Niemeyer e Le Corbusier: dois mestres predestinados a fazer história juntos
A vida da cidade moderna é praticamente toda determinada pela linha reta… A curva é cansativa, perigosa e funesta, possui um verdadeiro efeito paralisante… A estrada curva é um resultado arbitrário, fruto do acaso, do descuido, de uma ação puramente instintiva. A estrada retilínea é uma resposta a uma solicitação, é fruto de uma invenção precisa, de um ato de vontade, um resultado atingido com plena consciência. É algo útil e belo. (Le Corbusier)

Le Corbusier: 06.10.1887, 08:30am [-0.50 -0:29:44], La Chaux-De-Fonds, Suíça. Fonte: Astrotheme.

A sinastria entre os dois arquitetos, tendo o mapa de Niemeyer como base.
A sinastria entre Niemeyer e Le Corbusier revela conexões explícitas: Lua e Netuno do franco-suíço caem sobre o Ascendente do brasileiro e Sol e Urano em sua casa V, indicando a influência estética sobre a obra de Oscar. Por outro lado, o Ascendente de Niemeyer fica sobre a conjunção de Le Corbusier na casa VII, predispondo o trabalho a dois. A Lua em Touro de Niemeyer cai na cúspide da casa VII do mestre europeu, reforçando a parceria.

O mapa composto de Niemeyer e Le Corbusier.
Já o mapa composto dos dois arquitetos corrobora o destino que os uniu: Sol, Mercúrio e Vênus estão em Escorpião na casa III, indicando a sinergia necessária para a influência recíproca através das ideias (casa III). Esta conjunção está em oposição à Lua em Touro, reforçando o potencial da parceria. Urano, no Fundo do Céu, ressalta a transformação do espaço através de edificações de cunho moderno e o vanguardismo do trabalho de ambos, sendo que Saturno está exatamente sobre o Meio do Céu, revelando o sucesso como profissionais, vindo a se tornarem mestres. Júpiter na casa II, em trígono com a Lua, Saturno e o Meio do Céu, aponta para a formidável capacidade de “edificar realizações de vulto” de que os dois foram realizadores.
Agora, a nossa Arquitetura é muito diferente do Corbusier. Nós caminhamos para uma Arquitetura mais de acordo com o nosso clima, mais leve, mais vazada, vencendo o espaço. E demos a ele a contribuição que ele nos deu. Nós tivemos influência dele, mas nos últimos trabalhos ele também teve influência da nossa Arquitetura. Não sou eu que digo. Quem diz isso é Ozenfant, que foi sócio dele e que num livro de memórias a gente pode ler: ‘Le Corbusier, que durante muitos anos proclamou o ângulo reto, passou de um momento para o outro pensando diferente, seguindo uma Arquitetura que vinha de fora com muito talento’.

Le Corbusier
Contudo, passados 60 anos da “generosidade” de Oscar para com Le Corbusier, uma declaração, muito recente, contradiz a afirmação de não haver arrependimento: “Essa coisa de centenário é uma grande bobagem. A gente olha para trás e não pode dizer que faria tudo igual. Eu faria diferente. Quando, por exemplo, não teria aceitado mudar meu projeto para a ONU a pedido do Corbusier, que tinha perdido a disputa. Acabei assinando em conjunto com ele. Foi uma grande besteira que fiz. Não é pelo projeto ter sido meu. Mas porque a ideia de pôr a Assembleia no centro do terreno era ruim mesmo” (“Niemeyer 100” – O Globo, 08.12.2007).
Ibirapuera, Copan e Canoas

Interior do Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera (São Paulo, 1951).
Entre 1949-55, já tendo ultrapassado a casa dos 40 anos de idade, Oscar Niemeyer seguiu sua carreira ascendente. Quinze anos depois de formado, já circulava pelo Rio de Janeiro com dois Cadillacs. Dois anos depois de projetar a sede da ONU, é nomeado membro honorário da American Academy on Arts and Sciences e, no ano seguinte, é publicada a primeira monografia dedicada ao arquiteto, “The Work of Oscar Niemeyer”. O livro foi traduzido para o japonês e publicado em número especial da revista Kokusai Keuchiku, em 1952.

O edifício Copan, em São Paulo.
Em 1951 a obra de Niemeyer finalmente chega a São Paulo, quando projeta o conjunto de pavilhões da Exposição do IV Centenário, no Parque do Ibirapuera, e o edifício Copan. No ano seguinte, constrói sua residência na Estrada das Canoas, no Rio de Janeiro.

