Rita Lee viveu e morreu como representante de Saturno-Plutão, o mais roqueiro dos ciclos astrológicos. Duplamente saturnina (Sol em Capricórnio e Ascendente em Aquário), a cantora deu as caras em São Paulo, em 31 de dezembro de 1947, com Saturno e Plutão fazendo conjunção em Leão e enquadrando seu Descendente.
Rita veio ao mundo no início da era nuclear, meses após o assassinato de Gandhi e em pleno início da Guerra Fria. Quando Saturno e Plutão se unem, o radicalismo e a intolerância imperam, dando lugar a períodos sombrios. São momentos de medo coletivo, de inquietação social e de demonização de tudo o que não condiz com nossos valores.
Por outro lado, Saturno-Plutão também inspiram movimentos de rebeldia e contestação do status quo. Quando o rock explode como gênero musical, em 1955, os dois planetas formavam uma quadratura crescente. Na oposição, em 1965-66, o Brasil, mergulhado na censura e na repressão política, vê surgir a moderna MPB. É a era dos festivais, com toda a sua carga de desafio e contestação ao regime. Uma das manifestações da nova onda musical veio na forma do Tropicalismo, cuja face mais vanguardista foram os Mutantes, que tinham à frente uma Rita Lee ainda adolescente.
Na quadratura Saturno-Plutão de 1974, ela compõe, já em carreira solo, Ovelha Negra, uma de suas composições mais icônicas.
Em 1982, quando o país ainda vivia a indecisão entre o regime de força e a abertura política, acontece outra conjunção Saturno-Plutão. É quando surge o BRock — a grande renovação do rock brasileiro, que trouxe para o primeiro plano dezenas de bandas com um som áspero e visceral inspirado no punk inglês. A nova geração de roqueiros logo identificou em Rita Lee uma espécie de antecipadora da transgressão e da irreverência. A roqueira rebelde continuava a provocar.
A nova conjunção Saturno-Plutão de 2020 trouxe o isolamento e a solidão da pandemia. Rita Lee, doente e confinada, não se fez de rogada: deu entrevistas, declarações, ocupou espaços na mídia e mostrou que a fragilidade física não é impedimento para os que têm algo a dizer. E ela sempre teve.
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