O Começo do Fim da Construção
Em 1998 Covas decide disputar a reeleição ao Governo do São Paulo. Vencerá Paulo Maluf no segundo turno, inaugurando no Estado de São Paulo o antimalufismo. Nesta eleição Marta Suplicy o apoia, ato que retribuiu também em apoio quando a petista veio a disputar a Prefeitura de São Paulo contra Maluf, em 2000. É importante lembrar que Covas sempre foi contra a reeleição. Disse isso publicamente e jamais apoiou essa ideia, que fez FHC lutar, com lobbies e sei lá mais o quê, para que os parlamentares aprovassem a lei que alterava as regras das eleições.
Este é um artigo em três partes. Você está na terceira. Veja as demais:
Em 3 de dezembro de 1998 é internado no Incor devido a uma infecção na próstata. Acha-se um tumor benigno na região, que é extirpado. Porém, encontra-se também um câncer na bexiga, que é retirada e reconstituída com partes do intestino. Lembre que há ainda a presença de Plutão em trânsito num dos ângulos do mapa. É esse trânsito que faz pensar em câncer. O astrólogo Noel Tyl, durante seu encontro em São Paulo, em 2000, insistiu que, se o astrólogo verifica trânsitos ou progressões envolvendo Plutão nos ângulos ou sobre planetas pessoais, deve pensar em câncer e orientar os clientes para a prevenção. Mário Covas ainda tinha Escorpião regendo a casa 6 – área da saúde e rotina pessoal, Escorpião que é relacionado com os órgãos genitais. Aí está a primeira competência da astrologia: prever para prevenir.
A luta contra o câncer durará dois anos. Mário Covas falece quando Plutão – o Deus da Morte, em trânsito, faz oposição exata a Júpiter – o Deus da Liberdade, que tanto o caracterizava. Também Sol, em arco solar, em oposição a Saturno – regente da casa 8, a da Morte, e Plutão eclipsando, em oposição, Marte – o Deus da Guerra, elemento de vitalidade no mapa. Este é um dado importante, já que Marte é corregente da casa 6, a da saúde. Plutão se opondo a Marte faz pensar na briga de dois titãs. Ou na imagem de uma bomba atômica contra um guerreiro que luta para preservar a vida.
Também neste momento, em progressão secundária, Saturno – o dono da casa 8 – a da morte, percorria a casa 6 neste mapa – a da saúde. Em arco solar, Cauda do Dragão conjunta a Saturno novamente na oito e Cabeça do Dragão conjunta a Plutão – o Deus da Morte. Não podemos esquecer que Netuno – o princípio de dissolução – fazia, em trânsito, por volta de 98, uma quadratura com o Sol – o Centro da Vitalidade – e conjunção com a Lua – o núcleo emocional. E no momento do seu falecimento ele está lá, em arco solar, na porta da casa 6 – a da saúde e do trabalho rotineiro. Netuno tocando o Sol ou a Lua, em quadratura, oposição ou conjunção, faz pensar em momentos de confusão, baixa vitalidade, dissolução da força.
No dia 6 de março de 2001, Mário Covas falece, deixando um exemplo de homem público.
É importante que se entenda que o destino não está escrito palavra por palavra. Claro que muitos nasceram na mesma data de Mário Covas e não por isso foram “Mário Covas”. O que faz alguém cumprir seu destino é tanto o exercício de livre arbítrio quanto o imponderável. Mário Covas se preparou para ter a dimensão do seu destino. Isso que faz a diferença. Quantos de nós não fugimos de nossa própria grandeza revelado pelo céu que nasceu junto com a gente?
A grandeza de Covas esteve em não fugir dos desafios colocados por seu próprio mapa.
A Verdade não dá Ibope
Ao assumir o Governo, o Estado de São Paulo sangrava R$67,9 bilhões em contas vencidas da administração anterior e R$61,3 bilhões em dívidas de longo prazo. Mário Covas deixa o Estado de São Paulo com as conta saneadas e com dinheiro em caixa para investimento. Assim como prometeu. E deixa um patrimônio pessoal condizente com seus ganhos. E veja só o que o astrólogo Valdenir Benedetti diz sobre Touro em seu livro Textos Planetários:
O taurino é alguém que faz com que as coisas realmente aconteçam, se materializem. E é isso que ele mais gosta de ser: um materializador de sonhos e projetos. Não é muito próprio de sua natureza ficar inventando coisas, tomando iniciativas; mas, quando qualquer empreendimento lhe é confiado, certamente ele trabalhará com absoluta determinação, até que tudo esteja concluído. Pode demorar, mas não falhará.
Impressionante, não?