Capa do livro “The Work of Oscar Niemeyer” (1950)
“A casa do Oscar era o sonho da família. Havia o terreno para os lados da Iguatemi, havia o anteprojeto, presente do próprio, havia a promessa de que um belo dia iríamos morar na casa do Oscar. Cresci cheio de impaciência porque meu pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a casa do Oscar. Pois bem, internaram-me num ginásio em Cataguases, projeto do Oscar. Vivi seis meses naquele casarão do Oscar, achei pouco. Decidi-me a ser Oscar eu mesmo. Depois larguei a Arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando a minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é Casa do Oscar” (Chico Buarque).
Em 1953, é convidado a fazer parte de um grupo de 15 arquitetos encarregados de trabalhar na reconstrução de Berlim, projetando habitações no bairro de Hansa, e projeta ainda o Museu de Arte Moderna de Caracas, na Venezuela. Em 1954 faz sua primeira viagem ao Velho Continente para trabalhar nessa obra. Além de Berlim, visita Lisboa, Paris, Varsóvia, Moscou, entre outras cidades. Depois, funda a revista Módulo no Rio de Janeiro e assume a chefia do departamento de arquitetura e urbanismo da Novacap, encarregada de construir Brasília pelo presidente eleito, Juscelino Kubitschek.

Trânsitos para Oscar Niemeyer entre 1949-55
Constatamos que em 1949 Saturno chegava à casa IV e, se a Casa das Canoas (construída para ser sua residência) foi erguida apenas em 1952, fica claro que nos anos imediatamente anteriores trabalhar na casa que viria a ser sua era uma de suas principais preocupações. Ao longo do período 1949-55, Urano cruza sua casa II aplicando conjunção a Netuno e o Nodo Norte e trígonos para Marte e Saturno na casa X. Oscar continuava a sua revolução estética e a incursão pelo comunismo (ao visitar Moscou e Varsóvia). Urano é um dos dispositores da casa IX e, ao passar por Netuno (corregente do Meio do Céu), ele partiu para trabalhar em Berlim e para conhecer algumas cidades europeias, entre elas capitais do mundo comunista. O trânsito que originou a conjunção entre Saturno e Netuno em sua casa V sugere o interesse em descobrir o socialismo “na prática”.

Casa das Canoas, no Rio de Janeiro (1952)
Durante esta época, Plutão (codispositor da casa VI) formou um trígono com o Sol natal de nosso biografado, simbolizando o crescimento cada vez maior do volume de trabalho que lhe era oferecido e a sua enorme disposição em dar conta do recado. Afinal, existe uma forte ligação entre Sol e Plutão no mapa natal, com uma oposição praticamente exata.
Quando 1955 chega, Niemeyer estava sob uma conjunção entre Júpiter e Urano na casa II, que por sua vez formava um trígono com Saturno em Escorpião na casa VI e ativava de modo bastante positivo sua casa X. Juscelino, seu aliado de primeira hora, é eleito presidente e vai pessoalmente à sua casa para contratá-lo e juntos fazerem “a mais bela capital do mundo”, nada mais nada menos do que no meio do árido Planalto Central, longe de tudo e no intuito de refundar a própria sociedade e a nação. Oscar passaria a ser, sem dúvida alguma, um dos homens mais influentes de todo o Brasil nos anos seguintes.
Próxima etapa: Brasília, a utopia de Juscelino e Oscar Niemeyer (1956-1960)
NIEMEYER, A SÉRIE COMPLETA:
1 – Dos cabarés da Lapa à arquitetura moderna (1907-1927)
2 – Niemeyer, o boêmio que virou marido (1928)
3 – Niemeyer e Lúcio Costa: a descoberta do Modernismo (1934-1939)
4 – Pampulha, a revolução da arquitetura brasileira (1940-1943)
5 – Um comunista na terra do Tio Sam (1945-1947)
6 – Niemeyer e Le corbusier: do Copan ao Ibirapuera (1949-1955)
7 – Brasília, a utopia de Juscelino e Oscar Niemeyer (1956-1960)
8 – O regime militar e o exílio (1964-1976)
9 – Oscar Niemeyer, a vida começa aos setenta (1978-1993)
10 – A paixão aos 99 anos (1997-2007)