Na cultura asteca do período pré-colombiano, crianças eram levadas ao topo das montanhas para serem sacrificadas ao deus Tlaloc. Era uma forma de evitar as intempéries e atrair a chuva no final da estação seca. Por trás da prática estava a concepção de que é necessário sacrificar a melhor parcela da população — as crianças e os jovens mais belos e saudáveis — para apaziguar a fúria dos deuses e garantir a segurança do restante da comunidade.
No Oriente Médio, há mais de dois mil anos, crianças eram queimadas vivas em oferenda aos deuses Moloque e Baal. Sacrifícios de jovens também persistiram no Havaí até o século XIX, como forma de apaziguar a violência dos vulcões.
Deuses impiedosos e sedentos de sangue soam como crendices de civilizações desaparecidas. São o produto do imaginário de culturas arcaicas, já totalmente superadas pela racionalidade contemporânea. Contudo, é exatamente no seio das sociedades hiperdesenvolvidas, mais avançadas do ponto de vista tecnológico e social, que as sombras dos deuses arcaicos irrompem de maneira mais violenta e cobram seu tributo.
Os massacres em escolas já eram comuns nos Estados Unidos, onde se repetem com assustadora frequência desde a década de 1970. Contudo, só fizeram sua entrada no Brasil em 7 de abril de 2011, quando um ex-aluno invadiu a escola pública em que estudara, no bairro carioca de Realengo, e executou 12 crianças antes de cometer suicídio. Nos últimos doze anos, ocorrências da mesma natureza assombraram escolas e creches em diversos pontos do país. É nesta sequência que se insere o massacre de quatro crianças de uma unidade pré-escolar na cidade de Blumenau, em Santa Catarina, na manhã de 5 de abril de 2023.
O mapa da tragédia de Blumenau
O mapa da tragédia revela que, mais que um episódio isolado, é um sintoma de uma doença coletiva, que afeta o comportamento de toda a sociedade brasileira.
Urano no Ascendente, planeta mais angular, é também o regente do Meio do Céu e está em conjunção com Vênus, regente do Ascendente: um acontecimento súbito, inesperado, que impacta toda a comunidade (sentido do Meio do Céu). Saturno e Plutão, por sua vez, enquadram o Meio do Céu, indicando a prevalência dos planetas geracionais, significadores de acontecimentos de ressonância coletiva.
A Lua, por si só uma significadora de crianças e vulnerabilidade, ocupa a casa 5, da infância e, consequentemente, das creches e pré-escolas. Está em quadratura com Marte, regente da casa 12, dos processos que escapam à nossa atenção e sobre os quais não temos grande controle. Em poucas horas esta Lua formaria uma oposição ao Sol — uma Lua Cheia, portanto, aspecto que magnifica e amplia e torna mais visíveis os efeitos do que ocorre sob sua vigência.
Ainda mais: Mercúrio, regente de Virgem na cúspide da casa 5 (a creche), está na casa 12, das situações de prova, em quadratura com Plutão na casa 9. Plutão rege a casa 7 em Escorpião, exatamente aquela que representa os inimigos ou adversários. Trata-se de um planeta que atua impessoalmente em nome de uma motivação admitida como superior. Cabe lembrar que religiosidade, ritos, crenças e ideologias são sentidos de casa 9, mas nem sempre se manifestam de forma positiva.
Toda sociedade tem seus mitos fundadores, suas crenças e valores imateriais que ajudam a manter o sentido de pertencimento e coesão social. Ritos como o da Páscoa, do Natal ou da comemoração das datas relacionadas à construção da identidade coletiva também desempenham papel importante na suavização de conflitos e na vivificação periódica de ideais comuns. Contudo, quando o progresso material e as transformações no ambiente coletivo ocorrem a uma velocidade maior do que a capacidade de adaptação do sistema de crenças, estas se tornam obsoletas e tendem a ser deixadas de lado, por não terem mais a antiga eficácia aglutinadora.
Plutão em Aquário e a barbárie tecnológica
Como no plano simbólico não existe lugar para o vazio, o colapso dos modelos de coesão social acaba gerando brechas por onde emergem crenças ainda mais arcaicas e destrutivas — especialmente quando planetas como Plutão e Urano estão em evidência. A selvageria dos tiroteios em escolas americanas, a barbárie do ataque às torres gêmeas e o suicídio coletivo de 918 fiéis, promovido pelo pastor Jim Jones em 1978, dão conta deste mecanismo, onde a casa 9 “doente” exerce um papel fundamental.
Foi o que ocorreu em Blumenau, acrescido agora de mais um complicador, pois o ingresso de Plutão em Aquário coloca sob tensão, pelos próximos 21 anos, tudo aquele que o signo oposto, Leão, significa: artistas, criadores e também crianças e jovens em quem se depositam as esperanças da sociedade.
Acresce que Plutão, planeta significador das camadas mais arcaicas da memória coletiva, tem um difícil diálogo com Aquário, signo relacionado à inventividade tecnológica e ao anseio por uma sociedade fraterna e igualitária. Em aparente contradição, os conteúdos primitivos passam a ter à disposição o mais contemporâneo dos canais: as redes sociais, com seus algoritmos sem compromisso com a ética, e o mundo dos games e comunidades fechadas da dark web, que cultuam ideais de violência. Hora de atenção redobrada.
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