Geraldo Alckmin, vice-governador, herdeiro político, assume o seu lugar. O lugar de um homem que fez a sua prática política pautada pela honestidade, dignidade e austeridade, apesar da baixa popularidade durante o seu governo. Um gigante num país órfão de valores enraizados no respeito à vida. Aliás, a Rede Globo não podia ser mais inoportuna ao lançar Porto dos Milagres, uma novela com a já exaustiva estética baiana, que retrata um político manipulador, sem caráter e sem nenhum respeito aos cidadãos. O Brasil clama por valores simples que, porém, requerem grandeza, como honestidade, ética, coerência, valores que Mário Covas encarnou em toda a sua vida, ao lutar contra a ditadura, ao nunca apoiar afilhados de Paulo Maluf, político que apoiou os anos de chumbo, ao ser franco em suas opiniões e atos, modo que até o fez entrar em choque com professores ou com as mães dos detentos da Febem. Aliás, franqueza que custou muito para sua popularidade. Mas o curioso é Mário Covas falecer no exato momento em que o Brasil vê a sangria da corrupção todo dia em jornal nacional. Morre deixando um exemplo. E com um sorriso na face, como comentou Lila Covas a um amigo da família, durante o velório.
Publiquei em dezembro de 2000 no SIGNOzine (Informativo de Astrologia produzido em Curitiba) e, depois em Constelar, um artigo que tratava dos trânsitos planetários no mapa do Brasil, tentando vislumbrar o que nos aguardava no período 2001-2002. Escrevi o seguinte, quando tratei do trânsito de Plutão em quadratura com o Sol, nos primeiros meses de 2001:
Como o Sol está envolvido e este astro fala da identidade do país, é possível que percamos alguém de grande carisma público e/ou político que fará a nação sentir saudade e, ao mesmo tempo, reconhecer, através da morte de seu herói, a sua própria identidade e força.
Sem dúvida, Mário Covas encarnou esse herói. O trânsito de Plutão com o Sol faz com que processos identificatórios morram para dar espaço ao nascimento de outros. Num mapa pessoal dá para dizer que morrem o jeito de a pessoa se olhar e olhar o mundo, seus interesses, seus desejos, para renascer de outro modo, com outros interesses e com maior compreensão da vida. Se colocarmos isso no mapa de uma nação, é possível afirmar que o Brasil já não pode olhar com orgulho, por exemplo, para o futebol ou para o carnaval e dizer: “Ah! Isso sou eu!” O carnaval, principalmente o carioca, transformou-se numa vitrine para a elite e uma indústria de entretenimento que contabiliza, em seus bastidores, mortes e mais mortes em trânsito. O futebol, nem se fala. Roubalheira entre os cartolas e luta armada entre torcidas organizadas. E o pior: a seleção deixou de jogar bola. Nesta brecha, temos o exemplo de Mário Covas, nas vésperas de uma eleição presidencial, momento que a nação assiste escândalos e denúncias criminosas, além de difamações de todos contra todos, jogando o sujo na cara da nação.
Mário Covas mostrou a sua cara e fez o Brasil se orgulhar de ser honesto e incorruptível. De certa forma, ao vibrar com Saturno da nação encarnou a imagem do Pai. Saturno tem a ver com o pai que estabelece limites, disciplina e cobra que o seu filho vá ao mundo. Sabe quem também tinha um stellium em Touro sobre este Saturno? Getúlio Vargas.
A diferença é que Getúlio também foi um ditador. Um Pai-Ditador. Já Covas aliou o direito à liberdade a uma forma dura de administrar. E também expressou a personalidade de Plutão, que o acompanhou nos principais momentos da sua vida e que hoje ronda o céu do mapa do Brasil. Mário Covas torna-se um legítimo filho de Plutão, ao fazer o que era necessário ao coletivo, sem pensar em interesse pessoais. Quando questionado se a vida de político valia a pena, Covas respondeu: “A pergunta não é exatamente se vale a pena. A pergunta é: ‘Você tem direito de sacrificar outras coisas?’ Política exige demais e você não é uma pessoa normal no sentido dos costumes e horários. Se não tiver por parte da família uma compreensão muito grande, complica muito”.
É importante lembrar que em 2001 há no mapa do Brasil um forte momento de Netuno. E Mário Covas passava por uma forte conjunção deste planeta sobre a sua Lua e quadratura com o seu Sol, como já foi comentado. É interessante notar isso, porque Netuno tem a ver com processos de crucificação, fazendo com que o indivíduo perca sua identidade como pessoa e encarne um símbolo de redenção que o coletivo necessita. E o Brasil passa, em 2001, por este momento, assinalado pelo trânsito de Netuno em trígono com Lua-Júpiter . O brasileiro pôde se orgulhar de si mesmo, já que identificou em Mário Covas uma pessoa comum, alguém que lutou abertamente pela vida, como faz todo brasileiro no dia a dia, e que ainda elevou valores como honestidade e trabalho como princípios essenciais de uma nação que quer ser grande.
O Brasil, devido à falta de elemento Água, sofre de incapacidade crônica de resgatar registros simbólicos positivos. Em outras palavras, ausência de memória. Mas que o exemplo de Covas não seja esquecido. Ao morrer, Mário Covas inaugurou um novo momento na história do Brasil e, hoje, a sua vida confunde-se definitivamente com a história do povo brasileiro.