbusier viesse para o Rio de Janeiro. Segundo o arquiteto Ítalo Campofiorito, “ele fica aqui por 15 ou 20 dias, muito pouco. Mas mudou a Arquitetura brasileira, criou o prédio mais importante do mundo, e o Oscar virou um gênio, o que não era, tanto que o Lúcio não sabia”. Niemeyer diz que “Le Corbusier chegou com aquela desenvoltura de chefe e tal, viu o projeto que o Lúcio tinha feito, preferiu fazer um outro, apresentou uma solução e o Lúcio aceitou. Nessa ocasião o Lúcio me chamou para trabalhar com ele para ajudar no desenho”.
Conta a história Campofiorito:
“O Corbusier mudou o projeto e fez baixo, longo, com o gabinete do ministro olhando para o Pão de Açúcar. Mas não era possível porque a pressa do [ministro] Capanema era tão grande e ele exigiu que o Corbusier abandonasse o que queria porque o terreno ao lado era da prefeitura e o original era do ministério. Na véspera de embarcar [Le Corbusier] fez um croqui do prédio no terreno atual. Fez com má vontade e ainda disse na carta que assim não ia ficar bom, que assim ia ficar prejudicado o projeto. E vai embora. A equipe coordenada pelo Lúcio trabalha um ano e pouco e nesse meio-tempo acontece a história do papel”.
Niemeyer conclui:
“Eu achava que o primeiro [projeto] era melhor. E um dia, não sei porque, eu fiz um croqui utilizando o primeiro. Peguei o primeiro projeto, atravessei o terreno, fiz a rua passar por baixo, abri e o Leão gostou. Quando o Lúcio chegou, o Leão disse: ‘Olha, o Oscar fez um projeto aí que tá bom’. Ele pediu para ver, e eu, como não tinha a menor preocupação, nem pensava em influir, tinha jogado pela janela e ele mandou buscar. Aí foi a primeira coisa, assim, que me impressionou no Lúcio, de correção, de generosidade. Ele viu, achou bom, e disse: ‘Vamos fazer esse’”.
Niemeyer inventa a monumentalidade
Uma de suas principais intervenções no projeto original consiste na sugestão para que os pilotis tivessem dez metros de altura em vez de três. Estava criado, assim, o mito da monumentalidade da Arquitetura brasileira.
Saturno cruza o Meio do Céu nos seus primeiros tempos no escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão, chegando a ficar entre Marte e Saturno natais na casa X ao final de 1936, depois do projeto do prédio do MEC (Edifício Gustavo Capanema) ter sido concebido. Júpiter transitou da casa VI à VIII, passando pela VII. Ali conheceu e começou a trabalhar com aquele que viria a ser seu parceiro maior, durante a construção de Brasília (Lúcio Costa). Quando entrou para o escritório, Netuno [regente do Meio do Céu], aplicava trígonos para Vênus e o Nodo Sul na casa VIII, indicando não apenas a importância das parcerias profissionais que começou a fazer a partir dali (vide o grupo que concebeu o Palácio Capanema), mas também os recursos técnicos e a experiência de que dispunha estando naquele meio [casa VIII]. Ao final de 1936, Urano chegava à Lua natal, conferindo maior autonomia, independência e liberdade para suas criações estéticas e a imaginação arquitetônica [casa XII]. Ambos recebiam trígono de Júpiter, o outro regente do Meio do Céu [e do próprio Sol].
A Progressão Lunar de Oscar Niemeyer para dezembro de 1936 traz o Ascendente progredido sobre Plutão [23º Gêmeos]. No ano anterior, portanto, o Descendente progredido estava sobre o Sol natal [22º Sagitário], pontuando o ingresso no escritório de Lúcio Costa, aquele que viria a ser seu grande parceiro. Como veremos mais à frente, o próprio Le Corbusier também será “parceiro” de Niemeyer, e a sextilha de Vênus progredida [casa IX] ao Sol natal, indica este primeiro contato além de, claro, reforçar a ênfase do Descendente progredido em conjunção com o Sol. A conjunção do Ascendente a Plutão, no caso, apontava para a transformação de si mesmo, já que sua participação -decisiva- no projeto do prédio do MEC o colocou vinculado para sempre a este que é considerado o marco paradigmático da Arquitetura moderna.
Mercúrio chegava para uma conjunção com o Sol progredido, indicando que Niemeyer estava aprendendo, e muito, com a experiência de seus colegas [casa VIII]. Por fim, a Lua cruzava o Ascendente natal, dando a ideia do início de uma “nova fase” em sua vida.
Da Obra do Berço à Feira de Nova Iorque
Seu primeiro projeto individual foi a residência Henrique Xavier (1936), e não chegou a sair do papel. Em 1937 constrói a Obra do Berço às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, que veio ao mundo causando polêmica. Encomendado por uma parenta e diretora da instituição, “marcou um pouco a minha posição na Arquitetura”:
“Eu fiz uma proteção de brise-soleil com umas caixas em que as verticais eram inclinadas. Eu fui viajar e quando voltei o prédio estava pronto, mas eles acharam que era engano, que a fachada não deveria ser normal, e o sol entrava no prédio. Eu me lembro que fiz o projeto de graça e ainda paguei a fachada nova com aqueles elementos verticais. É um fato sem importância, mas mostra que eu era um idealista, que eu queria fazer Arquitetura, que eu me sentia responsável pelo que fazia com relação à Arquitetura brasileira”.
Podemos dizer que por volta desta época a arquitetura de Oscar Niemeyer era essencialmente europeia e fundada no racionalismo francês de Le Corbusier. Em 1939, viaja para elaborar com Lúcio Costa o pavilhão brasileiro da Feira de Nova Iorque, desenhado no ano anterior.
Entre 1938-40 vemos Júpiter cruzar as casas IX e X de Niemeyer; o arquiteto aprofunda-se filosófica e academicamente e tem a oportunidade de trabalhar no exterior. A parceria com Lúcio Costa se firma e ele passa a ser reconhecido como uma das maiores promessas da Arquitetura de seu tempo. É nomeado cidadão de honra de Nova Iorque pelo governador La Guardia. Saturno em Áries, contudo, aplica quadraturas com a conjunção Vênus-Urano, limitando e restringindo suas formulações arquitetônicas ao modernismo estritamente europeu, excessivamente funcional e retilíneo. Ao final do período Saturno está em trígono com o Sol natal e Niemeyer assume a função de arquiteto-chefe do grupo encarregado da construção do edifício do MEC, que vinha sendo elaborado há três anos.
Próxima etapa: Pampulha, a revolução da arquitetura brasileira (1940-1943)
NIEMEYER, A SÉRIE COMPLETA:
1 – Dos cabarés da Lapa à arquitetura moderna (1907-1927)
2 – Niemeyer, o boêmio que virou marido (1928)
3 – Niemeyer e Lúcio Costa: a descoberta do Modernismo (1934-1939)
4 – Pampulha, a revolução da arquitetura brasileira (1940-1943)
5 – Um comunista na terra do Tio Sam (1945-1947)
6 – Niemeyer e Le corbusier: do Copan ao Ibirapuera (1949-1955)
7 – Brasília, a utopia de Juscelino e Oscar Niemeyer (1956-1960)
8 – O regime militar e o exílio (1964-1976)
9 – Oscar Niemeyer, a vida começa aos setenta (1978-1993)
10 – A paixão aos 99 anos (1997-2007)